Feira no buzu

"Já descasquei a cenoura, descaquei a batata, cortei  a batata em tiras para fritar e descasquei até a abóbora!", grita a vendendora. Mas nem pense que estamos tratando de comercial de comida prática ou de alguma feira livre da cidade. A cena se passa dentro do buzu da linha CAB/Sussuarana.

A vendendora descasca as verduras escorada num dos bancos da frente do veículo, mas à cada "freio de arrumação" ela se desequilibra e os farelos se espalham. E a minha blusa preta vai colorindo. E ela fala, fala das qualidades e utilidades do cortador/ralador/descacador que é a novidade da cidade, que só custa  três reais. Carminha quando viu isso, dias atrás,  ficou tão impressionada que comprou dois, um pra ela e uma pra minha casa.   

Logo após entra o baleiro: "Olha a pastilha de menta aí, gente! Uma é cinquenta e três é um real, uma é cinquenta e três é um real". Grita, e  grita, e entrega os saquinhos de balas para cada passageiro a fim de pressionar para compra. Faz isso até o fundo do buzu para no retorno recolher a mercadoria ou o dinheiro de quem quiser comprar, uma técnica bastante usada para pressionar o passageiro/consumidor. A jovem passageira se recursou a receber a mercadoria e a ficar segurando-a  até o baleiro retornar para recolher.  Ouviu desaforo. "Estamos trabalhando moça, e não pedindo. Não precisa ser mal educada".  Ela fica vemelha e desce no ponto seguinte.
  
Sai o baleiro, entram dois jovens  carregando enormes bolsas tipo tiracolo. Um começa a entregar aos passageiros os  kits de caneta com lanterninha, o outro berra: "Boa tarde a todos, não queremos incomodar, só tomar um tempinho de vocês. Somos do Instituto Manassés e estamos passando esse kit por dois reais. Comprando esse kit vocês estarão ajudando a tirar jovens das drogas..." ( e  pererê, parará..) .Todos  eles apresentam um currículo de ex-drogados, tirados da sarjeta  pelo Manassés e vindos do Piauí para a Bahia, mas é gozado como aprendem rápido o sotaque baiano.

No ponto seguinte, entra um homem com bolsa tiracolo apresentando o seu produto: "Temos tabuada por dois reais,  caligrafia  por dois reais, receitas caseiras  deliciosas por apenas dois reais! Compre três por apenas cinco reais". Bom, esse pelo menos não força a barra pra gente ficar segurando os produtos dele. Mas logo em seguida vem o rapaz dos adesivos. Tem adesivo de tudo: de princesas, de Bete Boop, Bob Esponja e  por aí vai.
 
 Em todo o percurso tem sempre alguém querendo vender algo. Pior do que isso, só quando chove, mas isso eu já contei aqui.

Comentários

  1. Quem manda ser pobre?????????

    O pior, comadre, é quando eles berram e vc precisa escutar o que estão falando no celular. E tome "pessoal", "pessoal"....

    Diga a Carminha que tb quero um descascador desse hehehe

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  2. Beleza tua crônica, companheira. Ando pouco em ônibus aqui em SP, mas nunca vi gente vendendo coisas no buzu. No metrô, meu meio de transporte predileto por aqui, vi uma vez.

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  3. Me vi nesse relato. Toda hora entra um no bendito ônibus. E eu, que adoro tirar uma sestinha no caminho...
    Mas o certo é que eu comprei três descascadores daqueles Joaninha: um para a minha mãe, outro para uma das minhas irmãs, e o último para mim, esperando ter minha própria cozinha, para então utilizá-lo. O menino (rapaz) que vendia era bem simpático e dizia que era uma forma de pagar sua faculdade. Acreditei.
    Quase nunca compro guloseimas, chiclete, chocolate ou coisa parecida. Mas não resito às canetinhas dos meninos do Manassés. Tenho uma reserva impressionante delas, com calendário, lanterna, de várias cores, etc. Nunca é demais! As canetinhas, digo. Mas sim, é demais a perturbação frequente do meu gostoso soninho durante a viagem. Beijosssss

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