Uma confraria do Baco

Jolivaldo Freitas


Tenho tantos pecados na vida que nem o Diabo vai me querer nas quenturas do inferno (embora todos saibamos que o inferno é aqui). Posso até enumerar alguns, en passant, para que ninguém pense que é mentira, que estou dando uma de vítima ou querendo adjutório dos santos da época – e este é o período junino, com Antonio, João e Pedro fazendo seus milagres.

O bom é que santo é igual a fruta tropical: todo mês tem muitas ofertas. Com esta colocação acabo de galgar mais um degrau para as profundezas.


Sou “vítima” do pecado da heresia – Fico achincalhando todo tipo de religião e outros mitos.

Da preguiça – Quando acordo me reto, pois queria dormir mais.
Da mentira – É cada uma mais cabeluda que conto. Ainda mais se for para ganhar mulher.
Da soberba – Harmonizo com a mentira. Ainda mais se tiver mulher no meio.
Da luxúria – Viva as fêmeas.
Da ira – Perco a estribeira com colegas escrotos, gente que não pega cocã de cachorro, que corta pela direita no trânsito ou que cospe pela janela.
Da inveja – De Long Dong Silver (embora mulher diga que não faz diferença) e de Brad Pitti comendo Angelina Jolie.
Da blasfêmia – Xingo mesmo. Não respeito nem a Santíssima Trindade nem Edir Macedo (deste eu tenho mais medo).

E agora incorporei o pecado da gula, por má influência do pessoal lá do Pestana Convento do Carmo ( os bad boys Paulo Dias e Carlos Freitas), que me levaram a cometer o pecado de beber bem e demais e comer melhor ainda e muito mais.

É que os caras inventaram a Confraria Conventual dos Homens (tem também das mulheres, pois não são bestas de deixá-las de fora e mulher pega pesado). Uma vez por mês a galera se reúne para degustar vinhos maravilhosos e pratos da cozinha contemporânea, ou não, num ambiente de primeira linha, onde tem até concerto de violão e violoncelo, luz de velas e a calma perene do antigo Convento do Carmo. O negócio é tão interessante que, juro, vi sóror Joana Angélica abençoando.

O interessante da confraria dionisíaca, onde se come e bebe como se o deus da esbórnia, o romano Baco, estivesse ali presente e incentivando, é que (ela é aberta a quem quiser chegar, diga-se de passagem) todos os meses elege-se um país para ser homenageado. A idéia é harmonizar o vinho produzido pela região eleita, com suas comidas típicas. Também, se nenhum for escolhido, bebe-se no estilo ONU. Que venha tudo e todas.

Para não ficar só no comer e beber até encher a cara, pois não é o leit motiv da Confraria, um especialista em vinho (no caso João Claudio Centenaro) faz a apresentação da bebida, revelando seus segredos mais recânditos, como textura, sabor, aroma e alma. Origem, formatação e história. Tudo em altíssimo nível e com preço bastante acessível. Mais do que imagina sua vã filosofia.

Quando chega o melhor que a cozinha pode oferecer, o chief explica o que é; como foi feito o prato e a compleição de cada um. Vem a entrada, dois pratos principais e sobremesas. Tudo correlato ao país homenageado. Semana passada foi a vez do Brasil e foram apresentados vinhos nacionais especialíssimas, de uvas complicadas, pouco conhecidas, mas de sabor maravilhoso, sem ficar devendo nada aos vinhos do Velho Mundo. Você já provou sobremesa de jiló. Antes de fazer cara feia e dar muchoço, prove. É melhor que tâmara e parece figo.

No dia dos homens fala-se de tudo, enquanto sobem os efluvios baconianos. Juro que só falamos bem das mulheres, não tem briga de BaVi nem FlaFlu e muito menos sobre religião e política.

Quanto ao dia das mulheres é uma caixa preta. Quem vai saber o que falaram a jornalista Ana Valéria e a multimídia Elíbia Portela.

Se pergunta, elas desconversam. As mulheres sabem bem o que é uma confraria. São muito misteriosas. Quase maçônicas.

Eu sei bem o que é acrescentar mais um pecado na vida. Mas, minha alma sempre pede vinho e cozinha farta. Pecado, colesterol alto e gota a gente resolve lá na frente. Fazer o quê? Estou cada vez mais pantagruélico. Nem quero pensar em gases, azia, mau-hálito ou refluxo. Bom mesmo na vida que é curta, é cair de boca. E o resto vade retro.

Comentários

  1. Joly incorporou todos os pecados de uma só vez. Ficou tão passado de vinho que até elogiou sobremesa de jiló. ECA!
    Beijos

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  2. Do pecado da gula a gente não escapa comadre, quando se trata daquele miolo do Porto do Moreira. Só de lembrar dá água na boca.

    Joli, adoro seus textos. Continue contribuindo com a gente aqui no Pilha. Vou te enviar convite vitual pra você entrar na equipe.

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