Hanna foi pela primeira vez assistir
o desfile do 2 de Julho. Foi encorajada pelas primas para ver a maior festa
cívica do estado, considerada pelos baianos como a real data da Independência
do Brasil, que falaram o tempo todo da beleza do caboclo e da cabocla, do desfile
das autoridades, das fachadas enfeitadas, das escolas e dos “balizos” e suas
cores alegres, bandas animadas e piruetas ao longo do trajeto da Lapinha ao
Terreiro de Jesus. Chegou às 9:20h na Rua São José de Cima, por onde passa o
cortejo (já próximo ao Santo Antônio), horário que as primas costumam chegar e
apreciar tudo.
Uma escola que Hanna ainda viu passar |
Os olhinhos da menina eram pura
interrogação e decepção. “Uéé! Cadê tudo aquilo que falaram? Cadê o caboclo e a
cabocla?”. As primas, que tradicionalmente se juntam no mesmo lugar onde
algumas moram, ficaram desapontadas, sem saber como explicar porque tudo já havia
passado: “Como, se todo ano a gente está aqui nesse horário e dá pra ver tudo”,
diziam as primas. Ninguém sabia explicar. E cadê as escolas e os ”balizos?”
Cadê a decoração das casas aqui da rua? E os Encorados do Pedrão, os tais
vaqueiros que tradicionalmente participam da festa? Nada. Ninguém sabia direito
o que estava acontecendo.
Só viu protestos. Os alunos estavam
nas ruas, mas não fazendo piruetas e marchando ao som de músicas populares, de
pagodes, arrocha e últimos sucessos tocados pelas tradicionais bandinhas e
filarmônicas. Só os das escolas municipais compareceram, disseram as primas
moradoras da Rua São José de Cima. Mas Hanna não os viu, porque o cortejo foi
antecipado em uma hora, sabe-se lá por ordem de quem, ferindo uma tradição antiga
da saída da Lapinha às 9:30 horas. Comentou-se mais tarde que o horário teria
sido antecipado para proteger o governador de protestos dos professores
grevistas. Mas eles estavam lá! E protestaram mesmo e isso faz parte da
democracia, como aprendeu na escola e sempre ouviu dos pais e tios. “Então,
qual é o sentido?” A menina era cheia de perguntas, ainda mais desapontada.
Taí Hanna, o principal símbolo da festa, registrado pelo Pilha ano passado |
Fotos do Pilha- ano de 2010. |
Encourados de Pedrão não vieram por falta de transporte, segundo a imprensa |
Postagens anteriores sobre o 2 de Julho
Baianos revivem lutaAnfitriã do cortejo
Até os anjos
2 de Julho, o imenso palco
Sempre participei do 2 de Julho, Hanna, e confesso: nunca vi algo parecido com o de ontem. Uma pena, justamente no seu primeiro desfile, ter acontecido algo assim. Fiquei bastante triste e decepcionada. Cheguei no mesmo horário e de movimentação mesmo só a Marcha das Vadias. Priscila (Alba)
ResponderExcluirÉ triste ver a apropriação de valores que são maiores do que um partido, um grupo ou até mesmo um governo. Pra se livrar do povo se adianta o horário de uma comemoração histórica, cívica, que aconteceu nos piores anos da ditadura ?????. Simples como cancelar o seu aniversário porque está de TPM. O governador pode se cercar de quem bem entender como boa companhia. Pode também convocar todo o destacamento da PM e pedir reforço às Forças Armadas para lhe proteger. Mas mudar o horário da comemoração ao 2 de julho, NÃO. Ou pelo menos não deveria: Em respeito a todos os significados que esta data passou a ter para os baianos. Em respeito ao que sofremos, nós, militantes de esquerda quando usavamos este desfile como uma oportunidade privilegiada de gritar contra a opressão, os desmandos e o autoritarismo. Já vimos de tudo no 2 de julho. Este ano vimos o governo mudar o horário do desfile pra se ver livre do povo. Esta é a primeira vez, me parece um excesso, mas parece também que eles podem fazer ficar pior. É bom, portanto, estarmos preparados.
ResponderExcluirSó relembrando, o desfile foi antecipado tb em 2010, por causa do jogo da do Brasil na Copa do Mundo. Lembro que tava um toró, todo mundo procurando uma TV pra assistir ao jogo. E o Brasil levou ferro
ResponderExcluirVerdade Mônica. Mas a antecipação de 2010 foi divulgada, o que não parece ter acontecido agora.
ResponderExcluir