Eleições Brasil 2014: O monopólio da informação e a "virada" eleitoral na Bahia

Rui Costa e Jaques Wagner festejando: os adversários do Ibope/Rede Globo na Bahia costumam perder nas pesquisas e ganhar no primeiro turno (Foto: Internet)
Reprodução do blog Evidentemente:
 
Que “virada”, meu irmão? Bota aspas nesta “virada”, não há, não houve virada alguma, o que há é o monopólio da informação, a divulgação de apenas uma versão das coisas, a “verdade” única da mídia hegemônica.

Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro), editor do blog Evidentemente – Mirando a América Latina, de 11/10/2014
De Salvador (Bahia) – Virada!? Que virada? Então você não viu a virada do Rui Costa na Bahia, que estava sempre lá embaixo no Ibope e acabou eleito governador no primeiro turno? Que “virada”, meu irmão? Bota aspas nesta “virada”, não há, não houve virada alguma, o que há é o monopólio da informação, a divulgação de apenas uma versão das coisas, a “verdade” única da mídia hegemônica. Quase uma semana depois, o pessoal do rádio, da TV, do jornal, da internet continua falando na “virada” espetacular, incrível!

Vamos conferir, foi assim: a maioria dos eleitores baianos (o quarto maior colégio eleitoral do país, com 10 milhões de eleitores - os primeiros são SP, MG e RJ) passou todos os três meses da campanha eleitoral decidida a eleger Paulo Souto para governador, decidida a ressuscitar o velho carlista da Arena/PFL/DEM. Estava lá o placar implacável durante toda a campanha: Paulo Souto 43 a 8 de Rui Costa (PT), que foi subindo um pouco até chegar a 27 (não foi isso?) ao final da campanha.
 
Aí, da noite para o dia, de 4 para 5 de outubro, os baianos acordaram com um estalo na cabeça: não vamos mais votar em Souto, vamos votar no candidato do governador Jaques Wagner. Foi assim? Um estalo fulminante da noite para o dia? Pronto: depois dum empate na pesquisa às vésperas da votação, a boca de urna já deu Rui Costa com 49 pontos, vencendo, mas ainda poderia ter segundo turno. Na votação pra valer, deu Rui Costa com 53% dos votos válidos, eleito portanto no primeiro turno. Uma “virada” espetacular! Foi assim a crônica da virada (sem aspas) eleitoral na Bahia. E assim, sem aspas, o pessoal da imprensa continua repetindo, daqui a pouco já virou história, e é assim que a banda (ou o axé) toca.

Pois é assim. Quantas pessoas ouvi comentarem que na Bahia a coisa já estava decidida, seria Paulo Souto mesmo? Eu ficava meio sem jeito, será meu amigo? Nosso governador é um político calejado, o “Galego” (como é tratado pelo Lula) é um homem sabido, já ganhou duas eleições no primeiro turno, inclusive a primeira, em 2006, com o velho e temível ACM ainda vivo, vivíssimo, num roteiro semelhante: lá atrás nas famigeradas pesquisas até a boca de urna, quando já deu vitória de Wagner no primeiro turno. O governador e candidato de ACM era o mesmo Paulo Souto (não posso me esquecer, fizemos uma tremenda farra no Largo de Santana, Rio Vermelho, reduto dos petistas, celebrando a derrocada do velho cacique que mandou na Bahia uns 30/40 anos, em especial durante a ditadura).

E tem também – eu dizia aos meus interlocutores - um outro instituto de pesquisa (ligado ao deputado Marcelo Nilo, o Babesp – Instituto Bahia Pesquisa e Estatística) que dá números diferentes. Mas este ninguém queria saber, Ibope é Ibope, um instituto de renome nacional, o outro é coisa aqui da Bahia, não se sabe nem o nome direito, a imprensa chama “DataNilo”...

Em troca, o pessoal ligado a Wagner/PT chama o Ibope de “DataNeto”, um nome bem adequado porque dá uma ideia do quanto o jovem prefeito de Salvador, ACM Neto (PFL/DEM), parece se agigantar na política, apesar de pequenino na altura. Ele foi o coordenador da campanha de Paulo Souto. Jaques Wagner acertou num ferino comentário, dizendo que ACM Neto “pensa que já é o avô”. Creio que seu acasalamento com órgãos de imprensa, especialmente na Bahia, é tão sólido que o leva a se ver maior do que é (sua família é dona de jornal, rádio e TV/repetidora da Globo).

Bom, é disso que se trata: o poder da mídia hegemônica. Sem ela, seria inviável uma manipulação dessa enormidade, seriam impossíveis “viradas” espetaculares como a do governador eleito Rui Costa. Na Bahia, nos outros estados e nacionalmente. Não se enquadra como crime, em algum código de lei, essa manipulação desavergonhada feita através dos institutos de pesquisa e dos monopólios da informação no Brasil? Como se pode deixar impune gente que participa de tais tramoias para angariar votos? Com a palavra os advogados/promotores/juízes/juristas sérios deste país.

Comentários

  1. Essa é a pergunta que não quer calar: vai ficar sempre por isso mesmo a manipulação desavergonhada dos institutos de pesquisas de opinião conformes os interesses dos seus contratantes?

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