Waldir se foi e nós continuamos por aqui na luta por um tempo novo


Por Carmela Talento


Um adeus com muitas manifestações de respeito e reconhecimento a quem dedicou a vida na construção de caminhos para a redemocratização. Assim foi a despedida a Waldir Pires. O corpo chegou ao Mosteiro de São Bento no sábado pela manhã, véspera de São João, o trecho da rua do centro histórico acostumado, com o vai e vem de pessoas, em silêncio. Alguns populares que descansavam nos bancos da praça em frente ao Mosteiro ficaram de pé, em sinal de respeito.  No caixão simples descansava o ícone da política, como bem disse o jornalista Levi Vasconcelos, em sua coluna.

O pessoal da imprensa a postos na expectativa para iniciar a tomada de depoimentos de quem chegava para se despedir de Waldir. Efetivamente, os que lá estavam, tinham muito a dizer.  Contemporâneos ou não da luta lembravam de um fato que presenciaram, um momento crítico ou de glória ao longo dos 70 anos dedicados por ele à vida pública. A esperança que ajudou a renovar nos corações de toda uma geração, quando acreditou e liderou o movimento que libertou a Bahia de uma política dos coronéis, mas que, infelizmente, ameaça retornar.  Sua caminhada pelos cargos mais importantes da República, da memorável vitória ao governo, passando pela decisão de disputar uma vaga na Câmara de Vereadores de Salvador, tudo foi relembrado. 

Naquele templo, que no passado abriu as portas para acolher a juventude perseguida pela ditadura militar, desfilavam depoimentos dando conta do quanto Waldir foi importante para a política da Bahia e do Brasil.  Alguns faziam questão de registrar também o muito que faltou de reconhecimento. Do golpe que por duas vezes lhe tirou o direito de chegar ao Senado da República, o primeiro quando o mandato foi vergonhosamente usurpado nas urnas, na época de um governo que mandava e desmandava na Bahia, e a segunda por decisão dos próprios correligionários.

Recordações recontando uma história que felizmente o jornalista Emiliano José conseguiu consolidar em dois volumes sobre a sua biografia, o primeiro lançado no último dia 14, no Palácio da Aclamação, quando os que lá estiveram puderam expressar o reconhecimento a um Waldir, já debilitado, mas bastante lúcido para receber as homenagens ainda em vida. 

Foi assim durante todo o dia de entra e sai de pessoas no Mosteiro de São Bento, muitas delas vindas dos bairros mais distantes para expressar aos familiares a gratidão a Waldir. Autoridades civis e militares, prefeitos e políticos também lá estiveram.  No final da tarde a Igreja ficou lotada para a celebração da missa de corpo presente.  O período do São João, quando tradicionalmente a cidade fica mais vazia, certamente impediu muita gente de se despedir do ex-governador que um dia acreditou ser possível um tempo novo, um novo tempo de crescer e construir. Nós, que por enquanto ainda estamos por aqui, em sua memória, apesar de todas as decepções, vamos continuar lutando e acreditando que esse tempo novo é possível e que ainda vai chegar! 


Viva Waldir, viva a democracia!

Comentários

  1. Todas as homenagens ao grande Waldir são mais do que merecidas. Ele deu a sua parte pela nossa democracia, hoje tão vilipendiada por pessoas que mostram gosto pela ditadura. E parabéns a Carmela pelo registro, uma ótima materia

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