Artigos de Jadson Oliveira
Por que o povo não se levanta pelos direitos trabalhistas?
19/07/2017
Um governo e um Congresso de maioria corrupta aprovam leis que acenam com a volta da escravidão. Uma Justiça partidarizada condena Lula. E os brasileiros não se mexem para defender seus interesses e seu amado presidente. É a hora de ler ‘A Formação da Mentalidade Submissa”.
De Salvador-Bahia - Uma das minhas irmãs, Rubia Oliveira, aflita com o desfecho do golpe que derrubou Dilma Rousseff e a desorientação dos brasileiros, escreveu no Facebook:
“Tá uma loucura. O povo tá louco ou totalmente perdido, não distingue uma coisa da outra. Parabéns pela competência da direita. Eles conseguiram e o povo perdeu”.
Creio que Rubia deveria ter guardado seu desabafo para a semana passada. Uma semana do pós-golpe realmente arrasadora:
Primeiro, o governo de Michel Temer, o ilegítimo, conseguiu entregar uma das encomendas fundamentais para o grande empresariado, os verdadeiros donos do poder: desmontou a rede de direitos conquistados a duras penas desde a década de 40 do século passado. Uma mostra do quanto a elite é saudosista da escravidão.
E o povo trabalhador não se mexeu, não foi para as ruas – pelo menos na proporção da gravidade do acontecimento. Como se dissesse: “Isso não é comigo, é lá coisa deles”.
Segundo, uma Justiça partidarizada conseguiu, finalmente, a primeira condenação de Lula, no caso do famoso Triplex do Guarujá, que não é de Lula, mas deveria ser. Os procuradores e o juiz não precisaram apresentar provas, isso não importa, já que neste caso a Justiça tem lado.
E o povo trabalhador não se mexeu, não foi para as ruas defender seu tão amado presidente, certamente o líder popular mais importante dos 500 anos de história brasileira. Como se pensasse: “Isso não é comigo, é lá coisa deles”.
Terceiro, uma sobremesa do banquete da semana: a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados indica ao plenário que Temer não é corrupto. Veremos no plenário. (Este caso, porém, não depende bem do povo, já que os donos do golpe e do poder – capital financeiro, Rede Globo e aliados - estão brigando entre si).
É hora, então, de indagações essenciais:
Por que os trabalhadores aceitam que tirem seus direitos?
Por que os explorados aceitam (muitos até aplaudem) a tirania dos exploradores?
Por que pobres votam em ricos? (Muitos, ingenuamente, dizem até que é melhor porque assim não precisam roubar).
Por que, por exemplo, a maioria dos baianos de Salvador vota num garoto herdeiro milionário (ACM Neto)?
Por que, outro exemplo, a maioria dos paulistanos vota num rico empresário, que se diz não político, e sim gestor (Dória)?
É o caso, portanto, de realçar a “competência da direita”, como faz Rubia Oliveira. E tentar compreendê-la.
A maior façanha das classes dominantes
Acredito, Rubia, que esta é a maior façanha das classes dominantes: fazer com que o povo trabalhador – as classes dominadas – apoie os dominadores. E pense e aja contra seus próprios interesses.
E muitas vezes – este é o cume da competência – os dominadores não precisam nem apelar para a ajuda da repressão policial. A dominação é introduzida na mente, através da ideologia, do cultivo de valores (ou antivalores).
Conheço um livro que dá uma tremenda contribuição para se entender esta estupenda “mágica”: ‘A Formação da Mentalidade Submissa’, do professor espanhol Vicente Romano. Pelo que sei, não há edição brasileira. Tive acesso a uma em espanhol quando estive na Venezuela e descobri depois uma edição portuguesa (em português de Portugal).
Por enquanto, direi pouco sobre o conteúdo do livro, pois o artigo está se alongando em demasia. Voltarei a ele.
Direi só que nosso Vicente Romano (infelizmente já morreu) fala dos diversos fatores que fazem a cabeça do povo: os meios de comunicação de massa (destaque para a TV, a disseminação da violência e do medo e o entretenimento), o sistema educacional (destaque para o ensino da Economia), a produção cultural, o bombardeio das mensagens publicitárias, as religiões.
A gente das esquerdas costuma comentar que “as pessoas, infelizmente, não têm consciência de seus direitos, de seus interesses...”
Vicente Romano fala da “falsa consciência”: “As pessoas aceitam as coisas porque ignoram que existem alternativas e até que extremos os governos violentam os seus interesses, ou ainda porque não identificam até que ponto saem prejudicadas pelos interesses que julgam ser os seus”.
Mais: “As preferências das pessoas podem ser produto de um sistema econômico, político e cultural contrário aos seus interesses e que estes apenas são por elas legitimamente identificados, quando se encontrem em condições de escolha livre e capacitada”.
Por que o povo não se levanta pelos direitos trabalhistas?
19/07/2017
Um governo e um Congresso de maioria corrupta aprovam leis que acenam com a volta da escravidão. Uma Justiça partidarizada condena Lula. E os brasileiros não se mexem para defender seus interesses e seu amado presidente. É a hora de ler ‘A Formação da Mentalidade Submissa”.
De Salvador-Bahia - Uma das minhas irmãs, Rubia Oliveira, aflita com o desfecho do golpe que derrubou Dilma Rousseff e a desorientação dos brasileiros, escreveu no Facebook:
“Tá uma loucura. O povo tá louco ou totalmente perdido, não distingue uma coisa da outra. Parabéns pela competência da direita. Eles conseguiram e o povo perdeu”.
Creio que Rubia deveria ter guardado seu desabafo para a semana passada. Uma semana do pós-golpe realmente arrasadora:
Primeiro, o governo de Michel Temer, o ilegítimo, conseguiu entregar uma das encomendas fundamentais para o grande empresariado, os verdadeiros donos do poder: desmontou a rede de direitos conquistados a duras penas desde a década de 40 do século passado. Uma mostra do quanto a elite é saudosista da escravidão.
E o povo trabalhador não se mexeu, não foi para as ruas – pelo menos na proporção da gravidade do acontecimento. Como se dissesse: “Isso não é comigo, é lá coisa deles”.
Segundo, uma Justiça partidarizada conseguiu, finalmente, a primeira condenação de Lula, no caso do famoso Triplex do Guarujá, que não é de Lula, mas deveria ser. Os procuradores e o juiz não precisaram apresentar provas, isso não importa, já que neste caso a Justiça tem lado.
E o povo trabalhador não se mexeu, não foi para as ruas defender seu tão amado presidente, certamente o líder popular mais importante dos 500 anos de história brasileira. Como se pensasse: “Isso não é comigo, é lá coisa deles”.
Terceiro, uma sobremesa do banquete da semana: a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados indica ao plenário que Temer não é corrupto. Veremos no plenário. (Este caso, porém, não depende bem do povo, já que os donos do golpe e do poder – capital financeiro, Rede Globo e aliados - estão brigando entre si).
É hora, então, de indagações essenciais:
Por que os trabalhadores aceitam que tirem seus direitos?
Por que os explorados aceitam (muitos até aplaudem) a tirania dos exploradores?
Por que pobres votam em ricos? (Muitos, ingenuamente, dizem até que é melhor porque assim não precisam roubar).
Por que, por exemplo, a maioria dos baianos de Salvador vota num garoto herdeiro milionário (ACM Neto)?
Por que, outro exemplo, a maioria dos paulistanos vota num rico empresário, que se diz não político, e sim gestor (Dória)?
É o caso, portanto, de realçar a “competência da direita”, como faz Rubia Oliveira. E tentar compreendê-la.
A maior façanha das classes dominantes
Acredito, Rubia, que esta é a maior façanha das classes dominantes: fazer com que o povo trabalhador – as classes dominadas – apoie os dominadores. E pense e aja contra seus próprios interesses.
E muitas vezes – este é o cume da competência – os dominadores não precisam nem apelar para a ajuda da repressão policial. A dominação é introduzida na mente, através da ideologia, do cultivo de valores (ou antivalores).
Conheço um livro que dá uma tremenda contribuição para se entender esta estupenda “mágica”: ‘A Formação da Mentalidade Submissa’, do professor espanhol Vicente Romano. Pelo que sei, não há edição brasileira. Tive acesso a uma em espanhol quando estive na Venezuela e descobri depois uma edição portuguesa (em português de Portugal).
Por enquanto, direi pouco sobre o conteúdo do livro, pois o artigo está se alongando em demasia. Voltarei a ele.
Direi só que nosso Vicente Romano (infelizmente já morreu) fala dos diversos fatores que fazem a cabeça do povo: os meios de comunicação de massa (destaque para a TV, a disseminação da violência e do medo e o entretenimento), o sistema educacional (destaque para o ensino da Economia), a produção cultural, o bombardeio das mensagens publicitárias, as religiões.
A gente das esquerdas costuma comentar que “as pessoas, infelizmente, não têm consciência de seus direitos, de seus interesses...”
Vicente Romano fala da “falsa consciência”: “As pessoas aceitam as coisas porque ignoram que existem alternativas e até que extremos os governos violentam os seus interesses, ou ainda porque não identificam até que ponto saem prejudicadas pelos interesses que julgam ser os seus”.
Mais: “As preferências das pessoas podem ser produto de um sistema econômico, político e cultural contrário aos seus interesses e que estes apenas são por elas legitimamente identificados, quando se encontrem em condições de escolha livre e capacitada”.
Trump e a “nova doutrina” para América Latina
10/07/2017
De Salvador-Bahia - Em agosto de 1829 – portanto, há quase 188 anos -, Simón Bolívar, grande campeão da luta contra o colonialismo espanhol, considerado o libertador da Venezuela, Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e Panamá, soltou sua célebre frase.
Frase lembrada e relembrada nos inúmeros discursos do seu conterrâneo, o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, durante o entardecer do século 20 e o amanhecer do 21:
"Os Estados Unidos parecem destinados pela Providência a encher a América de misérias em nome da liberdade".
Há 188 anos atrás!
Pois não é que agora, no mês passado, nossa desmemoriada (quando é conveniente) imprensa – nossa e a internacional, os monopólios hegemônicos – alardeou uma “nova doutrina” dos Estados Unidos para a América Latina, proclamada pelo falastrão e ultradireitista presidente Donald Trump!?.
E qual seria esta “nova doutrina”? A doutrina pela qual o império estadunidense se sente autorizado a intervir militarmente na região em nome da "liberdade".
O anúncio foi feito com pompa e circunstância em Miami (EUA), diante do que resta dos esclerosados cubanos anticastristas. Para os “miameros”, como diria com desprezo Chávez (no espanhol, pronuncia-se Miami como está escrito e não “maiame”, como os brasileiros imitando a pronúncia no inglês).
A tal da “nova doutrina” foi anunciada, para agrado aos “miameros”, juntamente com uma suposta suspensão dos acordos de aproximação negociados entre os governos Barack Obama e Raúl Castro. Acordos que vieram depois de inacreditável meio século de resistência dos cubanos.
Concretamente, no entanto, segundo noticiários mais confiáveis, o anúncio trata de restrições associadas às condições de viagens dos norte-americanos a Cuba e limitações a transações com empresas estatais cubanas.
Mas voltemos à “nova doutrina”, que de nova nada tem.
Se Bolívar, defensor da sonhada soberania da Pátria Grande dos sul-americanos, já apontava o dedo acusador contra os EUA há quase 200 anos atrás, o que dizer das últimas sete décadas durante as quais o poderoso país do Norte se assumiu como império?
Ostensivamente depois do final da chamada Segunda Guerra Mundial, que marcou o declínio do império britânico. E a América Latina passou a ser o seu “quintal”.
Daí para cá, o governo dos EUA, sempre em nome da “liberdade” – na verdade, no interesse dos negócios de suas grandes empresas – pilhou as riquezas naturais da região, desestabilizou e invadiu países, promoveu e apoiou golpes de Estado, deu aulas de repressão e tortura aos militares latino-americanos, sustentou ditaduras antes militares, atualmente “brandas”. Como a de hoje no Brasil, mantida através dum esquema midiático-judicial-parlamentar.
O processo mais escandaloso dos nossos dias na Pátria Grande é a investida contra o governo bolivariano da Venezuela. Não por acaso um país riquíssimo em petróleo. Está convulsionado há mais de 100 dias, com quase uma centena de mortos.
As digitais do império estadunidense estão todas lá. Sempre em nome da “liberdade”, já indicava Simón Bolívar, o Libertador, há 188 anos atrás.
10/07/2017
De Salvador-Bahia - Em agosto de 1829 – portanto, há quase 188 anos -, Simón Bolívar, grande campeão da luta contra o colonialismo espanhol, considerado o libertador da Venezuela, Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e Panamá, soltou sua célebre frase.
Frase lembrada e relembrada nos inúmeros discursos do seu conterrâneo, o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, durante o entardecer do século 20 e o amanhecer do 21:
"Os Estados Unidos parecem destinados pela Providência a encher a América de misérias em nome da liberdade".
Há 188 anos atrás!
Pois não é que agora, no mês passado, nossa desmemoriada (quando é conveniente) imprensa – nossa e a internacional, os monopólios hegemônicos – alardeou uma “nova doutrina” dos Estados Unidos para a América Latina, proclamada pelo falastrão e ultradireitista presidente Donald Trump!?.
E qual seria esta “nova doutrina”? A doutrina pela qual o império estadunidense se sente autorizado a intervir militarmente na região em nome da "liberdade".
O anúncio foi feito com pompa e circunstância em Miami (EUA), diante do que resta dos esclerosados cubanos anticastristas. Para os “miameros”, como diria com desprezo Chávez (no espanhol, pronuncia-se Miami como está escrito e não “maiame”, como os brasileiros imitando a pronúncia no inglês).
A tal da “nova doutrina” foi anunciada, para agrado aos “miameros”, juntamente com uma suposta suspensão dos acordos de aproximação negociados entre os governos Barack Obama e Raúl Castro. Acordos que vieram depois de inacreditável meio século de resistência dos cubanos.
Concretamente, no entanto, segundo noticiários mais confiáveis, o anúncio trata de restrições associadas às condições de viagens dos norte-americanos a Cuba e limitações a transações com empresas estatais cubanas.
Mas voltemos à “nova doutrina”, que de nova nada tem.
Se Bolívar, defensor da sonhada soberania da Pátria Grande dos sul-americanos, já apontava o dedo acusador contra os EUA há quase 200 anos atrás, o que dizer das últimas sete décadas durante as quais o poderoso país do Norte se assumiu como império?
Ostensivamente depois do final da chamada Segunda Guerra Mundial, que marcou o declínio do império britânico. E a América Latina passou a ser o seu “quintal”.
Daí para cá, o governo dos EUA, sempre em nome da “liberdade” – na verdade, no interesse dos negócios de suas grandes empresas – pilhou as riquezas naturais da região, desestabilizou e invadiu países, promoveu e apoiou golpes de Estado, deu aulas de repressão e tortura aos militares latino-americanos, sustentou ditaduras antes militares, atualmente “brandas”. Como a de hoje no Brasil, mantida através dum esquema midiático-judicial-parlamentar.
O processo mais escandaloso dos nossos dias na Pátria Grande é a investida contra o governo bolivariano da Venezuela. Não por acaso um país riquíssimo em petróleo. Está convulsionado há mais de 100 dias, com quase uma centena de mortos.
As digitais do império estadunidense estão todas lá. Sempre em nome da “liberdade”, já indicava Simón Bolívar, o Libertador, há 188 anos atrás.
21/12/2016
De Salvador-Bahia – É importante que um líder popular da envergadura de João Pedro Stédile, o dirigente de maior destaque do MST, reconheça, claramente, essa tremenda falha das esquerdas brasileiras.
(Li no site do jornal Brasil de Fato, sob o título ‘Espero que a classe trabalhadora comece a se mexer’. O entrevistador Paulo Moreira Leite perguntou: “Onde foi que nós erramos”? Stédile menciona erros dos governos Lula e Dilma e do movimento popular e democrático, cita várias falhas e insuficiências, como a falta de democratização da mídia, e no final: “E não conseguimos construir nossos próprios meios de comunicação de massa”).
Só esta frase sobre o assunto no meio da entrevista, que se estende sobre o sufoco atual da luta popular, a reação contra as consequências do golpe midiático/judicial/parlamentar (a serviço do capital financeiro/rentismo) e também sobre o apoio do papa Francisco ao movimento popular.
Nada mais foi comentado ou perguntado sobre o tema específico, no qual venho insistindo há alguns anos, sob a consigna da necessidade da luta pela construção duma mídia contra-hegemônica.
As esquerdas no Brasil são refratárias a este tema e agora, com o golpe e a destruição de pequenas conquistas no âmbito da EBC, tudo fica mais difícil. Daí que vejo esta pequena menção do líder dos Sem-Terra como alvissareira.
Parece uma declaração óbvia e sem grande relevância, mas não é, pelo menos para quem matraca nessa tecla há muito tempo e não vê repercussão, como é o caso deste modesto escrevedor que vos fala.
Digo a vocês: ou estou redondamente enganado ou não há consciência desta falha entre as lideranças políticas do Brasil envolvidas na luta democrática, popular, nacionalista e de esquerda.
E nem entre os chamados blogueiros progressistas, que se esfolam para tentar fazer o contraponto à Globo e demais meios hegemônicos. Tentam heroicamente e – me parece – não demonstram ter consciência de que não têm armas e munições suficientes para fazê-lo.
Faltam armas na batalha da comunicação
As mentes e corações dos brasileiros, há décadas, estão submetidos ao massacre incessante dos noticiários manipulados e visões de mundo (ideologia e cultura do ódio, da violência, do consumismo e da futilidade) vomitados pelas forças de direita, através da Globo e demais monopólios da mídia hegemônica.
Enquanto isso, os meios de comunicação de massa com algum compromisso democrático e nacionalista - honestos do ponto de vista jornalístico -, são raros e fracos, levando em conta os meios tradicionais (TV, rádio, jornal e revista).
O que alivia o nosso sufoco são os meios digitais, hoje uma força crescente: blogs/sites, jornais online, portais e redes sociais. Para se ter uma ideia é bastante anotar o poder de reação da rede de blogs chamados progressistas.
Mas, mesmo aí, creio que muita gente se ilude, inclusive companheiros de esquerda. Temos um bom poder de fogo em se tratando da web, mas é preciso compreender que aí também a direita tem mais força, tem mais dinheiro, tem mais influência, mesmo estando longe da hegemonia avassaladora exercida nos meios tradicionais.
Diante desse quadro, volto a constatar: lideranças das esquerdas não têm consciência desta nossa fraqueza. Quantas vezes você já viu Stédile dizendo algo semelhante?
Lula, perseguido pelo poderoso condomínio formado pelas forças golpistas, aponta o dedo acusador, a todo momento e com toda razão, contra a Globo e cúmplices da imprensa. Antes do golpe estar configurado e, em seguida, consumado, quantas vezes você viu Lula acusar, explicitamente, a Globo?
A ex-presidenta Dilma nem se fala: quem não se lembra daquela besteirada que ela dizia referindo-se ao controle remoto como o meio mais eficaz de fazer a regulamentação da mídia?
E o nosso José Dirceu, talvez a vítima mais escancarada do ódio da plutocracia brasileira, proclamando em carta ao amigo e escritor Fernando Morais “delenda Rede Globo”? Quem não se lembra que ele chegou a pensar que a Globo era “nossa”, isto é, do governo “petista”?
Consciência da fraqueza das esquerdas
O artigo já vai se alongando e andam me avisando que escrevo textos longos demais. Mas não tem jeito. Tenho que registrar que pelo menos dois líderes políticos brasileiros mostram-se sensíveis à necessidade duma imprensa alternativa forte: o senador Roberto Requião (PMDB-Paraná) e o cientista político Roberto Amaral, ex-presidente do PSB (já falei deles em outro artigo).
Registro também um companheiro que sempre defende como fundamental a existência de veículos da mídia contra-hegemônica: o jornalista Beto Almeida, dirigente da TV Comunitária de Brasília e conselheiro da TV Telesur. Ele lembra sempre o protagonismo relevante do jornal Última Hora, de Samuel Wainer.
Temos que discutir vários aspectos, mobilização, organização, táticas, estratégias, etc, mas carentes de meios que possam dialogar com as massas – a fim de expressar com amplitude nossa versão dos fatos, nossa interpretação e nossas opiniões – temos diminutas chances de construir algum avanço na luta pelos interesses populares e nacionais.
Fecho com uma declaração, de 2014, de Carlos Araújo, ex-marido e ex-companheiro de militância política da então presidenta Dilma (lembrada em matéria do jornal argentino Página/12, assinada por Gustavo Veiga, edição de 13/05/2016, intitulada ‘Un actor clave en el show opositor’, sobre o escandaloso poder das Organizações Globo):
Traduzo: “É incompreensível que o governo não tenha o respaldo de nenhum jornal do Brasil, um jornal que consiga que nossas ideias sejam publicadas. Para discordar ou debater é necessário um jornal. Só há uma pequena revista nacional e alguns meios de comunicação digitais que apoiam o governo. Nós temos que trabalhar para isso”.
O grande erro de Fidel, segundo Fidel29/11/2016
De Salvador-Bahia – A revelação é de fonte inteiramente confiável, seu grande amigo e companheiro, o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, numa das entrevistas que concedeu ao jornalista José Vicente Rangel, editadas no livro ‘De Yare a Miraflores’ el mismo subversivo’ (Ediciones Correo del Orinoco – Yare é uma prisão e Miraflores é o palácio presidencial em Caracas).
Fidel Castro confessou a Chávez – contou o comandante da denominada Revolução Bolivariana – que seu grande erro foi ter pensado que sabia como construir o socialismo.
Quantos líderes revolucionários, filósofos, comandantes, chefes políticos das esquerdas ou simples militantes não pensamos um dia, também, que sabíamos como construir o socialismo?
A começar por Lênin, talvez o maior de todos, líder da Revolução Bolchevique de 1917, a pioneira, que espalhou auroras e promessas de redenção por esse mundão todo, aquecendo corações e levantando em rebeldia as maiorias de trabalhadores, de oprimidos e injustiçados. E após muitos êxitos, foi se perdendo nos descaminhos naturais diante da enorme fortaleza do capitalismo.
Passamos pela grande revolução chinesa, liderada por Mao Tse Tung, que acabou desembocando na grande potência econômica dos nossos dias, sustentada por um regime que muitos chamam – não sei qual a melhor caracterização – de capitalismo de Estado.
Houve ainda as experiências conhecidas formalmente como socialistas dos países do Leste europeu, um processo imposto de cima para baixo em decorrência da vitória da então União Soviética na Segunda Guerra Mundial e a partilha das zonas de influência acordada com as outras potências vitoriosas - Estados Unidos e Inglaterra. Era o chamado socialismo real que desmoronou junto com a URSS em 1989/92.
Cuba de Fidel – não me sai da memória em 2007, Fidel ainda vivo mas já afastado da governança, a estudantada gritando nas ruas de Havana um grito cadenciado, soberano, marcial, “Esta terra é de Fidel” – foi e ainda é, depois de mais de meio século de luta, um caso à parte, apesar do empenho cotidiano do gigante imperial e do bombardeio incessante da mídia hegemônica mundial.
Independência e soberania
Depois de quase meio século, passando pela tentativa rechaçada de invasão da ilha, por atos terroristas, pelo desumano bloqueio econômico, pelo poderoso e moderno aparato de propaganda da “inteligência” imperial, inclusive através de meios de comunicação clandestinos, pelo cerco infernal da cultura consumista, pelas inúmeras tentativas de assassinato de Fidel até a incrível sobrevivência após a queda da União Soviética.
É quase inacreditável: os cubanos – um país diminuto de 11 milhões de habitantes, localizado nas barbas do império – estão lá resistindo, qual os míticos gauleses de Obelix e Asterix nas barbas do império romano!
No quesito ‘independência e soberania’, plenamente vitoriosos. No quesito ‘qualidade de vida’, garantindo o mínimo de dignidade pessoal, com comida, moradia, educação e saúde para todos. No quesito ‘integração soberana da América Latina’, uma influência exemplar e poderosa, espraiando especialmente através de Chávez e da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da nossa América).
No quesito ‘construção do socialismo”, certamente há muito a discutir. Fidel já destacou seu grande erro. Mas creio não restar dúvidas de que se trata da tentativa mais exitosa e duradoura de construção do socialismo no mundo.
Mesmo com erros no varejo, que são justamente os que são trombeteados e amplificados pelos monopólios da mídia inimiga, no Brasil plenamente dominante: estatização de pequenos negócios, repressão exercida por um forte Estado policial, perseguição a minorias religiosas, como os adeptos da santería (candomblé) e aos homossexuais, distorções que nos últimos anos vêm sendo enfrentadas e revertidas.
Há também os defeitos que são inventados e as qualidades que são transformadas em defeitos, pois não há limites éticos para uma imprensa hegemônica e raivosa contra tudo que possa significar uma esperança de melhoria de vida para as maiorias.
Deixo aqui a antevisão dos que sonhamos com um mundo melhor e mais justo: mais para frente – 50, 100, 200 anos? -, quando o socialismo – “a verdadeira democracia”, como gostava de dizer Chávez – criar mais asas, a obra monumental de Fidel terá o reconhecimento devido, ao lado de revolucionários e humanistas da altura de Marx, Lênin, Mao Tse Tung, Che Guevara... Quem mais? Talvez Jesus, separado da hipocrisia de muitos autocelebrados cristãos.
Requião para presidente: combatendo o rentismo e a mídia hegemônica
16/11/2016
“A PEC congela praticamente tudo, menos os juros da dívida interna, que nunca foi auditada”, denuncia Requião ao convocar os brasileiros para debater a PEC 241 (ou 55). Segundo o articulista, dois temas cruciais da nossa realidade credenciam, politicamente, o senador paranaense como o melhor candidato a presidente do Brasil.
De Salvador-Bahia – Eu queria ser um blogueiro influente para lançar o senador Roberto Requião (PMDB-Paraná) para presidente da República. Temos mais dois bons candidatos no campo popular e das esquerdas: Lula, se a conspiração da Globo/Lava-Jato não lograr êxito, e Ciro Gomes (PDT).
Mas eu preferiria Requião (o condicional é uma “homenagem” à sua inviabilidade partidária). Por que? Porque Requião, além de bom de briga, nacionalista comprovado, progressista, desenvolvimentista, atuante contra a corrupção, pela integração soberana da América Latina e aberto à luta pelo socialismo, investe em duas áreas, na minha opinião, fundamentais:
1 – A luta contra o rentismo. Gosto de dizer, nesses tempos em que se fala tanto de combate à corrupção - corruptos contumazes exibem nas telas das TVs sua moralidade hipócrita -, que a verdadeira corrupção que suga o dinheiro do orçamento brasileiro são os juros e amortizações pagos pela chamada dívida pública.
Do orçamento da União executado em 2015, no valor total de 2,2 trilhões de reais, foram destinados em torno de 900 bilhões de reais, 42,43%, para as contas dos rentistas (banqueiros e outros especuladores que compram títulos do Tesouro Nacional, cuja identificação é mantida em sigilo), referentes ao pagamento de juros e amortizações da dívida.
Só para se ter uma ideia do gigantismo que tais números representam, registre-se que o orçamento da Saúde no mesmo 2015 foi 4,14%, enquanto que o da Educação foi 3,91% (em torno dos 80 bilhões de reais, cada um).
Convocação para debater a PEC
Esta tal dívida interna (e também a externa) teria que ser auditada, se fossem cumpridos dispositivos da Constituição de 1988. (Todos esses números podem ser checados no site da Auditoria Cidadã da Dívida Pública: http://migre.me/vvKbU).
Os monopólios dos meios de comunicação de massa no Brasil nunca vão divulgar tais números e explicar ao povo brasileiro como esta sangria se dá, se processa, se consente, se esconde. Com a ditadura midiática sob a qual vivemos nunca este escândalo será conhecido, estudado e compreendido pelo povo brasileiro.
Nesta semana Requião, através dum vídeo (Conversa franca e séria sobre a PEC do FIM DO MUNDO), está convocando os brasileiros para um debate sobre a PEC 241 (PEC 55 no Senado), onde desmascara as mentiras que tentam ocultar os interesses dos rentistas, o “engodo neoliberal” do governo golpista presidido por Michel Temer.
Desconstrói, didaticamente, os argumentos dos defensores da PEC, bolada a serviço dos ricos e defendida pela mídia, com “os bancos financiando os grandes jornais e redes de televisão”, como ele diz.
“A PEC congela tudo, investimento público em infraestrutura, financiamento de empresas brasileiras, congela praticamente tudo, menos os juros da dívida interna, que nunca foi auditada”, explica, prevendo a quebra do país e a revolta do povo trabalhador. (Para ver os 13 minutos do vídeo de Requião: http://www.viomundo.com.br/denuncias/requiao-preve-guerra-civil-e-diz-que-a-pec-do-fim-do-mundo-cassa-antecipadamente-o-mandato-do-proximo-presidente-da-republica.html ).
2 – A segunda área que merece a ação destemida de Região já foi, forçosamente, mencionada acima: o combate à mídia hegemônica, a luta contra a Globo e demais veículos cúmplices, donos ainda das “verdades” dominantes, apesar da resistência e contraditório da blogosfera progressista e dos “guerrilheiros” das redes socais.
A batalha midiática é a batalha da democracia
Destaco o papel de Requião não apenas quanto à denúncia dos escandalosos monopólios, do abandono de critérios jornalísticos e consequente partidarismo dos noticiários e quanto à luta pela democratização das concessões de rádio e TV. Neste particular, penso que há um grande consenso entre as forças de esquerda.
O destaque aqui é por se tratar de um dos pouquíssimos políticos brasileiros com consciência da necessidade da construção duma mídia contra-hegemônica. Ou seja, a construção duma rede de órgãos de comunicação de massa – tanto da mídia tradicional, como da digital -, capaz de enfrentar o dia-a-dia da batalha midiática, hoje, por excelência, a batalha fundamental da democracia.
(Além de Requião, identifico apenas mais um, pelo menos de acordo com o acompanhamento que faço quase diariamente sobre o tema: trata-se do professor Roberto Amaral, ex-presidente do PSB e ex-ministro de Lula, que já vi se lamentar do fato de lideranças de esquerda não terem um meio de comunicação de massa para dialogar com os trabalhadores, com o povo).
O desempenho de Requião à frente do governo paranaense (nos dois dos seus três mandatos, entre 2003-2010) é uma demonstração eloquente da sua disposição de enfrentar a tirania midiática, inclusive através de mídias alternativas. Foi dele a célebre sugestão ao governo Lula para que se criasse uma poderosa emissora de TV para dar testa à Globo. Em vão como se sabe.
Basicamente por estes dois temas, sou Requião para presidente. (Apesar da fase tormentosa pela qual passamos no Brasil, a audácia dos nossos estudantes secundaristas nos dá o direito a sonhar e a ter esperanças).
PS.: Hoje está na onda se cobrar autocrítica das esquerdas e particularmente do PT, até entre os próprios petistas. Seria um debate instigante, mesmo porque estes dois itens referidos acima talvez sejam bastante requeridos numa autocrítica petista. Valeria outro artigo.
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Trump: Moore acertou contra imprensa, pesquisas e seu desejo
09/11/2016
Michael Moore diz que Hillary representa a velha guarda da política dos Estados Unidos, o chamado establishment, um sistema deteriorado que teima em se manter, odiado por amplas parcelas da população, especialmente os jovens.
De Salvador-Bahia – Com mais de três meses de antecedência, o cineasta estadunidense Michael Moore cometeu uma fantástica façanha como analista político: previu – na verdade, garantiu de forma contundente e substancial – que o milionário Donald Trump seria o próximo presidente dos Estados Unidos. Contra as previsões da grande imprensa e das pesquisas.
E contra os seus próprios desejos. Tanto que, passando por cima dos gemidos da sua consciência, se dizia disposto até a quebrar uma jura e votar na intragável (inclusive para ele, conforme se depreende de sua argumentação) Hillary Clinton. (Quem se lembra que esta senhora, ex-primeira dama do país e então chanceler de Obama, saudou com uma sonora gargalhada a notícia do bárbaro linchamento público de Muammar Kadafi, o presidente da Líbia deposto por tropas do império e aliados?) Evidentemente, Moore não queria a eleição de Trump, assegurada já chegando ao final das apurações na madrugada desta quarta-feira.
Não queria na Casa Branca um homem marcado por muitos “istas” terríveis: machista, sexista, racista, xenófobo, direitista extremista, armamentista... “Eu disse a vocês que Trump ganharia a candidatura republicana, e agora preciso lhes dar uma notícia ainda mais terrível e deprimente: Donald J. Trump ganhará em novembro”, anunciou Moore no artigo ‘Cinco razões pelas quais Trump ganhará’. “Nunca na minha vida desejei tanto que alguém prove que estou enganado”, lamentou.
Nas ‘Cinco razões’, Moore - identificado como um documentarista rebelde contra as misérias provocadas pelo império -, alinha, além de peculiaridades do seu país, alguns fatores marcantes da conjuntura social e política que beneficiariam o candidato do Partido Republicano. Explica, por exemplo, que Hillary representa a velha guarda da política dos Estados Unidos, o chamado establishment, um sistema deteriorado que teima em se manter, odiado por amplas parcelas da população, especialmente os jovens.
Lembra que a juventude, que se entusiasmou com o senador Bernie Sanders – de tendências socialistas e que perdeu a indicação como candidato do Partido Democrata -, dificilmente votaria em Hillary. Moore diz que haveria uma espécie de recado: “A irritação com o sistema levará as pessoas a votarem em Trump, não porque estejam de acordo com ele, não porque gostem do seu fanatismo e do seu egocentrismo, simplesmente porque podem”. (Quem quiser ler ou reler o artigo, no blog Conversa Afiada: http://www.conversaafiada.com. br/politica/trump-michael- moore-ja-sabia ).
Criminalização da política Apesar de não acompanhar o dia-a-dia da política interna dos Estados Unidos, acrescento que a vitória de Trump pode ser entendida também dentro do atual contexto de negação e criminalização da política, uma característica hoje dominante na América Latina, reforçada pelas campanhas da mídia hegemônica, inclusive no Brasil.
Não que Hillary tenha a ver com alguma coisa progressista, muito pelo contrário, embora Trump possa ser visto como uma alternativa ainda mais à direita. Mas o que mais conta no caso é o fato do milionário não ser político, nunca ter militado na política partidária, podendo ser identificado pela maioria do eleitorado – desinformado, despolitizado e descontente - como um milionário destrambelhado e exótico, ou seja, algo “novo”, imprevisível.
No mais, nos EUA jogam um papel importante as tradicionais abstenções, sempre elevadíssimas. Mais ou menos a metade dos eleitores, sempre, não se mexe para votar. Penso que a impressão dos que se abstêm é simples: seja qual for o eleito, o famigerado complexo-industrial-militar mantém o império azeitado.
Creio que as abstenções, além do domínio avassalador do dinheiro no processo eleitoral, são um fator que macula a representatividade da democracia estadunidense, apontada por muitos incautos como exemplar. E não me venham com o argumento fácil do voto facultativo: já acompanhei eleição na Venezuela, no tempo de Hugo Chávez, com o comparecimento na faixa dos 80% do eleitorado. E lá o voto também não é obrigatório.
Pense na “onda conservadora” que varre a América Latina e no papel da mídia hegemônica. É uma campanha incessante contra a política e a favor dos anti-valores, inserida, dissimuladamente ou não, em toda a programação, não apenas nos tele-jornais, e não apenas pelo que noticiam e como noticiam, mas também pelo que censuram.
No caso específico do Brasil, com a confirmação da derrota do PT nas recentes eleições municipais (tinha 630 prefeitos e ficou com 250, perdendo inclusive na simbólica São Paulo), fala-se muito nos erros do partido, que nasceu defendendo um comportamento ético na política e acabou se chafurdando na mesma lama do PMDB, PSDB, DEM, PP e demais.
Chegou-se até a falar em irrelevância do grupo de mídia da Globo, diante da vitória de Marcelo Crivella no Rio, um homem da Igreja Universal e da Rede Record. Não surtiu efeito a baixaria dos paus-mandados dos filhos de Roberto Marinho contra Crivella.
A verdade é que os fatos sociais (e políticos, claro) são muito mais complicados do que a gente é tentada a imaginar. Temos que ter sensatez para ler e estudar cientistas sociais e políticos que passam toda a vida investigando e tentando explicar as coisas da política.
Fico totalmente alarmado e de baixo astral quando vejo pessoas, sinceras e bem intencionadas, pensando que são bem informadas porque assistem toda noite o Jornal Nacional da Globo.
E, no final, todos terminamos posando de pretenciosos e alardeando, cada um, a sua versão, a sua “verdade”. Eu, óbvio, não sou exceção. Então, vamos lá:
Criminalização da política
Para tentar entender os resultados das eleições municipais, com a subida das forças conservadoras, situadas nos espaços mais à direita, fico com a avaliação do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PC do B, feita em recente entrevista a Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada. Destaco o trecho que mais me interessa:
De Salvador-Bahia – Com mais de três meses de antecedência, o cineasta estadunidense Michael Moore cometeu uma fantástica façanha como analista político: previu – na verdade, garantiu de forma contundente e substancial – que o milionário Donald Trump seria o próximo presidente dos Estados Unidos. Contra as previsões da grande imprensa e das pesquisas.
E contra os seus próprios desejos. Tanto que, passando por cima dos gemidos da sua consciência, se dizia disposto até a quebrar uma jura e votar na intragável (inclusive para ele, conforme se depreende de sua argumentação) Hillary Clinton. (Quem se lembra que esta senhora, ex-primeira dama do país e então chanceler de Obama, saudou com uma sonora gargalhada a notícia do bárbaro linchamento público de Muammar Kadafi, o presidente da Líbia deposto por tropas do império e aliados?) Evidentemente, Moore não queria a eleição de Trump, assegurada já chegando ao final das apurações na madrugada desta quarta-feira.
Não queria na Casa Branca um homem marcado por muitos “istas” terríveis: machista, sexista, racista, xenófobo, direitista extremista, armamentista... “Eu disse a vocês que Trump ganharia a candidatura republicana, e agora preciso lhes dar uma notícia ainda mais terrível e deprimente: Donald J. Trump ganhará em novembro”, anunciou Moore no artigo ‘Cinco razões pelas quais Trump ganhará’. “Nunca na minha vida desejei tanto que alguém prove que estou enganado”, lamentou.
Nas ‘Cinco razões’, Moore - identificado como um documentarista rebelde contra as misérias provocadas pelo império -, alinha, além de peculiaridades do seu país, alguns fatores marcantes da conjuntura social e política que beneficiariam o candidato do Partido Republicano. Explica, por exemplo, que Hillary representa a velha guarda da política dos Estados Unidos, o chamado establishment, um sistema deteriorado que teima em se manter, odiado por amplas parcelas da população, especialmente os jovens.
Lembra que a juventude, que se entusiasmou com o senador Bernie Sanders – de tendências socialistas e que perdeu a indicação como candidato do Partido Democrata -, dificilmente votaria em Hillary. Moore diz que haveria uma espécie de recado: “A irritação com o sistema levará as pessoas a votarem em Trump, não porque estejam de acordo com ele, não porque gostem do seu fanatismo e do seu egocentrismo, simplesmente porque podem”. (Quem quiser ler ou reler o artigo, no blog Conversa Afiada: http://www.conversaafiada.com.
Criminalização da política Apesar de não acompanhar o dia-a-dia da política interna dos Estados Unidos, acrescento que a vitória de Trump pode ser entendida também dentro do atual contexto de negação e criminalização da política, uma característica hoje dominante na América Latina, reforçada pelas campanhas da mídia hegemônica, inclusive no Brasil.
Não que Hillary tenha a ver com alguma coisa progressista, muito pelo contrário, embora Trump possa ser visto como uma alternativa ainda mais à direita. Mas o que mais conta no caso é o fato do milionário não ser político, nunca ter militado na política partidária, podendo ser identificado pela maioria do eleitorado – desinformado, despolitizado e descontente - como um milionário destrambelhado e exótico, ou seja, algo “novo”, imprevisível.
No mais, nos EUA jogam um papel importante as tradicionais abstenções, sempre elevadíssimas. Mais ou menos a metade dos eleitores, sempre, não se mexe para votar. Penso que a impressão dos que se abstêm é simples: seja qual for o eleito, o famigerado complexo-industrial-militar mantém o império azeitado.
Creio que as abstenções, além do domínio avassalador do dinheiro no processo eleitoral, são um fator que macula a representatividade da democracia estadunidense, apontada por muitos incautos como exemplar. E não me venham com o argumento fácil do voto facultativo: já acompanhei eleição na Venezuela, no tempo de Hugo Chávez, com o comparecimento na faixa dos 80% do eleitorado. E lá o voto também não é obrigatório.
Eleições municipais e a vitória da anti-política
04/11/2016Pense na “onda conservadora” que varre a América Latina e no papel da mídia hegemônica. É uma campanha incessante contra a política e a favor dos anti-valores, inserida, dissimuladamente ou não, em toda a programação, não apenas nos tele-jornais, e não apenas pelo que noticiam e como noticiam, mas também pelo que censuram.
No caso específico do Brasil, com a confirmação da derrota do PT nas recentes eleições municipais (tinha 630 prefeitos e ficou com 250, perdendo inclusive na simbólica São Paulo), fala-se muito nos erros do partido, que nasceu defendendo um comportamento ético na política e acabou se chafurdando na mesma lama do PMDB, PSDB, DEM, PP e demais.
Chegou-se até a falar em irrelevância do grupo de mídia da Globo, diante da vitória de Marcelo Crivella no Rio, um homem da Igreja Universal e da Rede Record. Não surtiu efeito a baixaria dos paus-mandados dos filhos de Roberto Marinho contra Crivella.
A verdade é que os fatos sociais (e políticos, claro) são muito mais complicados do que a gente é tentada a imaginar. Temos que ter sensatez para ler e estudar cientistas sociais e políticos que passam toda a vida investigando e tentando explicar as coisas da política.
Fico totalmente alarmado e de baixo astral quando vejo pessoas, sinceras e bem intencionadas, pensando que são bem informadas porque assistem toda noite o Jornal Nacional da Globo.
E, no final, todos terminamos posando de pretenciosos e alardeando, cada um, a sua versão, a sua “verdade”. Eu, óbvio, não sou exceção. Então, vamos lá:
Criminalização da política
Para tentar entender os resultados das eleições municipais, com a subida das forças conservadoras, situadas nos espaços mais à direita, fico com a avaliação do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PC do B, feita em recente entrevista a Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada. Destaco o trecho que mais me interessa:
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Eleições municipais e a vitória da anti-política
De Salvador-Bahia - Amigos meus, fazendo uma crítica companheira, me dizem que, às vezes, eu absolutizo a influência dos monopólios da comunicação, em especial da Globo, ao tentar entender a ascensão política hoje da direita no Brasil e na América Latina.
Um dos argumentos mais citados é a força crescente da Internet e redes sociais, que atraem a maioria dos jovens, com a consequente queda de audiência de TVs e rádios e a doença terminal de meios de papel (jornais, revistas), fato que me parece incontestável.
“O que nós tivemos foi a vitória de uma ideologia, hoje, hegemônica, marcada pela anti-política. E isso se traduziu, por exemplo, na vitória do absenteísmo no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Porto Alegre - e em São Paulo também, no primeiro turno. Então, na verdade, nós temos mais uma hegemonia da anti-política do que, propriamente, a vitória de um único ator partidário isolado. A bem da verdade, quem perdeu a eleição foi a política”.
Concordando com tal visão, acrescento que a tendência mostrada pelo eleitorado, sobretudo quanto à elevada abstenção, vai no mesmo rumo dos ventos que sopram atualmente na América Latina. (Talvez também em grande parte do mundo, mas costumo me restringir à nossa Pátria Grande, cuja política acompanho com mais atenção).
Há, no decorrer desta década, essa tendência geral: são os ventos da “restauração conservadora” identificados pelo presidente equatoriano Rafael Correa; ou a “onda conservadora” apontada pelo vice-presidente boliviano Álvaro García Linera, um reconhecido cientista social.
Nessa tendência geral incide a campanha da mídia hegemônica brasileira, bem sucedida justamente porque há esse caldo de cultura favorável. É como remar a favor da onda, soprar no mesmo rumo dos ventos.
E em que consiste exatamente esta campanha, que se intensificou a partir do chamado Mensalão? Consiste na criminalização da política, dos políticos, dando uma ênfase toda especial à criminalização das esquerdas, do petismo, do lulismo, dos movimentos sociais à esquerda, dos sindicatos.
É significativa a consagração de milionários como João Doria, empresário que se diz não-político, eleito no primeiro turno, uma façanha inédita na capital paulista. (O sucesso surpreendente do milionário Donald Trump nos Estados Unidos está também inserido nesta conjuntura).
Campanha pelos anti-valores nas TVs
Pense na TV Globo e demais emissoras: a campanha contra a política e a favor dos anti-valores – como a chamada meritocracia, o consumismo, a intolerância, o ódio às diferenças e a violência -, está presente, dissimuladamente ou não, em toda a programação, não apenas nos tele-jornais (e não apenas pelo que noticiam e como noticiam, mas também pelo que censuram).
Está nas novelas, nos filmes (a grande maioria estadunidenses), nos programas de auditório, de humor - no chamado entretenimento -, nos anúncios publicitários, nos programas policiais tipo Datena e companhia, com a ideologia do “bandido bom é bandido morto”.
Quem não se lembra duma âncora do noticiário do SBT defendendo linchamento de bandido? Alguma punição à jornalista ou à emissora? E as inúmeras concessões de rádio e TV às diversas igrejas chamadas evangélicas, que destilam noite e dia a ideologia da intolerância contra minorias e outras religiões, particularmente contra as de matriz africana?
Outro dia vi um dos comediantes do programa ‘A praça é nossa’, do SBT, fazendo uma “piada”, na qual insinuava que Lula e Dilma seriam os dois ladrões que morreram ao lado de Jesus crucificado.
Para dar mais densidade à análise que tento fazer, lembro que, no caso do Brasil, a mídia hegemônica atua em conluio com setores dominantes da Justiça, do Ministério Público, da PF, do Congresso e ultimamente do governo golpista. O ingrediente fundamental é o combate à corrupção, manipulado seletivamente, ao sabor das conveniências momentâneas e/ou estratégicas.
Outro fator influente, do qual não podemos esquecer, é a pesada crise econômica que atinge todo o mundo, usada para desgastar Dilma e que agora se volta contra o governo golpista na ânsia pelo chamado ajuste fiscal, via PEC-241 (agora PEC-55).
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Os petistas e a busca de armas para a batalha midiática
25/10/2016
A altivez de Lula no vídeo “me respeitem para que eu possa respeitar vocês” em meio ao debate para disputar a hegemonia nas mentes e corações dos brasileiros: uma folha de papel para circular entre a militância, uma rede nacional na Internet, a construção de meios tradicionais e digitais, vale tudo para resistir à avassaladora campanha anti-petista.
De Salvador-Bahia – Outro dia topei com um antigo lutador das esquerdas baianas. Era militante sindical, agora atua no movimento por moradia e no PT. Estava, como a maioria do pessoal de esquerda, alarmado com os fracassos atuais no Brasil, o último tinha sido a derrota nas eleições municipais (se ampliamos para nossa América Latina, o último foi o também de eleições municipais, desta vez no Chile, no último domingo, dia 23).
Nosso incansável batalhador pela causa popular aproveita o encontro casual para fazer uma breve análise de conjuntura, onde se destacava, além da derrota petista, a campanha liderada pelo juiz Sérgio Moro, que através da Lava Jato, usa o combate à corrupção, seletiva e partidariamente, para destroçar o PT e o PC do B, conforme analisou.
E bateu no ponto que mais me interessa: o êxito de tal campanha só é possível por causa dos monopólios da imprensa, com a Globo à frente, claro!. Proclamou, então, uma conclusão, pelo menos para mim, óbvia: precisamos ter também armas para travar a batalha midiática.
E deu sua receita: estava criando, juntamente com companheiros, uma espécie de boletim informativo, coisa pequena, uma/duas folhas de papel, para fazer uma comunicação confiável com as bases, boletim este cujas notícias e opiniões serão incrementadas através da repercussão nas redes sociais.
Comentou inclusive que iria comunicar a iniciativa para apreciação e debate da direção nacional do partido (eu não disse, mas pensei: provavelmente tal comunicado vai dormir numa gaveta ou vai diretamente para a lata de lixo, porque se há dirigentes partidários particularmente insensíveis, ou equivocados, quanto à questão da comunicação, estes são os petistas).
Confesso que fiquei mais ou menos decepcionado. Esperava que nosso personagem tivesse decidido atuar entre suas bases tentando uma forte mobilização interna para que seus dirigentes adotassem a luta pela construção duma potente rede de mídia contra-hegemônica, buscando se contrapor à avassaladora campanha anti-petista da Globo e seus cúmplices.
Respondi: mas companheiro, uma folha de papel para circular entre a militância, mesmo com o auxílio providencial das redes sociais, para enfrentar a toda-poderosa Globo? Precisamos é lutar por grandes veículos de comunicação de massa, temos que disputar a hegemonia nas mentes e corações dos brasileiros, do contrário nunca vamos construir nada de consistente no campo popular, nacionalista e de esquerda, inclusive para lutar com mais força contra as concessões de rádio e TV dos monopólios, que estão aí firmes e fortes apesar de proibidos pela Constituição.
De qualquer forma, disse ao companheiro que concordo quando ele defende que o ponto nevrálgico da resistência popular é procurar instrumentos para travar a batalha midiática, esta que é hoje o ponto chave dos encontros e desencontros da democracia.
No final do papo, elogiei a disposição de Lula ao rebater com dignidade e altivez as repetidas agressões e acusações (sem provas) de juízes, procuradores e policiais da PF (“Me respeitem para que eu possa respeitar vocês”), especialmente quando diz: “Vocês têm estabilidade no emprego não é pra serem reféns da imprensa”.
Esqueci de lhe perguntar se havia alguma iniciativa nas bases petistas sobre a proposta feita recentemente por Lula no sentido do PT, CUT, MST e outros movimentos sociais criarem uma rede nacional na Internet para fazer o enfrentamento aos monopólios da mídia.
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Argentina: regresso ao mundo – por Alfredo Zaiat
19/10/2016
Não existem muitos países que no atual contexto econômico mundial abram seus mercados sem pedir nada em troca. A Argentina de Macri o faz e com fanatismo. Facilita o ingresso de produtos dos Estados Unidos, Brasil, Ásia e Europa que rapidamente substituem a produção nacional.
(Peço licença aos meus leitores para mais um artigo que traduzi do espanhol, desta vez tendo a ver mais com economia, um tema para mim mais complicado: é sobre a inserção colonizada dos nossos hermanos num mundo em crise. Apesar dos meus parcos conhecimentos de economia, acredito que seja uma análise bastante esclarecedora).
Por Alfredo Zaiat (*), do jornal argentino Página/12, edição impressa de 16/10/2016 – Tradução: Jadson Oliveira (o destaque acima, os intertítulos e a disposição dos parágrafos são desta edição)
Intelectuais e analistas do establishment acadêmico e midiático estão lançados a construir o relato do macrismo. Um dos pilares épicos que ponderam é a decisão política do regresso da Argentina às regras do mundo global. Nestes 10 meses estiveram desfilando executivos de multinacionais que festejam e ministros de potências ocidentais que elogiam esse retorno. Não é só publicitar o fim do isolamento internacional, como expoentes do conservadorismo têm banalizado a política exterior do kirchnerismo, mas sim postular a redefinição na forma de se relacionar no concerto político e econômico mundial.
Como se nada houvesse mudado no mundo desde a queda do Muro de Berlim, o domínio das finanças globais, a irrupção da China como potência econômica e o debacle de 2008, o macrismo se jogou nos braços do capitalismo global do século XXI. É recebido com entusiasmo porque num mundo sedento de mercados para descarregar excedentes de produção e para conseguir rendas financeiras fabulosas, o governo de Mauricio Macri ofereceu o espaço econômico argentino para que possa ser capturado.
A questão central que não avaliam em toda sua dimensão os intérpretes da marcha libertadora do macrismo é que já não existe esse mundo global de décadas passadas. Hoje está numa profunda crise sem sinais claros de qual será o desenlace.
Deflação e superprodução
A banca central estadunidense (Reserva Federal) subiria a taxa de juros no fim do ano, deixando atrás um dos ciclos mais prolongados de custo do dinheiro em quase zero. O principal banco alemão e europeu Deutsche Bank está cambaleando e analistas do mercado financeiro estão especulando que possa ser outro Lehman Brothers, o banco de investimento estadunidense que precipitou a quebra de 2008. A banca italiana está em terapia intensiva. A economia europeia não reage e a Grã Bretanha decidiu sair da União Europeia, sintoma da deterioração geral da região.
O protecionismo e o nacionalismo estão avançando a passo firme nas potências econômicas como resposta a uma crise econômica provocada pelo neoliberalismo, que como única resposta entrega políticas de austeridade ampliando o estancamento e incrementando a exclusão social. Retrocesso econômico, trabalhista e social que se expressa numa crise da representação política e o consequente surgimento de figuras por fora das estruturas tradicionais, como Donald Trump nos Estados Unidos.
A economia asiática já não é tão dinâmica e a chinesa continua liderando o ranking de crescimento global mas com variações longe dos dois dígitos. O Brasil continua num círculo vicioso de deterioração política e econômica sem um horizonte próximo de superação. A crise global está formatando uma economia mundial de deflação e superprodução.
Rumo a essa instabilidade política, econômica e social internacional se lançou o governo de Macri. Aqueles que se erigiram feitores do relato macrista festejam o fim do que denominam pejorativamente de populismo, e anunciam que se abriu uma etapa crucial de refundação do país. Não é uma ideia nova a que consiste em forjar um destino venturoso liderado pelas elites. Um dos aspectos mais frágeis desta elaboração voluntarista é que os que a formulam têm sido críticos ferozes do curto prazo do populismo e agora eles dizem que esse futuro maravilhoso depende do triunfo dos governistas nas eleições legislativas do próximo ano.
Por este motivo aceitam como licença de curto prazo um déficit gêmeo (fiscal e externo) elevadíssimo para suas almas puras da ortodoxia que nunca o convalidariam num governo populista, e um vertiginoso endividamento externo e interno, em pesos e em dólares, recursos que só são utilizados para cobrir esses enormes buracos e para cancelar dívidas. É uma combinação explosiva que está subordinada à construção da Argentina idealizada pelas elites.
Subordinação econômica à potência declinante
O macrismo e seus satélites políticos têm repetido até a exaustão que o país estava fora do mundo, e que agora são eles que empreenderam a tarefa fundamental de inseri-lo nele. Sabe-se que este suposto isolamento foi uma das tantas confusões deliberadas que moldaram o senso comum nos últimos anos. O aspecto interessante é avaliar a que mundo o macrismo decidiu incorporar a economia argentina, e fundamentalmente de que modo.
Como se nada houvessem aprendido da história, a definição geopolítica e econômica foi amarrar uma aliança estratégica com os Estados Unidos, potência que na atual etapa do capitalismo global já não está sozinha no cume do poder econômico, e sim que começou a compartilhar este espaço privilegiado com a China. Essa opção geoestratégica e econômica se parece bastante à decisão das elites da década de 30 do século passado com a assinatura do pacto Roca-Runciman, de subordinação econômica à potência declinante (Grã Bretanha) em detrimento da emergente (Estados Unidos); hoje se reitera essa equivocada perspectiva histórica das elites argentinas.
Desorientação que também manifestam ao promover uma ampla abertura financeira e de livre comércio quando o mundo já começou a transitar lentamente, porém a passo firme, rumo ao protecionismo e o nacionalismo. É uma das principais razões para se entender o entusiasmo de executivos e de diferentes ministros de potências ocidentais com o governo de Macri. Não existem muitos países que no atual contexto econômico mundial abram seus mercados sem pedir nada em troca. A Argentina de Macri o faz e com fanatismo. Facilita o ingresso de produtos dos Estados Unidos, Brasil, Ásia e Europa que rapidamente substituem a produção nacional.
Se algum intelectual orgânico do macrismo busca respostas sobre as razões da cálida recepção que tem Macri no mundo ocidental, em contraposição à crescente resistência que desperta a nível local, deve encontrá-las nesta abertura fora de época que está propiciando.
Armadilha do baixo crescimento
Recentes informes de organismos internacionais dão conta da crise internacional à qual o macrismo abriu as portas argentinas de par a par. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que agrupa 34 países desenvolvidos, observa que a economia mundial ingressou na armadilha do baixo crescimento. “A espiral não é ascendente, mas descendente. Com queda do comércio, baixa produtividade e redução do crescimento global”, aponta.
O FMI assinala que “desde 2012, o crescimento do volume do comércio mundial de produtos e serviços foi menos da metade do que nas três décadas anteriores. Apenas se manteve o ritmo com o PIB mundial e a desaceleração tem sido generalizada”.
A UNCTAD, a organização da ONU que monitora as economias dos chamados países em desenvolvimento, adverte em World Economic Situation and Prospects 2016 que o mundo está a ponto de “entrar numa terceira fase da crise financeira e não se podem descartar espirais deflacionárias danosas”. Destaca que não há investimento nos setores produtivos e que muitos países têm aumentado a distância com os países ricos em relação à década de 1980, apesar da abertura aos fluxos de capital multinacionais. Para indicar que “a maior parte desses benefícios obtidos saíram dos países ou se investiram em setores não produtivos como o imobiliário ou a especulação financeira”.
Nestas regras do mundo global, num cenário econômico internacional perturbador, o macrismo apostou para empreender a refundação da Argentina conduzida pelas elites. Não é preciso conhecer muito da história nem da conjuntura mundial para saber quais serão os custos do regresso a esse mundo.
(*) Alfredo Zaiat, 52 anos, é jornalista e economista argentino.
Link para ler no original: http://www.pagina12.com.ar/diario/economia/2-311890-2016-10-16.html
O plebiscito na Colômbia: uma oportunidade perdida – por Atilio Boron
Numa decisão apertadíssima e com uma abstenção récorde, os
colombianos disseram NÃO aos acordos de paz. “Por que? Algumas hipóteses
deveriam apontar, em primeiro lugar, a baixa credibilidade que têm na Colômbia
as instituições políticas, corroídas desde longo tempo pela tradição
oligárquica, a penetração do narcotráfico e o papel do paramilitarismo”.
Por Atilio A. Boron (*) – reproduzido do seu blog, de
03/10/2016 – Tradução: Jadson Oliveira (o destaque acima, os intertítulos e a
disposição dos parágrafos são desta edição)
O resultado do plebiscito colombiano revelou a profundidade
da polarização que, com base nos fundamentos de sua história, caracteriza a
sociedade colombiana. Também, a grave crise de seu arcaico sistema político,
incapaz de suscitar a participação cidadã que ante um plebiscito fundacional –
nada menos que para por fim a uma guerra de mais de meio século! – conseguiu
que apenas uma de cada três pessoas habilitadas a votar comparecesse às urnas,
uma taxa de participação inferior à já habitualmente baixa que caracteriza a
política colombiana.
A de ontem (domingo, dia 2) foi a maior abstenção nos
últimos 22 anos e seu resultado foi tão apertado que fez com que a vitória do
NÃO, assim como se tivesse ocorrido um eventual triunfo do SIM, seja mais um
dado estatístico do que um rotundo fato político.
Os partidários do SIM haviam dito que o que se necessitava
para consolidar a paz era uma ampla vitória, que não bastava simplesmente
superar em votos os partidários do NÃO. Cabe dizer a mesma coisa de seus
oponentes. Mas ninguém conseguiu esse objetivo, porque a diferença de 0,5% a
favor do NÃO poderia sociologicamente ser considerada como um erro estatístico
e que uma nova contagem de votos poderia eventualmente chegar a reverter.
É prematuro dar uma explicação acabada do ocorrido. Haveria
que contar com informação mais pormenorizada que no momento não está
disponível. Mas não deixa de ser surpreendente que o anseio pela paz, que era
algo que qualquer um que tenha visitado a Colômbia poderia perceber à flor da
pele na grande maioria de sua população, não tenha sido traduzido em votos para
ratificar essa vontade pacifista e refundacional dum país submetido a um
interminável banho de sangue.
Em lugar disso, a cidadania reagiu com irresponsável indiferença
ante a convocação para respaldar os acordos arduamente conseguidos em Havana.
Por que? Algumas hipóteses deveriam apontar, em primeiro lugar, a baixa
credibilidade que têm na Colômbia as instituições políticas, corroídas desde
longo tempo pela tradição oligárquica, a penetração do narcotráfico e o papel
do paramilitarismo.
Debilidade do esforço educativo feito pelo governo
Este déficit de credibilidade se expressa numa retração do
eleitorado, tanto mais importante quanto mais distantes se encontram das zonas
atingidas pelo conflito armado as regiões nas quais o NÃO triunfou com folga.
Ao contrário, aqueles estados que foram teatro de operações dos enfrentamentos
se manifestaram majoritariamente a favor do SIM.
Para dizer em outros termos: ali onde os horrores da guerra
eram experimentados sem mediações e na própria pele – principalmente as regiões
agrárias e campesinas -, a opção pelo SIM venceu de maneira esmagadora. Tal é o
caso do Cauca, com 68% votando pelo SIM; o Chocó, com 80% pelo SIM; Putumayo,
66% pelo SIM; Vaupes, 78% pelo SIM.
Por outro lado, nos distritos urbanos onde a guerra era
apenas uma notícia divulgada pelos meios de comunicação, satanizando de forma
implacável a insurgência, os que foram às urnas o fizeram para manifestar seu
rechaço aos acordos de paz.
Isso remete a uma segunda consideração: a debilidade do
esforço educativo feito pelo governo colombiano para explicar os acordos e suas
consequências positivas para o futuro do país. Esta falha havia sido assinalada
por diversos observadores e protagonistas da vida política do país, mas tal
advertência não foi ouvida pelo presidente Juan M. Santos.
O confiante otimismo que dominava os círculos governamentais
(e também em alguns setores próximos às FARC-EP – Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo), unido à imprudente confiança
posta nos prognósticos das pesquisas - que, mais uma vez, fracassaram
escandalosamente –, fez com que se subestimassem a ação dos inimigos da paz e a
eficácia da campanha baseada no visceral repúdio aos acordos promovida pelo
uribismo (Nota do tradutor: do ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe,
líder da ultradireita latino-americana).
“Campanha de terror” orquestrada pela direita
O papel desempenhado pela direita vinculada ao
paramilitarismo e os meios de comunicação, que reproduziram incessantemente as
acusações de “traição” dirigidas ao presidente Santos, galvanizaram um núcleo
duro oposto à ratificação dos acordos que, apesar de ser minoritário no
conjunto da população, conseguiu prevalecer porque seus simpatizantes acudiram
massivamente às urnas, enquanto que somente uma parte dos que queriam a paz se
atreveram a desafiar as inclemências do tempo e saíram para votar.
Resultou pois persuasiva a “campanha de terror” orquestrada
pela direita, que em suas execráveis caricaturas apresentava o comandante
Timochenko já investido com a faixa presidencial e pronto para impor a ditadura
dos “terroristas” sobre uma população indefesa e submetida à ignorância, a
mesma que encontrou no voto pelo NÃO o antídoto necessário para conjurar tão
pavorosa ameaça.
Em suma: é impossível abstrair-se da sensação de frustração
que este resultado provoca. Como se disse mil e uma vezes, a paz na Colômbia é
a paz na América Latina. Tremenda responsabilidade cabe às FARC-EP ante este
deplorável resultado eleitoral. A sensatez demonstrada pela guerrilha nas
árduas negociações de Havana deverá agora passar por uma nova prova de fogo. E
é de se esperar que a tentação de retomar a luta armada ante a decepção
eleitoral seja neutralizada por uma atitude reflexiva e responsável que,
desgraçadamente, não teve a cidadania colombiana.
As declarações do comandante Timochenko ratificando que
agora as armas da insurgência são as palavras permitem abrigar uma semente de
esperança. Assim como as manifestações do comando do ELN (NT: Exército de
Libertação Nacional, o segundo e menor grupo guerrilheiro atuante no país) e a
mensagem do presidente Santos pouco depois de conhecidos os resultados do
plebiscito.
Oxalá que assim seja e que esta guerra de mais de meio
século, que ao longo destes anos teve um custo equivalente à quase metade do
PIB atual da Colômbia; que despojou de suas terras e expulsou de seus lares
quase sete milhões de camponeses; que causou 265.000 mortes oficialmente
registradas; que vitimou pela via indireta dois milhões e meio de menores de
idade; que esse pesadelo, em suma, que enlutou a querida Colômbia possa sumir
definitivamente no passado, para abrir essas grandes alamedas evocadas pelo
heroico presidente Salvador Allende por onde haverá de passar os homens e as
mulheres da Colômbia para construir uma sociedade melhor.
Ontem (domingo, dia 2) se perdeu uma memorável oportunidade
para avançar pelo caminho da paz. Haverá outras, sem dúvida alguma.
(*) Atilio A. Boron é cientista político e sociólogo
argentino, que se diz “latino-americano por convicção”.
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É preciso ter poder de fogo para enfrentar a Globo
De Salvador-Bahia - Um dia desses topei com uma senhora num
shopping daqui da nossa capital desancando o petismo/lulismo, o que não é bem
uma novidade digna de registro. O que me despertou para a fervente catilinária
da mulher – supostamente com certo nível de conhecimento, já que é aposentada
do INSS, onde chegou a exercer cargos de chefia – foi a inacreditável tese que
defendeu.
Era o apogeu do cassa-não-cassa Cunha Golpista. Ela disse
que Cunha era nada mais nada menos do que um pau-mandado do Lula.
- Mas como assim? Não me aguentei – Cunha não é inimigo do
Lula, Cunha não liderou o golpe contra Dilma?
- Coisa nenhuma, rebateu raivosa, são todos corruptos e ele
faz o que Lula manda.
Espero que vocês não pensem que estou fazendo ficção para
dar mais colorido aos meus modestos escritos. Fiquei tão surpreendido quanto
vocês.
Portanto, vamos raciocinar juntos. Como é que uma pessoa
chega a tal grau de confusão mental? Fico imaginando: que o Cunha é corrupto,
ninguém duvida. Mas o corrupto maior só pode ser o Lula, todo dia a TV Globo e
seus cúmplices da mídia hegemônica matracam isso, então o Cunha só pode ser
gente do Lula.
O processo de aguda desinformação da senhora provavelmente
segue um roteiro que, na essência, não difere da “teoria do domínio do fato”,
aquela famosa e desfocada teoria que levou o hoje quase esquecido Joaquim
Barbosa a condenar José Dirceu, sem prova alguma, condenação chancelada pela
maioria do STF. Foi o clímax anunciado no esquema batizado de “mensalão”.
O mesmo roteiro seguido também pelos procuradores da Lava
Jato ao anunciarem a convicção (sem provas) de que Lula é o “comandante
supremo” do megaprocesso do “petrolão”. Roteiro referendado até aqui pelo juiz
Moro, agora posto acima da lei, explicitamente, pela maioria do Tribunal
Regional Federal da 4ª. Região, tudo sob a complacência da maioria dos juízes
maiores do STF.
O que a senhora acha da TV Globo?
Como eu sou vidrado na Globo – acredito mesmo que tudo de
ruim que ataca o povo brasileiro vem dela (ou através dela) -, interrompi seu
veemente discurso anti-corrupção e perguntei:
- E a Globo? O que a senhora acha da TV Globo?
Ela ficou assim meio abestalhada: “A Globo!? O que é que tem
a ver a TV Globo?”
A verdade é que ela não viu qualquer sentido na pergunta. Se
fossem a política, os políticos e os partidos aí sim ela entenderia bem, pois
são todos corruptos. Mas a Globo!?
Aí está, caríssimos irmãos e irmãs, a força da Globo, aí
está o perigo que vem da Globo: grande parte da população a vê não como um
“partido” político, mas como um mero meio de comunicação, independente,
apartidário, que noticia inocentemente os acontecimentos, interpreta e comenta
com isenção os fatos.
E ainda entretém as famílias brasileiras, com novelas,
filmes, programas de auditório, humorismo, futebol, corrida de carros, belos
anúncios publicitários, etc, etc. Tudo “de boa”, sem parti pris.
Estaria eu, atropelando a crescente influência da Internet,
superestimando o poder da Rede Globo?
Recentemente, perguntei a dois políticos do interior baiano
– um do sudoeste, cidade de Brumado, e outro de Bonito, município da Chapada
Diamantina – sobre a influência do Jornal Nacional. Ambos garantiram: é muito
importante, influencia muita gente.
As esquerdas vão continuar indignadas e acuadas?
Vejo todos os dias os companheiros da blogosfera
progressista, valorosa trincheira da resistência democrática, esperneando na
tentativa de fazer o contraponto à Globo e demais veículos dos monopólios da
mídia.
Fazem o bom combate, travam uma luta notável, incansável,
mas desigual. Não têm poder de fogo suficiente. É como os palestinos, de pedras
nas mãos, tentando atacar desesperadamente os tanques israelenses.
A propósito, acaba de sair uma veemente denúncia assinada
por dezenas de respeitáveis e indignados intelectuais brasileiros, perguntando:
“Quem vai limitar a arbitrariedade da força-tarefa da Operação Lava-Jato e do
juiz Sérgio Moro?”
Lembram a aberrante “condução coercitiva” do Lula há seis
meses e a recente e desumana investida contra o ex-ministro Guido Mantega, além
das “intervenções provocativas, abusivas e desproporcionais” da Polícia Militar
contra o direito ao protesto coletivo.
É mais uma denúncia grave, que só encontra guarida, em se
falando de meios de comunicação do Brasil, entre os blogueiros progressistas.
Enquanto isso, a Lava Jato e Moro seguem impávidos,
inclusive e sobretudo em plena campanha eleitoral. E com um toque sensacional a
uma semana da eleição: o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, antecipa mais
cacete no PT num comício do PSDB no domingo em Ribeirão Preto (SP), reduto de
Antônio Palocci. Adivinhe quem seria preso na segunda-feira...
Imaginem: a Lava Jato e Moro seguiriam impávidos se
denúncias como esta dos intelectuais ganhassem algum destaque no Jornal
Nacional?
Ou: a Lava Jato e Moro seguiriam impávidos se denúncias
deste tipo ganhassem algum destaque numa emissora de TV de alcance nacional?
Se as esquerdas não despertam e não começam a lutar para
construir uma poderosa rede nacional de mídia contra-hegemônica, estão fadadas
a continuar indignadas e acuadas.
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22/09/2016
É preciso ter arma e munição para a batalha midiática
De Salvador-Bahia – Com o título ‘A democracia se tornou uma batalha midiática’, publicamos na semana passada, nos sites/blogs Dia e Noite no Ar e Fazendo Media, artigo do jornalista e professor Washington Uranga que traduzi do jornal Página/12. É uma frase atribuída ao estudioso colombiano Omar Rincón.
O artigo, cujo título original é ‘Os meios de comunicação e a democracia”, ressalta o protagonismo da mídia hegemônica na luta política atualmente na América Latina, fazendo referências ao golpe midiático-parlamentar-judicial no Brasil e à situação da Argentina, onde a direita conseguiu ganhar a presidência através de eleições democráticas.
Tal protagonismo - no caso do
Brasil, da Rede Globo e demais monopólios da mídia (TVs, rádios, jornais,
revistas semanais – com exceção da Carta Capital -, plataformas digitais e
redes) -, especialmente depois da degola de Dilma e com a caçada ora em curso a
Lula, é hoje reconhecido e combatido pelas mais diversas forças de esquerda.
O que parece não ser reconhecido pelas mais diversas forças de esquerda – refiro-me especificamente ao Brasil – é a fraqueza das armas e munições para a batalha midiática (repare que deixo de lado outra fundamental frente de luta que são as mobilizações de rua, até agora, na minha opinião, também insuficientes).
Uso o “também” porque está implícito que considero flagrantemente insuficientes as armas e munições que temos para a batalha midiática. Aliás, tal insuficiência já foi reconhecida por um dos maiores estudiosos da matéria no Brasil, o professor Laurindo Lalo Leal Filho, em entrevista ao jornalista argentino Darío Pignotti, do Página/12 e do portal Carta Maior.
Creio que a tendência é esta insuficiência ganhar a cada dia maior reconhecimento entre as forças populares e nacionalistas, na medida mesmo em que os golpistas avancem para a degola de Lula e para a execução das pautas anti-populares e entreguistas, além do incremento da repressão, até agora mais visível em São Paulo, justamente porque lá a mobilização tem se mostrado mais eficiente e a Polícia Militar é comandada diretamente pelos tucanos.
Não é à toa que Lula, nossa liderança maior, sempre refratário diante da necessidade de se enfrentar os monopólios da comunicação, tenha sugerido há poucos dias a criação duma poderosa rede nacional de comunicação popular na Internet, propondo a participação de movimentos sociais e partidos como PT, CUT e MST. Lembrou o exemplo do sucesso da TVT, a TV dos trabalhadores, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.
Como não há – na minha opinião - um franco reconhecimento de nossa fraqueza neste campo, não se avança um passo à frente, a exemplo deste sugerido por Lula, o qual, até agora, pelo que sei, continua uma simples sugestão.
Qual seria este passo à frente?
Despertar as forças de esquerda para a necessidade da luta pela construção duma
poderosa rede de mídias alternativas, que prefiro chamar mídia
contra-hegemônica (o jornalista Mino Carta comentou uma vez num encontro de
blogueiros que não gosta desta coisa de
“alternativo”; talvez tenha suas razões, passa a ideia dum troço à margem, menor, ineficiente...)
“alternativo”; talvez tenha suas razões, passa a ideia dum troço à margem, menor, ineficiente...)
Tancredo: brigo até com o Papa, mas não com a Globo
Então, temos que pensar grande, juntar forças e partir para criar emissoras de TV, de rádio, plataformas na web e até jornais (de papel) e revistas (de papel). Verdadeiros veículos de comunicação de massa para disputar a hegemonia na cabeça e no coração do povo brasileiro, submetido ao massacre permanente do pensamento único, dos “valores” da direita. A Internet vem aumentando sua penetração, sobretudo entre os mais jovens, mas acredito ser suicídio político desprezar os meios tradicionais.
Se com governos como os de Lula e Dilma não conseguimos avançar nesta pauta, claro que agora com a direita na Presidência a luta se tornou ainda mais difícil. É bastante lembrar que uma das primeiras providências do governo de Golpista foi atacar o pouco que alcançamos neste item, a exemplo da investida contra a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) e o corte dos minguados anúncios publicitários nos blogs/sites progressistas.
Esta semana, inclusive, já se anunciou que a TV Brasil passará a retransmitir a programação da TV Cultura, que é vinculada ao governo tucano de São Paulo. É uma lógica elementar: um governo de direita não precisa de mídia pública ou estatal, porque os monopólios privados vivem sugando o dinheiro público e atuam como integrantes do governo. Na verdade, ditam a linha de governo.
Neste cenário, é brincar de fazer política imaginar que podemos travar a batalha midiática, dispondo de tão parcos armamentos, contra monstros como a Rede Globo.
Ainda mais levando em conta que não tivemos forças para fazer andar a luta pela democratização das concessões de rádio e TV.
Cito aqui, particularmente para reflexão de nossos companheiros blogueiros progressistas - que fazem um trabalho notável de resistência democrática, mas não têm poder de fogo para fazer o contraponto necessário à mídia hegemônica -, declaração de um dos maiores raposas da política brasileira, Tancredo Neves:
“Eu brigo com o Papa, com a
Igreja Católica, com o PMDB, brigo com todo mundo… só não brigo com o doutor
Roberto (Marinho)”. A frase foi dita
pelo Tancredo recém-eleito presidente através de eleição indireta, em 1985, a
Ulysses Guimarães, que estava inconformado com a indicação de Antônio Carlos
Magalhães para o Ministério das Comunicações.
Será que hoje, com a força
crescente da Internet, um Tancredo já se atreveria a brigar com a Globo?
Perfil do autor
Perfil do autor
Jadson Oliveira, 70 anos, baiano, jornalista e blogueiro. Trabalhou em vários jornais (Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, sucursal do Estadão, jornal Movimento) e assessorias de comunicação, de 1974 a 2007, sempre em Salvador (Bahia). Na década de 70 militou no PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e no movimento sindical bancário. Ao aposentar-se, em fevereiro/2007, começou a viajar pelo Brasil, América Latina e Caribe.
Esteve em Cuba, Venezuela (duas temporadas em cada país), Paraguai, Bolívia, Trinidad e Tobago, Argentina, Uruguai e Equador, com uma passagem rápida pelo Chile. No Brasil, esteve em Manaus, Belém (Fórum Social Mundial/2009), Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte, além de curtas passagens por Palmas, Goiânia, Campo Grande e Rio de Janeiro. Acompanhou campanhas eleitorais de Evo Morales (2009), Hugo Chávez (2012) e Dilma (2010, em São Paulo).
O blog procura dar, sempre balizado por critérios jornalísticos e políticos, uma mostra da luta do movimento democrático, popular e de esquerda no Brasil, América Latina e Caribe, utilizando os amplos recursos da Internet, incluindo textos em espanhol e traduzidos, além de coberturas e artigos próprios. Procura mostrar as dificuldades e avanços dos governos chamados progressistas da região, na perspectiva duma democracia participativa e pelo socialismo. E enfatiza a importância fundamental hoje da guerra midiática: o papel dos monopólios da mídia hegemônica como ponta de lança da direita e a necessidade imperiosa da luta pela democratização das concessões de rádio e TV e pela construção duma mídia contra-hegemônica.
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