O pior de Salvador em dia de chuva é andar de buzu, porque baiano tem medo de água mais do que gato e do que Cascão, que poderia muito bem ter inspirado Maurício de Souza na criação da personagem.
É só começar a chuviscar e os passageiros saem fechando as janelas rapindinho e “de com força”, como diz minha amiga Laura Junquilho. Não deixam uma brechinha sequer para entrar um pinguinho d'água e também nenhum ar. E quando agente entra num buzu assim, fica logo sem fôlego devido ao ar abafado, impregnado de um cheiro de suor misturado com creme de cabelo, porque pegou bem aqui (e como pegou!) a moda de empapar os cabelos “pra definir os chachos”.
Tem coisa que é só de baiano mesmo. Aliás, tivemos aqui um baiano, um governador, Otávio Mangabeira, que definiu muito bem a nossa peculiaridade, quando disse, em outras palavras: pense num absurdo no mundo, aconteceu na Bahia. Por exemplo: quando alguém se levanta de um banco do buzu, ninguém se senta imediatamente, mas ocupa rápido o lugar. É assim: para assegurar a vaga sai empurrando quem está na frente e joga a sacola ou o pacote na vaga do banco. Pronto, assegurou a vaga, agora tem que dar um tempinho com as costas recostadas no banco, mas o bumbum suspenso para não sentar de vez porque “assento quente passa doença”.
Será que em algum outro lugar, algum povo disputa sombra de poste? Em dias ensolarados, que são comuns por aqui na maior parte de ano, fica um monte de gente amontoada na nesga de sombra do poste mais próximo do ponto de ônibus. E como os abrigos daqui não abrigam nada, só servem para exibir anúncios publicitários, em dia de sol as pessoas ficam atrás do abrigo porque não tem sombra. E em dia chuvoso, também ficam atrás para fugir das poças de água suja das ruas em que os carros passam correndo proposiatadamente e saem lambrecando quem estiver nas calçadas.
E nas filas de banco, então, são hilários os absurdos que acontecem. Ontem mesmo não me contive e caí na gargalhada quando enfrentava pacientemente uma enorme fila típica de final de mês e de repente chega uma senhora e se dirige ao último: “ Eu estou atrás do senhor, viu? Vou ali e volto, mas estou atrás do senhor”. O homem olhou pra trás com ar de poucos amigos e nem respondeu. A fila continuou a crescer e a criatura ia no caixa eletrônico, na gerência, conversava com um e com outro, mas estava na fila. Isso é que é onipresença!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirProcurar sombra de poste em ponto de buzão em dia de sol é a minha cara!
ResponderExcluirFale não, Carmelinha, que o "meu ponto" é um terror. Além do sol tem um som de rádio comunitária que toca todo dia a mesma seleção musical, da melhor qualidade, em toda altura. E o buzu que não chega nunca, quando aparece é de comboio. Coisa de poooooooooooooooooooobre!
ResponderExcluirNo buzu o bicho pega! Já vi cada uma em ônibus, do tradicional banho de vômito pela janela que meleca todo mundo no banco de trás, à disputa desenfreada pela cadeira que acabou de esvaziar. Mas pior mesmo sempre foi a turma do rala e rola que passa se esfregando nas costas e na bunda dos outros. Ou seja, já vi de quase tudo. Menos assalto, que isso é coisa de agora, e não dantes, pra não dizer do meu tempo.
ResponderExcluirE lembro dois casos engraçados de buzu: um foi de o Zé. No buzu na estrada entre a passagem e Arraial da Ajuda em Porto Seguro, lá pelos meados de 90 do século passado.
Pra começar Zé era um respeitado gerente de banco em Minas Gerais que, quando passava férias em Porto Seguro deixava aflorar seu outro lado, ou seja soltava a franga. Conhecemos Zé (digo conhecemos para não restar dúvida que estava em boa companhia feminina) e sua turma no ponto e entabulamos conversa. Quando subimos no buzu quase vazio, todo mundo sentou e Zé ficou em pé no corredor. Uma moçoila imensa de sunguinha, em pé no corredor. Eu estranhei e perguntei porque ele não se sentava. E a resposta veio de pronto: "E perder a oportunidade de servir de borboleta pros bofes que passarem?!". Tá vendo, tem gosto pra tudo, até pra servir de catraca em corredor de buzu!
A outra foi lá pelos idos de muito tempo, coisa de mais de 25 anos, em Recife. Estava eu sentado lá no fundo do buzu, quando começou uma discussão entre uma passageira e o cobrador. O cobrador deixava a janela aberta, a moça sentada na cadeira à frente, fechava. Acho que porque o vento assanhava o cabelo. O cobrador abria. A moça fechava. O cobrador não dizia nada, só abria. A moça fechava com força e resmungava "eu quero fechada!" naquele tom ultra feminino de ponto final. O cara insistia e abria, sem se abalar. O ônibus inteiro já estava prestando atenção à situação. E a moça fechava sem se preocupar nem em olhar pra trás. Antes que começassem as apostas sobre quem daria o primeiro tapa, tudo se esclareceu. O cobrador se voltou pra moça e falou "Hoje vai ser galinha, de novo, no almoço?". Eram marido e mulher. Decepção geral, até na turma do deixa disso.
André, essa do cobrador é ilária. Dei muitas gargalhadas.
ResponderExcluirBj.
kkkkkkkkk. Adorei. Eu sempre me perguntei que doença é que se pega se a pessoa sentar no banco ainda quente? Fiofólite? E aqueles tapas no assento pra ele esfriar? rsrsrsrsrsrsrsrsr
ResponderExcluircu
ResponderExcluir