A dor da gente não sai no jornal, mas tem a rede

O sentimento de insignificância e impotência expresso pela frase de Chico Buarque na música em que fala de uma mulata triste chamada Joana, que segundo ele próprio foi inspirada numa nota de rodapé de página policial de um jornal, encontrou alento na internet.

O fenômeno da web abriu espaço para todo tipo de desabafo, onde é possível expressar a própria dor e debater pontos de vista, até mesmo onde isso não é permitido fazer assim publicamente, como acontece em Cuba, desde que tenha a coragem de Yoani Sánchez (foto ao lado), que em seu www.desdecuba.com/generaciony) relata o cotidiano e as dores de um povo que vive restrições e limitações impostas por um bloqueio econômico internacional cruel e inaceitável, tanto quanto a mordaça imposta pelo governo à população.

O tema me despertou especialmente pela minha atração pela internet e os blogs, mas do ponto de vista do avanço da democratização da comunicação (lembra Jadson? O sonho de todo jornalista era ter o próprio jornal para praticar a real liberdade de expressão, mas o blogs vieram proporcionar esse espaço, inclusive sem custo).

Além disso, estou às voltas com os livros "De Cuba com Carinho", sobre postagens de Yoani Sánchez, e com "Viagem ao crepúsculo", do pernambucano Samaroni Lima. Ambos relatam o cotidiano da ilha, sendo que a blogueira vive em seu país de origem e o jornalista brasileiro passou um mês por lá procurando conhecer melhor a vida dos cubanos.

Sobre a blogueira quero comentar aqui alguns aspectos das suas vigorosas e corajosas postagens, mas só depois que eu acabar de ler o livro. Quanto ao escritor Samaroni Lima (foto ao lado), o conheci na semana passada, quando ele veio lançar o livro em Salvador (figura de boa prosa, bastante crítica também) e logo em seguida recebi e-mail da amiga em comum, Ivetti, sobre post dele questionando artigo de Frei Beto – “A blogueira Yoani e suas contradições” http://amaivos.uol.com.br/
Samaroni desafia Frei Betto em http://www.estuario.com.br
Aproveitem os links para apreciar o interessante debate.

Faço aqui uma provocação dirigida ao amigo Jadson, que esteve em Cuba durante seis meses, mas até agora não revelou nada do que viu por lá em seu blog (http://blogdejadson.blogspot.com/), nem no Pilha.

Em tempo: Conheci Havana, junto com Sinval, em 1986 (ainda vou exibir aqui os escaneados da nossa visita à ilha), mas a situação era bem melhor, do ponto de vista da economia, pois o país ainda contava com o apoio da ex- União Socialista Soviética.

Comentários

  1. Poxa, que bofetada esse texto! Tô igual a vc, JÔ, sem saber o que pensar. Também queria ouvir a opinião (crítica) de Jadson e Deta. Eu estive lá em dezembro de 85 e também visitei algumas casas de cubanos, famílias simples..., mas eram outros tempos. Na época realmente a gente não via mendigos pela rua nem gente passando fome, mas já chamava atenção a quantidade de pessoas querendo "cambiar" dólares ou assediando os turistas para comprar coisas importadas (calças jeans, bebidas, perfumes...) nas lojas dos hotéis. Aquilo me intrigava e eles explicavam que era a única delinquência que existia em Havana.
    Mas esses relatos são fortes e gostaria mesmo de saber mais a fundo como anda a vida por lá.

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  2. Estamos todos conectados mesmo! Fui ler o post do cara (Samarone Lima - Estuário) sobre o Rio Vermelho e, ao final, ele lamenta a morte do pai de Fabão. O cara é amigo do meu amigo e hoje é a missa de 7º dia de seu Gonçalo...
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    "Mamãe eu quero ir a Cuba / E quero voltar". Será que Caetano já tirava onda nessa época, Araken?
    Socorro, Jadson!!!!

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  3. Vou falar, vou falar, prometo. Copiei os dois textos pra ler com calma no meu quarto (uso a internet no hotel num espaço comum). Darei uma opinião aligeirada e depois vou ver se desenvolvo alguma coisa (o diabo é que, quando chego na Bahia, "de férias", não consigo escrever). "Vamos a ver", como dizem por aqui.
    Tô me despedindo daqui, ainda com o "proceso de cambio" na cabeça e no coração, ainda quero escrever pelo menos duas matérias para fechar o ciclo boliviano.
    Na próxima sexta, espero estar tomando umas em David, se o imponderável não meter o bedelho.

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  4. Bem vindo companheiro! Estamos te esperando com muita saudade. E aguardando também esses textos sobre Cuba. Já viu, quanta expectativa?

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