Dois fatos jamais sairão da minha memória afetiva relativa a Nova Louisiana, outrora uma pacata cidade do Sertão. Foi ali onde conheci minha primeira namorada – aquela, de sair de mãos dadas e mandar cartas apaixonadas -, além de ter sido na Rua do Meio onde me iniciei nos saberes do sexo. Mas Nova Louisiana não era só isso. Sua avenida principal, embora parecesse com de outras cidades do sertão, era bem mais bonita, com seus casarões de arquitetura neoclássica, além de cinema, buate, um clube, um bar cheio de palmeiras de nicuri e uma linha férrea cruzando seu final.
E tinha mais. Havia próxima à urbe a fazenda de um amigo do meu pai, onde me escondia com meu primeiro amor e víamos noites enluaradas na varanda, com aquele friozinho do sertão. E tinham os amigos. Val Gordo, conhecedor dos trâmites da Rua do Meio e excelente mecânico e cupido; as meninas da Cigarra, as da Pracinha. Mas o objetivo dessa estória toda é narrar um fato acontecido com um de nossos amigos e frequentador da fazenda já citada. Advogado recém-formado, doutor Ronaldo, como respeitosamente o chamávamos, era também o delegado da cidade, embora seu jeito maneiro fazia-o parecer mais com um poeta do que homem-da-lei.
Tudo aconteceu numa noite de São João. Impedidos pelos coroas de irmos à cidade, a bordo de uma Variant velha, fizemos a cabeça do delega para que o mesmo nos levasse à rua das meninas. Um brilho logo apareceu nos olhos do doutor, que alguns diziam ser virgem. Rumamos para a city e, logo que chegamos ao logradouro das meninas, velhas conhecidas da garotada, surgiu uma carne nova no pedaço. Um metro e sessenta de pura brejeirice: seios pequenos, cintura fina e ancas avantajadas. Como mais velho da turma fui logo me antecipando: “Essa é minha”, para desespero da meninada. No que Val Gordo, pra puxar o saco do delega, falou “deixa pro doutor Ronaldo”. Meio a contragosto fui deitar com Tonha, mãe de uma menina que dormia ao lado da cama onde a mãe recebia os fregueses.
Algum tempo depois fomos nos encontrando do lado de fora dos casebres. Chegou um, depois mais outro, e mais outro e nada do delegado. Deve estar se dando de bem, apostava a galera. E eis que surge ele, o pacífico doutor Ronaldo, com um sorriso de orelha a orelha. “Isso sim é que é despedida de solteiro” deixou escapar o bardo, que ficaria noivo noutro dia, com direito a festa na fazenda e tudo o mais.
Voltamos para casa entre contentes e esperançosos pela festa do dia seguinte. Oito da noite, noiva já a postos e nada do delegado. O dono da fazenda ordena: “Val, pega o carro e vai ver o que aconteceu com o doutor”. A molecada foi junto. À frente da casa percebemos que estava tudo apagado, o Fusca na garagem e apenas as portinholas da porta abertas. Doutor Ronaldo, gritava um. Tem alguém em casa, perguntava outro. Pouco tempo e uma voz trôpega soou lá de dentro. Já vai. O que vimos aparecer na porta da casa foi um espectro do jovem delegado. Todo curvado, o cabra reuniu suas forças e disse: preciso da ajuda de vocês para chegar até a fazenda.
Vixe! Fogueira retada essa. Boa Carmel! Inspiradíssimo, hein?
ResponderExcluirCompanheiro Carmel, me desculpe a rudeza, mas não entendi o mal que atacou o doutor Ronaldo. Estava acompanhando com interesse o "personagem", achando muito interessante, mas... fiquei matutando... será que foi uma blenorragia?
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