Eduardo Galeano |
Mariinha não tinha idade.
Dos seus anos de antes, nada contava. Dos seus anos de depois, nada esperava.
Não era bonita, nem feia, nem mais ou menos.
Caminhava arrastando os pés, empunhando o espanador, ou a vassoura, ou a colher de pau.
Acordada, afundava a cabeça entre os ombros.
Dormindo, afundava a cabeça entre os joelhos.
Quando falavam com ela, olhava o chão, como quem conta formigas.
Havia trabalhado em casas alheias desde que tinha memória.
Nunca havia saído da cidade de Lima.
Muito se mudou, de casa em casa, e em nenhuma se sentia acolhida. Por fim, encontrou um lugar onde foi tratada como se fosse humana.
Em poucos dias, se foi.
Estava se humanizando.
Um dos “filhos dos dias” do uruguaio Eduardo Galeano. De seu novo livro “Los hijos de los días”, que está sendo lançado por esses dias. Tem forma de calendário e de cada dia nasce uma história. Traduzi e estou publicando aqui e no Evidentemente a partir de algumas histórias adiantadas pelo jornal argentino Página/12, edição de 18/03/2012.
Confesso ser uma temeridade minha traduzir uma linguagem poética como a do nosso Galeano nesse livro. Por precaução, publico abaixo o original (Segundo vi na Internet, o Dia da Empregada Doméstica no Brasil é 27 de abril):
MARZO 30
Día del servicio doméstico
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