A delícia de visitar outros lugares e conhecer costumes diferentes, sob o olhar do professor baiano Jorge Lisboa, Mestre em Sociologia, que fala especialmente da cultura francesa.
(Jorge Lisboa)
Festival de Cornouaille em Quimper - foto Jorge Lisboa. |
Inequívoca
expressão da sensibilidade e criatividade humana, o lusitano Fernando Pessoa,
no século XIX, convencido das inúmeras vantagens acumuladas por todos aqueles
que abraçam o hábito de viajar, preconiza a integração das sociedades sugerindo
poeticamente: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Acompanhando a
inspiração do poeta, podemos dizer que viajar não se reduz à simples ação de se
deslocar no espaço geográfico, mas constitui a realização de um desejo particular
de experimentar diretamente lugares e coisas que nos interessam. Significa,
salvo necessidades especiais, transportar-se espontaneamente movido pela
esperança de novas descobertas, literalmente ir ao encontro do outro, do desconhecido, do
diferente.
"Viajar nos permite ampliar as nossas simpatias e nossa imaginação, nos faz despertar para ambientes culturais diferentes do nosso..."
Viajar é, por
isso mesmo, uma das coisas mais gratificantes que o ser humano pode desfrutar
para melhorar a sua existência. Sendo assim, aproveito o momento para refletir
sobre a experiência de viver em outro país e reforço a recomendação do poeta
português. Implicitamente, buscando encorajar os espíritos aventureiros, com
grande entusiasmo digo que nada pode superar a recompensa de conhecer outras
terras, outras sociedades, outras culturas.
Festival de Cornouaille - em Quimper- França - Foto Jorge Lisboa |
Não é nenhum
exagero afirmar que toda viagem vale à pena tão somente pela memória do
percurso. Não há dúvida que a troca de experiências praticada numa viagem é
muito mais enriquecedora do que os registros feitos por meio de anotações,
fotografias, vídeos, etc. As viagens, pelas oportunidades de interação
disponibilizadas, podem oferecer aos indivíduos um importante enriquecimento do
seu patrimônio cultural. Viajar nos permite ampliar as nossas simpatias e nossa
imaginação, nos faz despertar para ambientes culturais diferentes do nosso, se
ouso dizer, nos engrandece porque nos acrescenta práticas comportamentais
desenvolvidas e aprimoradas por grupos que vivem de maneira diversa daquela que
conhecemos.
bouillabaisse |
O ganho é
inquestionavelmente muito grande! Imaginem quanta descoberta pode uma memória
guardar de uma visita a outro país, outra sociedade. E as viagens científicas? Ainda que com
bastante freqüência gerem infinitas controvérsias, é inegável a colaboração
delas para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das ciências, das artes e das
civilizações. Os exemplos de Paul
Gauguim, Júlio Verne, Lévi-Strauss, João Ubaldo Ribeiro, Milton Santos e Oscar
Niemeyer, pelas inestimáveis contribuições que acrescentam às suas respectivas
áreas de atuação, bastam para reafirmar o valor de tais excursões às sociedades
humanas.
bouchon_boudin_noir |
" A França, por exemplo, país onde estudei e vivi por algum tempo, apresenta muitos elementos que podem facilitar a integração do brasileiro que por lá se aventure".
Além da validade
cultural das viagens, o assunto me interessa em particular, pois
desconsiderando os inconvenientes de adaptação: clima, idioma, alimentação,
etc, viver em outro país pode proporcionar ao indivíduo significativa amplitude
de visão e de espírito. A França, por exemplo, país onde estudei e vivi por
algum tempo, apresenta muitos elementos que podem facilitar a integração do
brasileiro que por lá se aventure. No aspecto alimentação, muitos pratos se
aproximam da nossa condimentada culinária: a bouillabaisse,
típica da Provence, lado de Marseille (muito parecida com a nossa moqueca), e o
cortejado cassoulet, um autêntico representante do Midi, região de Toulouse, (que
lembra a tradicional feijoada).
cassoulet. |
No entanto, se
estas especialidades brasileiras e francesas servem para amenizar o difícil
período de adaptação, existe uma gama de produtos capazes de obstaculizar a
estadia do visitante em terras gaulesas, como: boudin, esgargot e champignon.
Todavia, estas questões podem ser superadas, afinal, Brasil e França possuem
uma série de afinidades que certamente poderão ajudar aos inspirados e
simpáticos viajantes. Brasileiros e franceses sempre demonstram grande
cordialidade entre si, sendo esta a substância predominante nas relações entre
indivíduos dos dois países.
Nem mesmo as
disputas esportivas que envolveram as duas nações durante as últimas copas,
França 98 e Alemanha 2006, cujos placares colocam em vantagem o país de Edith
Piaf, puderam quebrar os elos que unem os gauleses aos patrícios de Tom Jobim. Por
certo, deve haver muito mais elementos para promover a união do que induzir à
cisão destas sociedades distintas, mas declaradamente amigas. Os comentários
acintosos e infelizes de Thierry Henri, no mundial da Alemanha, “os brasileiros
são bons de bola, porque ficam pouco tempo na escola” foram esquecidos
rapidamente, pois não merecem sequer ser rebatidos. C`était honteux pour lui
(foi vergonhoso para ele) !
Enfim, Brasil e
França sabem reconhecer valores mútuos e não poupam homenagens um ao outro. Se
considerarmos as inúmeras contribuições compartilhadas, podemos mesmo pensar em
certa complementaridade. O desejo de cooperação entre os dois países é
irrefutável. Pode-se relacionar as influências acadêmicas, inspirações sobre o
pensamento social brasileiro, técnicas profissionais, sítios naturais, doações
arquitetônicas (Cristo Redentor), material para pesquisas de todo gênero.
escargot |
Os franceses são
verdadeiros admiradores da cultura brasileira. Nossos ritmos musicais exercem
grande fascínio sobre eles. Sucessos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Jorge
Benjor, entre outros são executados em emissoras de rádio daquele país.
Reconheço que
nem tudo é perfeito quando se trata de contatos diretos entre os indivíduos
originários dos países emergentes e habitantes das sociedades industrializadas.
Não raramente se percebe discrepâncias no comportamento daqueles que integram
as comunidades européias. Porém, penso que a França pode ser um destino
agradável para aquele que pretenda aproveitar bem o seu tempo de férias ou
deseje aprofundar estudos acadêmicos.
"Afinal, Paris ainda é a capital da moda, da etiqueta, do turismo e das convenções"
Andar pelas
margens do Rio Sena, cruzar a Ponte des Arts, descobrir as preciosidades do
Museu do Louvre, passear pelo Quartier Latin, contemplar a beleza do Jardim de
Luxembourg e subir a colina de Montmartre para degustar um cafezinho aos pés do
Sacré-Coeur, faz parte do roteiro dos visitantes. Vale salientar que mesmo o
parisiense tendo fama de emburrado, existe na cidade um padrão de atendimento
com o objetivo de prestar um serviço de ótima qualidade.
Afinal, Paris
ainda é a capital da moda, da etiqueta, do turismo e das convenções. Além
disso, transitar pela capital francesa nos da aquela gostosinha sensação do déjà
vu porque nós já nos acostumamos a ouvir expressões como: enfant gâté,
marionete, femme fatale, petit-suisse, purée, toilette e boulevard, entre
outras. Portanto, reforçando as
aspirações dos candidatos a viajantes, repito que as dificuldades menores
permanecerão menores toujours. Como diz a canção de Loius Amade e Gilbert
Bécaud, ícones da canção francesa: L´important c´est la rose!
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