A arte de negar o óbvio – ou o Golpe de Negar o GOLPE


Mônica Bichara

 Antes de qualquer coisa quero avisar que não sou nem nunca fui petista, nem filiada a partido nenhum. Apenas sonho com o dia em que conseguiremos transformar o Brasil numa verdadeira democracia. E estamos muito longe disso, pois os governos Lula/Dilma optaram por manter programas distantes do que prometiam em nome da tal governabilidade, e esquemas totalmente corrompidos de financiamento de campanha, em vez de enfrentar a necessária reforma política.

Mas se é a democracia que temos, ela tem que ser defendida com unhas e dentes. Principalmente porque os que articulam o golpe (sim, o golpe) são movidos pelo combate aos acertos do governo, a ampliação das políticas sociais, e não aos erros.
Apesar de escancarado para quem quiser ver, o golpe contra a democracia brasileira ainda é negado por seus mentores e apoiadores. Mas ele é tão óbvio, que nem precisava o tiro de misericórdia do deputado/ditador/racista/homofóbico, um dos comandantes do GOLPE, comemorando: “Perderam em 64, perderam em 2016”.

Só essa comparação já bastava pra ter certeza que o GOLPE de 64 inspira o GOLPE de 2016. Como negar?

Os mesmos que ganham tempo pra tentar fugir das investigações, numa conspiração que envolve políticos corruptos (as máscaras estão caindo a cada dia), judiciário acovardado (e ainda se ofenderam com a definição), e a mídia sonegadora de impostos (com medo das concessões públicas não serem renovadas), acusam a presidente Dilma pelas tais pedaladas fiscais. Um expediente utilizado por governantes de todos os partidos, há décadas, para fechar as contas.


 Se isso for crime, não vai ficar um presidente ou governador livre (e o vice estava lá, caladinho). Portanto, só o motivo alegado para o “impitima” já prova que o GOLPE é um GOLPE e que Dilma não roubou, porque se tivesse roubado, e eles procuram um motivo desde o primeiro dia de governo, não se valeriam de um “crime” tão bufado, facilmente contestado como crime de responsabilidade, exigência da Constituição Federal. A comparação com o caso Collor também não cola, porque no caso dele havia, comprovadamente, crime de responsabilidade.

A farsa só se mantém justamente por ser um conluio, uma encenação, com o aval de todos os atores convocados. Se o “crime” alegado fosse Dilma ter dado uma bufa na igreja, passaria do mesmo jeito e todos gritariam histericamente “pela família, por Deus, eu digo SIM pra que ela pague pela heresia de dar uma bufa na missa”. Mesmo os evangélicos repetiriam o mantra ensaiado.

Mas pra mim, por ser jornalista, o que mais incomoda é a cumplicidade dos grandes veículos de imprensa, que deveriam ser de utilidade pública e agem como parte decisiva do processo, manipulando informações da forma mais deslavada possível. Quando um noticiário como o JN dá preciosos minutos para os advogados do GOLPE jurarem que o GOLPE não é GOLPE, sem espaço para o contraditório, toma partido; quando passa o dia interrompendo a programação normal para convocar e transmitir manifestações pró-GOLPE, patrocinadas pelas federações das indústrias, sem fazer o mesmo com os atos contra o GOLPE, toma partido.

Foi preciso a imprensa internacional, os principais veículos do mundo como o Le Monde França), o NYT (EUA), The Economist e The Guardian (Inglaterra), El País (Espanha)... estamparem em manchetes que o GOLPE é GOLPE, para o mundo e muitos brasileiros perceberem que o GOLPE era um GOLPE. E ainda tem quem diga que Dilma e o governo compraram a mídia internacional, sendo responsável pela imagem negativa do Brasil no cenário internacional. Assumam o que estão fazendo, covardes.








A grande diferença desse GOLPE que enfrentamos hoje para o de 64, graças a Deus e aos orixás, é que o Exército está em seus quartéis, não existe censura porque AINDA vivemos uma democracia e a internet é um mundo a nosso favor, nos dando a possibilidade de lutar com outras armas e até mesmo sem sair de casa, do trabalho ou de uma cama de hospital.

Mas a rua continua sendo importante trincheira, mostrando a força da união do povo que tem cara de povo (trabalhador, estudante, gente de todas as classes sociais), disposto a não deixar barato e gritar que contra o GOLPE vai ter LUTA.

Está tendo luta. E foi luta o que Dilma foi fazer na ONU, denunciando o GOLPE (mesmo tendo que deixar o vice Temmer, um dos articuladores, em seu lugar). E é luta o que vamos fazer no 1º de Maio, Dia do Trabalhador, indo em peso para as ruas defender não o governo ou a presidente, mas a democracia.

E nessa luta os “blogs sujos” e as redes sociais fazem toda a diferença.

Sou totalmente pacífica e não briguei com nenhum amigo ou parente por causa de política. AINDA. Só não me venham defender o indefensável, como o MONSTRO que, na falta de argumento político, foi buscar no GOLPE de 64 a arma mais letal para a democracia, desencavando a memória do maior símbolo da Ditadura Militar, o torturador e estuprador mor, transformando-o em herói nacional. Uma afronta não só à presidente Dilma, ela própria vítima desse carrasco, mas a todos nós que defendemos a democracia e sabemos que o GOLPE é GOLPE.


Não perdemos não, Bolsonaro de merda (e todos que não percebem o risco e o nojo de estar aliado a ele). Continuamos na luta, a história desse GOLPE ainda está sendo escrita. E o cuspe do querido Jean Wyllys na sua cara foi só pra lavar nossa alma.

Comentários

  1. Vc tb era desocupado, Araka, mas preferiu mudar de rebanho

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  2. Falou e disse, Mônica. Parabéns pelo artigo coerente. Concordo com você. Nunca me filiei a nenhum partido, mas sempre comunguei com os princípios da esquerda e vou lutar sempre para que a democracia seja mantida, NUNCA MAIS manche a nossa Pátria e esse GOLPE não se concretize. Por aí... Espalhe esse texto. Beijão.

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  3. NUNCA MAIS A DITADURA

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  4. Cada dia mais você é minha ídola, Mônica Bichara!!!

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  5. Poxa, Mari, que orgulho...Essa história tá engasgada e a gente precisa botar p fora

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Isso mesmo, Monica. Se é imperfeito, o caminho pra melhorar é à frente, nunca pra trás.

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  8. Claro, Suzana, estamos em meio a uma onda de retrocesso no mundo e o Brasil correndo sérios riscos. Medo de tudo isso, a censura já começou

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