Se preparem que essa série de Emiliano José com Jaciara tá imeeeeeensa, praticamente um livro. Portanto, melhor ir lendo aos poucos porque tem muita aventura.
Segue a saga das comadres do jornalismo, pelas memórias do escritor, jornalista
e agora novelista (dos bons) Emiliano José....(Os textos são postados em
capítulos no face de Emiliano. Aqui no Pilha transcrevo com os comentários e
fotos).
No
jornalismo, sobretudo no início da carreira, é assim mesmo, a gente faz “de um
tudo”, como dizia minha vó. Num mesmo dia entrevista uma dona de casa e um
bandido, um cantor famoso e um político, uma puta e uma santa....
E
com Jaciara Santos, protagonista
desta série de #MemóriasJornalismoEmiliano,
isso foi literal. De tão rico o material virou novela de suspense, praticamente
um livro, misturando a emoção de acompanhar Irmã Dulce, o temor diante da baba
de seu Biliu, o drama para contar a rotina dos puteiros da velha Salvador sem
melindrar o sisudo diretor, a caça às baleias (grávida), enchentes (grávida),
dormindo em Alagados na visita do papa (grávida)
e por aí vai... E como bom roteirista, Emiliano foi espichando os causos
conforme a audiência, que ele não é bobo nem nada.
Jaciara
foi uma das primeiras paixões que o jornalismo me deu. Foi quem me abriu os
braços e acolheu, quando assustada pisei pela primeira vez uma redação, o Jornal da Bahia, também ele uma paixão.
Ela ainda era “foca”, mas diante da estagiária canceriana assustada, o
virginianismo (acho que criei uma palavra) dela tinha que se materializar e a
transformar no ser mais experiente daquele planeta JBa, sempre com as soluções
na ponta da língua. Obrigada minha comadre querida. Como também não sou boba
nem nada, nunca mais saí daquele abraço. Te amoooooooooooo Jaci, você sempre
foi uma inspiração pra mim e dezenas, talvez centenas, de colegas.
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Emiliano
José
17
de Setembro 2019
Sonho meu
Olhava
a paisagem frenética da cidade durante o trajeto.
Não
era tão curto.
Dava
tempo de pensar no desafio.
Relaxar
a tensão, nem tanto.
Morava
na Capelinha de São Caetano, perifa de Salvador.
Convivi
com o bairro.
Bastante.
Padre Renzo Rossi, sobre quem
escrevi livro e fiz filme, era vigário dali, distribuía tapas em todo mundo,
mania conservada até morrer, em 2013.
Ele,
Paulo Tonnucci, Sérgio Merlini compunham missão italiana embrenhada naquelas
paragens, incluindo Fazenda Grande, Alto dos Perus e outras quebradas.
Daquelas
quebradas vinha Jaciara Santos.
Final
de maio de 1978.
Ônibus
lento, cheio, parando a cada ponto.
Ela,
no seu canto, olhando a cidade em seu frenesi.
Quinto
semestre de Jornalismo da Escola de Biblioteconomia e Comunicação, ia atrás do
primeiro estágio.
Ninguém
sabe como fora parar em Jornalismo.
Concluíra
o curso de Geologia na Escola Técnica Federal da Bahia.
Era
de se especular caminhasse em busca de Geologia, Engenharia, o que fosse, áreas
afins ao que vinha estudando.
Nada.
Partiu
Jornalismo.
Quando
desceu no Largo da Barroquinha, nem se deu conta do mundaréu de gente vindo de
todo lugar, a tensão era grande demais, caminhava com pressa em busca do prédio
número 22, ali mesmo.
Subiu
as escadas puro nervosismo tremedeira o que será que será...
O
"pistolão" dela, o abre-alas, não foi nenhum mangangão.
Foi Nelinho.
Agnelo Gomes de Souza Filho era office-boy,
arquivista, não recusava tarefa nenhuma, falava com Deus e o Diabo.
E
falou do sonho de Jaciara: ser jornalista.
Disseram:
mande ela vir.
Sonho
é coisa difícil de barrar.
Sejam
quais sejam os obstáculos.
Jaciara
ainda chegou a matutar.
Negra,
pobre, 22 anos apenas, sem sobrenome ilustre.
Santos,
sobrenome de milhões.
Como
Silva.
"Não
sou parte desse universo".
Pensou
tudo isso, mas não se dobrou.
A
vida requer é coragem.
Foi
com essa determinação tensão tremedeira a chegada ao "Jornal da
Bahia" naquele maio de 40 anos atrás.
Recebida
pelo chefe de reportagem, Tasso Franco...
#MemóriasJornalismoEmiliano
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Êta que estou
ansiosa por essas histórias da minha comadre Jaciara Santos, que muito se
confunde com a minha. Ela morava na Capelinha, eu em São Caetano e Bel (Isabel Santos) na Fazenda Grande.
Quando cheguei no JBa, também pela primeira vez, Jaci foi a primeira que me
estendeu a mão e rapidinho eu me sentia em casa. As dicas eram diárias, virei
sua foca. "Pegue o máximo de detalhes possível para descrever o
ambiente", ensinava. E humanizar um texto, mesmo a pauta mais banal, é com
ela mesmo. Além de admirar profundamente a jornalista, amo a criatura. Ela me
deu a primeira oportunidade de vivenciar a maternidade, sendo um pouco
"mãe" de Luciana Rodrigues,
minha "dinda", que amo como a minhas filhas. Impossível falar de Jaci
sem me emocionar
Jaciara Santos: Mônica Bichara
irmãs gêmeas. A preta e a loira. Amigas para sempre.
Agradeço
a Emiliano por compartilhar histórias tão bonitas.
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Emiliano
José
18
de Setembro 2019
Virginiana
vitoriosa
Comício
em São Félix.
Na
praça, sobretudo trabalhadoras e trabalhadores das fábricas de charutos
Suerdick e Dannemann.
Era
1945, João Falcão, candidato a
deputado constituinte pelo PCB.
Defende
salário mínimo para as trabalhadoras, pagamento justo para os adolescentes,
todos penando na indústria do fumo, creches para as crianças.
Forte,
a fala.
Sai
carregado.
E
pelas mulheres trabalhadoras, agradecidas e cheias de esperança de a vida
mudar.
Comício
não acontece espontaneamente.
Reunia
gente de Cachoeira também.
Organizaram-no,
mobilizaram, distribuíram panfletos o pequeno comerciante José Toscano de Brito, o dirigente municipal do PCB, José Maria Rodrigues, e o
correspondente do jornal "O Momento" em Cachoeira, José Lopes da Cunha.
José
Maria e Cunha acompanharão João Falcão para sempre.
Trabalharão
com ele no "Jornal da Bahia".
Cunha
ocupará muitas funções de direção na redação.
Foi
com ele a conversa de Nelinho.
Foi
se achegando, procurando a brecha pra falar, e falou:
-
Tem uma amiga do bairro, gente boa, tá fazendo jornalismo, precisa de começar a
trabalhar, pensei, não sei, talvez pudesse fazer um teste, o senhor podia
arranjar...
-
Manda a moça vir amanhã.
Enquanto
subia as escadas do prédio do "Jornal da Bahia", Jaciara lembrou da
alegria de Nelinho lhe dando a notícia, e ela, coração aos pulos, emoção.
De
que é capaz um vizinho, amigo de infância, não?
Chegou,
deparou com Tasso Franco, chefe de
reportagem, a quem foi encaminhada.
Levou
um susto.
O
sujeito era contido e sovina.
Contido
nas palavras.
Sovina
no sorriso.
Lembra
pouco das escassas palavras: retorne amanhã faz teste se passar entra no quadro
de estagiários.
Não
esboçou indício nenhum de simpatia ou acolhimento.
Jornalismo
é para os fortes - pensou.
Virginiana,
dada ao pessimismo, sai da entrevista-relâmpago com pouca esperança.
Será?...
Será
que daria pra coisa?
Será
pro meu bico?
Ser
colega de profissão de estrelas como Ruy
Espinheira Filho, João Ubaldo Ribeiro, Sebastião Nery?
Ruy,
além de tudo, professor dela na UFBA, recortava as crônicas dele publicadas
pela "Tribuna da Bahia".
É,
sei não, areia demais pro meu caminhão.
A
experiência da primeira pauta, traumática: nem a pau consegue lembrar qual foi
o assunto, o objeto do primeiro teste.
Pensa
em buracos na rua, lixo acumulado, talvez.
Nada.
Guardado
no inconsciente.
Só
uma lembrança, emocionante: passou no teste.
Seu
pessimismo, derrotado...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: menino, você
está me acabando! Reviver essas emoções já não foi tão fácil. Vê-las
transformadas em literatura é indescritível. Como repórter, sou destemida,
expansiva, "aparecida" rs rs rs... Mas, despida do papel, sou tímida,
envergonhada, volto a encarnar aquela menina acanhada da Capelinha de São
Caetano... Obrigada (estou gastando meu estoque de lenços de papel e de
"obrigadas").
Vc é
merecedora, sócia!
Virgem
e touro combinam, dizem os que entendem!
O
que sei é que os astros nos uniram. E eu agradeço!
Mônica Bichara: Graça Azevedo
minha mãe, um amor incalculável, era de touro e meu marido é. Tá bom pra vc?
Será que temos afinidades?
Graça Azevedo: Mônica Bichara
Pode apostar, sócia!
Emiliano
José
20
de Setembro 2019
O cheiro das
redações e a violência do capital
Sabe-se
lá desde quando Jaciara desenvolveu o olfato, mania de sentir os cheiros de
modo intenso.
Isso
não é pra todo mundo.
Talvez
desde criança tenha sido assim.
Periferia
tem muitos cheiros, nem todos agradáveis.
O
esgoto a céu aberto, um horror.
O da
cozinha, sempre uma delícia.
Quando,
em meio às brincadeiras, o aroma do feijão, ou do xinxim de bofe, ou da galinha
de ensopado, da moqueca de peixe, do caruru invadia suas narinas saía
desembestada, fome despertada pelo olfato aguçado.
Quando
entrou na redação do "Jornal da Bahia" , o cheiro daquele ambiente a
tocou.
Característico.
Só
uma redação cheirava assim.
Ao
menos, as redações de outrora.
As
de hoje, quase assépticas.
Primeiro,
era um fumacê só.
Todo
mundo fumava, tragava a diversidade do fumo.
Havia
Continental sem filtro, havia Hollywood, havia... é, havia também, sempre
houve.
Sem
culpa, para o bem e para o mal.
A
onda antitabagista ainda não havia chegado.
A
fumaça dos cigarros impregnava o ar, entrava pelos poros, todos acabavam
fumando fossem ou não parte do vício.
Alguma
química, alguma fusão de elementos, conferia um cheiro próprio, muito próprio.
Não,
aquele cheiro você não encontraria em nenhum outro lugar.
Só
numa redação.
E
cada uma com seu cheiro, que as fusões químicas deviam ser diversas.
O do
"Jornal da Bahia", Jaciara jamais esqueceu.
Também
não esqueceu a balbúrdia, alarido, telefone tocando, converseiro todos com
todos, uma feira.
Aprendeu
a escrever pra jornal no meio dessa confusão
Acentua
a brutal diferença entre as antigas redações e as atuais.
O
número de trabalhadores era gigantesco, se comparado com os dias de hoje.
O
mundo digital explodiu tudo.
Tudo
que é sólido desmancha no ar.
O
"Jornal da Bahia" contava com um número grande de editorias quando
ela chegou em 1978: Local, Política, Economia, Nacional, Internacional,
Polícia, Esportes, Municípios, Cultura.
Além
dos editores e repórteres, copidesques, diagramadores, fotógrafos, editor de
Fotografia, laboratoristas, correspondentes.
Havia,
ainda, na Editoria Local, ou Geral, como a chamávamos, pauteiro e subchefe de
reportagem.
O
Suplemento de Domingo e o caderno dedicado ao público infantil tinham equipes
próprias.
Repórter
setorista, outra prática.
Destacado
para um setor, se enfurnava lá diariamente atrás de notícias.
Essa
estrutura foi pelos ares.
Pela
revolução digital.
E
pela lógica do capital, cuja diretriz é cada vez mais a da superexploração,
concentrando muitas atividades nas mãos de um único profissional.
A
máquina não tem culpa...
É o
capital, estúpido!
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: E você, ah
você... Transformando Jaciara em personagem. Ela que sempre esteve do outro
lado, reportando as histórias de tantos e variados personagens... É estranho,
de um jeito bom, ler a minha história.
Jose Jesus Barreto: sem
lombrasrsrsrs Tou acompanhando
cada tragada
Emiliano José: Você traga bem.
E me honra, me alegra com suas leituras. Insisto: a gente sabe a quem chama de
mestre.
Jose Jesus Barreto: Vosmecê também
me ensina muito. Sempre. Bjs
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Emiliano
José
22
de Setembro 2019
Perdidas na noite
Em
1982, Jaciara foi atrás das coisas
do amor.
Pago,
pero amor.
Negar,
quem há de?
Matéria
sobre prostituição.
Saía
à noite pro brega.
No
horário de trabalho das meninas, dos travestis, dos cafetões.
O anjo
da guarda era Isabel Santos, comadre
sempre solidária.
Matéria
como aquela requeria um anjo assim.
Isabel
queria apenas estar junto.
Mas,
um anjo era pouco.
Eram
ainda acompanhadas pelo já veterano fotógrafo Anízio Carvalho, outro anjo.
Numa
reportagem assim, noturna, soturna, riscos na escuridão, no entanto, era bom,
aconselhável ter ao lado alguém do pedaço, que conhecesse do ramo, estivesse
por dentro do metiê, desaconselhasse espíritos malignos, caras feias, mandasse
guardar as navalhas pra outros momentos, dissesse as moças são de paz, são do
amor e não da guerra.
Anjos,
não bastavam.
Ao
menos numa jornada como aquela.
Acompanhadas
por Raimundo Alves de Souza, Raimundão,
presidente da Associação de Moradores do Centro Histórico, puderam caminhar seguras
pelos becos, pelas casas onde as meninas recebiam os clientes.
Raimundão
era figura respeitada em toda a zona.
E
tomou a tarefa com zelo.
Não
sei se as duas ficaram só ali pelo Pelourinho, 28 de setembro e adjacências, ou
se desceram a Ladeira da Montanha, se entraram no 63, notória casa da Montanha,
visitada por muita gente da elite baiana e por jornalistas ávidos, não por
matérias propriamente.
Houve
saias justas.
As
duas meninas, novatas na área, despertavam atenção, os homens olhavam com gula,
quem sabem fossem novas profissionais no mercado fazendo reconhecimento de
área.
Clientes
sempre estão atentos às novidades.
Entra
em bar, sai de bar, a matéria requeria isso, as duas circulavam cheias de
desenvoltura, à vontade, pareciam já do pedaço.
Num
dos bares, luz mortiça, um dos clientes depois de muito olhar vai se encostando
como quem não quer nada querendo se oferece para pagar uma cerveja já pronto
pro bote quase a perguntar pelo preço da noite ou da hora.
Raimundão
se meteu cheio de autoridade:
- As
moças são jornalistas, e não são pro seu bico. Se saia.
O
rapaz se saiu, que besta não era.
Conhecia
Raimundão e sua fama de valente.
Melhor
deixar quieto.
Procurar
outras meninas na noite.
Ali
não faltavam.
Pra
quê arrumar confusão?
Jaciara
seguia, conversava com as meninas, mais novas, mais velhas, tentava entender
aquele mundo, ganhar a vida daquele modo.
Sofria
um pouco.
Às
vezes, é verdade, as histórias eram divertidas, até sorria.
A
vida como ela é, feliz ou triste.
Vida
fácil uma porra, a das meninas.
Trabalho
duro.
Foi
entendendo...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Ah, já que tocou
no assunto, agora conte tudo. A reação do meu diretor pudico rs rs rs
Emiliano José: Você acha que
vou perder? Isso aqui é folhetim, novela, não carece pressa, e você é ótima
protagonista.
Joaquim Lisboa Neto: Essas histórias
de brega me encantam...
Joaquim Lisboa Neto: Me lembrei do
Midnight cowboy, com Dustin Hoffman
Emiliano José: Inspirado nele.
Mônica Bichara: E hoje é
aniversário da nossa protagonista, minha cumadi Jaciara Santos. Parabéns minha
ídola, não podia ter lugar melhor pra te desejar feliz aniversário do que aqui
nessas memórias do nosso início no jornalismo, do nosso encontro.....Tudo de
bom pra vc, minha irmã, vida longa pra que a gente ainda tenha muitos causos
pra contar. TE AMOOOOOO
Emiliano José: Na carona,
parabéns, querida Jaciara. Chegar aos 30, fácil não! Beijo
Mônica Bichara: E já que estamos
nesse tema, lembre tb das aventuras com Paulo
Mocofaia no Pelourinho e na Galeria 13. São hilárias
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Emiliano José
23 de Setembro 2019
Ravengar
de volta para o futuro
Em fevereiro de 2017, a polícia o prendeu novamente.
Alegou volta ao crime.
Ravengar tinha pedigree.
Já cumprira cana dura.
De 2004, quando foi condenado a 25 anos por tráfico de
drogas, até 2013, quando saiu em liberdade condicional.
Espirituoso, soltou os cachorros pra cima da polícia
nessa segunda prisão:
- Parece que estou no filme "De volta para o
futuro".
Negava estar no comércio da droga.
Não era mais com ele.
Prenderam-no e mais dois filhos, ex-mulher e até um
neto.
Negócio de família - dizia a polícia.
E um sujeito bom de cintura - até ex-mulher estava no
jogo com ele.
Interpretação da polícia.
Nada de droga.
Não mexia mais.
Insistia, falando aos jornalistas.
Estava agora trabalhando na feira.
Seu negócio era culinária.
Vendia salsinha, cheiro verde, coentro, cebolinha,
hortelã, toda sorte de temperos, homem trabalhador, dado a madrugar, mourejar
de sol a sol, e agora vem os home de novo e joga o inocente na tranca assim é
foda.
Queria mesmo era dar tempero à comida baiana,
conhecida por seus condimentos.
Que mal havia nisso?
Os filhos outra coisa injusta estavam trabalhando numa
lava-jato tudo tudinho pode ser conferido eu vendendo cheiro verde na feira
filhos empregados lavando carro de barão.
Se teve crime antes, nunca aceitou tivesse, já havia
curtido cana em pagamento e não foi pouca não.
E agora, essa?
Indignado.
Diziam-no comandante do negócio da droga no Morro do
Águia.
Ali no São Gonçalo do Retiro.
Dizia-se de branco chegando ao Morro do Águia durante
muito tempo buscando levando maconha pra curtir sossegado crime é coisa da
periferia branco só compra não tem culpa.
Justiça se lhe faça: nunca o encontraram com a mão na
droga.
Nem um tiquinho.
Em nenhuma das operações.
Fosse do ramo, bom profissional.
Ao menos é isso o dito dos jornais.
Dizer de certeza não digo.
Ravengar estava com 64 anos quando o prenderam
novamente em 2017.
Devia ter coisa de 39 anos quando ciceroneou
Jaciara e Isabel pelos bares do centro para conversas
com as prostitutas, para o trabalho de reportagem.
Já se disse, mas não custa insistir: Raimundo Alves
dos Santos foi gentil, atencioso, protetor, quase paternal com as duas.
Disso, não esquecem.
Digam o que digam dele.
E não pode ser verdade estivesse ele agora no ramo do
tempero verde? #MemóriaJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Carlos Lenin
Santos:
Aparentemente, era estranhíssimo Ravengar ser "maior traficante da Bahia'.
Jaciara Santos: Verdade e dou
fé: nunca encontraram 1g de pó com Raimundo. Lembro da megaoperação que a SSP
fez no Morro do Águia. Acompanhei pelo Correio da Bahia. O resultado foi pífio.
Foi uma daquelas situações em que o Estado tinha convicção, mas não tinha
provas...
Denilson
Vasconcelos:
Verde é verde. Sempre. Uns cheiram mais, outros menos, mas sempre temperam a
vida.
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Emiliano José
24 de setembro 2019
"Elejo
até uma vassoura"
1982 foi fácil não.
A marcá-lo tragicamente, Elis Regina aos 36 anos segue viagem num rabo de foguete cansada de
tudo embalada por overdose de cocaína
Ainda era ditadura.
ACM governava a Bahia
pela segunda vez.
Biônico, sem um mísero voto.
Sempre abençoado pelos militares.
Com a morte de Clériston
Andrade, lançou João Durval Carneiro
como seu sucessor.
"Eu elejo até uma vassoura", bradou.
Carneiro se elegeu.
No ano, amarguei desemprego.
Terminou sendo conveniente.
Candidato a deputado estadual pelo PMDB,
desembestei-me mundo afora, quase 13 mil votos, mas não me elegi.
Comigo, na liça, Rêmulo
Pastore, candidato a vereador.
Também não se elegeu.
Fizemos barulho.
No carnaval, ousamos, antecipando campanha, marketing
diferenciado.
Produzimos a explosiva mortalha-jornal, toda
mancheteada.
Uma delas, provocativa:
"Quem não acredita na Virgem Maria, não pode
governar a Bahia".
Referência abusada, e digo hoje deselegante e
desrespeitosa, a Clériston Andrade, me parece presbiteriano.
Ele morreu em acidente de helicóptero.
Nunca achei correto brincar com religião.
Ali, escorreguei.
Não é lembrança a me orgulhar.
Foi esse o ano do mergulho de Jaciara em busca de
entender a vida das prostitutas.
Ela e Isabel.
Isabel, apenas acompanhando-a.
Nem tanto: participou de corpo e alma de toda a
apuração.
Só não escreveu.
Imagino as duas noite após noite alternando ousadia e
cuidado na aproximação tentando ser respeitosas sem deixar de ir fundo na
existência de cada uma das entrevistadas umas mais abertas escrachadas outras
recatadas olhando de soslaio desconfiadas Jaciara tornando nota como quem nada
quer querendo muito...
Que vida, aquela, as duas deviam pensar, sem
moralismos.
O corpo como ganha-pão, como alternativa de
sobrevivência.
Melhor do que limpar chão de madame, uma ou outra
devia dizer.
As duas, tornando-se íntimas daquela realidade,
daquelas vidas, daqueles corpos, vindos de tanto lugar, corpos explorados de
todas as maneiras.
São reflexões minhas, imaginação, colocando-me no
lugar das duas comadres, o pensamento parece uma coisa toa mas como é que a
gente voa quando começa a pensar...
Uma profissão, um meio de vida.
Hoje, mais organizada.
O mundo digital modificou essa área também.
As duas, tocando a pauta, deixa a vida me levar...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Claudia Moreira de
Carvalho:
#EuAmoEssesTextos
Graça Azevedo: Os textos
deveriam virar livro!
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(Primeira matéria assinada)
Emiliano José
25 de Setembro 209
Alegria
da missão cumprida
Apuração, foram alguns dias.
Noites, a profissão é da noite.
Agora, hora da onça beber água.
É quando você se prepara pra escrever.
Olha pra o mundo de papel, pros rabiscos só
decifráveis por você, pensa como vai ser a abertura, chave pra começar.
Sabe: reportagem especial como essa não requer lead
clássico.
Emoção, emoções.
Com elas, tinha de se haver nessa matéria.
Trazer para o papel o transbordamento de vida
experimentado na noite, as alegrias e as dores das meninas.
Creio nem tenha requerido rasgar tantas laudas para
achar o caminho.
No lead clássico, você muitas vezes empaca rasga uma
rasga duas dez e o lead não sai.
Nessa, outra arquitetura.
Menos presa aos formatos rotineiros.
E por isso, cobrando mais elaboração.
E quando setembro chegou, vocês se recordam, estamos
em 1982, a primeira matéria de página ganha as ruas.
Jaciara já era experiente, mas parecia a primeira vez.
Jornal de domingo, dia 19.
Emoção ao ler o título:
"Amor a preço de ocasião".
Só a jornalista, ou jornalista, sabe a sensação, o
frenesi de ler a matéria publicada.
Você escreveu, revisou, repassou, mas, publicada é
outra coisa.
Não foi pequena a emoção.
O filme passava por sua cabeça as meninas travestis
cafetões suas histórias a suave solidária presença de Bel o velho Anízio
clicando Raimundão vigiando os homens olhando elas tão novinhas assim chamando
atenção por onde passassem olhar não tira pedaço.
Gostou.
Muito.
Mas, podia ser melhor, pensou.
Jornalista, se bom, invariavelmente encontra lacunas
em seu trabalho quando o vê publicado - estamos falando de jornalismo impresso.
Esse toque o acompanhará por toda a vida, se não
perder a paixão e não for tomado pela arrogância.
A missão se concluiu no dia 26, no outro domingo,
também matéria de página inteira:
"Atividade já passa do limite".
As duas matérias fizeram sucesso.
E causaram constrangimento também.
A tradição família e propriedade não descansam.
Que viva a putaria.
Mas, não seja exposta.
Toda nudez será castigada.
Jaciara estava posta em sossego na redação quando...
#MemóriasJornalismoEmiliano
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Eitcha que você
sabe fazer um folhetim... Haja suspense. Até eu (que conheço o desfecho) estou
ficando ansiosa rs rs rs
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Emiliano José
26 de setembro 2019
Um
diretor à espreita...
Jaciara estava posta em sossego na redação, ainda
desfrutando do calor da recepção da primeira reportagem sobre a prostituição,
quando surge um dos diretores do jornal, presença incomum naquele ambiente.
Quando o viu, sabe-se lá por quê, passou a refletir sobre os homens, a presença
masculina no jornalismo.
Sem rancor.
Com carinho com afeto.
Abria caminho em meio àquela selva patriarcal, iria
seguir adiante.
Soube desde sempre negra pobre periférica: não teria
nada de bandeja, tudo seria luta, foi assim desde os primeiros passos, será
assim existência afora.
Já havia uma presença razoável de mulheres.
Recorda-se das duas diagramadoras Diana Tourinho e Maria Estella Carvalho, doce Stelinha.
Desta, dirá ter sido o mais belo rosto visto de perto.
E havia Alba
Regina, Carmela Talento, Isabel, Linalva, Lúcia Cerqueira, Mara Campos, Mariana
Soares, Vânia Queiroz, Mércia Moura, corpaço de parar as máquinas:
- Que macho não virava o rosto para acompanhar o
bundão de Mércia serpenteando pela
redação?
Tá legal eu aceito o argumento...
Mas os homens, maioria e poder.
E ela olhava o diretor conversando com um e com outro
enquanto dava asas às lembranças.
De vez em quando, percebia-o olhando em sua direção.
Só impressão, pensou.
Dos homens, a lembrança forte de Tasso Franco, chefe de reportagem.
Jadson Oliveira, subchefe de
reportagem.
Antônio Luiz
Almada,
pauteiro.
Na primeira fase de sua vida jornalística, toda orientação
vinha deles.
Os copidesques ficaram para sempre na memória: Gílson Nascimento, Inácio Panzani e Luíz
Augusto Santos, LA.
José Maria
Rodrigues,
o velho comunista, abrigado por João
Falcão desde o início.
E aos borbotões surgem Adilson Borges, Chico Vasconcelos, Edson Almeida, Jânio Lopo, Jorge
Lindsay, Marcelo Simões, Moacir Néry, Moacir Ribeiro, Rêmulo Pastore.
Foi Pastore o abre-alas noturno para Jaciara:
apresentada à Cantina da Lua, ao
dono Clarindo Silva com seu terno
branco, às putas, à malandragem, a todo o centro antigo de Salvador, ouvindo o
inesquecível bordão dele: - - Ô vidão.
Reminho amava a vida.
Morreu cedo.
Antônio Jorge
Moura, Antônio Luiz Diniz (Dente de Leite), Dalton Godinho, José Carlos
Mesquita, José Carlos Prata, Mário Freitas, Oldack Miranda, os nomes vão
passando...
Afetos.
O diretor, conversava na redação...
E ainda olhava pra ela...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Joaquim Lisboa
Neto:
Mércia, com seu ardoroso vaivém llenando de envidia a las mujeres y de
excitación a los hombres...
Joaquim Lisboa
Neto:
Jadson Oliveira do Movimento na Tingui?
Mônica Bichara: Vou marcar ela
aqui pra ver isso hahaha Olha que sucesso Mércia Moura
Jaciara Santos: vai dizer que
não lembra do corpaço de Mercia Moura?...
Mônica Bichara: Encontrei outro
dia em Stella, tão linda quanto. Reconheci na hora
Emiliano José: Mônica Bichara
Mande telefone dela. Preciso.
Jaciara Santos: tome-lhe
suspense!!!!!!!!!!! Vou terminar furando você kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Emiliano José: Jaciara Santos
Mancha sua biografia. O escrevinhador tem preferência. E é levado pelas mãos da
protagonista.
Mônica Bichara As ....
significam que vem mais novela Jaciânica pela frente, né Emiliano José? Ebaaaaa
Jaciara Santos: estou amando
essa novela. Nunca me imaginei protagonista de um folhetim tão bem desenhado...
Mônica Bichara: Soube que a
Globo comprou os direitos para transformar em filme. Quem será que vai
interpretar a protagonista?
Isabel Santos: Calma irmã, tá
tudo muito gostoso de ler e relembrar. Segue em frente Emiliano José
Graça Azevedo: Sócias Jaciara
Santos e Mônica Bichara: ainda bem que a nossa sociedade foi formalizada antes
que eu soubesse que não tinha cacife para compor o trio! Azar o de vcs que me aceitaram! Mesmo sabendo que eu
era reserva do time! E eu estou feliz!
Mônica Bichara: hahahaha nada,
vc já tem direito a carteirinha e tudo
José Carlos
Teixeira:
Encontrei faz pouco, em meus guardados, fotos da largada da campanha de Reminho
Pastore a vereador, feitas na convenção do PMDB, julho de 1985, se não me falha
a memória (bem ao fundo, Tasso Franco.
Emiliano José: 1982, Teixeira
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Emiliano
José
28
de Setembro 2019
"Está uma
merda"!
Jaciara
passava a caneta na matéria para o domingo seguinte, 26 de setembro daquele
1982.
A
segunda da prostituição travestis cafetões.
Olhou
de lado, rabo de olho, como se não quisesse.
O
diretor continuava zanzando, presença estranha, pouco usual na redação.
Suprimiu
uma palavra na matéria, estava sobrando.
Poupava
trabalho dos copidesques.
Fez
uma pausa, e sem querer voltou no tempo, 1978.
Plantão
de final de semana.
Escalada
para cobrir missa campal celebrada por dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo de
Salvador e Primaz do Brasil.
Precisava
fazer bonito.
Impressionar
o chefe de reportagem.
Chegada
à redação, toque escrever o lead.
Lead,
isso é para os leitores comuns, é a abertura da matéria, síntese, responde
clássicas perguntas sobre o acontecimento: o quê, quem, como, onde, quando e
por quê.
Poucas
linhas, cinco, seis, sete.
Escreveu
o primeiro.
Retirou
com violência da máquina, amassou, jogou no cesto de lixo.
Foi
uma, foi duas, foi três, dez vezes, tome amasso.
O
cesto, cheio.
Chegou
ao lead ideal na décima primeira tentativa.
Entrega
a Tasso Franco, o chefe.
Segura
de si.
Tasso
pega o papel, olha o lead, faz cara de desânimo, depois de desprezo, amassa,
joga no cesto:
-
Está uma merda!
Quer
morrer.
Vai
dando meia volta para retornar à máquina.
Tasso
diz venha cá subitamente paciente generoso explica onde foi o erro como
consertar como iniciar matéria de forma a prender o leitor.
Didático.
"Didática
Tasso Franco" - assim ela qualifica a forma dele ensinar a quem chegava.
Um
tanto brusca, é verdade, não obstante eficaz.
Mas,
"o melhor professor de jornalismo que já encontrei pelo caminho".
Voltou
à realidade quando levantou os olhos e deu com o diretor ao seu lado.
É,
desconfiava, mas precisava de confirmação.
Toda
hora olhava pra ela.
Havia
de vir.
Veio.
Ali
tinha coisa.
Parecia
jogo de aproximações sucessivas.
Conhecia
disso.
Os
homens eram assim: cerco estratégico, cerco tático.
Mas,
nesse caso, não atinava com o objetivo.
Chegou
assim, simpático, um quase-sorriso, olá como vai eu vou indo e você...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Emiliano quer
matar a gente de suspense kkkkkk Conheci bem a "Didática Tasso
Franco", a Faculdade Tasso Franco
de Jornalismo, mas qdo ele chegava de óculos escuros, com a barba enterrada no
peito, a gente saía de baixo, melhor não contrariar 😜😜😜😜 Nera, chefinho
Tasso Paes Franco?
Jaciara Santos: Essa experiência com Tasso Paes Franco foi de uma riqueza incalculável. Tasso era assim: duro por fora, mas doce por dentro. Sei que ele não lembra (foram tantos os/as focas que passaram por ele...), mas eu jamais esqueci. E tenho para com ele essa eterna dívida de gratidão. Aprendi muito com ele. Muito mais que nas aulas da Facom.
Jaciara Santos: Essa experiência com Tasso Paes Franco foi de uma riqueza incalculável. Tasso era assim: duro por fora, mas doce por dentro. Sei que ele não lembra (foram tantos os/as focas que passaram por ele...), mas eu jamais esqueci. E tenho para com ele essa eterna dívida de gratidão. Aprendi muito com ele. Muito mais que nas aulas da Facom.
Emiliano José: Você seria capaz
de saber em que mês ele chegou ao Jba em 1978?
Tasso Paes Franco: A propósito onde
comprar o livro de Emiliano sobre Waldir Pires? Essas meninas são generosas,
pero, grandes jornalistas.
Emiliano José: Tasso, mande
endereço. Envio autografado. Os dois volumes? Mando conta e vc faz depósito. A
propósito, que mês você chegou ao Jba em 1978?
Tasso Paes Franco: Cheguei ao JBA
pela primeira vez em 1968 como foca e o chefe da reportagem era Anizio Félix.
Depois saí, fui para a Tribuna e retornei ao JBa, salvo engano em 1974.
Emiliano José: Mas você esteve
como chefe de reportagem do DN nesse entremeio. Tenho certeza disso. Você
chegou a me convidar pra integrar equipe. Tente juntar as datas.
Tasso Paes Franco: O DN foi em 1975
fui ser editor chefe a pedido de David Raw
Emiliano José: E ficou lá de
1975 a..
Joaquim Lisboa Neto: Diretor querendo
sinal aberto. Lead é o mesmo que nariz de cera?
Emiliano José: Não. Nariz de
cera era o arrodeio antigo, as preliminares, do jornalismo antigo, sepultado
pelo lead. Este, vai direto ao ponto. Pirâmide invertida: concentra tudo logo
no começo e vai afunilando, deslindando. Nariz de cera derreteu com o lead.
Joaquim Lisboa Neto: Muchas gracias,
saiu nariz...entrou lead. Aprendi mais uma graças a você.
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Emiliano
José
29
de Setembro 2019
O tamanho do
membro...
Antes
da prosa do diretor, pensar um pouco sobre a construção das matérias sobre as
putas travestis cafetões.
Jaciara
pensava nos relatos daquele mundo João
Antônio Nelson Rodrigues Plínio Marcos Navalha na Carne Zéfiro Dalton Trevisan.
Por
dias e noites, povoaram sua mente, não parava de pensar neles, no mundo
revelado por eles.
Que
relatos!
Que
mundo!
Corpos
expostos em sua beleza e crueldade.
A
crueldade da sociedade reprimida e violenta.
É
pau é pedra é o fim do caminho é o fundo do poço..
Um
mundo, no entanto, onde ela descobria ternura, humanidade.
Nas
brechas daquele cenário, histórias fortes, de resistência, mulheres fortes,
capazes de embaixo de pau e pedra, seguir adiante, até sorrir, vida segue.
Escrever
sobre aquele mundo, o desafio.
Não
era roteiro hollywoodiano.
Na
maioria das vezes, não havia final feliz.
Era
muita miséra, como costuma dizer o baiano.
E
muito, muito sexo.
Pago,
ali se requer pagar para trepar.
É do
negócio, da profissão.
E o
sexo é sexo e ela tinha de se haver com ele em sua crueza não sei se ali digo
beleza sua natureza corpos suados entrelaçados sussurrados nas noites camas
luzes mortiças do Pelourinho.
Ah,
o tormento da texto vis a vis a vida.
O
diretor chegou todo elogios:
-
Que beleza de reportagem!
-
Quanta sensibilidade!
Derramou-se
na celebração da matéria.
Jaciara,
toda agradecida, orgulhosa, mas ressabiada.
Esmola
demais o santo desconfia.
E aí
começou a ponderação, ele chamava assim, ponderação:
-
Você sabe, sei que sabe: o jornal é lido por gente de família, minha esposa,
meus filhos...
De
cara, meteu mulher e filhos no meio.
Mulher,
não, a esposa.
A
mãe, ele preservou.
- Em
alguns trechos, como diria?, você foi muito explícita.
Jaciara,
com tato, pergunta:
-
Mas, que mal lhe pergunte, o senhor se refere exatamente a que trecho?
Ele,
todo sem jeito, constrangido que só a porra, tenta encontrar maneira de dizer:
- Sabe,
como digo?... é aquela parte onde você discorre sobre o tamanho do membro.
Não
consegue falar pau, pica, o caralho!
Caiu
a ficha...
Jaciara
sabia de cor e salteado o trecho...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Joaquim Lisboa Neto: Fiquei sabendo
que os catecismos de Carlos Zéfiro estavam disponíveis num sáite através de
Osvaldo Barreto, quando secretário da Educação, batendo um papinho com ele e
Cezar Lisboa na beira do Rio Corrente sorvendo cerva. Acesso esporadicamente
[cuidado revisão].
Emiliano José: esporradicamente...?
Joaquim Lisboa Neto: Por isso pedi
cuidado revisão...
Mônica Bichara: Viuxe que agora
o homi vai se deparar com os argumentos da comadre. Sim, pq ela sabe defender
um texto com unhas e dentes. Cada porém, cada " não fica bem".....ela
tinha a justificativa na ponta da língua. OZzadia ela tem muita, inté hj
********************************************************
Emiliano
José
30
de Setembro 2019
O conselho da dona
do bordel
Preocupação
dele, do diretor, era com o tamanho do membro.
Você
sabe família é o que é deve ser respeitada jornal entra em todas as casas está
ali em cima da mesa no café da manhã a esposa lê a filha lê de repente
constrangimento sorrisinhos e o pai sem saber como responder se a pergunta vier
palavra tem peso todo cuidado é pouco.
Jaciara
atenta.
Sabia
qual texto.
E
contexto.
Reportagem
é reportagem.
Você
tem de ir fundo.
As
coisas estão no mundo minha nega só é preciso entendê-las, fã de Paulinho da
Viola.
Conversando
com as meninas, foi entendendo, tentando entender aquele mundo.
Não
se recusa cliente.
O
amante de ocasião apareceu tem de ser atendido.
A
dona do bordel avisava logo a menina recém-chegada.
Não
tem nhem nhem nhem não tem mimimi: o cara chegou é atender.
É da
boa ética.
E do
negócio.
Ponto
final.
Isso
aqui não é amorzinho.
É
ganha-pão.
Meu
e de vocês.
Mas,
as novinhas se assustavam quando o sujeito apresentava armas.
Havia
alguns de assustar.
Não
era normal.
Tudo
aquilo?
Cabe?
Um
pau assim não há quem aguente.
As
mais velhas então chamavam as novinhas pra uma conversa, orientavam
procedimentos acautelatórios.
Jaciara
relatou na matéria um desses conselhos, dados por Luci, já calejada nos seus 38
anos, vinda de Itabuna, um filho nas costas:
- Se
o cliente é grande demais pra gente, amarra um pano no pênis dele para impedir
que se introduza completamente.
Essa
riqueza de detalhes, a vida como ela é, horrorizou o diretor, deixou-o à beira
de um ataque de nervos.
Jaciara
não revela o nome do diretor.
Não
dá pista nenhuma.
Se
desse alguma, fácil descobrir.
Nada.
Nem
que a vaca tussa.
Provável
ele estivesse tentando fazer uma vacina, medo da segunda matéria.
Desnecessário.
Na
segunda, "Atividade passa do limite", publicada dia 26 de setembro de
1982, não houve pau grande.
O
diretor deve ter dormido em paz.
Sem
pesadelos.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Num falei que
ela (Jaciara Santos) era chegada aos mínimos detalhes????? "Minha lôra,
observa tudo que possa enriquecer a descrição do ambiente", me ensinou qdo
tomamos de amores uma pela outra. E não seria AQUELE detalhe que passaria
despercebido
Jaciara Santos: Mônica Bichara 🙈
Jaciara Santos: fim do suspense!
Aff... já estava prestes a lhe atravessar e contar o desfecho rs rs rs
Mônica Bichara: Kkkkkkk não ia
ter graça
Jose Jesus Barreto: Tinha um cidadão
do interior, produtor da região do sisal, um desmarcado. Quando ele aparecia no
63, ladeira da Montanha, muita menina traquejada se escondia, a despeito da generosidade
do jegue. Verdade.
Jaciara Santos: oxe, se ela
conversasse com "Luci" (nome fictício), resolvia o problema
Isabel Santos: Pois é, Jaciara
Santos, 'Luci', minha conterrânea, sabia onde dormiam as cobras. Ao lhe
acompanhar nessa reportagem ficou muito marcante para nós a bacia, lembra?
Emiliano José: Que bacia?
Jaciara Santos: ahahahahahahaha,
a baciinha "pra fazer o asseio...". se o diretor se escandalizou com
o tamanho do membro, imagina se eu falo da bacia que as moças usavam entre uma
e outra função. Uma bacia pequena, de plástico...
Emiliano José: Vai ver
frequentava... Iria se escandalizar.
Jaciara Santos: Emiliano José se
bem que, olhei agora, eu coloquei, sim, Bel Isabel Santos: "(...) Ao
canto, uma jarra plástica, dentro de uma bacia, também plástica, ambos sobre um
banquinho de madeira..." (Só não entrei em detalhes sobre a utilidade
desses utensílios. Eu acho...)
Emiliano José: Tá saindo é
coisa nova...
Jose Jesus Barreto: Usei muito,
cumade. Bacia esmaltada. Jarra, toalhinha, papel higiênico, aquele odor...
afffe ! Dá até saudade rsrsrsrsr
Cely Barbosa 😂😂😂😂
Jaciara Santos: Matheus Morais,
tá acompanhando a série?
Matheus Morais: Tô adorando,
Dinha! Que histórias maravilhosas
Jaciara Santos: Renato Souza,
Luciana Rodrigues, Paulino Jose Dos Santos acompanhem a série...
Renato Souza Kkkkkkkk tô me divertindo
Jaciara Santos: Renato Souza mas
pega do início. Tem Mônica Bichara, Isabel Santos...
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Emiliano
José
1º
de Outubro 2019
Irmã Dulce
Jornalista
é metamorfose ambulante.
Ora
pode viver noites com as putas.
Ora
pode conviver com a santa.
Acaba
conhecendo o mundo.
Confrontado
diariamente com a diversidade.
Esse
exercício pode torná-lo, torná-la, um ser tolerante, aberto, quase sem
preconceitos.
Pode.
Não
necessariamente, claro.
Há
quem não saia do lugar.
Jaciara
experimentou de tudo um pouco.
Já
disse: quem foi de Geral aprende muito.
Sai
de suas zonas de conforto.
Das
putas à santa, um pulo.,
Viveu
experiência inesquecível com Irmã Dulce, hoje santa consagrada pela Santa Madre
Igreja.
Pautada,
seguiu para Roma.
O
bairro onde fica a sede da Instituição então dirigida por Irmã Dulce chama-se
Roma. Fotógrafo, Anízio Carvalho.
Chegou
de manhã, pouco depois das 8 horas.
É
informada: a religiosa estava em ronda pelo hospital.
Pedia-se
um pouco de paciência.
Já
tomada da arrogância de jovem repórter, Jaciara não escondeu a insatisfação.
Mas,
que fazer?
Furar
a matéria, não podia.
Era
reportagem de interesse da direção.
Esperar,
não obstante indignada.
Mais
de uma hora decorrida, depara-se com a figura franzina, muito miúda,
visívelmente apressada.
Queria
continuar vendo as coisas.
-
Você pode nos acompanhar.
Jaciara
concorda mas explica quero falar sobre os seus pobres, obras sociais, o alcance
do seu trabalho social.
Irmã
Dulce, nenhum interesse:
-
Falar o quê sobre mim, minha filha?
Jornalista
sempre acha ser o condutor do mundo, dirigente da fonte.
Jaciara
recebe a ducha de água fria.
E
antes de qualquer contra-argumentação,
Irmã
Dulce completa:
-
Vamos falar sobre o que meus velhinhos estão precisando?
Jaciara
foi perdendo a pose, percebia a grandeza daquela mulher, sentia sua dianteira.
Ia
ser difícil assumir o controle da entrevista.
E
precisa?
Não
pode deixar as coisas correrem e escrever sobre elas?
Ela
segue atrás da pequena criatura,
elétrica,
determinada,
autoridade
a emanar de sua alma:
manda
uma funcionária dar um jeito no balde de água suja e utensílios de limpeza
esquecidos num canto,
entra
na enfermaria geriátrica,
chama
cada paciente pelo nome,
como
está?
melhorou?
como
amanheceu?
o apetite?
Olha
o curativo de um, ajeita os lençóis de outro, ouve as queixas de um deles...
Que
energia.
E
que carinho, quanto amor.
Ia
apreendendo...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Era sempre uma
pauta que enchia nossos olhos e acelerava o coração. Acompanhar a rotina do
nosso Anjo Bom era pura emoção. E Jaciara sabia traduzir como ninguém
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Emiliano
José
2 de
Outubro 2019
Amor
Jaciara
acompanhava Irmã Dulce, atenta a
cada movimento dela.
Na
ala das crianças com deficiência, pergunta sobre a evolução de um bebê.
Ordena
a troca de fraldas de outro.
-
Cadê o médico? Já passou por aqui?
Com
desculpa da metáfora, parecia um general à frente de seu exército.
Um
general do bem.
Jaciara
olha para um menino com hidrocefalia.
O
corpinho mirrado, esquelético, contrastava com a cabeça descomunal,
assustadoramente grande.
Irmã
Dulce vai se aproximando olhando para o menino deixando trair uma ternura só
dedicada a ele, a mais ninguém.
Acerca-se
do berço e surpreendendo a todos toma a criança no colo, revelando insuspeitada
força.
Abraça
o menino, beija-o, desdobra-se em carinhos, sussurra, balbucia, comunica-se com
ele.
Dele,
do menino acarinhado, recebe de volta risos cheios de prazer.
Irmã
Dulce, pouco dada ao riso, também sorri.
É, o
amor, o carinho, a atenção têm poderes milagrosos.
À
chegada da pequena comitiva, parecia uma criatura sem vida.
A
mão carinhosa, os beijos e abraços cheios de amor, as palavras sussurradas
envoltas em ternura, as suaves brincadeiras trouxeram-no de volta à existência,
mostrando-se capaz de relacionar-se com o outro.
Muito
provavelmente Irmã Dulce inspirava-se nas andanças de Jesus.
Suas
mãos, conta a Bíblia, tinham especial preferência pelos pobres, leprosos, doentes,
pelos pequeninos, pelos lazarentos, pelas prostitutas, Lázaro levanta-te e
anda, recomendação a ecoar pelos séculos.
Nesse
exemplo mirava-se, no Deus amoroso.
O do
Novo Testamento, carta de amor.
Não
no Velho Testamento, de onde emerge um Deus punitivista e rigoroso.
Jaciara,
diante da cena, não consegue disfarçar a emoção.
A
santa conta: o menino fora a abandonado pela família.
Nem
toda família é generosa com um menino assim vai explicando menino esteve
desenganado quase morreu mas graças a Santo Antônio está firme e forte.
A
Santo Antônio e a ela, a santa, pensa Jaciara.
Enquanto
conversava com a santa, percebe a movimentação de alguns funcionários em
direção à cama do menino.
Passam
a lhe fazer carinhos.
Irmã
Dulce contagiara o entorno.
A
cena nunca mais seria esquecida por Jaciara.
Ela
sabe por que Irmã Dulce tornou-se santa.
A
impaciência, a arrogância da chegada desapareceram.
Ao
final, no meio do dia, experimentava uma indescritível sensação de bem-estar.
Entregou-se
ao carisma de Irmã Dulce, constatou nela total ausência de vaidade.
Por
isso, santa.
Por
pensar e amar os outros, santa.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Revivendo aqui
todas essas emoções... Obrigada. Muito obrigada.
Mônica Bichara: Nem me fale
dessa ala de crianças com deficiência. TB foi aí a maior emoção da minha
carreira
Emiliano José: Mônica Bichara
Curioso, vocês sofreram as mesmas dores.
Mônica Bichara: Verdade
Emiliano. Já contei isso aqui, no meu caso foi cobrindo a visita de Madre Teresa a Irmã Dulce no hospital Santo Antônio. Nessa ala das pessoas com
deficiência uma menina bem grandinha, adolescente, veio correndo e se jogou no
colo da nossa santa. Devia ser mais pesada do q ela. Mas qdo Irmã Dulce contou
q ela foi parar lá pq foi resgatada do trilho do trem, onde foi colocada
provavelmente pelos pais. Nem sei como consegui terminar a cobertura. Pena não
ter essa matéria guardada
Emiliano José: Mônica Bichara
Só procurar. E achar. 😘 Jaciara andou pela Biblioteca
Central. Será que o arquivo do Jba não foi preservado? Tudo é possível...
Mônica Bichara: A última vez que
eu soube estava em um local úmido, pastas jogadas no chão. Mas é possível que
tenha sido preservado, gostaria muito de saber
Jose Jesus Barreto: Bonito, muito
bonito.
Emiliano José: Jose Jesus
Barreto Meu mestre, honrado.
Cely Barbosa: Essas meninas e
suas histórias maravilhosas! Obrigada Emiliano.
Emiliano José: Cely Barbosa Eu
sou o agradecido...
Lucia Correia Lima: Uma pena que
hoje, fui lá fazer exames de sangue, todos são marcados para 7h as pessoas
idosas carentes são amontoadas sem bancos para sentarem, sem água funcionários
nada gentis, e, muitas são atendidas até as 11hs com fome devido ao jejum
obrigatório.
Qdo
reclamamos soltam números de atendimentos. Qualidade nada.
Graça Azevedo: Estou emocionada
com as histórias das sócias.
Jaciara Santos: ainda mais
contadas por um escritor como Emiliano, né?...
Graça Azevedo: Jaciara Santos
Só gente TOP!
Sarno Carlos: Mano, parece que
ascendente lírico vai ocupando cada vez mais espaço. O irmão Zanetti deve tá
desconfiado. Bonito texto.
Emiliano José: Sarno Carlos
Vindo do poeta, orgulho.
Emiliano José: Zanetti é capaz
de achar esteja deixando a militância...
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(Prêmio de reportagem do BB)
Emiliano
José
3 de
Outubro 2019
Ou eu ou ele!
Ser
jornalista não é qualquer coisa, não.
Você
corre riscos, muitos.
O
primeiro, o de se apaixonar.
Não
é raro.
Jaciara
não nega: o "Jornal da Bahia" foi o seu primeiro amor.
O
verdadeiro primeiro amor.
Avassalador,
capaz de provocar rompimentos.
Para
o bem em muitos casos.
O
"Jornal da Bahia" foi para ela uma espécie de deus ex-machina: chegou
para perturbar, mexer com tudo, mudar a vida.
Estava
noiva, posta em sossego.
Exagero:
nada de posta em sossego.
Verdade,
verdade, cartas à mesa: vivia um relacionamento tóxico.
Pense
num cara ciumento.
Pense
num sujeito possessivo.
O
rapaz era assim: todo macho.
Pensava
ser dono e senhor da situação.
Há
homens cuja mentalidade os leva a considerar a mulher como propriedade deles.
E o
rapaz ampliava o seu ciúme: rejeitava abertamente a profissão escolhida por
Jaciara.
Sabia,
ele sabia, dizia saber: ela arrumara uma profissão onde só havia maconheiros,
viados e putas.
Um
celeiro de perdição.
Diante
desse mundo pervertido, danou-se a pressionar a noiva, incomodado, impaciente,
nervoso, irritadiço.
Um
dia, depois de muitos desentendimentos, Jaciara sempre rebarbando,
desrespeitando a autoridade do homem, ouviu o ultimato:
- Ou
eu ou ele!
Deu
ele.
Tirou
a aliança e caiu nos braços do outro,.o "Jornal da Bahia".
"Esses
moços, pobres moços, ah se soubessem o que eu sei", o velho Lupicínio
alertava.
A
vida já me ensinou: se quiser resolver pendência amorosa, nunca, nunca vá para
a fórmula "ou eu ou ele", "ou eu ou ela".
O eu
sempre dança.
O
outro, a outra, parece à espera pra saltar fora.
E
salta.
Assim
com Jaciara, já mergulhada em outra paixão, o jornalismo.
Paixão
a exigir sacrifícios sob situações embaraçosas.
Embaraçada,
aliás, é palavra em espanhol para designar mulheres prenhas, e Jaciara nesse
episódio carregava barriga de sete meses.
Mas,
não é de gravidez o acontecimento.
Ou
ao menos não diretamente.
É a
história da baba de seu Biliu.
Baba,
baba.
Não
é futebol.
Final
de junho de 1980, São Pedro em São João do Cabrito, perto de Plataforma,
subúrbio de Salvador.
Carecia
encontrar o morador mais antigo do Cabrito.
Ele
contaria a origem dos festejos...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Paulino Jose Dos Santos: Por isso ela
"Jaciara Santos" também não bebe caldo de cana uma história de um
carnaval de Salvador essa poucos sabem.
Jaciara Santos:
kkkkkkkkkkkkkkkkk DEXAKETO
Renato Souza: Gente... que
maravilha saber de tantas histórias <3 span="">3>
Jaciara Santos: quem não gosta
muito da história de seu Biliu é Luciana Rodrigues...
Jaciara Santos: e não vale
"furar" o novelista, viu, Luciana Rodrigues? Deixa ele conduzir o
relato como bem lhe aprouver rs rs rs
Emiliano José: Jaciara agora
vai contar essa história. Senão, vou atrás. Sou repórter. Caldo de cana
turbinado?
Jaciara Santos: DEXAKETO 🤣🤣🤣🤣🤣
Emiliano José: Nada de
dexaketo. Ajoelhou tem que rezar...
Matheus Morais: A da baba eu
conheço! Hahahhahahhshsa. Dinha, minha ídola para sempre! ♥️♥️♥️♥️♥️♥️♥️
Luís Filipe Veloso: Jaciara Santos,
tô meio atônito... Rs... Vou digerir melhor esse texto que lhe faz ainda maior
do que já a consideramos!
Jaciara Santos: menos, mestre,
menos...
Regina Celia Souza: Esse é o
verdadeiro PODER das mulheres que AMA o que faz, ser lembrada e homenageada
sempre, ainda mais quando está muito VIVA , para poder ler tudo isso. Mil
curtidas para nossa Jaci!
Mônica Bichara: O cara parecia
que nem conhecia a noiva que tinha....imaginar que essa virginiana autêntica ia
aceitar um "ou eu ou ele". Claro que seria "ele", ainda
mais esse "ele" sendo o nosso primeiro grande amor, o JBa
Mônica Bichara: Quanto a seu
Biliu.....Paulo Mocofaia tem que ser convocado com urgência
Emiliano José: Mônica Bichara
Falei com ele ontem. Está esperando
Mônica Bichara: Ele está no
face? Acho q não
Emiliano José: Mônica Bichara
sou repórter. Falei pessoalmente. Conheci Mocofaia motorista do Estadão. Eu,
repórter. Logo depois, o encontro fotógrafo talentoso. Sempre bem-humorado
Mônica Bichara: Ele tinha q
estar aqui
Adilson Borges: "EU!",
EU!", EU!"
O
jornalismo gritou em coro com centenas de vozes combativas!
Mônica Bichara: Não Adilson
Borges, gritamos "ELE, "ELE", "ELE", no caso o
sujeitinho oooozado era o "EU" kkkkkkk
------------------------------------------------
Emiliano
José
4 de
Outubro 2019
Terror num fio de
baba
Jaciara
andou bastante até encontrar o morador mais antigo de São João do Cabrito.
Por
aquelas redondezas, aqueles subúrbios, andar andei muito.
Com Jorge de Jesus, fotógrafo sempre bem
humorado, caminhei por Plataforma, ali encostado.
Jesus
me apoiava.
O
Jorge.
Eu,
candidato.
Até
feijoada organizou pra me recepcionar em sua casa.
Pense
num sujeito gente boa.
Do
outro lado, Alto do Cabrito, estive em casa do querido amigo Raymundo Mazzei, notável jornalista,
também me apoiando para deputado.
Morava,
creio, num conjunto de casas da Petrobras.
Marina, filha dele, doce e querida
criatura, será minha secretária quando em mandatos parlamentares. Emília, outra filha, trabalhará comigo
como jornalista, as duas, amizades eternas.
Com Dirceu Régis, poeta e companheiro de
prisão, caminhei pelo Lobato, andança política.
Encontrou
o mais velho.
O
contador de histórias.
Um
ancião como a matéria pedia.
Simpático,
acolhedor que só o diabo.
Sentia-se
muito à vontade ao receber os dois, Paulo
Mocofaia, fotógrafo, e Jaciara.
Mocofaia
era motorista no meu tempo de Estadão.
Depois,
excelente com a câmera na mão.
A seu Biliu, pouco se lhe dava fosse de
chão batido sua casa.
Dava
dignidade a ela.
Asseadíssima,
limpíssima.
Um
palácio.
Jaciara
ouvindo, feliz com o guardião da história dos festejos de São Pedro.
Jornalista
sabe do deslumbramento de se ver frente a frente com um bom contador de
histórias.
Você
viaja, segue com ele estrada afora.
Jaciara
sentiu o calor das fogueiras nos quintais, os fogos, os balões subindo,
crianças correndo na noite escura.
O
contador revelando o mundo do passado pra ela, deslumbrada.
Quanta
alegria ao descobrir em seu Biliu um criador de caprinos, justo ela crescida no
leite de cabra.
-
Peraí, volto já! - disse Biliu.
Trouxe
um caneco de alumínio transbordante de leite, fresquinho, fresquinho, tirado
naquela horinha.
Jaciara
reluta.
Pensa
nas lições da escola, nada de intimidades entre fonte e repórter.
Mas
pensa também na recusa, poderia ofendê-lo.
A
oferta tornou seu olhar ainda mais atento.
Olha
pra ele, um ancião passado dos 90 já a sofrer do Mal de Parkinson, mãos
tremendo levemente, um único dente na boca avariado pela cárie, e o mais grave:
o olhar vigilante dela percebe um fio de baba pendendo do lábio inferior dele.
Ah,
que terror.
Jaciara...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Luciana
Rodrigues, vai perder? (postei e saí correndo rs rs rs). Ah, essas #MemóriasJornalismoEmiliano...
Luciana Rodrigues: Kkkkk ouço essa
história desde pequeninha... Esse fiozinho de baba diliça 😜
Mônica Bichara: Kkkkkkkkk isso
vai render mais q as moças do 63
Emiliano José: Tenham calma...
A vida é complexa... É mais que novela...
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Emiliano
José
5 de
Outubro 2019
A teia de aranha
E o
seu Biliu estava ali à sua frente.
Mirrado,
mirradinho nos seus 90 e caquerada.
Jaciara
agora via um gigante.
Ameaçador.
Que
transmutação!
Do
velhinho tranquilo, do cândido contador de histórias, do cronista das noites de
São Pedro, para um ser monstruoso como aquele.
-
Beba, minha filha!
Segurava
o copo de alumínio transbordante de leite de cabra.
Olhava
pra ela com ternura, ela já com raiva e medo já não o via como antes.
-
Tirado agora agorinha.
- De
cabra de boa saúde!
Que
terror - a baba pendia do lábio inferior de seu Biliu.
Parecia
uma fina teia de aranha, resistente.
Ia
assim se alongando, alongando, descendo, e seu Biliu na inocência ou maldade
dos seus 90 e muitos anos insistindo:
-
Beba, minha filha! Vai se lembrar de seus tempos de criança.
E
Jaciara em transe, terra em transe no barraco de São João do Cabrito.
O
mundo havia parado.
Era
apenas um caneco de alumínio cheio de leite de cabra.
E a
baba, branquinha e fininha.
Teia
de aranha.
Não
tirava o olhar do caneco e da baba.
O
mundo era aquilo.
Só
aquilo.
O
olhar de terror cresce quando percebe um movimento e um barulhinho a ela de
parecença com um trovão:
Ploft!
Tudo
isso aconteceu em câmera lenta, como nos filmes de terror de sua adolescência.
É:
terror!
Seu
Biliu, impassível.
Insistia
na gentileza ou, não se descarte, na maldade:
-
Beba, minha filha. Você não sabe o quanto vai lhe fazer bem.
Acrescentou:
-
Pra mulher prenha é um santo remédio.
Grávida
de sete meses.
O
leite a baba o filho o porvir a cabeça em polvorosa turbilhão.
E
seu Biliu nada, parecia não ter qualquer noção da baba, do ploft, do leite de
cabra agora condimentado.
Claro,
caíra apenas uma pontinha da baba, não ia alterar o gosto do leite.
A
aranha continuava a tecer.
Mas,
diante do ploft, Jaciara sai do transe. Vira-se para Paulo Mocofaia, o
diligente fotógrafo, e fala baixinho:
- Eu
não vou beber esse leite com cuspe!
Diz
com raiva...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Graça Azevedo,
depois desta, acho que você vai pensar duas vezes antes de me deixar usar suas
taças...
Jaciara Santos: Elissandra
Deocleciano, conhecia essa história? Mas tem que pegar do começo...
Jaciara Santos: Ah, essas
memórias de Emiliano...
Regina Celia Souza: Jaciara Santos
Que ploft tenso. Se fosse hj vc diria que é intolerante a lactose kkkkk
Jaciara Santos: Regina Celia
Souza leu do início?...
Flavia Vasconcelos: Ecaaaaaaa!!!!
Jaciara Santos: Flavia
Vasconcelos aguarde o final...
Flavia Vasconcelos: Jaciara Santos
jesus...
Mônica Bichara: Tinha que ser
Mocofaia nessa pauta kkkkkkk Pedir socorro a ele era o mesmo que dizer ATIRE
LOGO, mizera ....E nova teia se formando
Jaciara Santos: Mônica Bichara
conte a história da galeria 13. Essa e a da Cracolândia eu não lembro com
detalhes...
Emiliano José: É, Mônica, se
solte, esconde ouro não...
Mônica Bichara: Kkkkkkkkkk
Mocofaia tem história q não acaba mais. Eu e Jaci éramos as cúmplices
preferidas e Isabel Santos a vítima 01
Mônica Bichara: Na Cracolândia
foi a Galeria 13, q funcionava lá, na Rua da Independência, onde diziam as más
línguas que funcionavam TB alguns bregas. Saímos juntos pra cumprir pautas
minhas e de Jaci com Mocofaia. Uma delas com Deraldo, o artista dono da Galeria
13. Na porta com as duas, o safado aguardou umas senhoras se aproximarem e
tascou, tendo o cuidado de aumentar bem a voz pra ser ouvido: "Vocês têm
certeza que querem mesmo ir as duas de vez? Porque eu dou pra todas, mas depois
não reclamem". As criaturas devem ter sofrido torcicolo braba, pq a virada
de pescoço foi radical. Ordinário foi o mínimo q chamamos o kengo
Jaciara Santos: Lembrando
agora... Kkkkkkkkk haja história com esse Mocofaia!
Mônica Bichara: Um dia, na Chapada
do Rio Vermelho, ele viu uns meninos fumando, mandou parar o carro (que não
tinha logotipo do jornal) e chamou os garotos com voz de autoridade,
perguntando pq estavam fumando. Acho que os bichinhos estão correndo até hj
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6 de
outubro 2019
Vade retro,
Satanás!
Talvez
não tenha sido uma boa escolha falar com Mocofaia.
Não
foi bem uma escolha.
Era
o único a quem dizer alguma coisa.
Era
o parceiro ao lado.
O
mundo continuava o mesmo pra Jaciara.
Aquele
caneco de alumínio transbordante de leite.
Já
depois do ploft.
Seu Biliu insistindo tome
minha filha faz bem pra mulher prenha tá fresquinho tirado na hora ela toda
constrangida.
Disse
entredentes não vou tomar esse leite com cuspe.
Mocofaia
deu um sorrisinho cheio de maldade.
O
parceiro errado.
E
tinha outro?
Nas
muitas jornadas, já havia aprontado poucas e boas com as meninas.
Divertia-se
maltratando-as, querendo brincar.
Às
vezes, era divertido.
Outras,
nem tanto.
Mônica Bichara guarda episódios.
Foram
ela e Jaciara um dia cumprir pauta na Independência, rua bem próxima ao
"Jornal da Bahia" havia muito tempo povoada de craqueiros não por
acaso denominada Cracolândia putas caminhando pra lá e pra cá atrás de escassos
clientes.
Iam
fazer matéria na Galeria 13, de Deraldo, artista.
Quase
à porta da galeria, as duas são surpreendidas por Mocofaia, que havia esperado
a aproximação de duas respeitáveis senhoras:
-
Vocês têm certeza de que querem mesmo ir as duas de vez? Eu dou conta das duas
e vou de com força. Mas, depois não venham reclamar. Não quero chororô.
As
duas mulheres voltam-se olhos esbugalhados vêem o garanhão as duas meninas tão
novinhas e já na vida coitadinhas apertam o passo horrorizadas benzendo-se
tentando afastar o demônio já estimulando-as a pensar a cena dos três na cama
que coisa gostosa não vade retro Satanás Deus me livre guarde afasta-se Belzebu
salve rainha mãe de misericórdia vida e doçura esperança nossa salve creio em
Deus pai todo poderoso pai nosso que estais no céu..
E
Mocofaia ria, parecia ouvir as prédicas, as duas novinhas putas.
Putas
da vida, se me faço entender, que palavra é bicho amardilhento.
Ele
ria também diante da ira das novinhas.
E
mais mais do constrangimento das senhoras de bem.
Era,
sempre foi, moleque travesso.
Por
isso, logo que cochichou, Jaciara pensou no erro.
Erro,
nada.
Falta
de alternativa.
Procura
de colo.
Errado
fosse.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Bem isso... E a
gente não tomava vergonha. Adorávamos sair com aquele safado. É tanta
história...
Matheus Morais: Muito boa!
Hahahahaha. Sensacional. Dinha tem que escrever logo suas memórias
Mônica Bichara: Sobrou pra mim
kkkkkkkkk Mocofaia sozinho dava um livro. Todo ano ele inventa uma história
mais cabeluda com Jaciara Santos e a fila de filhos e netos, munidos de bóia de
pneu de trator, tentando entra no clube do Sesc no dia do comerciário. Claro
que a farofa não podia faltar
Jaciara Santos: com um bando de
meninos catarrentos e esfomeados...
Mônica Bichara: Jaciara Santos
essa parte não podia faltar
Isabel Santos: Concordo,
Mônica. Um livro só para os causos de Mocofaia. Sorriso na certa.
Mônica Bichara: E Isabel Santos,
se dependesse do meliante, tinha uma creche, vivia em estado permanente de
prenhez. Toda vez q alguém pergunta por ela, até hj, a resposta é a mesma:
"Não soube não? Tá prenha"
Isabel Santos: kkkkkkkkkkkkkk
Filhos e mais filhos. Continuo 'povoando' o mundo kkkkkkk Mocofaia é uma
figura.
Jose Jesus Barreto: Mocofaia, amigo
querido, é arreliento e perturbado, filho de Exu, o dono das encruzilhadas. Se
é que já não virou crente rsrsr
Isabel Santos: kkkkkkkkkk
ninguém sabe ao certo, Barretinho.
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Emiliano
José
7 de
outubro 2019
Beba, minha
filha...
Colo
com Mocofaia, Jaciara não ia encontrar.
Sempre
foi da pá virada.
De
vez em quando gostava de assustar maconheiros, pobrezinhos.
Mônica
Bichara, boa cronista, resgatou uma dessas.
A
equipe de reportagem passava pela Chapada do Rio Vermelho.
De
repente, o grito:
-
Para, para!
Ninguém
entende.
Mocofaia,
com seu olhar de lince, viu um punhado de meninos fumando tranquilamente a
maconhazinha tranquilizante.
Desceu
do carro.
Os
meninos, ressabiados.
Pensaram:
lá vem bronca.
Esperam
com um medo da zorra.
Chegou
cheio de pose, voz de autoridade, faltava a carteira de poliça, mas quem vai
perguntar por isso?, gritando:
-
Como é que é isso? Fumando assim à luz do dia?
Os
meninos saíram picado, devem estar correndo até hoje.
Era
a esse parceiro sempre pronto a qualquer tipo de molequeira o único a quem
protestar
Mais
de uma vez, baixinho de modo a não permitir a seu Biliu ouvir, Jaciara bateu
pé: 'não vou beber esse leite com cuspe".
Podia
dizer catarro, a porra fosse.
E
minha filha?
Sete
meses de prenha.
E
ela mal ouvia seu Biliu falando tirado da hora faz bem pra mulher prenha desde
menino sei disso minha mãe me dizia isso há mais de século.
Mal
ouvia porque concentrada na baba de seu Biliu resistente como teia de aranha e
no copo de leite temperado com uma gota daquela terrível baba.
-
Poxa, seu Biliu, o senhor não sabe quanto lhe agradeço, mas o leite vai ficar
para outra oportunidade, viu?
Seu
Biliu não recuava tome minha filha já lhe disse que faz bem pra mulher prenha.
E
repetia as sábias palavras da santa mãe que Deus a tenha.
-
Está bem, seu Biliu, compreendo, pode ser que tenha razão, mas me deu um enjôo
danado agora, e o leite vai ficar para outra oportunidade.
Vê a
cara de decepção, quase de sofrimento de seu Biliu.
Mas,
não podia ceder.
Por
que Luciana, com sete meses, tinha de tomar aquela porra?
Permanecia
irredutível.
Não
tinha vocação para Sócrates jura ter lembrado das lições de história o filósofo
tomando cicuta ficou para a posteridade a posteridade que se foda bebo não
agora quero saber é de meu filho...
Ela
mal ouvia, mas ao longe, quase imperceptível, a vozinha trôpega e insistente:
-
Beba, minha filha...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Era Luciana, né
Jaciara Santos? As tiradas de Mocofaia eram as melhores, a gente se divertia
Jaciara Santos: sim sim... e ela
(Luciana Rodrigues) não consegue esquecer essa história. De vez em quando,
passa na minha cara. Sem "spoiler", viu Lu?
Jaciara Santos: Emiliano, tô
quase chamando isso de tortura... Tá parecendo o "Quem matou Odete
Roitman?", (Vale Tudo - 1988), de Gilberto Braga rs rs rs
Emiliano José: Que posso fazer?
Roteirista e protagonista é você...Amanhã, se me der chance, você se livra do
leite temperado...
Mônica Bichara: Nunca deixamos ela
(Luciana) esquecer, deve ter aversão a leite
Adolpho Henrique: Almeida Loyola
Joana Vitória
Joana Vitória: Tiago Rocha
mostra a seu pai
Isabel Santos: Que será que vem
por aí? Coisas do espirituoso Mocofaia. Jaci, nessa época, já estava assinando
a sina dela com ele, que não cansa de nos fazer rir, até hoje, com seus causos.
Eu e Mônica também somos suas 'vítimas', mas em menor grau kkkkkkkkkk Não tem
como não abrir um sorriso ao ver Mocofaia, gente fina.
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Emiliano
José
8 de
outubro 2019
Jaciara toma o
leite
Não
aquele leite não seu Biliu me desculpasse mas não ia beber.
Inda
mais com Luciana na barriga.
Porra
nenhuma.
Tinha
amor à vida.
E à
filha por vir.
Desconfiava,
mas não imaginou pudesse Mocofaia deixar de protegê-la.
Dessa
vez, ela prenha, estaria ao seu lado.
Era
um quadro de horror.
Se
ela relutara em tomar o leite desde o primeiro momento quando vindo do quintal
em passos trôpegos seu Biliu atravessou o umbral da porta com aquele caneco de
alumínio na mão, imagine depois do ploft!
quando caiu um tantinho da baba dele no leite.
Pela
cabeça lhe passava de um tudo.
Quem
disse não ter seu Biliu uma tuberculose uma pneumonia uma doença catarrenta qualquer..
Só
de pensar lhe vinham ânsias de vômito não não ia beber aquele leite nem que a
vaca tussa.
Claro,
diante disso tudo, teria o apoio de Mocofaia.
A
vero, Jaciara não o conhecia.
O
instinto sádico dele, brincalhão se quiserem, não resistiria.
Como
perder uma oportunidade daquela?
Perco
a amiga, mas não perco a piada - sempre foi a filosofia dele.
Era
história pra não sair das rodas de conversa
dos
jornalistas baianos por décadas.
Ao
ouvir o murmúrio dela, recusa em beber o leite da cabra sadia tirado na hora
pelo pobre velhinho tão acolhedor, ele disse bem alto:
- De
jeito nenhum!
-
Como? - reagiu Jaciara, baixinho, intimidada.
-
Você não vai fazer uma desfeita dessa com seu Biliu, né?
Faltou
morrer.
Que
filho de uma puta! - pensou.
Como
faz isso comigo?
Foi
educada para não fazer desfeita.
Respeitar
aos mais velhos.
Empurrada
sem dó nem piedade para o cadafalso.
Olhou
pra seu Biliu, caneco cheio, mãos tremendo, olhando pra ela cheio de alegria e
esperança depois das palavras de Mocofaia, a moça agora não havia de recusar,
de fazer desfeita, parecia ler o pensamento dele.
Jaciara,
à beira do precipício, estende as duas mãos, pega o caneco, ainda olha pra
resistente baba a pender do lábio inferior de seu Biliu, para o copo cheio, o
líquido branquinho branquinho, pensa Deus me proteja e à minha filha nos livre
do mal amém e bebe tudo de uma só vez, tivesse de ser, fosse.
Passou
o dia vomitando.
Sobreviveu
para contar a história.
A
filha nasceu sadia.
Firme
e forte.
Afinal,
um copo de leite não faz mal a ninguém.
E
cuspe às vezes ajuda em algumas situações.
#MemóriasJornalismoEmiliano
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: não sei como a
amizade com o fdp do Paulo sobreviveu a esse teste, mas somos amigos até hoje.
E, por onde ele passa, faz questão de contar essa sacanagem que fez comigo.
Quando lembro, dá vontade de vomitar de novo...
David Go Leal: Risos. Bam
parece as visitas a comunidades no sertão: 3 anos sem chover regularmente. De
água, somente a captada pelo telhado empoeirado. A varanda apinhada de gente,
vizinhos, comunidade. A presença do Gestor de Projetos da Petrobras, tratado como
autoridade e carinho. Local ermo. Sede. Uma moringa e um caneco de alumínio
aparecem para matar a sete. O caneco é o mesmo. A alça orienta o local certo de
sorver o líquido. Recebi o copo pela metade. A ninguém foi dado cheio. Tomei de
um gole e percorrendo os olhos pelos lábios que indiretamente beijei.
Jaciara Santos: Luciana
Rodrigues, não tem jeito. Saga é saga...
Mônica Bichara: kkkkkkkkk Jaci
chegou na redação botando os bofes pra fora e xingando o meliante de tudo
quanto era nome. Ele só fazia rir, chega engasgava de tanto rir e contar que a
desalmada da prenha queria fazer desfeita a seu Biliu. Sujeito ordinário, logo
com minha dinda Luciana Rodrigues... E o pior que Jaciara Santos grávida a
gente encontrava em qualquer lugar, era só seguir as pegadas, digo as cuspidas
pela cidade. Imaginem depois do leite babado. Vc se livrou dessa, Leonardo
Aguiar
Jaciara Santos: tem coisas que
só acontecem comigo... Eu mereço!
Emiliano José: Jaciara Santos
eita mundo marvado...
Mônica Bichara: Merece, não
posso negar
Emiliano José: Mônica Bichara
merece, não, gente ruim a persegue
Isabel Santos: kkkkk E Lu taí,
uma moça muita da arretada. Leite de cabra é leite de cabra, tomado de qualquer
jeito, mesmo com a mãe colocando os bofes pra fora. Esse Mocofoia, hein,
'comades'. Êtcha tempos bons, contados com tanta graça e leveza por você,
querido escritor Emiliano José.
Leonardo Aguiar: ahahahaha Tô me
acabando de rir! ahahaha
Mônica Bichara: Leonardo Aguiar
vc escapou de boa, Lu pegou a fase mais inspirada do meliante
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Emiliano
José
9 de
outubro 2019
Sangue no asfalto
Sábado,
14.
Mormaço
da tarde.
Calor,
suor e cerveja.
Março
de 1981.
Bar
do careca.
Matérias
entregues.
Jaciara,
o chefe de reportagem Chico Vasconcelos,
Mônica Bichara, Isabel Santos tentavam amenizar o calor.
Cerveja
ajuda.
E
baiano gosta um tiquinho.
Bar
do Careca era coisa de cinema, comum e singular.
Pertinho
pertinho do "Jornal da Bahia".
Bar,
modo de dizer.
Bar
é coisa chique.
Boteco.
Xexelento.
A
ele você chegava percorrendo um beco estreitíssimo de mão única.
Ralando
as paredes.
Barroquinha.
Tarde
agradável.
Embalada
pelo álcool, melhor ainda.
Num
boteco daquele, então, paraíso.
Chega
o office-boy esbaforido.
O
redator-chefe quer todos na redação.
Imediatamente.
Lá,
tomam conhecimento:
correu
sangue na Calçada.
Jaciara
até pensou em manchete.
Um
oficial da PM foi morto, outro gravemente ferido terminou paraplégico.
Bem,
nem se sabe como jornalistas estavam tão à vontade numa tarde de sábado.
A
cidade desde sexta, 13, estava em polvorosa.
Havia
estourado uma greve.
Da
PM.
E
greve de gente armada nunca dá coisa boa.
Menos
ainda se o governante tiver espírito visceralmente autoritário.
Era
o caso.
ACM
era o governador.
Seu
segundo mandato biônico.
Não
contou conversa.
Nada
de diálogo.
Pediu
ajuda das Forças Armadas.
Com
elas, tinha prestígio.
E
não era de hoje.
Tinha
conversa, não.
Qualquer
coisa, meter bala.
Fuzileiros
Navais entraram em campo com todo seu espírito bélico.
Uma
guerrinha de vez em quando faz bem pra tropa.
A
ninguém é dado esquecer: o País ainda vivia sob uma ditadura, cujo fim só
ocorrerá em 1985.
Naquele
sábado, fuzileiros navais e oficiais da PM se estranharam pra valer no bairro
da Calçada.
Tiroteio.
Dois
corpos estendidos no chão.
Sangue
no asfalto.
Requeria
tropa na rua.
De
jornalistas.
Para
isso, o redator-chefe os chamara.
Deu
as primeiras orientações, distribuiu responsabilidades, e disse rua urgente que
atrás vem gente...
Jaciara
saiu cheia de adrenalina.
Não
era uma pauta qualquer.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: eu, Bel (Isabel
Santos) e Chico Vasconcellos fomos para o front... Nem deu pra pensar direito.
Jaciara Santos: A matéria que
fizemos a não sei quantas mãos rs rs
Mônica Bichara: Que relíquias,
Jaci. Pena q jogaram fora todo o meu arquivo de matérias. Foram dias tensos.
Tenho fotos do bar de careca, um fundo de buteco todo grafitado com nossos
nomes (vou postar mais tarde)
Emiliano José: Mônica Bichara
Como é que alguém joga fora todo o seu arquivo? Vândalos invadiram sua casa?
Loucura...
Mônica Bichara: Uma das fotos
que falei, no bar de Careca, em frente ao Jornal da Bahia, na Barroquinha.
Tasso Paes Franco, Marcelo Simoes, Pedro Augusto (olha Socorro Araújo) quase
não aparece...
Mônica Bichara: Na parede
"Jaciara vem aí?", "Bogê: Boca do inferno" kkkkk. Lembro
que tinha "Silvete Marciana", era Silvia Maria Nascimento
Emiliano José: que maravilha,
Mônica. Vamos precisar disso à frente, se fizermos o livro. Especial. Coisa de
cinema...
Mônica Bichara: Rafael Pastore,
o editor chefe, e o chefe de reportagem Tasso Paes Franco, na farra com a
gente. Tempos do jornalismo boêmio
Emiliano José: Mônica Bichara
Não parece Rafael. Mais pra Marcelo Simões. Tasso, óbvio. Cheque.
Mônica Bichara: Pastore sim,
Marcelo está na outra foto
Emiliano José: Mônica Bichara
Olhei melhor. Tem razão.
Silvia Maria Nascimento: Quem pôs este
apelido em mim foi Marcelo Dantas.
Ele disse que passou por mim e eu estava aérea e não falei com ele. Na verdade,
a vida toda e ainda tenho este tipo de distração. Na época eu era muito míope e
andava sem os óculos. Nem imagino porquê este apelido foi parar neste bar. Só
fui ali uma única vez e nem gostei do lugar, achei apertado, barulhento. Quando
saía do estágio no jornal, queria mais era correr para o terminal para não perder
o ônibus. Também, eu não bebia. Sempre fui uma jornalista atípica: não bebia,
não fumava nem era de esquerda. Rsrsrs
Mônica Bichara: Silvia Maria
Nascimento kkkkkkk TB não sei como o apelido foi parar ali, acho q pintaram com
todos da redação. Tinha o meu TB, mas não aparece em nenhuma foto
Isabel Santos: Momento muito
forte, de muita emoção, sim, Adrenalina pura. Lembro direitinho...
Mônica Bichara: Olha Chico
Vasconcellos, o texto e as fotos
Delegado Valdir Barbosa: Bela viagem no
tempo amiga. Bem lembrada e bem dita. Afinal, sua pena é bendita.
Ana Virgínia Vilalva: Emiliano, esse
livro sai quando?? Quero ler tudo de vez!! Ansiosa pelos Contos de Jaci nas
Ruas de Salvador
Emiliano José: A ver. Ainda tem
muita estrada. Beijo
Ana Virgínia Vilalva: Estou adorando
acompanhar por aqui seus textos.
Mônica Bichara: Ana Virgínia
Vilalva seus pais TB são boas lembranças dessa fase. Lembro bem de vc vestida
de bailarina na redação. Bj
Ana Virgínia Vilalva: Mônica 🥰🥰🥰
ohhh meu playground favorito
Jaciara Santos: Mônica Bichara
eu sempre digo pra ela: você é a minha garotinha, minha delicinha. Nem adianta
vir posar de mulher casada e tals...
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Emiliano
José
10
de outubro 2019
Campo de guerra
ACM
apelou às Forças Armadas.
Salvador,
tensa.
Desde
cedo e desde o dia anterior, 13, quando a greve da PM se iniciara, a redação do
"Jornal da Bahia e de toda a imprensa respirava greve.
A
farra no boteco do Careca foi interrompida depois das 15 horas.
Interrupção
provocada pela morte do 1º tenente da PM, Walmir Alcântara dos Santos.
Com
ele, foi atingido o 2º tenente João Mário de Almeida
Uma
bala na coluna o deixou paraplégico.
Às
15hs, quando já havia sinais de recuo dos grevistas e já se articulava o
restabelecimento do policiamento da capital, um grupo fardado de cinco tenentes
da PM, numa atitude isolada, espontaneamente, decidiu tomar uma viatura dos
Fuzileiros Navais na mão grande.
A
viatura, um Volks, estava aos cuidados de um sargento e soldados.
Fuzileiros.
Tudo
acontecendo no Largo da Calçada, Cidade Baixa, Salvador.
Na
tentativa, quando parecia tudo dominado, os cinco tenentes são surpreendidos
pela retaguarda: de uma Kombi, salta um magote de fuzileiros já metendo bala,
sem contar conversa.
São
secundados por outros fuzileiros, localizados em pontos estratégicos, também
cuspindo fogo.
Os
tenentes da PM de armas nas mãos tentam reagir.
Sem
chance.
O
oficial da Marinha, comandante do policiamento ostensivo do Largo da Calçada,
ordenava aos gritos o deslocamento dos fuzileiros para posições de defesa.
E
solicitava reforço imediato da Marinha e do Exército.
Era
guerra.
Não
demorou e viaturas com sirenes ligadas caminhões camionetas da Marinha carros
da Polícia Civil Polícia Federal Polícia Rodoviária Federal vindos de tudo
quanto é canto chegavam para tomar conta da situação.
O
Largo da Calçada virou praça de guerra.
Edifícios
foram tomados manu militari.
Casas
comerciais, fechadas.
Apocalipse
now.
Esperava-se
um revide dos grevistas, vingança.
Não
ocorreu logo.
Chega
uma veraneio com vários oficiais do Exército.
Informam
estar a caminho uma frota de caminhões lotados por soldados da Força Militar
Terrestre.
O
Exército assume a direção.
Pronto
para o que desse e viesse.
Pronto
para o confronto.
Acabou
não ocorrendo.
Foi
nesse clima tenso, nervoso, oficial morto, outro baleado, Largo da Calçada
transformado em praça de guerra, o desembarque de Jaciara para a cobertura.
Quando
deu por si, estava a caminho da Calçada
Ela,
Chico Vasconcelos, Isabel Santos.
Nem
sabe como se chegou à definição dessa equipe.
O
coração, descompassado.
Parecia
saltar boca afora.
Nervos,
à flor da pele.
Jaciara,
contudo, tinha uma convicção: queria estar naquela cobertura.
Desse
no que desse.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Isabel Santos,
conta aqui o que lembra do episódio...
Isabel Santos: Sua memória do
passado é bem melhor que a minha. Sou chegada a aquela frase 'deu um
branco", sabe como é?rsss Mas foi um momento ímpar essa cobertura. Fomos
destemidas (o), chegando a enfrentar a arrogância de alguns militares, como
você lembra bem. Emiliano José me pede algum depoimento. Estou tentando aqui
lembrar. Jaci, estou achando interessante nessa sua trajetória, dois momentos
que esta semana estão atuais, e que também fazem parte do meu caminhar
profissional. A greve da PM e a história de Irmã Dulce, que tantas vezes
entrevistei. Lembro de uma vez que ela respondia às minhas perguntas enquanto
lavava literalmente o chão de uma enfermaria, com a voz bem baixinha, quase
inaudível. Afinal, como fazia questão de afirmar, seus pacientes eram muitíssimo
mais importantes do que ela parar seus afazeres, deixar de cuidar de seus
pobres... para atender repórteres. Inoportunas presenças em alguns momentos
rssssssss
Mônica Bichara: Tão
atual.....Essa equipe era fera, cada cobertura mais adrenalina que a outra
Emília Couto Della-Porther: interessante
lembrar daqueles dias....
Mera Carneiro: Eu me lembro
dessa história...
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Emiliano
José
11
de outubro 2019
Adrenalina em meio
à balbúrdia
Quando
Jaciara Santos, Chico Vasconcelos e Isabel Santos chegaram ao Largo da Calçada
viram-se em meio a um cenário parecido com uma praça de guerra.
Era
uma praça de guerra.
Jaciara
confessa: só vira aquilo nas telas de cinema.
Os
três esgueiravam-se procurando alguma proteção tentando chegar à estação
ferroviária.
A
cada passo, Jaciara nunca mais esqueceu, um soldado armado, e carrancudo.
E
tensos, todos eles.
Foi
apresentada às baionetas: nunca vira uma.
Viu-as
caladas entrando no corpo inimigo invadindo entranhas o sangue jorrando o ódio
e o medo nas faces os filmes invadindo sua alma.
Adrenalina
pura.
Isabel
dirá: misto de tensão, medo, terror.
E
prazer.
A
ideia de ser parte de um momento rico da história, trágico fosse.
Estar
no front, ao lado de dois companheiros de profissão, especialmente para ela
junto de Jaciara.
Era
uma sensação curiosa, a de Isabel:
-
Duas mulheres, duas jovens profissionais mostrando a sua força, nada de
indefesas, não temíamos enfrentar as adversidades para cumprir a missão de bem
informar.
É
verdade, ela confessa, o coração batia forte.
Havia
algum receio, algo podia lhes acontecer em meio a uma situação de guerra.
Tanta
gente com tanta arma é risco de bom tamanho.
Ninguém
garante nada.
Mas,
o sentido de missão falava mais alto.
Enquanto
se esgueirava pela praça pensava: vivo um momento de superação.
Sempre
temeu policiais.
Era
um deles se aproximar, e sentia uma insegurança imensa.
Medo
fora inoculado pela ditadura.
Ao
chegar à praça, tudo mudou.
A
ansiedade por fazer uma boa cobertura predominava, sufocava medos de qualquer
natureza.
Jaciara
não esconde: tremia.
Nem
por um segundo, não obstante, passou por sua cabeça recuar, voltar ao carro,
instalar-se em lugar seguro.
Meu
lugar é aqui, murmurou, enquanto metro a metro iam os três tentando chegar a
estação ferroviária presumivelmente o local mais seguro um caminhar em meio a
baionetas metralhadoras pistolas empunhadas por soldados cabos sargentos e
oficiais carrancudos e tensos dedos no gatilho.
Adrenalina
grau máximo era Jaciara.
Quem
sabe, os três.
Aos
mortais comuns, jornalistas inclusive, aparentava não haver comando nenhum.
Parecia
uma Babel - recordação de Jaciara.
Uma
gritaria da porra.
Todos
falavam.
Ninguém
se entendia.
Não
era pra menos: os três haviam chegado...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Foram dias de
tensão, agravados pelo fato de ainda estarmos na ditadura militar. Mas nossos
guerreiros jornalistas jamais abandonariam a trincheira. Recuar, nem pensar. E
brilharam na cobertura
Jaciara Santos: Ah... Emiliano,
só você pra me fazer reviver aqueles momentos...
Isabel Santos: E vai passando o
filme/terror na minha cabeça. Tudo aflorando. Jaci, a nossa história é muito
mais profunda, mais enraizada do que possa parecer. E, parabéns, pela
profissional que sempre foi e sempre será. Aplausos
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Emiliano
José
12
de outubro 2019
Um dia pra jamais
esquecer
Jaciara
andava em direção à estação ferroviária da Calçada olhando para os soldados tensos
e carrancudos.
Prontos
pra atirar.
Ela,
Chico Vasconcelos, Isabel Santos.
Metro
a metro.
Passo
a passo.
Medo
no ar.
E
determinação de cobrir bem a tragédia.
É,
já era tragédia.
Os
três chegaram depois do tiroteio.
Os
dois oficiais baleados já haviam sido levados para o Hospital Getúlio Vargas,
no bairro do Canela.
Um
morreu, outro restou paraplégico, já dissemos.
Jaciara
olhou pro relógio na torre da estação, nem gravou a hora.
Esse
olhar a levou de volta no tempo.
Na
caminhada até ali.
Pensou
na filha de poucos meses, nos obstáculos enfrentados e superados, no quanto
havia aprendido, no quanto era rica a vida de jornalista.
Louca
vida, a escolhida.
Pudesse
cantar, não era hora, cantaria: gracias a la vida que me ha dado tanto...
A
menina pobre negra periférica subindo temerosa as escadas do "Jornal da
Bahia" desconfiada de si arrodeada pelos preconceitos ficara para trás.
Era
outra.
Mulher
dona de si.
Aquela
vitória, até ali, fora fruto de sua obstinação, da confiança em si mesma,
necessárias para obter o acolhimento de seus companheiros, companheiras de
profissão.
Andava
imersa no passado e atenta ao entorno.
Um
olho no padre, outro na missa.
Chegam
a um ponto da estação e param.
Jaciara
percebe um movimento de Isabel.
Repórter
inquieta como deve ser toda boa jornalista, queria circular.
Soldados
barram a tentativa.
Ela
ainda insiste, sob os olhares atentos de Jaciara e Chico.
Foi
momento tenso.
Isabel
não pôde circular.
Era
praça de guerra.
Papel
e caneta à mão os três registraram tudo, e seguiram de volta à sede da
Barroquinha.
A
seis mãos, atesto possível, escreveram matéria de página inteira, manchete do
dia seguinte.
A
matéria interna levava título forte:
"Cuidado,
fuzileiros na praça".
Publicada
na Editoria de Polícia, reaberta às pressas.
A
manchete de primeira página não deixava por menos:
"Fuzileiros
matam oficial da PM".
Jaciara,
entre tantas lições, aprendeu o valor do trabalho em equipe.
A
excessiva valorização do trabalho individual dos jornalistas leva à
subestimação da possibilidade de elaboração comum.
Naquele
dia, viu o quanto isso era possível.
Um
dia para não esquecer.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Estou
emocionada. Nem sei o que comentar. Queria muito que Chico Vasconcellos visse
este post. Isabel Santos, dizer o que, amiga?
Isabel Santos: Estou
literalmente chorando amiga, muito emocionada. Benneh Amorin, que me convidou a
fazer hoje um rápido free para os 25 anos da Super Revista, está testemunhando
minhas lágrimas e ouvindo os meus relatos.
Isabel Santos: Gostaria também
que Chico Vasconcellos pudesse ler esse texto e acompanhar também a série MemóriasJornalismoEmiliano, onde ele
está sempre mencionado.
Matheus Morais: Eu digo sempre
que posso, nos lugares por onde ando, para pessoas queridas, para estagiários,
para colegas, minha carreira não aconteceria se Jaciara Santos não tivesse
cruzado meu caminho. Eu agradeço até hoje, no meu coração, a Flavia Vasconcelos
por me apresentar a ela. Dinha, além de ter história, continuo te achando a
melhor e maior de todas. Você é nossa Fernanda Montenegro do jornalismo. Te amo
e te admiro para sempre!
Jaciara Santos: Matheus Morais e
você, não importa o quanto cresça, quantos prêmios venha a conquistar (todos
merecidos!) vai ser sempre o meu garotinho. Te amo!
Matheus Morais: Jaciara Santos
Te amo demais, Dinha! Você é minha mãe querida! Quero mais histórias e
histórias maravilhosas. Estou amando demais descobrir que esses caminhos por
onde vocês andaram! ♥️
Mônica Bichara: Matheus Morais
tô achando q vc TB bebeu leite babado de seu Biliu e não sabe
Graça Azevedo: Muita coragem!
Se sou eu perderia a matéria!!
Jaciara Santos: Iracema Santos,
você que gosta de história, dá uma espiada nessa série #MemoriasJornalismoEmiliano. Vai curtir!
Mônica Bichara: Guenta
coração..... até eu arrepiei aqui, imagino vcs comadres..Realmente uma pena
Chico Vasconcellos não estar interagindo, acompanhando. Ele está bem? Alguém
pode dar uma ligadinha p ele
Chico Vasconcellos: Haja coração
Moniquinha! Ainda lembro da cara do boy da redação, Gilmar, se não estou
enganado, entrando pelo corredor estreito do boteco do Careca, gritando que os
fuzileiros estavam matando os PMs. (Era pra acreditar porque o governador
indicado era o avô do atual prefeito). O barzinho era nosso point das tardes de
sábados e noitinhas dos dias da semana, depois do fechamento do noticiário da
cidade. Esse sábado foi diferente: deixei o copo pela metade e, protegido pelas
comadres Jaci e Bebel, desembarquei no Largo da Calçada - o front montado pelos
fuzileiros armados até os dentes, esperando os PMs que vinham da Baixa do
Bonfim. Naquela época não havia celular, produtor e outros bichos de pena: o
repórter fazia tudo. Minhas comadres foram repórteres, cono Zé Hamilton foi
cobrindo a guerra do Vietnam . Voltamos para a redação com o troféu, com a
notícia redonda. Demos um banho na concorrência. Careca esperou a gente com
umas geladas, regadas com deliciosas moelas. O JBa da Barroquinha ficou na
história.
Jaciara Santos: Ooooi,
sumido!!!! Bons tempos, hein compadre? Confesse: deu uma saudade da zorra, né?
Isabel Santos: Que massa,
compadre, você ter aparecido. Que bom estar com a memória tão fresquinha. Minha
gratidão por ter nos deixado ir, por ter confiado, pelo aprendizado que passou
neste momento e em outros tantos. Só guardo coisas boas desse convívio profissional
e pessoal. Como a irmã Jaci, você é uma fera do Jornalismo. Realmente, o JBa da
Barroquinha ficou na história. É saudade pura.
Jaciara Santos: Emiliano joga
esse turbilhão de emoções na gente e some... Tá certo não!
Mônica Bichara: Poxa, fiz um
comentário enorme e agora q vi q não salvou. Q zorra, vou tentar recuperar
kkkkk
Jandyra Rocha: Jaciara Santos,
emocionante é pouco. Dá pra sentir o coração apertado, como os de vocês - e o
seu, sobretudo - deveriam estar naquela hora. É horrível e sempre será. Esta
história e o que ela traz de você, só me faz admirá-la mais. Por tudo e pelo
respeito que você tem a você mesma, à sua escolha, com tudo de bom e apesar do
terrível que veio junto. Linda história, de uma linda pessoa. De coração
apertado, vendo o rumo que as coisas estão tomando nessa nossa realidade de
hoje.
Jaciara Santos: Jandyra Rocha
obrigada, minha chefa.
Jandyra Rocha: Às vezes, as
palavras não tem a força que queremos que tenham. Mas a gente tenta.
Claudio Max: Jaciara Santos
valeu demais ter voltando no tempo! Vcs são feras!!!! Que tal, marcar os novos
FOCAS ?! KKK
Mônica Bichara: Chico
Vasconcellos verdade, era nosso point. Veja fotos do boteco em outro capítulo
de Jaciara. E acompanhe a série de Emiliano no face dele e no Pilha pura, já
postei a minha, de Isabel Santos e de Anízio Carvalho, todos com muitas fotos e
comentários. Uma viagem no tempo. E vc tem muito a acrescentar nessas memórias,
pq elas TB são suas. Tasso Paes Franco e Jose Jesus Barreto já estão por aqui,
faltava vc. O JBA tinha essa coisa massa de misturar repórteres de outras
editorias em coberturas, o q dava muito certo. Lembro que fui com Chico fazer
uma entrevista de duas páginas sobre esporte. Adorei. Vcs foram nossa
faculdade, na prática.
Jaciara Santos: Claudio Max que
nada... Essa galera sabe de tudo, já veio pronta.
Jose Jesus Barreto: Mônica Bichara
feliz de estar partilhando. Bjs
Jose Alcino Alcino: Testemunho
enquanto as personagens estão por aqui. Assim que é bom. Depois que partem,
vira epitáfio.
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Emiliano
José
13
de outubro 2019
Reconstrução da
UNE
Jaciara
foi além, aprendendo.
Viu
a UNE ser reconstruída em maio de 1979, inebriada com aquela festa de cores
vibração agitação Ruy César ser eleito.
Surpreendida,
como todo mundo, com o apoio de ACM ao encontro, embalado pelos movimentos de
distensão da ditadura, cujo fim ocorreria somente seis anos depois.
Foi
cobertura feita e escrita a muitas mãos. Isabel, Alba Regina, Carmela Talento,
Arnaldo Oliveira, Dailton Mascarenhas, Limiro Besnosik, Mércia Moura, Mônica
Bichara e Ronaldo Carlos são alguns alcançados pela memória.
Como
fotógrafos, Anízio Carvalho, Fred Passos, Jorge de Jesus e Sérgio Félix.
Ela
e Jorge de Jesus, ainda em 1979, foram a Gandu, sul da Bahia, para retratar o
ambiente na cidade, conflagrada por um escândalo de bom tamanho: o suposto
suicídio de Eliége Santana Barbosa, de 21 anos.
Não
pelo suicídio apenas, se suicídio fosse.
Mas
pelo fato de a jovem ser amante de Eliseu Leal, ex-deputado federal e prefeito
em segundo mandato, 42 anos de idade.
Encontrou
Gandu dividida: uma parte acatava a tese do suicídio, outra apostava em
assassinato.
E o
autor, neste caso, o prefeito.
"Pai
herói em Gandu é caso Eliége", título da reportagem de 12 de agosto.
"Pai
herói" do título era uma recorrência à novela homônima exibida pela Rede
Globo.
A
vida ultrapassa a arte: pouco mais de um ano depois, 1º de setembro de 1980,
Eliseu Leal foi passado na bala.
Emboscado
e morto no bairro de Ondina, em Salvador.
No
mesmo ano, ela e Anízio Carvalho registram um pacato cidadão recolhido à sua
residência, distante agora dos rebuliços do poder.
"No
silêncio de uma casa, o cidadão Roberto Santos", matéria do dia 16 de
março, registra a volta à rotina do ex-governador, sucedido pelo seu
arqui-inimigo ACM.
Cobriu
em fevereiro a grande enchente de Xique-Xique, a maior da história do
município. Sem quaisquer recursos tecnológicos, escreveu a reportagem à mão e
passou por telefone ao redator Adilson Borges. Ficou maravilhada pela
fidelidade ao texto quando viu a matéria.
Era
acompanhada pelo fotógrafo Fred Passos.
Para
economizar "caixinha", resolveram dividir um mesmo quarto de hotel.
Garante:
foi uma noite de irmãos.
Dormiram
o sono dos justos, dos sem-pecado.
Ela
assegura: Fred está aí e não me deixa mentir.
Lead
da matéria:
"O
fantasma que ameaçava a população de Xique-Xique - 600 km a noroeste de
Salvador - está se materializando: a chuva que vinha se armando ao longo dos
dias começou a cair ontem, por volta das 15h.".
#MemóriasJornalismoEmiliano
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Passando pela
cabeça como num filme
Jaciara Santos: Adilson Borges,
lembra que lhe ditei a matéria de Xique-Xique por telefone?
Adilson Borges: Rapaz, digo
moça, me lembro vivamente. Estou impressionado com minha memória, Jacilene!
Fred Passos: Ainda em
Xique-Xique, lembro da queda aconteceu comigo, quando subi no telhado da casa
pra ter um ângulo melhor da invasão do rio na cidade, o telhado veio abaixo,
uma queda assustadora, mas nada demais, além de um corte no pulso. Fomos ao
posto, uma costura foi necessária e voltamos com avião Hércules da força aérea.
Uma grande aventura.
Aproveito
para parabenizar Emiliano José por esta iniciativa, Jaciara Santos, Mônica
Bichara por esta iniciativa e pela lembrança do nome Fred Passos. Grande abraço
para todos vocês e envolvidos.
Emiliano José: Fred Passos
Fred, companheiro, gostaria muito de um copião seu , o repórter fotográfico e
suas peripécias. Faça. Me ajude. Sua convivência com os demais fotógrafos, como
aprendeu... Espero. Abração
Jaciara Santos: faz, sim, Fred
Passos. Temos muita história...
Mônica Bichara: A caixinha nos
salvava de muito aperto. Quando a pauta era perto, pegava buzu ou carona e
economizava. E as amizades eram tão sólidas que dormir no mesmo quarto era
tranquilo, o importante era economizar kkkkk grandes memórias
Fred Passos: Jaciara Santos
já não tenho a memória de antes Jace rsss, alguns momentos muito pontuais
apenas, como por exemplo, com Luiz Luzi do jornal A Tarde, 1976, quando tomamos
uma carreira dos seguranças do hotel Meridian, fazíamos uma matéria sobre
turismo e flagrei uma turista de topless na piscina, os seguranças nos viram e
vieram pra evitar o flagra, saímos correndo, Luzi grandão, usava um óculos
fundo de garrafa, com uma voz grave, gritava, bora, bora, cadê o carro? Foi
muito engraçado!
Só
tenho boas lembranças com todos os parceiros de pautas. Cobertura da UNE no
centro de convenções, viagens com Pedro e Levi cobrindo municípios, dormi
também com outras e outros colegas no mesmo quarto, inclusive o motorista no pacote.
Cobri grandes eventos, fomos uma grande equipe de repórteres e fotógrafos que
muito me orgulho de ter participado desse time. Outro momento de tensão foi
quando Ronaldo e eu fomos fazer uma matéria com um preso político no escritório
de uma grande advogada, Romilda Noblat. Foi tenso! E por aí vai Tenho a memória
comprometida, se puderem me ajudar, agradeço!!!
Jaciara Santos: Mônica Bichara
economizar caixinha era o que, às vezes, nos levava a sair na carona do canalha
(Paulo Mocofaia). O preço, às vezes, era muuuuuuuuuuito alto. Cada mico que a
gente pagava...
Mônica Bichara: Jaciara Santos
kkkkkk bote mico nisso
Aurelio Miguel: Posso contar como
aconteceu o " apoio " de ACM, ao congresso .
Emiliano José: Aguardando seu
copião, Aurélio. Inclua isso
Aurelio Miguel: Emiliano José,
prosa curta. Eu integrava uma comissão de apoio ao Congresso. Recebemos um
convite/intimação de ACM. Ele queria uma reunião conosco. Um carro oficial veio
nos buscar. Fomos. Lembro de Valdélio, grande figura, que era o candidato da
corrente Viração. Chegamos ao Desembanco onde o todo poderoso despachava. Na
chegada, aquele climão. Silêncio. Frente a frente o Dragão da Maldade e os
Santos Guerreiros. Silêncio absoluto. Então eu falei. As primeiras frases
provocaram estupor : quero agradecer . Olhares de letais de reprimendas .
Agradecer pelo fato de andar em um carro oficial e preto , não estando preso .
Gargalhadas . A prosa foi curta . ACM disse: " podem fazer o congresso ,
numa boa , no Centro de Convenções . Eu garanto. Caso vocês saiam para as ruas
terei que baixar o cacete". Eu, sem deixar a bola cair, retruquei : "
Zé Dirceu , há onze anos , acreditou nessa prosa e acabamos hóspede do Presídio
Tiradentes ". ACM se retou: " Tem uma diferença : Abreu Sodré é um
moleque. Eu sou um homem de palavra". Façam a porra do seu Congresso
" Fizemos. Não houve repressão. Aconteceu assim, Emiliano. Abreu Sodré era
o governador , sem votos , de São Paulo . O candidato era Valdélio . Sucede que
Rui se destacou tanto na presidência da mesa que se tornou o cara .
Emiliano José: Muito obrigado,
meu velho
Emiliano José: E que comissão
era essa? De personalidades? Com que participações?
Aurelio Miguel: Eram muitas
pessoas , de vários segmentos .
Jaciara Santos: e dessa, em
Cachoeira, Fred Passos, será que você lembra? A gente tava ficando
"craque" em cobertura de enchente rs rs rs
Fred Passos: Jaciara Santos
com certeza! Rssss
Não
lembrava mais, deve ter muita coisa que não lembro mais e fiquei feliz por
rever essa matéria. ♥️
Fred Passos: Jaciara Santos
que maravilha rever esse material!
Jaciara Santos: a de Eliseu &
Eliége, com Jorge de Jesus...
Fred Passos: grande
profissional!!!
Isabel Santos: A cobertura da
reconstrução da UNE eu guardo na memória como um grande e lindo momento da
minha trajetória de reportagem. Tenho praticamente todas a matérias guardadas
numa pasta velhinha. Foi com uma felicidade imensa que, por volta das 3 horas
da manhã. no Centro de Convenções, a voz de Ruy Cézar ecoou,vibrante,
informando que a UNE estava reconstruída. Foram tantas entrevistas. Querido
Ruy, que voltei a ter contato quando meu filho, Flávio Borges foi estudar na
sua escola, a Via Magia.
Emiliano José: Isabel Santos
Por que não escreveu? Solte, se solte...
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Emiliano
José
15
de outubro 2019
Caça às baleias
O
mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito...
Lindo,
belo.
Agora,
brinque com ele não.
Ou
sabe de suas manhas, manias, correntes, ou melhor ficar longe, deliciando-se
com sua beleza, leveza, até quem sabe metendo-se a poeta.
O
mar gosta de poetas, de amores e amantes.
Gosta
tanto a ponto de puxar alguns para o fundo, a viver ali para sempre, a dormir
com as sereias o sono dos justos.
Há
quem não entenda, e queira arriscar-se
Nem
pescadores cheios de experiência devem desafiá-los.
Os
mais ousados se arrependem.
Ou
não têm sequer a chance.
Jaciara
Santos, leitor sabe, era dada a aventuras.
Corria
a primavera.
De
1984.
Havia
boatos, rumores fortes indicando o aparecimento de baleias na Baía de Todos os
Santos.
Afirma-se:
a Bahia com suas águas mornas atrai algumas espécies de baleias durante sua
temporada reprodutiva.
Mamãe
baleia quer uma água quentinha pra parir.
Como
não?
Especialistas
contam: entre junho/julho e novembro/dezembro coisa de nove mil desses mamíferos
circulam pelo litoral brasileiro para acasalar e dar à luz.
Litoral-maternidade.
Em
setembro de 1984 falava-se com insistência sobre a presença delas na Baía de
Todos os Santos.
Os
rumores cresceram a partir do dia 11.
O
comandante do ferryboat Maria Bethania, Dilton Teixeira, jurava de pé junto, e
por todos os santos necessário fosse, ter visto uma delas, majestosa, a pouca
distância da embarcação.
Falava
até no tamanho da parideira: media de 15 a 20 metros.
Essa
aparição se deu quando ele fazia a travessia São Joaquim/Bom Despacho, de
Salvador para Itaparica.
Garantir,
quem?
Os
lobos do mar não costumam mentir.
Pero,
deixam a imaginação trabalhar.
Parecia
história de pescador, aquela.
Só
ele tivera a visão.
Um
privilegiado.
Homens
da Capitania dos Portos e da Superintendência de Desenvolvimento da Pesca
esquadrinharam a Baía de Todos os Santos, e nada.
A
ver navios.
Só.
Jaciara
estava grávida do segundo filho, Leonardo, e o chefe de reportagem do
"Jornal da Bahia", Porquinho, resolveu fosse ela a repórter a caçar a
baleia.
Cada
apelido, né?
Porquinho
era Roberto Messias.
Não
se apavorem: Paulo Roberto Tavares era conhecido como Paulo Bunda Podre, eu
nunca soube por quê.
Bem,
Jaciara, gosto danado por uma aventura, aceita a incumbência.
Sabia
nada do mar, mas...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Essa Jaciara
Santos só vivia prenha, era? Rapaz, toda pauta a criatura tava embuchada....
Depois num quer que Mocofaia fale
Jaciara Santos: feche sua cara,
viu?🤣🤣🤣🤣🤣🤣
Mônica Bichara: Jaciara Santos é
mentira? Vou grifar em todos os capítulos na edição do Pilha kkkkk 😜😜
Mônica Bichara: A vítima agora é
vc, Leonardo Aguiar. Se segure aí nesse balanço do mar
Isabel Santos: kkkkkkkk pois é.
A maternidade lhe inspirava mais ainda, e, na energia da Rainha do Mar estava
chegando o lindo netuzinho.
Leonardo Aguiar: Ahahahah... Me
divirto com esses textos!
Jaciara Santos: essa tem que ter
trilha sonora rs rs rs
Jaciara Santos: aí a capa da
edição do JBa. de 12/09/1984, quando surgem rumores sobre baleia que teria sido
avistada na BTS pelo comandante Dilton Teixeira.
Mônica Bichara: Jaciara Santos
esse mata a cobra e mostra o pau kkkkkk Acha alguma minha aí, comadre. Não
tenho nada guardado
Jaciara Santos: o problema é que
a assinatura em matérias não era comum, nessa fase do JBa. Então, se a gente
não lembra de ter feito, fica difícil identificar. Mas estou mandando uma no
seu zap que vai mexer com você. Não sei se é matéria sua, mas a personagem, com
certeza, é...
Jaciara Santos: Mônica Bichara
só um detalhe: essa aí é só um aperitivo...
Jaciara Santos: Iracema Santos,
essa história lhe interessa: era o SEU afilhado na minha barriga rs rs rs
Mônica Bichara: Jaciara Santos
amei, tia Zilda 😘😘
Jaciara Santos: Iracema Santos
tenha suas calmas... Acompanhe.
Isabel Santos: Você, Emiliano
José, cada vez mais poético👏👏
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Emiliano
José
16
de Outubro 2019
Jaciara, dona dos
mares
Grávida
de Leonardo, três meses de gestação, Jaciara Santos já se considerava pronta
para a caça às baleias.
Caça
modo de dizer.
Vê-las
de perto.
Uma,
fosse.
Trazê-la
para a primeira página.
Ela
e filhote, quem sabe.
Dia
11 de setembro de 1984 surgiram os primeiros rumores sobre presença de baleias
na Baía de Todos os Santos.
O
"Jornal da Bahia" se interessou pelo assunto e logo pensou em Jaciara
para a tarefa.
Falou
em aventura, com ela mesma.
Prenha
estivesse.
Mônica
Bichara fala no gosto de Jaciara por ficar prenha.
Ou
embuchada, como prefere Mônica.
Em
espanhol, embaraçada.
Garantir,
garanto não.
Coisa
de comadres.
Briga
de comadres, bom não se meter.
Sobra
pro intruso.
Queria
cair no mar, isso ela queria.
Parecia,
tal o assanhamento, uma veterana das águas.
Dia
18 surgiu novo rumor sobre aparição de outra baleia.
Dessa
vez, conversa de pescador.
A
vero.
Relatava
aparecimento da espécie no litoral norte.
Para
o jornalismo, no entanto, o assunto do dia era a chegada do navegador solitário
Amyr Klink.
Não
era uma chegada qualquer.
Saíra
da Namíbia, África, cem dias antes, no barco Paraty I. A. T.
Chegava
às 16,25hs daquele dia 18.
Jornalistas
do Brasil inteiro acorreram à Praia da Espera, em Itacimirim, distrito de
Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador.
Dia
seguinte, manchete do "Jornal da Bahia": "100 dias no mar -
Remador chega depois de atravessar o Atlântico".
Logo
abaixo, um box, lá vinha a conversa:
"Pescador
acredita que baleia está viva".
Conversa
de pescador é de se desconfiar.
Mas,
também, bom checar.
Juntando
as coisas, parecia certa a presença das baleias nas bandas do mar da Bahia.
Pra
aumentar a convicção, mesmo escasseassem provas, aparecia agora a palavra de um
mergulhador.
Um
mergulhador profissional.
Palavra
de responsa.
Quando
soube disso, Jaciara pensou: não perco essa matéria por nada deste mundo.
E
sabia que Porquinho, o chefe de reportagem, a queria nela.
Sentia-se
a dona dos mares.
O
mergulhador, Roberto Schneider, liga para o "Jornal da Bahia", e... #MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Joana D'arck: Essa comadre é
retada! Também já entrevistei um navegador solitário, mas foi Aleixo Belov para
a Tribuna da Bahia. Posso dizer que a entrevista foi "uma viagem ",
tantas as aventuras que ele contou na casa dele.
Emiliano José: Joana D'arck E
você contará isso no seu complemento, detalhadamente
Jaciara Santos: eu tô atrás é da
baleia, cumádi!
Jaciara Santos: você sabe mesmo
como fazer suspense, né, cumpádi?
Emiliano José: Jaciara Santos
Faça como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar...Inda
mais se houver baleias por perto...
Mônica
Bichara: Suspense....esse causo tá parecendo conversa de pescador. Por isso q
Léo Leonardo Aguiar deu tanto trabalho pra nascer, medo das aventuras em terra
firme. Cês pensam que é fácil ser filho dessa cumadi aí?
Emiliano José: Mônica Bichara
Cara deve pensar: líquido por líquido, fico aqui nesse mundo mesmo... Mãe
dessa, só quer aventura, aqui ao menos tô abrigado, protegidinho, fortaleza
líquida.
Mônica Bichara: Isso....Vai que
ela resolve revisitar seu Biliu
Leonardo Aguiar: Ahahahahahah...
Curioso com os desdobramentos dessa história! Rs
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Emiliano
José
17
de outubro 2019
Roberto Carlos e
as baleias
Sempre
quis saber o sentido da expressão "é com Roberto Carlos e as
baleias".
Ouvia
isso e não atinava.
Ainda
não atino.
Mas,
me veio à memória a canção dele, de Roberto, sobre as baleias.
A
modo dele e de Erasmo, um libelo contra a matança dos bichinhos.
Jaciara
me fez lembrar da música.
Ela
deve ter ouvido, assistido, sei lá.
Não
me disse nada a respeito.
"Seus
netos vão te perguntar em poucos anos pelas baleias que cruzavam
oceanos...".
Era
1981, Jaciara já na lide jornalística, quando a música explode.
"Não
é possível que você suporte a barra
De
olhar nos olhos de quem morre em suas mãos..."
Claro,
o movimento dela de Jaciara, seu desejo, era o da vida, ver quem sabe o
nascimento dos filhotinhos, mamãe ali do lado, vigilante.
Não
o da morte.
Mas,
é provável ter Roberto inoculado sentimentos de ternura e admiração pelas
baleias.
Ela
deve ter se lembrado de Roberto Carlos e as baleias.
Então,
voltando ao "Jornal da Bahia", o mergulhador profissional Roberto
Schneider liga para a redação.
Garante,
jura por Deus nosso Senhor: viu uma baleia.
Um
colosso de 20 metros de comprimento.
Azul.
Baleia
azul.
Da
cor do mar.
Enfatizava
sua visão vi com esses olhos que a terra há de comer.
Não
sou de mentir nem de aumentar.
Só
dou ciência do que meus olhos vêem.
O
mergulhador solitário era um felizardo.
Para
completar, um bebezinho de nove metros nadava placidamente ao lado de mamãe.
Azulzinho
azulzinho.
Uma
fofura.
Coisa
de cinema.
É
brincadeira?
Mamãe
e o filhote foram avistados entre os canais de Mar Grande, Madre de Deus e
Ponta de Nossa Senhora.
Tudo
Baía de Todos os Santos.
Bom,
pelo menos assim garantia o pescador.
Corrijo:
mergulhador.
Quando
soube do telefonema, Jaciara murmurou: essa baleia não me escapa.
Nem
ela nem a fofura do filhote.
Terminou
a matéria do dia e o chefe de reportagem, Porquinho, avisa:
"Amanhã...".
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Agora vai....
Jaciara Santos queria levar o filhotinho de presente p Leonardo Aguiar
Jaciara Santos: como vai, se o
autor mata o leitor de ansiedade. Se eu não conhecesse o fim da história,
estaria subindo pelas paredes...
Leonardo Aguiar: ahahahahaah...
Gente, que ansiedade pra saber o fim da história!
Jaciara Santos: aff... você mata
o leitor de curiosidade. Tô quase dando spoiler rs rs rs
Isabel Santos: Estou ansiosa
também Leo (Leonardo Aguiar), mas vamos aguardar mais esse suspense do querido
escritor rssss.
Lucia Correia Lima: Outra hora conto
mas foi o grande Neguinho do Samba quem inventou "ah isto é com você,
Roberto Carlos e as baleias"
Ele
queria dizer " me tire de problema"
Emiliano José: Lucia Correia
Lima Muito obrigado. Descobri.
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Emiliano
José
18
de outubro 2019
Lembrou-se: estava
grávida
Jaciara
Santos estava com três meses de gestação.
Leonardo
a caminho.
Sem
pressa.
Grávida.
Mônica
Bichara provoca: e quando ela não estava embuchada?
Bem,
gravidez à parte, estava doida doidinha pra cair no mar.
Atrás
da baleia e de seu filhote, aquela fofura.
A
fase do enjôo já havia passado.
Sentia-se
leve, forte.
Com
todo gás.
Chegou
cedinho à redação no dia marcado para a epopéia da caça às baleias.
Redação
já era na Djalma Dutra, dividindo prédio com a "Tribuna da Bahia".
Vestimenta
apropriada: um macaquinho curto, azul, de mescla.
Roupa
de gestante.
Como
convinha.
As
tratativas para a operação, já adiantadas.
Dailton
Mascarenhas, repórter de política, era morador do bairro da Ribeira.
Conhecia
um dono de embarcação.
Conversou
com o plataformista aposentado Argemiro Oliveira.
Topou
ceder Oliveira para a empreitada.
"Oliveira"
não era gente.
Tirado
do sobrenome para dar nome ao saveiro.
"Vocês
colocam o combustível".
Eram
9hs da manhã quando zarparam do cais da Ribeira.
Jaciara,
uma agonia só, era a aventura de sua vida.
Ao
seu lado, Milton Mendes Filho, grande fotógrafo, insisto: meu companheiro de
prisão, impetuoso, talentoso jogador de futebol.
Claro,
Argemiro, dono do saveiro e comandante da operação.
E o
mergulhador Bebeto - não abriu mão de ser chamado pelo apelido.
O
motor fazia um barulho ensurdecedor.
Jaciara
começava a sentir algum incômodo.
O
cheiro do óleo é nauseante.
Lembrou-se:
estava grávida.
E
grávida sente náuseas.
Mas,
vamo que vamo.
Tentam,
ela e Leonardo, acomodarem-se da maneira menos desconfortável possível.
Os
bancos são de madeira crua, sem qualquer acolchoamento.
Lembrou-se:
estava grávida.
Antes
de zarparem, conversaram com os pescadores Nosinho e Cosme.
Souberam
mais da baleia e do filhote.
Os
dois estavam com Schneider na antevéspera quando do aparecimento da mãe e do
filhote
Mais
duas testemunhas.
O
dia estava claro
Céu
azul.
Mar,
lindo.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: não acredito...
Vai continuar o suspense? Leonardo Aguiar, não me culpe (pelo menos, não pelo
suspense rs rs rs)
Emiliano
José: Jaciara Santos Não deu pra terminar. A protagonista não deixou. Amanhã,
sem falta.
Emiliano José: Jaciara Santos A
gente não controla o mar. Pode ser.... Alguma tempestade, sei lá . Mas, creio,
amanhã você encontra a baleia e seu filhote
Joaquim Lisboa Neto: Miltinho, o
fotógrafo do Lamarca..., tomamos muitas cachaças aqui e em Salvador. As sessões
eram não só etílicas senão que canábicas também.
Emiliano José: Joaquim Lisboa
Neto Fotógrafo do Lamarca, não. Ao menos que eu saiba, não. Quanto às cachaças,
nada a opor...
Joaquim Lisboa Neto: Se você que é
coautor do livro afirma, eu "desafirmo" retificando: um dos [nas
fotos de Deraldino e Santa Bárbara].fotógrafos; que Oldack Miranda, Rino
Marconi e Agliberto C. Lima me perdoem pelo vacilo.
Emiliano José: Joaquim Lisboa
Neto Veja, ter feito fotos de pessoas posteriores à morte dele, é uma coisa.
Entendi "fotógrafo do Lamarca". Ele, Miltinho, estava preso quando
Lamarca foi morto. Mas agora está entendido. Palavra é o diabo...
Joaquim Lisboa Neto: ...do Lamarca
livro, não do guerrilheiro...Não só viver é perigoso como escrever também...,
falo com um PhD de mão cheia.
Emiliano José: Nada. Esforçado,
só. Verdade.
Joaquim
Lisboa Neto: Aí não é autocrítica, é mentira! Aí não precisa fazer esforço, a pluma
desliza como o Corrente rumo ao Velho Frisco
Mônica Bichara: Tô mareada igual
a cumadi, só treitando o q ela e Léo passaram nessa viagem
Emiliano José: Mônica Bichara
Até agora, ela resiste. E pelo andar da carruagem, vai assim até o fim. Do
saveiro, quero dizer.
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Emiliano
José
19
de outubro 2019
Kirimurê
Dia
claro.
E o
mar, ao zarpar, parecia calmo.
Azul,
belo.
Jaciara,
não obstante o desconforto do saveiro, calma e feliz.
O
jornalismo lhe presenteava com aventuras inesquecíveis.
Precisavam
fazer uma varredura pela Baía de Todos os Santos.
Pensou
na grandeza do mar e daquela baía. Descoberta em 1501.
Os
portugueses, felizes por terem encontrado tal sítio, muito próprio para lá na
colina edificar uma fortaleza.
Assim,
surgiu Salvador.
Foi
pesquisar: mais de 1.200 quilômetros quadrados, do tamanho do município do Rio
de Janeiro.
Soube
até profundidade: na média, em torno de 1O metros.
Mas,
eita porra, chega até a 70 metros.
Foi
no passado, me dizia o grande Cid Teixeira, com seu vozeirão, o local do maior
porto exportador do Hemisfério Sul.
Os
Tupinambás chamavam-na Kirimurê - grande mar interior.
Os
portugueses chamaram-na Baía de Todos os Santos pelo fato de a terem encontrado
no 1º de novembro - dia de Todos os Santos.
Jaciara
gostou de saber do nome indígena: Kirimurê.
Soava
bem.
Com
todo respeito, bem mais sonoro, musical do que Baía de Todos os Santos.
Leonardo
já pesava um pouco e aquele banco de madeira era incômodo pra burro.
Que
fosse.
Importante
era o encontro com a baleia e seu filhote.
Argemiro,
velho lobo do mar, falava e falava, enquanto fazia a varredura.
Miltinho
também puxava conversa.
Bebeto
manifestava esperança: vamos encontrar a baleia.
Verdade,
verdade, era um alarme falso atrás do outro.
Via-se
baleia pra todo lado.
Bastava
avistar uma pequena embarcação ao longe, e lá estava o bicho.
Ou
alguma bóia.
Um
detrito flutuante.
Era
muita baleia.
E
nenhuma.
Jaciara
começava a se preocupar
Até
que..
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Valei-me,
Iemanjá! 😲
Emiliano
José: Iemanjá nunca lhe abandonou. E sempre a orientou: tenha calma.
Jaciara Santos: Emiliano José
quase parindo um boto aqui kkkkkkkkk
Graça Azevedo: Jaciara Santos
Sócia, já estou com o coração na boca!
Jaciara Santos: sócia, Emiliano
aprendeu técnicas de tortura, esqueceu?
Graça Azevedo: Mas, usar
conosco não pode!!
Emiliano José: Graça Azevedo É
que a história é muito rica...
Graça Azevedo:Vc é bom de suspense!
E a sócia Jaciara dá muito material.
Emiliano José: O suspense é por
conta dela. Não posso fazer nada...
Jaciara Santos: Leonardo Aguiar,
não é comigo, não. É com Emiliano, Roberto Carlos e as baleias...
Emiliano José: Jaciara Santos
De amanhã, a baleia não escapa...
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Emiliano
José
20
de outubro 2019
Em silêncio no
meio do mar
Miltinho,
nosso Milton Mendes Filho, extraordinário fotógrafo, olhava o mar, doido
doidinho para clicar a baleia e seu filhote.
Nem
se ligava para o desconforto do saveiro.
Além
de tudo, Miltinho cultivava um bom humor permanente.
Saí
com ele algumas vezes e nessas coberturas pude testemunhar esse bom humor e seu
compromisso com nosso povo.
Esse
olhar politizado nascera na luta política, no MR-8, na temporada passada na
"Penitenciária Lemos Brito".
Lembro-me
da cobertura da ocupação de "Nova Divinéia", na encosta do IAPI.
Andamos
por entre as estacas fincadas freneticamente vendo surgir os precários barracos
e me emocionei ali e depois quando deparei com as fotos de Miltinho - elas,
sobretudo, revelavam a miséria em seu estado bruto e a força de nossa gente pra
resistir, sobreviver.
As
fotos de Miltinho são um precioso acervo de nossa história.
Elas
revelam a Bahia, especialmente a vida do povo trabalhador.
Foi por
anos fotógrafo de sindicatos de trabalhadores.
Miltinho
olhava o mar.
Haviam
chegado à área onde a baleia e seu fofo filhote haviam aparecido, dois dias
antes.
De
repente, Miltinho propõe:
-
Vamos desligar o motor.
Ninguém
entendeu.
Explicou:
- Se
a baleia e seu filhote estiverem por aqui podem se assustar. Vamos dar um tempo
pra ver se elas aparecem.
Não
foi tanto tempo de motor em silêncio: escassos dez minutos.
E a
baleia e o fofo filhote não deram sinal.
Baixou
um clima de decepção.
Jaciara
estava fissurada por aquela pauta.
Caíra
no mar.
E
agora chegava a hora de voltar.
Já
haviam vasculhado a Baía de Todos os Santos por mais de duas horas.
Pra
quem está num saveiro, chegar a Salvador ainda levaria tempo.
Mas,
quem sabe, a baleia e seu fofo filhote pudessem ainda dar sinal de vida.
Jaciara...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Por onde anda
Miltinho, Emiliano José? Grande companheiro de pautas e de lutas.
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Emiliano
José
21
de outubro 2019
A beleza e a fúria
do mar
No
mar, tudo é longe.
Parecença
tudo é mar.
A
terra, então, longe só o diabo.
Jaciara
começou a pensar em lonjuras.
O
mar tem disso: faz pensar, imaginar.
Emociona
e amedronta.
Nem
sabe por quê, mas pensou na música de Caymmi.
O
mar.
Olhar
praquele infinito azul provocava o mergulho no Caymmi amante do mar.
Poesia
e dor.
O
poeta lembra: pescador quando sai nunca sabe se volta nem sabe se fica e como
saber se o mar num minuto pode estar calmo plácido e noutro furioso alevantando
ondas Deus duvida?
Jaciara
pensa com alguma tristeza, junto com Caymmi, sobre quanta gente perdeu seus
maridos seus filhos nas ondas do mar.
Essas
ondas, tão lindas olhadas de longe, tão perigosas vistas vividas de perto.
É,
maridos e filhos de pescadores, vão pro fundo pra nunca mais voltar.
Estremeceu
quando pensou nisso.
Pensou
no filho, tão pequenininho ali em sua barriga.
E
ela no meio do mar, tão cheio de surpresas.
O
pensamento acompanhava toda a beleza da história contada pelo poeta, a beleza e
a tragédia.
A
história de Pedro.
Vivia
da pesca.
Saía
no barco seis horas da tarde só vinha na hora do sol raiá.
Todos
gostavam de Pedro mas gostar gostar de doer mesmo era Rosinha de Chica a mais
bonitinha e a mais bem feitinha de todas as mocinhas lá do arraiá.
Jaciara
cantalorava baixinho, e alisava a barriga acarinhando e protegendo o filho.
Ninguém
lhe fará mal meu filho.
Duro
era cantar Pedro saiu no seu barco passou toda a noite não veio na hora do sol
raiá deram com o corpo de Pedro jogado na praia roído de peixe sem barco sem
nada num canto bem longe lá do arraiá.
Jaciara
não sabe a razão: começa a ficar com medo.
A
música toca sua alma.
Emociona
e amedronta.
Acaricia
acaricia a barriga estou aqui murmura pro filho nada vai acontecer.
E
continua a poesia-canção a Rosinha tão linda sem Pedro enlouqueceu vive na
beira da praia olhando pras ondas andando rondando dizendo baixinho morreu
morreu...
É,
Jaciara pensava, o mar quando quebra na praia é bonito...
Quando
quebra na praia.
Duro
é no longe, a terra distante, aquele infinito azul azul.
Ela
naquele saveiro.
Olhou
bem: um barquinho.
E de
repente...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: tocou no fundo
da alma...
Emiliano José: Jaciara Santos
Tentei raciocinar no seu lugar, ousadia de quem escreve, você conhece disso..
Mônica Bichara: E de
repente.....tchan-tchan-tchan-tchan....
Jaciara Santos: nada... o homi é
pirracento!
Mônica Bichara: Jaciara Santos
tá cheirando a conversa de pescador. Daqui a pouco ele vai dizer que vc pegou a
baleia na unha
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(Desalmada nada, sempre foi uma mãezona. Depois dos sustos que passou com Léo na barriga, nessa aventura que começa, deu tudo certo)
Emiliano
José
22
de Outubro 2019
Mãe desalmada
De
repente, Jaciara Santos teve medo.
O
mar era muito.
Era
bonito.
E
muito para suas forças.
A
beleza às vezes é perigosa.
É
preciso estar preparada para encará-la.
Medo,
teve muito medo.
Não
era ela.
Era
ela e Leonardo e as baleias.
Estava
ali no meio do mar.
E
lembrou: não sabia nadar.
Simples
assim: não sabia nadar.
E
ela ali: aquele mundão azul azul de água tão belo e tão perigoso quase uma
vertigem.
O
que deu em mim?
Que
loucura foi essa?
Como
chegar a esse grau de irresponsabilidade?
Não
por mim, mas por meu filho.
Não
cabia correr esse risco.
Por
Leonardo, não cabia.
Ave
Maria cheia de graça...
Começou
a rezar todas as rezas pai nosso que estais no céu santificado...
Apelou
aos orixás a Oxalá a Xangô...
Rezou
pra Mãe Menininha.
Apelou
a Mãe Stella.
Chamou
por Irmã Dulce.
Todos
os Santos.
Yemanjá.
Valei-me
Senhor do Bonfim.
Baleia,
pensou, nada mais de baleia.
Quero
saber mais dela não.
Nem
dela nem de filhote.
Saveiro
media seis metros e trinta centímetros de comprimento.
Mamãe
baleia, uns 20 metros.
O
filhote, uns nove metros.
Quero
voltar, hora de voltar.
Se
baleia e filhote aparecerem por aqui, esse barquinho vira e eu não sei nadar...
Onde
estava com a cabeça quando aceitei essa pauta?
Não,
não falava com Miltinho.
Não
dava palavra com seu Argemiro.
Não
conversava com Bebeto.
Era
um diálogo dela com ela mesma toda se tremendo por dentro um medo fazia tempo
desconhecido assombroso pavoroso e pensando em Leonardo tão pequenininho mãe
desalmada.
Voltar,
só pensava nisso...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: MARMININO... cê
inda estica essa prosa? Mônica Bichara e Leonardo Aguiar, já disse e repito: é
com Emiliano, Roberto Carlos e as baleias...
Emiliano José: Jaciara Santos
Estico não. Seu medo e suas rezas...
Emiliano José: Jaciara Santos E
agora é com você, Leonardo e as baleias...
Mônica Bichara: A virginiana
raiz morria de medo, mas não ia admitir nunca. Nunquinha, o nariz empinado de
mulher coragem não ia deixar. Mas por dentro.....Se o filhotinho aparece, nem
precisava da mãe p brincar de barquinho. Leonardo Aguiar, seu santo é forte
Jaciara Santos: vou mentir, não:
amarelei dicumforça...
Emiliano José: Jaciara Santos
inda bem, a moça não me deixa mentir...
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Emiliano
José
23
de Outubro 209
Alegria da pauta
furada
E
iniciou-se a viagem de volta.
Em
todos, a frustração.
Afinal,
tudo fora pensado para encontrar a baleia.
O
espetáculo de vê-la majestosa senhora das águas protegendo seu bebê.
Bebeto,
o mergulhador.
Milton
Mendes Filho, Miltinho.
Argemiro
Oliveira, comandante do navio.
Do
saveiro, melhor dito.
Em
Jaciara, a frustração era sufocada pelo medo.
Queria
mesmo era pisar em terra firme.
Que
loucura lhe deu na cabeça um filho de três meses na barriga se meter mar
adentro como fosse rainha do mar sem saber nadar nem um tiquinho assim nem
cachorrinho sabia tinha era medo muito medo de água quanto mais de mar
entusiasmo por uma reportagem mexe com a cabeça que diabo fui fazer e esse mar
tão longe Salvador tão longe Salve rainha mãe de misericórdia...
Se
pegava com Deus, orava, clamava aos orixás.
No
barco, ninguém dava uma palavra.
Cada
um mergulhado em si.
Jaciara
olhava praquele silêncio e começava a desconfiar não fosse a única com medo.
Homem
é bicho metido a besta faz-se de macho tenta esconder fraqueza coisa de mulher
e silencia melhor assim palavra é traiçoeira cada um refugiado no silêncio.
O
cais parecia nunca chegar.
Jaciara
tinha vontade de fazer alguma coisa para aumentar a velocidade do saveiro.
Tinha
jeito, não.
Melhor
orar, e ter paciência.
Muita
calma nessa hora.
Nada:
nem calma nem paciência fervia por dentro e o mar era grande aquele azul azul
infinito e o cais ai ai parecia nunca chegar como era longe longe...
Quando
o saveiro ancorou, quando pisaram em terra firme, foi uma explosão de alegria.
De
todos.
Jaciara
teve certeza: todos estavam com medo.
Teria
história pra contar.
Nada
de heroísmo.
Mas
história.
Comemorou-se
efusivamente uma pauta furada.
Pouco
se lhe dava fosse a anti-heroína.
Alisou
a barriga murmurou pra Leonardo falou de seu amor ele atento nos seus três
meses de existência entendendo pouco ainda das loucuras da mãe.
Jornalista
é gente cheia de esperteza.
Faz
o furo parecer o contrário.
Matéria
de 21 de setembro de 1984 estampava o título "Baleia vista de novo -
Pescadores chegaram perto dela que estava acompanhada do filhote", página
10, editoria Geral.
Sem
tê-la encontrado, recuperaram visão dos pescadores.
História
de pescador.
O
"Jornal da Bahia" completava 26 anos de existência.
Véspera
do aniversário de Jaciara.
Comemoraria
29 anos.
Em
terra firme.
O
mar, quando quebra na praia é bonito é bonito...
#MemóriasJornalismoEmiliano
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Hahaha medrosa,
se eu fosse a editora ia fazer voltar e só me aparecer com a pauta. Furar uma
pauta fácil dessa....onde já se viu?
Jaciara Santos:
ahahahahahahaha... feche sua cara! Foi osso. Nunca uma pauta furada me deu
tanta alegria. Aff...
Jaciara Santos: registro feito
por Miltinho (Milton Mendes Filho)
Jaciara Santos: ...e a matéria
publicada. O texto é meu, mas o título é com o editor, Roberto Carlos e as
baleias rs rs rs.
Mônica Bichara: E ainda virou
personagem, com direito a foto e tudo
Jaciara Santos: Mônica Bichara
#soudessas (mas chega de aventuras, né Leonardo Aguiar?)
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Emiliano
José
24
de outubro 2019
Papa nos Alagados
Jaciara
Santos sempre foi moça de fé.
Vocês
viram o quanto ela rezou naquela caça às baleias.
Parecença
com a Batalha de Itararé.
Rezou
tanto e a baleia sumiu.
Foi
forte a oração.
A
baleia e filhote devem ter se assustado com tanta reza pra tanto santo.
Melhor
nadar no fundo do mar tranquilo confortável deixa ela com seu filho novinho na
barriga.
Nada
de baleia.
Batalha
de Itararé.
Fé
era com ela.
E
distribuía sua fé com muitos santos ecumênica que só o diabo.
Desde
antes de Roberto Carlos e as baleias.
Luciana
estava às portas de nascer.
Quase
quase.
Faltava
um mês unzinho somente prela vir ao mundo.
E
Jaciara na lida.
Gravidez?
Mônica
Bichara garante: era viciada nisso.
Prenha?
Com
ela mesma.
Um
mês ainda pela frente pra Luciana nascer.
Tempo
que só o diabo.
Dava
para cobrir visita do Papa João Paulo II.
Vinha
a Salvador com pompa e circunstância.
Julho
de 1980.
No
programa oficial, a inauguração da Paróquia e Igreja de Nossa Senhora dos
Alagados, na Ilha de Santa Luzia, bairro do Uruguai, bolsão de miséria
encravado na Península de Itapagipe, Salvador
Com
aquele barrigão, oito meses, não foi jogada na cobertura factual, no meio da
multidão.
Ela
e Luciana são escaladas para uma pauta de apoio.
Olha
a mãe: não sossega quase parindo vai cobrir Papa depois pega Leonardo com três
meses e o leva pro mar pra caçar baleias ninguém merece e a filharada nem
reclamava quem sabe até gostasse travessura é com criança mesmo na barriga seja
pra que melhor?
A
pauta de apoio: registrar a expectativa dos moradores na noite anterior à
ilustre visita.
Tinha
de dar um jeito de pernoitar na casa de um morador próximo à igreja.
Repórter
passa por isso.
O
chefe entrega a pauta e você tem de se virar nos trinta.
Ainda
pensou: não é uma invasão, não é uma atitude agressiva, desrespeitosa?
Chegar
assim ninguém lhe conhece ô moça ô moço dá preu ficar aqui em sua casa sabe
como é que é Papa está chegando jornal me pediu...
Jaciara,
de fé mas também muito jeitosa, muito educada, tão civilizada a ponto de beber
o leite com a baba de seu Biliu, convenceu uma família a dormir na casa, bem
próxima à igreja...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Eu q num deixava
Jaciara Santos dormir na minha, vai q inventava de parir justo naquela
noite....pq criar problema era com ela mesmo. E minha dinda Luciana Rodrigues
nessa empreitada, tadinha
Emiliano José: Mônica Bichara
Quer dizer que é verdade? Sempre grávida?
Mônica Bichara: Emiliano José
sempre, era o estado natural dela. Taí Mocofaia que não me deixa mentir. Na
fase do Correio desandou a fazer neto e num parou mais
Jaciara Santos: Meu Deus! Vocês
não dormem, não?... Uma hora dessas e já essa resenha toda? Valei-me São João
Paulo II! Kkkkkkkkk
Emiliano José: Jaciara Santos
Dormir é para os fracos. E para grávidas. ..
Isabel Santos: kkkkkkkkkkkk O
Papa deve estar se remexendo lá nas itálias kkkkkkk, né, dona sempre
gravidíssima? Êtcha Emiliano José danado de criativo, sô.
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Emiliano
José
25
de outubro 2019
A dignidade dos
pobres
Jaciara
chegou à casa.
Fizera
um cerco cuidadoso.
Visitou
o bairro várias vezes.
Jornalismo
se alvoroça todo quando um Papa aparece.
Cumpriu
pauta uma atrás da outra na região.
Acompanhou
os três meses de construção da igreja de linhas modernas e arrojadas a ser
inaugurada por João Paulo II.
Numa
dessas idas, bate à porta de uma família.
Senhora
sabe o Papa está vindo aí não sei se posso mas gostaria de passar a noite em
sua casa jornal me pediu isso não sei se incomodo se incomodar esteja à vontade
pra me dizer será possível?
A
dona da casa nem pestanejou pobre é de acolher tem mais educação muito mais do
que rico ninguém se engane a senhora pode se achegar a casa é pequena o coração
é grande.
Comovente,
a acolhida.
Era
6 de julho de 1980, véspera da chegada do Papa.
Uma
casa de gente pobre pobre pobre de marré deci não tinha luz elétrica nem água
encanada paredes sem reboco chão de barro batido tudo limpinho limpinho.
Essa
miséria, Jaciara conhecia: mãe provedora, pai sumido no mundo, quatro filhos
amontoados no casebre.
Jaciara
chegou cedo no domingo, inauguração marcada para dia seguinte, 7, manhã de
segunda.
Um
forte esquema de segurança fechou tudo, deu tempo de ser acolhida pela mãe e
seus filhos, todos pequenos.
Jaciara
vestia uma calça verde de gestante, bata estilo indiano estampada em marrom e
verde, barato legal, espírito do tempo, sandálias baixas, convenientes para os
pés ligeiramente inchados, coisa de final de gravidez.
Dali,
da casinha humilde, acompanhou toda a movimentação do dia.
Um
movimento da porra.
Chegada
a noite, dormir não era fácil.
O
vai e vem de veículos oficiais envolvidos na montagem de todo o aparato, do
cenário pra receber o Papa.
A
comunidade se desdobrando na ornamentação das ruas por onde o Papa passaria.
Pra
completar o furdunço, o desassossego de um alto-falante instalado no final de
linha do bairro do Uruguai.
Um
desavisado locutor passa boa parte da noite repetindo frases a serem entoadas
pelos moradores em saudação ao Papa: "O Papa é nossa voz/ele é pobre como
nós", "O Papa em Alagados/bem-vindo e abençoado", e tantas e
tantas.
Meia-noite
e cinquenta, não bastasse tudo, um avião dá um voo rasante sobre a comunidade.
Não,
não era noite pra dormir.
Luciana,
às portas do novo mundo, devia se perguntar das razões de estar ali no meio de
tanta confusão.
Era
a mãe dela, alguém havia de dizer.
Mãe
de espírito aventureiro.
Espírito
de porco.
Quieta
na barriga, deu depois alguns pontapés, e dormiu.
A
mãe, não soube.
Chuva,
muita chuva, e Jaciara começou a se preocupar... #MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: É como se eu
revivesse aquelas emoções...
Graça Azevedo: Sócia, quanta
história eu quero saber de vc!
Jaciara Santos: Graça Azevedo
ahahaha... Sócia, você não sabe da missa a metade. O que eu e as cumádis
aprontamos nesta Bahia... Haja prosa, né Mônica Bichara e Isabel Santos? Mas
Emiliano faz tudo parecer ficção, com seu tino de escritor... Adoro!
Mônica Bichara: Jaciara Santos ô
se era...., Mas q o noveleiro Emiliano José sabe aumentar o suspense, isso ele
sabe
Graça Azevedo: Personagens e
escritor são dignos de realidade e ficção!
Lucia Correia Lima: Emocionantes
textos com foco em uma repórter que, como dizia Hamilton Almeida Filho "
tem compromisso com a notícia" . Por meio desta grande repórter Emiliano
sempre generoso pois tem alma nobre, mostra os verdadeiros caminhos e
sentimentos de um VERDADEIRO repórter.
Jaciara Santos: Lucia obrigada.
Verdade, Emiliano é um querido!
Lucia Correia Lima: Jaciara Santos
sim mas suas histórias lindas fortes, credibilizam nossa profissão e justificam
o apelido de Quarto Poder.
Mônica Bichara: E a aventura tá
só começando. Essa menina Luciana Rodrigues não tinha madrinha não? Pra
denunciar isso
Jaciara Santos: Mônica Bichara
oxe, se nem da baba de seu Biliu a tal madrinha livrou a menina...
Mônica Bichara: Jaciara Santos
tadinha, Lu já nasceu sobrevivente
Emiliano José: Mônica Bichara
Os filhos, não?
Luciana Rodrigues: boa pergunta...
Cadê você pra me salvar??
Mônica Bichara: Luciana
Rodrigues acho q estava tomada pela paixão também, vibrando com cada pauta q
nos desafiava. Tivemos grandes mestres pauteiros q faziam isso com a gente e
encorajavam. No dia da missa no CAB choveu, virou um lameiro, me atolei
toda...mas feliz da vida
Luciana Rodrigues: Lindeza ter a
vida tão bem vivida; precisa ser eternizada, compartilhada. Lindeza ser cria
dessas mulheres, profissionais do jornalismo que fizeram e fazem história.
Jaciara Santos, Mônica Bichara e Isabel Santos. Gratidão, Emiliano José! 🌻
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Emiliano
José
26
de outubro 2019
Sono, pra que te
quero?
Chovia
em Alagados.
Jaciara
começou a ficar com medo.
Olhou
pra casinha de reboco.
Resistiria?
Pensou
na filha.
Disciplinada,
disposta a cumprir a pauta, não obstante pensava insistentemente em Luciana,
vida prestes a ganhar o mundo.
E se
a casinha ruísse?
Caísse
por cima dela e de Luciana?
Rezou,
era dada a rezar.
Deus
piedoso e misericordioso havia de protegê-la não por mim meu Pai mas por minha
filha carente de proteção me ampare segure essa casa e orava pra tantos santos
chamou Nossa Senhora dos Alagados conhecedora dos mistérios de toda aquela área
e não havia de deixar nada acontecesse.
O
barulho da chuva e tanto pensamento vadio e tanto cansaço foram tomando-a, e
ela quase ia deixando o sono dominá-la quando...
Duas
centenas de soldados tomam posições estrategicamente definidas em ritmo
acelerado botas chapinhando na lama sob gritos de comando era uma e trinta da
manhã.
O
resto da casa também acordado, a criançada e a mãe.
Ela,
olhava pro teto, pra telha de Eternit, laje não existia.
Não
podia reclamar.
O
carinho da mãe era comovente.
Reservou-lhe
o quarto dela, o melhor da casa, roupa passada e lavada.
Mas,
havia também as muriçocas, ah, as muriçocas e seu zumbido infernal, parecia
gostarem de zumbir em seus ouvidos, apenas neles, exército.
Bastava
começar a cochilar e lá vinha o zumbido a chamar desperta moça Papa chega
amanhã e você tem trabalho a fazer.
É,
havia a ansiedade, a responsabilidade com a cobertura.
Que
dormir que nada.
E
aquele cheiro forte, cheiro do manguezal ali encostado, desagradável.
Estava
em Alagados, vasta área invadida pelo povo décadas afora para garantir um teto,
precário fosse.
O
mar, invadir o mar, último refúgio dos pobres muito pobres à falta de terra e
teto pra morar.
Primeiro,
foram as estacas madeira se achegando mar adentro milhares depois aterrando
como o Uruguai onde estava tomando espaço do mar...
E a
chuva, nada de parar.
E a
porra do sono, nada.
Bom,
bom mesmo, era o carinho o paparico da mãe toda preocupada com ela sabe como é
que é mulher grávida de oito meses carece de cuidados ela e a filha...
E se
desdobrava em atenção.
Comovente.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Ah se os milicos
desconfiam que tinha uma intrusa barriguda infiltrada ali....
Jaciara Santos: Comento já...
Deixa digerir a emoção...
Emiliano José: Jaciara Santos
Confesso felicidade ao saber da emoção...Nada de digerir?
Jaciara Santos: Emiliano José
menino, essas suas memórias têm mexido muito comigo. Hoje, mesmo, estive em
Cachoeira e lembrei de uma cobertura que fiz... Foi muito forte. Olha que
estive em Cachoeira tantas vezes depois, mas hoje foi diferente. Com certeza é
o efeito #MemoriasJornalismoEmiliano.
Obrigada.
Emiliano José: Jaciara Santos
Olhe, o vapor de Cachoeira não navega mais no mar, mas você vai escrever sobre
essa cobertura....estou aguardando...
Jaciara Santos: Emiliano José
dexaketo a fila tá grande, moço...
Emiliano José: Jaciara Santos
Você está quase no fim... Na série. Uma a mais, nenhuma diferença. E as cumadis
não se incomodam...
Mônica Bichara: Emiliano José de
jeito nenhum, estamos amando. Mesmo pq essas memórias são tb nossas. Esse
turbilhão de lembranças que Jaciara Santos fala que está acontecendo com ela é
verdade e mexe com a gente tb. Ontem eu estava lembrando de outra cobertura que
me abalou muito e certamente a todos os jornalistas que atuavam naquela época,
se não me engano também início dos anos 80. O descarrilamento do trem de
combustível em Pojuca, acidente onde morreram dezenas de pessoas. A gente chorava
muito, aquilo era triste mesmo para quem já era tarimbado nas coberturas
policiais. Lembro que o povo começou a saquear os vagões levando gasolina pra
estocar em casa, uma tragédia anunciada. Não sei bem o q causou a explosão, mas
foi carnificina. No dia eu não fui cobrir, graças a Deus, mas no dia seguinte
Chico Vasconcellos me mandou fazer o rescaldo, ouvir a população, contar a
comoção na cidade. Comoção mesmo foi no meu coração, não sei como consegui
escrever uma página. O que mais me marcou, nunca esqueci, foram as pegadas de
sangue no mercado da cidade, um dos lugares atingidos. Pelas pegadas, em todas
as direções, dava pra ter ideia da extensão da tragédia.....A cidade era luto
só, todos choravam, todos tinham pessoas envolvidas.....difícil ser
profissional num cenário daquele, mas a gente conseguia
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Emiliano
José
27
de outubro 2019
Desejo de meter o
coturno
Deitada,
olhos no teto, nem virar podia muito. Gravidez de oito meses não é qualquer
coisa.
A
chuva não deu trégua.
Podia
até ajudar o sono.
Em
outras ocasiões, chuva tivera esse efeito.
Jaciara
percebe o dia chegando acordada, pelas frestas da janela.
Nada
de sol.
Se
era coisa de Deus, não sabia, mas não houve trégua.
O
Papa chegaria debaixo d''água tudo alagado numa vasta região denominada
Alagados.
Hora
de levantar, vestir-se.
Coisa
nenhuma, nada de se vestir.
Dormira
com a roupa da chegada, e com ela enfrentaria a peleja do dia o Papa Alagados
Roberto Carlos e as baleias...
Nem
lembra como foi o café da manhã.
Paparicada
foi.
Em
nenhum momento deixou de ser.
Despediu-se
da mãe e dos meninos, agradecida, comovida por tanta atenção, carinho, não
merecia tanto.
Rua,
cobertura, chuva.
A
poucos metros da igreja flagra conversa entre dois soldados - boa repórter não
perde viagem, ouvidos sempre atentos.
Um
soldado confessa ao outro o temor de uma invasão da área restrita à comitiva
oficial:
- O
povo vai arrebentar essas cordas.
-
Vai arrebentar porra nenhuma - retruca o outro.
-
Sei não - diz o temeroso.
O
poliça poliça jeito de caveirão emenda com gosto de sangue na boca:
- O
primeiro que se fizer de besta vai levar uma coturnada na cabeça que é pra
ficar logo estirado aí no chão fudido de vez prontinho pro Papa benzer.
Botar
pra foder.
Jaciara
relativiza o mau-humor dos policiais, quase os desculpa: passaram a noite em
claro, um stress danado, responsabilidade de dar segurança ao Sumo Pontífice,
ao relento, sob a chuva, encharcados, com uma fome dos diabos.
Eram
um pote até aqui de raiva e aí qualquer alteração era cacete.
Boa
moça, sempre foi, mas visse Jaciara alguma arbitrariedade e não pouparia
ninguém: estaria ao lado do cidadão ou cidadã agredido.
Aquela
noite e aquele início de dia era uma expectativa só: Papa é Papa, e todos
queriam vê-lo, se pudessem, tocá-lo.
O
povo dos Alagados, do Uruguai, de tudo quanto é lugar das redondezas, ia
chegando aos montes, guarda-chuvas abertos ou sem nada, se molhando todo, se
acotovelava, chegava perto das cordas do isolamento, queria ver o Papa.
Só
que...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Ivy Marcia: Oi como faz para
adquirir seu livro???
Emiliano José: Ivy Marcia Está
falando da biografia do Waldir?
Ivy Marcia: Emiliano José eu
estou falando desses textos postados,q fico lendo e me imagino na cena #MemoriasJornalismoEmiliano
Emiliano José: Ivy Marcia Ainda
escrevendo. A decisão do livro, pra frente. Se puder, continue acompanhando.
Beijo
Mônica Bichara: Dessa chuvarada
eu lembro muito bem, foi um lameiro da peste. Se Jaciara Santos pega uma gripe daquelas,
como eu peguei cobrindo a missa no CAB, minha dinda Luciana Rodrigues tava
ferrada
Emiliano José: Mônica Bichara
Lamarca, "O Revolucionário" está reproduzindo textos comadres.
Emiliano José: Mônica Bichara E
Jaciara levando Luciana pelo meio do lamaçal...
Jaciara Santos: Emiliano José eu
não fui pro CAB. Fiquei pelos Alagados mesmo...
Emiliano José: Jaciara Santos
Alagados também choveu, não?
Jaciara Santos: mas o lamaçal
forte foi no CAB. Parece que foi feito um aterro às pressas para a missa. Aí,
veio a chuva e o aterro virou mingau...
Mônica Bichara: Jaciara Santos
isso mesmo, improvisaram uma área gigantesca e não contavam com a chuva. São
Pedro meteu água, literalmente. E o q tinha de beatas idosas, tadinhas, vindas
de tudo qto era canto....dava pena
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Emiliano
José
28
de outubro 2019
ACM é vaiado
Todo
mundo queria ver o Papa.
Mas,
foi uma decepção.
Profunda.
O
povo só teve chance de ver Sua Santidade quando mais tarde ligou a tevê.
Só
aí teve certeza de que o Papa estivera no bairro.
Cercaram-no
de tanta segurança, tanto coturno, realizaram uma cerimônia tão fechada,
restrita a uns gatos pingados, autoridades e membros da Igreja, tanta
restrição, e impediram assim o povo de vê-lo.
Imagine
a revolta da população, daquela gente humilde, que madrugou, veio caminhando
pelas ruas, vielas, becos, pelos madeirames dos barracos, chapinhando os pés na
lama.
Seja
qual seja o Papa, e olhe, João Paulo II será um Papa no mínimo no mínimo
controverso, seja qual seja ele é sempre visto como o representante de Deus na
terra.
Assim
é olhado pelos católicos.
E é
enxergado com imenso respeito por todas as outras crenças.
Então,
a ansiedade, a expectativa eram enormes.
E a
frustração foi do tamanho do mundo.
ACM,
em seu segundo governo biônico, bafejado sempre pelas preferências da ditadura,
ainda presente, parecia à vontade, e querendo capitalizar ao máximo a visita do
Sumo Pontífice.
Natural.
Mas,
não teve jeito: sobrou pra ele.
O
povo não ia deixar barato.
Era
muita desfeita.
Um
pedreiro entrevistado por Jaciara, desabafou:
- Se
fosse outro dia qualquer, até que eu ficava contente em ver o governador, mas
hoje eu quero ver o Papa.
Não
viu.
Nem
o pedreiro nem a lavadeira o dono do mercadinho nem Roberto Carlos e as baleias...
ACM
acreditava no seu taco.
Certo
de sua popularidade.
Após
a inauguração da igreja, ele se dirige em direção ao helicóptero.
Era
a forma de chegar ao Centro Administrativo da Bahia onde Sua Santidade
encerraria a visita à Bahia com uma missa campal.
No
pequeno trajeto, ACM acena e joga beijinhos para a multidão.
Tinha
mania de fazer isso.
Recebe
sonora vaia.
Aperta
o passo rumo ao helicóptero, sob insistente palavra de ordem:
-
Queremos ver o Papa! Queremos ver o Papa!
Saiu
enfurecido.
Sem
jeito a dar.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: dava gosto ver o
povo berrando: "Queremos ver o papa! Queremos ver o papa", misturado
às vaias. Não teve claque que encobrisse o mico pago por Suas Excelências...
Mônica Bichara: No CAB até q viram
e acompanharam a missa, mas de longe (salvo a galera vip) e no lameiro. As
sombrinhas até q formavam um visual bonito, mas não deixavam ninguém ver nada
Mônica Bichara: Um momento
emocionante da missa campal do papa foi o imenso coral regido pelo maestro
Lindemberg Cardoso, primo de Délio e Sinval, natural de Rio de Contas. Ele
compôs músicas exclusivas para o evento, q reuniu vários corais
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Emiliano
José
29
de outubro 2019
Tristeza
Repórter
pensa, tem opiniões.
Jaciara
estava revoltada com a exclusão do povo.
Com
o fato de a organização da cerimônia excluir a população, impedi-la de ver o
Papa.
Confessa:
achou justa a sonora vaia recebida por ACM.
Quisesse,
e ele poderia ter facilitado a aproximação.
Afrouxado
os mecanismos de segurança.
Mas,
não.
Preferiu
ou concordou em esconder o Pontífice.
Sentiu-se
confortada.
Estivesse
no meio do povo, não estivesse como profissional, e estaria vaiando também.
Deu
um sorriso de canto de lábio.
Viu
logo depois, população se dispersando lentamente e o Papa e comitiva entrarem
às pressas no ônibus 412 da Empresa Santa Maria.
Foi
o único momento de aceno do Papa para alguns ainda em expectativa ao longo da
rua Direta do Uruguai.
Muito
pouco.
O
Papa, de pé dentro do ônibus, acenava para os resistentes, alguns poucos
privilegiados puderam vê-lo de passagem, o ônibus se afastando..
O
Sumo Pontífice vai deixando para trás cordões de isolamento arrebentados,
sandálias quebradas e abandonadas, flores e bandeiras pisoteadas em meio à
lama, um cenário desolador.
Tristeza,
muita tristeza, Jaciara testemunha essa infinita tristeza.
A
expectativa de um encontro especial termina assim.
Vida
que segue, e ela corre para a redação para escrever.
Nem
se despediu da família acolhedora.
Antes
de entrar no carro, a dúvida do pescador Antônio Gonçalves:
-
Afinal, ele veio no aviãozinho ou no carro?
Ela
não sabia responder.
E
isso não tinha mais importância.
Com
a canonização do Papa em 2014, o templo inaugurado por ele no longínquo 7 de
julho de 1980 passa a se chamar Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João
Paulo II.
Luciana,
a primeira filha de Jaciara, nasce um mês depois de a mãe contar toda essa
história no "Jornal da Bahia".
Vem
ao mundo aos 25 minutos do dia 8 de agosto de 1980.
As
peripécias com o Papa e o povo de Alagados ela viveu na barriga da mãe, quase
nascendo...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: foi uma
frustração tão grande, tão doída... O pessoal passou a noite enfeitando as
ruas, decorando as frases de boas-vindas e, no final, pelo menos para a
maioria, a visita se resumiu a empurrões, cotoveladas... Triste, muito triste.
Foi como uma traição.
Emiliano José: E esse Papa, ai,
ai.... Um furacão da extrema-direita. Ainda bem; hoje,.o grande Papa Francisco.
Graça Azevedo: Jaciara Santos
Enganar o povo é tradição neste país.
Isabel Santos: Mas o povo
queria vê-lo, Emiliano José. Mostrar tudo o que foi preparado, provavelmente,
com muito esforço, depois de um dia suado de trabalho.
Isabel Santos: Eu tenho um
pedaço do tecido que forrou a cadeirinha em que o Papa iria se ajoelhar (me
deram quando fazia reportagens sobre os preparativos para a sua chegada), no
Palácio Arquiepiscopal, no Campo Grande, o que não aconteceu. Imagine a
decepção das freiras, ou pessoas, que fizeram a escolha do tecido floral, verde
e bege, em alto relevo, organizaram o local onde a cadeirinha ficou aguardando,
e coisa e tal. Era um outro público, mas cada um com sua expectativa, sua
devoção...
Emiliano José: Isabel Santos Eu
destaquei Isso: o povo queria vê-lo e é muito justo que o quisesse. Era o Papa.
Tudo isso é retratado por Jaciara. E destaquei isso.
Isabel Santos: Sim. Fiz
referência apenas ao seu comentário sobre o papa
Oculte
ou denuncie isso
Emiliano José: Ele tem um papel
na história, é este que indiquei. Um conversador obstinado.
Lucia GA: Na época tive uma unha arrancada
um dedo do pe . Isso aconteceu no Campo Grande. Até hoje a unha só nasce
escura, eu me refiro como a unha do Papa. De triste memória. PS: não vi o papa.
Liliana Peixinho: Estava lembrando
esses dias que cantei no chamado Coral do Papa, regido por Lindemberg Cardoso!
No final dos anos 90 trabalhava na Telebahia, do Cabula (lembram Tasso e Vita?)
e fazia parte do Coral da empresa. Vários corais se uniram, inclusive o
Madrigal, da UFBa, para formar um dos maiores corais que se teve notícia, até
então! Cantamos lá no CAB, onde foi montada uma mega estrutura para um ato,
tipo ecumênico, naquelas gramas, repletas de gente. Foi pra sempre, em minhas
memórias! O maestro Fred Dantas com Lindemberg Cardoso, fizeram arranjos
incríveis em músicas como Berimbau, Ave Maria de Arcadelt e outras, que levamos
muitooooo tempo, a ensaiar. Eu soprano, cantei alto, do fundo da alma, pra
sempre, naquele evento maravilhoso, com gente de toda parte! Obrigada, Emiliano
por nos fazer rememorar fatos tão importantes em nossas vidas!
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Emiliano
José
30
de outubro 2019
Viva o Papa
Francisco!
A
visita do Papa, Jaciara registrou em dois textos: "O Papa é nossa
voz" e "E também muita decepção".
O
primeiro descreve a expectativa ao longo da noite e madrugada.
O
segundo, a decepção, a frustração de não ver o Sumo Pontífice.
Publicados
pelo "Jornal da Bahia" no dia 8 de julho de 1980, caderno 2,
noticiário local, página 5.
Karol
Josef Woytyla, polonês nominado João Paulo II, foi um Papa a marcar época.
Primeiro
Pontífice não-italiano desde o neerlandês Adriano VI em 1522, segurou o cetro
entre 1978 e 2005, 26 anos de Pontificado.
Beatificado
em 2011, canonizado em 2014, inseriu-se nas lutas políticas de sua época com
gosto de gás.
Conservador,
usou de toda sua influência para o combate aos comunistas.
Apoiava
qualquer regime, ditadura, o que fosse.
Única
condição: não ser de esquerda, não ser comunista, não simpatizar com aquelas
ideias demoníacas.
No
Brasil, à vontade.
Governo
Federal, ditadura.
Bahia,
preposto.
Estava
em casa.
Tinha
um cardápio de valores quase, não sei se quase, medieval: queria as mulheres no
seu lugar - o lugar de subordinada ao homem, nada de contracepção, de
preservativos, nada de aborto.
Fizessem
tabela, calculassem os dias possíveis para o amor se não queriam ficar
grávidas.
Contra
os homossexuais, contra o casamento gay.
Condenava
o uso de preservativos mesmo no caso de parceiros com doenças sexualmente
transmissíveis.
Um
poço de reacionarismo.
Inimigo
visceral da Teologia da Libertação.
Coisa
do diabo.
Devia
ser combatida a ferro e a fogo.
Leonardo
Boff foi condenado ao silêncio obsequioso sob seu Papado.
Viveu
uma época gloriosa para suas ideias.
Sobretudo
porque coincidente com o fim da ex-URSS, a ascensão do neoliberalismo e a
superexploração do mundo do trabalho.
Contribuiu
para tudo isso.
O
mundo dá voltas, no entanto.
A
roda da história gira.
Mesmo
no mundo das igrejas.
Viva
o Papa Francisco!
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: na época, eu não
tinha essa visão panorâmica sobre João Paulo II. Só depois, muito depois, é que
a ficha veio a cair E, sim, o papa Francisco é o cara!
Emiliano José: Jaciara Santos
Não dava pra ter
Isabel Santos: Também pra mim,
Jaciara Santos. Vivi uma ilusão. O Papa Francisco, sim, é o cara. Fala, age com
a alma, coração e sabedoria...
Joaquim Lisboa Neto: Os cubanos
sempre gostaram de comentar sobre as tiradas bem-humoradas de Fidel Castro.
Uma
delas se deu quando da visita do Papa João Paulo II a Cuba.
Estavam
os dois trocando ideias quando um funcionário pergunta se eles querem beber e
comer alguma coisa.
João
Paulo diz “quero Cuba libre”.
Fidel,
“e pra mim purê de papa”.
Mônica Bichara: Quanta diferença
do nosso Chico , Viva o papa Francisco. Duvido que se fosse ele na visita ia
dar um ninja desse no povo
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Emiliano
José
31
de outubro 2019
Não tenho medo de
cobra, nem medo de lobisomem
O
vapor de Cachoeira não navega mais no mar...
Jaciara
navegava.
E
navegava grávida.
Há
controvérsias sobre o número de barrigas dela.
Mônica
Bichara suscitou a controvérsia: fala em muitas.
Da
fonte, dela Jaciara, temos a garantia: tomou-se embaraçada tão-somente duas
vezes.
Mata
a cobra e mostra a cobra morta: dois filhos.
Luciana
e Leonardo.
Estão
pelo mundo.
Não
a deixam mentir.
Luciana
foi barriga de muitas peripécias.
A
menina estava no abrigo materno há três meses.
É,
Jaciara estava com três meses de gestação quando navegou com ela no mar de
Cachoeira.
A
cidade havia se transformado em mar, água pra todo lado, cobrindo quase tudo,
enchente igual só fora vista em 1960.
Era
o dia 5 de fevereiro de 1980, data de meu aniversário.
Era
pequena a embarcação.
Dois
marujos experientes - um consolo.
Conversou
com Teresa Ferreira, moradora do Caquende, e o depoimento dela foi assustador:
- É,
moça, o pior é que lá no Caquende passa um riacho. Agora, está engrossando com
a correnteza. Andar de barco é o maior perigo porque qualquer descuido pode
resultar numa tragédia.
Medo.
O
que estou fazendo aqui, grávida de três meses?
Arriscando
a vida, não?
Parecia
ouvir o canto ancestral:
"Navegar
é preciso e viver não é preciso".
Seguia.
O
barco avançava pelas ruas inundadas.
De
repente, gritos: abaixem a cabeça, abaixem a cabeça, olha os fios.
É
quando Jaciara se dá conta da dimensão da cheia: as águas haviam subido tanto
tanto a ponto de o barco navegar rente à fiação da rede de iluminação pública.
As
normas técnicas determinam uma distância de três a sete metros dos fios de alta
tensão do solo.
Água,
muita água em Cachoeira.
Primeiro
grande susto.
Nota
o barqueiro mais próximo a ela empurrar o remo para afastar alguma coisa do
barco.
Adivinhando
a pergunta dela, fala;
-
Essas cobrinhas d'água enchem o saco!
Jaciara,
alisando a barriga acariciando Luciana, pergunta, temerosa da resposta, e quase
gaguejando:
- É
cocobra, cobra mesmo, de verdade?
O
barqueiro quer tranquilizá-la ao senti-la, digamos, um pouco apreensiva:
-
Que é cobra é, não vou negar pra senhora.
Ela
arregala os olhos doida sou doida fazendo o quê aqui? Luciana fique tranquila
prometo lhe proteger e mal ouve o barqueiro;
-
Não tem perigo, não, dona. É só não botar a mão na água.
Um
friozinho de terror no pé da barriga aquelas coisinhas passando ali ao lado
verdinhas verdinhas não eram vegetação sujeira inocentes galhos eram singelas
cobrinhas d''água uma mordidinha e podia dar adeus à vida e não daria sozinha
Luciana na barriga puta que pariu xingou e começou a rezar justo ela um medo de
morrer de bicho cobra.
O
segundo susto.
Sempre
atenta às expressões e movimentos dos velhos marinheiros.
Percebeu
então preocupação na troca de olhares dos dois...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Eu devia ter
pedido a guarda da minha afilhada, essa criatura parece q pedia as pautas mais
arriscadas. Luciana Rodrigues, vc não ficou com trauma de barco não?
Jaciara Santos: tô começando a
concordar com a cumádi: parece que eu só vivia embuchada mesmo kkkkkkkkkkkk
Mônica Bichara: num tô dizeno
......
George Silva: O AI-5 está de
preto nas águas do Nordeste matando inocentes para intimidar uma nação inteira.
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Emiliano
José
1 de
novembro 2019
Salvai-nos Oxalá e
Senhor do Bonfim
Jaciara
olhava para a água.
Cuidava
pra não deixar a mão à solta.
Cobras.
Luciana
tão pequenininha na sua barriga inaugurando uma fase - mulher prenha.
Alisava
o ventre como se a protegesse.
Medo,
tinha medo.
Mas,
enfrentar.
Sua
sina.
De
jornalista.
Navegar
é preciso viver não é preciso.
O
refrão de Fernando Pessoa a voz de Caetano Veloso a invadia.
Insistente.
Olhou
pros dois marinheiros, cautelosos.
Experientes.
Desde
o início da navegação, vira-os sempre descontraídos.
Atentos,
mas sem nenhuma sombra nos olhos.
De
repente, viu-os de cenhos franzidos, cochichando entre si.
A
correnteza em fúria.
Violenta.
Assustadora.
Conversavam
sobre isso.
Gritavam
já.
-
Bora voltar, cumpadre!
- Bora
- diz o outro!
Jaciara
estremeceu bem que a moça do Caquende havia alertado Deus meu meu Deus que será
de nós nem Caetano mais agora só rezar só Jesus na causa Jesus e os orixás e
todos os santos Oxalá e Senhor do Bonfim.
-
Bora, cumpadre, corrente tá puxando muito, tá arriscado da gente não segurar
esse tranco.
-
Logo - diz o outro.
- É,
se a gente entrar no canal...
Frio,
sentiu um frio gelado no pé da barriga outra vez frio de morte e Luciana?
Que
loucura estou fazendo?
Aquela
frase no ar se a gente entrar no canal...
Canal,
ela sabia, era o majestoso rio Paraguaçu, indomável, outro rio, gigantesco,
fora de seu leito natural.
Viver
era preciso.
Não
dava pra distinguir margens naquele mundaréu d'água.
De
um lado, água.
Do
outro, também.
À
frente, água.
Ali
era Recôncavo, mas ela pensou o mar virou sertão e o sertão virou mar Paraguaçu
não era mais rio era mar e ela só pensava em amar em Luciana nascendo ela cheia
de beijos e aconchego amar...
Faça
como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar...
Os
dois marinheiros usaram toda experiência acumulada, os músculos adquiridos na
longa vida nas águas...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: no sábado
passado, quando fui a Cachoeira em visita à Flica, me vi tomada por um
turbilhão de emoções... Lembrei tanto dessa cobertura, Fred Passos. Mais uma
vez, estávamos juntos lutando contra a fúria das águas...
Fred Passos: Inesquecíveis,
Jace!!!
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2 de
novembro 2019
Desabrigados
querem mesmo é comida de graça
Enquanto
os velhos marinheiros mexiam músculos, utilizavam toda experiência adquirida
para evitar uma tragédia, Jaciara rememorava o dia, um refúgio quem sabe para
afugentar o pavor a acossá-la, nem medo era mais, pavor.
Rememorava
rememorava e o dia desde a manhã surgia como num filme.
Chegada
à redação, apesar de grávida, é pautada pelo "Jornal da Bahia" para
ir a Cachoeira ver de perto aquela terra virando mar.
Pertinho,
pouco mais de 100 quilômetros.
Vou
num tapa.
Saio
agora de manhã.
À
tarde, de volta.
Bora,
bora.
Motorista
e o fotógrafo Fred Passos juntos.
O
País começava o ano sob um raro volume de chuvas.
Enchentes
já haviam produzido mais de 180 mil desabrigados.
Os
céus estavam furiosos.
Não
se sabe a quem queriam castigar.
Fato:
o povo pagava o pato.
Na
Bahia, alguns municípios sofriam.
Santa
Rita de Cássia e Jacobina sentiram o castigo vindo dos céus.
E
Cachoeira e São Félix.
O
prefeito de Cachoeira, vá lá se entender por quê, recusa categoricamente a
instalação de um posto de atendimento da Coordenação de Defesa Civil do Estado
(Cordec).
Não
queria ajuda do Estado.
E
olhe: o município já contava quase uma centena de desabrigados.
Ariston
Mascarenhas, o distinto alcaide, explica a negativa de aceitar a ajuda do
governo do Estado:
-
Olhe, moça, o que esse pessoal quer mesmo é comida de graça. Não há motivo para
essa ajuda.
De
lascar, mas era esse o raciocínio do prefeito.
As
águas invadem as casas as pessoas vêem seus trens boiando tudo sendo levado
pela correnteza violenta desrespeitosa perdem o pouco amealhado vida afora vêem
os filhos chorando diabo do prefeito vem dizer isso.
Jaciara
ainda insiste:
-
Mas, se a enchente se agravar?
- Se
encher, paciência. As providências terão de ser agilizadas no momento certo.
Agravar?
Educação
de Jaciara.
Só
se Cachoeira se visse inteiramente submersa.
Um
prefeito assim ninguém merece, Jaciara pensava, indignada, imaginando os
desabrigados com fome e sem assistência.
Deixou
a rememoração do dia de lado e voltou a prestar atenção nas manobras dos velhos
marinheiros e nos clicks de Fred tentando capturar a dramaticidade daqueles
instantes.
Medo,
tensão, o pavor voltando...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Ari (o prefeito)
e suas sutilezas... Três dias depois, ele viu no que deu sua arrogância...
Mônica Bichara: Mulher, dá
pressa a esses barqueiros. Já tô de agonia c minha dinda boiando nessa
enchente. Pelo menos botaram colete salva-vida?
Jaciara
Santos: ahahahaha que "ete" que nada, fia!
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Emiliano
José
3 de
novembro 2019
Doce de pessoa
Os
marinheiros manobravam bem.
Evitavam
a chegada do barco nas águas do Paraguaçu, entrasse no canal.
Ela
sentia o esforço e a responsabilidade deles.
Mergulhou
novamente na rememoração do dia.
Melhor.
Saía
do desespero.
Quando
entraram de manhã na pequena embarcação viu-se lado a lado com colegas de
outros veículos todos interessados no dilúvio.
Enturmou-se
logo com Leila Cordeiro, repórter da TV Aratu, então afiliada da Rede Globo.
ACM
só vai tomar a concessão em 1986, quando Waldir ganha a eleição.
Um
doce de pessoa - Jaciara se encantou com Leila.
-
Tão doce quanto bonita, dona de lindos olhos verdes e de um sorriso cativante.
Faltou
pouco para paixão à primeira vista.
A
confissão deve causar ciúmes entre as comadres.
Não
parou: ah, tão doce, tão novinha, 23 anos completados, e uma simplicidade
encantadora...
Seguia,
quatro pneus arriados: não exalava a arrogância e a vaidade tão comuns a quem
trabalha em televisão.
E
mais: a novinha, vendo-a grávida, cerca-a de cuidados.
Tanta
ternura...
Sentiu-se
amparada.
Sabe
como é que é né?
Mulher
grávida tem sensibilidade aguçada, e aqueles mimos eram uma delícia...
Olha
pra Fred, o fotógrafo, todo disposto.
Enchente
não era novidade pros dois: haviam enfrentado a de Xique-Xique.
Deixou
a rememoração de lado e fixou-se novamente nos marinheiros.
Que
esforço, que luta para não deixar o barco ser engolido pelo Paraguaçu.
O
medo, estampado nos olhos esbugalhados.
E
ela, Leila, outra vez, um doce de pessoa, se achega, passa a mão na barriga
dela, acaricia, e fala suave, carinhosamente, protetora, amorosa, nunca se
esquecerá:
-
Calma, viu? Fique calma!
Jaciara
olha pra ela, agradecida, sem conseguir esconder o medo.
Leila
insiste:
-
Fique calma! Você não pode ficar nervosa por causa de seu bebê.
Troca
um doce olhar com ela, sem conseguir dissipar o medo.
Leila
insiste:
-
Vai dar tudo certo!
Um
doce de pessoa.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Leila era
realmente um encanto de pessoa. Simples, sem a afetação que caracteriza boa
parte da galera que trabalha em TV. Pelo menos, à época em que estava por aqui.
Nunca vou esquecer seus cuidados comigo naquela cobertura.
Mônica Bichara: Só vi o texto
agora, boas lembranças. Leila era mesmo uma simpatia, companhia frequente de
coberturas. Depois foi p Rio, casou c Eliakin Araújo. Qdo clara era pequena,
menos de um ano, portanto há 31 anos, fomos passar Carnaval no Rio pra família
do pai conhecer. Na Sapucaí avistei Leila cobrindo pra Globo. Já no final uma
galera invadiu a passarela desafiando os policiais, última escola, Mangueira,
na avenida. O cinegrafista q acompanhava Leila, um gordinho, foi atingido.
Lembro q os colegas atravessaram todo o percurso do desfile correndo, revezando
na padiola, pra ambulância na dispersão. Sufoco
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Emiliano
José
4 de
Novembro 2019
Ô marinheiro marinheiro
marinheiros só...
Aquele
carinho todo, tanto mimo de Leila Cordeiro, leva o espírito a um canto calmo.
Pensa
no Paraguaçu.
Mar
Grande - o significado tupi do nome.
Nada
mais apropriado.
Maior
rio genuinamente baiano.
Nascido
em Barra da Estiva, centro-sul da Bahia, desemboca na Baía de Todos os Santos,
entre os municípios de Maragogipe e Saubara.
Era
bonito vê-lo correr mansamente quando em tempos de paz.
Paz
das águas.
Não
agora, revolto, violento, levando tudo, gente, animais, casas, madeira, tijolos,
lixo, o que encontrasse pela frente.
Olhando
de cima quem sabe ainda assim o Paraguaçu parecesse bonito selvagem indômito
força da natureza.
Mas,
não pra ela.
Um
pouco mais calma, não deixava de alisar a barriga, acariciar Luciana tão
novinha nos três meses de existência.
Lembrava
das palavras de Leila calma você está grávida não pode ficar nervosa.
Logo
ao chegar a Cachoeira, observou as línguas do Paraguaçu lambendo as escadarias
da Câmara Municipal.
O
prédio de imensurável valor histórico situa-se bem acima do nível do mar, e não
podia ser alcançado pela enchente.
As
ondas apenas iam e vinham molhando as escadarias.
O
sobrado abrigou em tempos passados a Casa de Câmara e a Cadeia Pública,
simultaneamente.
Outros
prédios não tiveram a mesma sorte.
Ela
se comoveu com o cenário de destruição logo quando o barco começou a navegar.
Era
a história tomada pelas águas.
Casa
de Ana Nery.
Museu
Hansen Bahia.
Tiro
de Guerra.
Biblioteca
Ernesto Simões Filho.
Tudo
sendo encoberto pelas águas.
Viu
casas sendo arrastadas pela correnteza gente desesperada tentando salvar os
poucos pertences principalmente no Comércio.
Deixa
a rememoração de lado.
Olha
pros marinheiros quanta luta quanta força quanto músculo quanta disposição
coragem para enfrentar a violência da correnteza.
Conseguem
sair da correnteza principal.
Salvar
a todos.
Jaciara
alisa a barriga novamente murmura conseguimos minha filha e reza baixinho um
murmúrio de oração misturando súplicas aos santos aos orixás a Deus bota Jesus
na causa não ele nunca havia saído quase chora de alegria vê Fred clicando sem
parar.
O
resultado da cobertura está na matéria "Paraguaçu mata um e flagelo
continua".
Publicada
no dia 10 de fevereiro de 1980, um domingo.
O
homem morreu afogado no dia 8.
Quando
falei na ida de Jaciara no dia 5, devia explicar ter sido a primeira vez.
Essa,
foi dia 9, um sábado.
Cachoeira
nunca mais experimentaria uma enchente como aquela.
Não
se pode dizer o mesmo dos medos de Jaciara nas águas.
Enfrentará
outros mares.
E
grávida.
Novamente.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jaciara Santos: Obrigada. Muito
obrigada por relatar nossa história de uma forma tão poética. Nunca me imaginei
do outro lado, já que passei a vida contando histórias dos outros. Valeu!
Emiliano José: Jaciara Santos A
protagonista é boa. Demais. sem mérito pro autor
Jaciara Santos: Emiliano José
menos, mestre, menos...
Mônica Bichara: Essa parte do
"grávida novamente" é dispensável, Emiliano José. Esqueceu que era o
estado normal dela? às vzs eu penso que tem um monte de filho espalhado por
aí....vou dar ideia a Mocofaia
(A dona da porra toda)
(A dona da porra toda)
(As comadres Iracema, Célia, Jaci, Mônica e Isabel)
Jaci, você não é fraca não! Emiliano fez um livro só seu (rsrs). Muito bom! legal também rever nas suas histórias e nos comentários tantos colegas,com os quais compartilhamos outros momentos também memoráveis. Enfim, como você disse, Emiliano tá mexendo com a gente sim!
ResponderExcluirmenina, foram quase dois meses de postagens...
ExcluirComadre Mônica, também quero postagem sua aqui da minha participação, com essa introdução mara que vc fez pra Bel e Jaci! :)
ResponderExcluirhahahaha só pq pediu não vai ter......Vc acha que logo a blogueira que é pilha pura vai ficar de fora? Aliás, tem que falar do Pilha nessas memórias
Excluirvixe! é mesmo!
Excluirbom, não sei por onde começar. Vamos lá.
ResponderExcluirTudo começou com Elieser e a descoberta do comadrio, prontamente comprada por Emiliano. Ou teria sido o contrário?... Elieser viajou nas #MemóriaJornalismoEmiliano e pensou: se tem memórias no jornalismo, tem que falar de (e com) as comadres jornalistas. Bom, enquanto a gente matuta pra descobrir quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, vou navegando neste mar de emoções propiciado por esta série. Como se não bastasse tudo o que esse resgate me fez reviver, ainda sou brindada por este texto maravilha de introdução da minha irmã gêmea-comadre-amiga-filha-parceira Mônica.
Foram quase dois meses de postagens diárias. Meu Deus, a cada dia uma nova emoção. Para mim, acostumada a contar histórias, me ver como protagonista foi uma sensação única. O conteúdo ficou gigante. Espero que as pessoas tenham paciência para ler. Não por uma questão de vaidade pessoal, mas como um reconhecimento a este trabalho magnífico de Emiliano e, aqui no Pilha, de Mônica. Queridos, só gratidão.
Agora, é a comadre Joaninha que tá na fita. Vai que é sua, cumádi!
Você merece, comadre. Nossas histórias estão juntas e misturadas pra sempre. E cada texto desta série linda que ganhamos de Emiliano José (olha a responsa) é como se fosse de todas nós. Gratidão, mestre
ExcluirSugiro que você leia meu testemunho. "Estou tão animada que minha esposa voltou depois que ele me deixou por outro homem. Minha esposa estava tendo um caso com um colega de trabalho e eu amo muito minha esposa, mas ela estava me traindo com ele. Colega de trabalho e esse cara que eu acho que usa bruxaria ou magia negra em minha esposa para fazê-la me odiar e isso foi tão crítico e desnecessário, eu choro o dia todo e noite por Deus me enviar um ajudante para trazer de volta minha esposa! Fiquei muito chateado e precisava de ajuda, então procurei ajuda on-line e me deparei com um site que sugeria que o Dr. Wealthy pode ajudar a recuperar a ex-esposa rapidamente.Então, senti que deveria experimentá-lo. ele me disse o que fazer e eu fiz, então ele fez um feitiço de amor por mim 11 horas depois, minha esposa realmente me ligou e me disse que ela sentia tanto minha falta, oh meu Deus, eu estava tão feliz e hoje eu estou feliz com minha esposa novamente e estamos vivendo alegremente juntos e agradeço ao poderoso lançador de feitiços Dr.Wealthy, ele é tão poderoso e eu decidi compartilhar minha história aqui. você está aqui e seu Amante está recusando, ou sua esposa se mudou para outro homem, não chore mais, entre em contato com o Dr.Wealthy para obter ajuda agora. Aqui está o contato dele, ligue / WhatsApp: +2348105150446.
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