#MemóriasJornalismoEmiliano – De santa a puta, Jaciara entrevistou “de um tudo”



Se preparem que essa série de Emiliano José com Jaciara tá imeeeeeensa, praticamente um livro. Portanto, melhor ir lendo aos poucos porque tem muita aventura.

Segue a saga das comadres do jornalismo, pelas memórias do escritor, jornalista e agora novelista (dos bons) Emiliano José....(Os textos são postados em capítulos no face de Emiliano. Aqui no Pilha transcrevo com os comentários e fotos).

No jornalismo, sobretudo no início da carreira, é assim mesmo, a gente faz “de um tudo”, como dizia minha vó. Num mesmo dia entrevista uma dona de casa e um bandido, um cantor famoso e um político, uma puta e uma santa....
E com Jaciara Santos, protagonista desta série de #MemóriasJornalismoEmiliano, isso foi literal. De tão rico o material virou novela de suspense, praticamente um livro, misturando a emoção de acompanhar Irmã Dulce, o temor diante da baba de seu Biliu, o drama para contar a rotina dos puteiros da velha Salvador sem melindrar o sisudo diretor, a caça às baleias (grávida), enchentes (grávida), dormindo em Alagados na visita do papa (grávida) e por aí vai... E como bom roteirista, Emiliano foi espichando os causos conforme a audiência, que ele não é bobo nem nada.

Jaciara foi uma das primeiras paixões que o jornalismo me deu. Foi quem me abriu os braços e acolheu, quando assustada pisei pela primeira vez uma redação, o Jornal da Bahia, também ele uma paixão. Ela ainda era “foca”, mas diante da estagiária canceriana assustada, o virginianismo (acho que criei uma palavra) dela tinha que se materializar e a transformar no ser mais experiente daquele planeta JBa, sempre com as soluções na ponta da língua. Obrigada minha comadre querida. Como também não sou boba nem nada, nunca mais saí daquele abraço. Te amoooooooooooo Jaci, você sempre foi uma inspiração pra mim e dezenas, talvez centenas, de colegas.

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 (De São Caetano para o sofá de Fábio Júnior)

Emiliano José
17 de Setembro 2019
Sonho meu

Olhava a paisagem frenética da cidade durante o trajeto.
Não era tão curto.
Dava tempo de pensar no desafio.
Relaxar a tensão, nem tanto.
Morava na Capelinha de São Caetano, perifa de Salvador.
Convivi com o bairro.
Bastante.
Padre Renzo Rossi, sobre quem escrevi livro e fiz filme, era vigário dali, distribuía tapas em todo mundo, mania conservada até morrer, em 2013.
Ele, Paulo Tonnucci, Sérgio Merlini compunham missão italiana embrenhada naquelas paragens, incluindo Fazenda Grande, Alto dos Perus e outras quebradas.
Daquelas quebradas vinha Jaciara Santos.
Final de maio de 1978.
Ônibus lento, cheio, parando a cada ponto.
Ela, no seu canto, olhando a cidade em seu frenesi.
Quinto semestre de Jornalismo da Escola de Biblioteconomia e Comunicação, ia atrás do primeiro estágio.
Ninguém sabe como fora parar em Jornalismo.
Concluíra o curso de Geologia na Escola Técnica Federal da Bahia.
Era de se especular caminhasse em busca de Geologia, Engenharia, o que fosse, áreas afins ao que vinha estudando.
Nada.
Partiu Jornalismo.
Quando desceu no Largo da Barroquinha, nem se deu conta do mundaréu de gente vindo de todo lugar, a tensão era grande demais, caminhava com pressa em busca do prédio número 22, ali mesmo.
Subiu as escadas puro nervosismo tremedeira o que será que será...
O "pistolão" dela, o abre-alas, não foi nenhum mangangão.
Foi Nelinho.
Agnelo Gomes de Souza Filho era office-boy, arquivista, não recusava tarefa nenhuma, falava com Deus e o Diabo.
E falou do sonho de Jaciara: ser jornalista.
Disseram: mande ela vir.
Sonho é coisa difícil de barrar.
Sejam quais sejam os obstáculos.
Jaciara ainda chegou a matutar.
Negra, pobre, 22 anos apenas, sem sobrenome ilustre.
Santos, sobrenome de milhões.
Como Silva.
"Não sou parte desse universo".
Pensou tudo isso, mas não se dobrou.
A vida requer é coragem.
Foi com essa determinação tensão tremedeira a chegada ao "Jornal da Bahia" naquele maio de 40 anos atrás.
Recebida pelo chefe de reportagem, Tasso Franco... 
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Êta que estou ansiosa por essas histórias da minha comadre Jaciara Santos, que muito se confunde com a minha. Ela morava na Capelinha, eu em São Caetano e Bel (Isabel Santos) na Fazenda Grande. Quando cheguei no JBa, também pela primeira vez, Jaci foi a primeira que me estendeu a mão e rapidinho eu me sentia em casa. As dicas eram diárias, virei sua foca. "Pegue o máximo de detalhes possível para descrever o ambiente", ensinava. E humanizar um texto, mesmo a pauta mais banal, é com ela mesmo. Além de admirar profundamente a jornalista, amo a criatura. Ela me deu a primeira oportunidade de vivenciar a maternidade, sendo um pouco "mãe" de Luciana Rodrigues, minha "dinda", que amo como a minhas filhas. Impossível falar de Jaci sem me emocionar
Jaciara Santos: Mônica Bichara irmãs gêmeas. A preta e a loira. Amigas para sempre.
 Jaciara Santos: Esse Emiliano está fazendo uma revolução com essas memórias... Estou mexidíssima.
 Graça Azevedo: Estou aqui vendo o quanto minhas sócias Jaciara Santos e Mônica Bichara brilham na história do jornalismo.
Agradeço a Emiliano por compartilhar histórias tão bonitas.
 Emiliano José: Elas, com suas incríveis histórias, as responsáveis por isso.
 Jaciara Santos: você é um querido. Dizer o que? Só agradecer.
 Emiliano José: Nada a agradecer. Amanha, segue
 Jaciara Santos: Conheci o padre Renzo. Muito! Meus irmãos levaram muitos "cascudos", a forma lúdica que ele usava para se relacionar com a molecada. Lembrando que, para os paroquianos simples da Capelinha, ele era o "padre Lourenço", rs rs rs...
 Emiliano José: Isso eu não sabia. Renzo foi um dos mais importantes seres humanos de minha vida.
 Jaciara Santos: Pois é. Somente depois do JBa., quando o entrevistei para uma matéria (da qual não me recordo) é que descobri que o nosso "padre Lourenço" chamava-se Renzo Rossi.
 Mônica Bichara: Até aí as coincidências, tb falo do inesquecível padre Renzo nas minhas "memórias", quer dizer de Emiliano José, no sepultamento de Isabel Santana. Apesar do momento de dor, ela era uma pessoa queridíssima pela esquerda, durante o sermão de Renzo Rossi não se ouvia um pio

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Emiliano José
18 de Setembro 2019
Virginiana vitoriosa

Comício em São Félix.
Na praça, sobretudo trabalhadoras e trabalhadores das fábricas de charutos Suerdick e Dannemann.
Era 1945, João Falcão, candidato a deputado constituinte pelo PCB.
Defende salário mínimo para as trabalhadoras, pagamento justo para os adolescentes, todos penando na indústria do fumo, creches para as crianças.
Forte, a fala.
Sai carregado.
E pelas mulheres trabalhadoras, agradecidas e cheias de esperança de a vida mudar.
Comício não acontece espontaneamente.
Reunia gente de Cachoeira também.
Organizaram-no, mobilizaram, distribuíram panfletos o pequeno comerciante José Toscano de Brito, o dirigente municipal do PCB, José Maria Rodrigues, e o correspondente do jornal "O Momento" em Cachoeira, José Lopes da Cunha.
José Maria e Cunha acompanharão João Falcão para sempre.
Trabalharão com ele no "Jornal da Bahia".
Cunha ocupará muitas funções de direção na redação.
Foi com ele a conversa de Nelinho.
Foi se achegando, procurando a brecha pra falar, e falou:
- Tem uma amiga do bairro, gente boa, tá fazendo jornalismo, precisa de começar a trabalhar, pensei, não sei, talvez pudesse fazer um teste, o senhor podia arranjar...
- Manda a moça vir amanhã.
Enquanto subia as escadas do prédio do "Jornal da Bahia", Jaciara lembrou da alegria de Nelinho lhe dando a notícia, e ela, coração aos pulos, emoção.
De que é capaz um vizinho, amigo de infância, não?
Chegou, deparou com Tasso Franco, chefe de reportagem, a quem foi encaminhada.
Levou um susto.
O sujeito era contido e sovina.
Contido nas palavras.
Sovina no sorriso.
Lembra pouco das escassas palavras: retorne amanhã faz teste se passar entra no quadro de estagiários.
Não esboçou indício nenhum de simpatia ou acolhimento.
Jornalismo é para os fortes - pensou.
Virginiana, dada ao pessimismo, sai da entrevista-relâmpago com pouca esperança.
Será?...
Será que daria pra coisa?
Será pro meu bico?
Ser colega de profissão de estrelas como Ruy Espinheira Filho, João Ubaldo Ribeiro, Sebastião Nery?
Ruy, além de tudo, professor dela na UFBA, recortava as crônicas dele publicadas pela "Tribuna da Bahia".
É, sei não, areia demais pro meu caminhão.
A experiência da primeira pauta, traumática: nem a pau consegue lembrar qual foi o assunto, o objeto do primeiro teste.
Pensa em buracos na rua, lixo acumulado, talvez.
Nada.
Guardado no inconsciente.
Só uma lembrança, emocionante: passou no teste.
Seu pessimismo, derrotado...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: menino, você está me acabando! Reviver essas emoções já não foi tão fácil. Vê-las transformadas em literatura é indescritível. Como repórter, sou destemida, expansiva, "aparecida" rs rs rs... Mas, despida do papel, sou tímida, envergonhada, volto a encarnar aquela menina acanhada da Capelinha de São Caetano... Obrigada (estou gastando meu estoque de lenços de papel e de "obrigadas").
 Graça Azevedo: Pelo que conheço de Emiliano, ele não é de "rasgar seda".
Vc é merecedora, sócia!
 Emiliano José: Coberta de razão, Graça. Plenamente merecedora.
 Mônica Bichara: Até nisso eu não tinha como escapar de Jaciara Santos, meu signo (câncer) tem uma peste de uma atração por virginianos que não consigo entender. É uma sina, um carma....Foi amor à primeira vista, ou ao primeiro texto, já nem sei. E agora piorou com essa sociedade, né Graça Azevedo?
 Graça Azevedo: Não sei se câncer combina com touro, mas meu menino e eu éramos melhores amigos, cúmplices amorosos.
Virgem e touro combinam, dizem os que entendem!
O que sei é que os astros nos uniram. E eu agradeço!
Mônica Bichara: Graça Azevedo minha mãe, um amor incalculável, era de touro e meu marido é. Tá bom pra vc? Será que temos afinidades?
Graça Azevedo: Mônica Bichara Pode apostar, sócia!



Emiliano José
20 de Setembro 2019

O cheiro das redações e a violência do capital

Sabe-se lá desde quando Jaciara desenvolveu o olfato, mania de sentir os cheiros de modo intenso.
Isso não é pra todo mundo.
Talvez desde criança tenha sido assim.
Periferia tem muitos cheiros, nem todos agradáveis.
O esgoto a céu aberto, um horror.
O da cozinha, sempre uma delícia.
Quando, em meio às brincadeiras, o aroma do feijão, ou do xinxim de bofe, ou da galinha de ensopado, da moqueca de peixe, do caruru invadia suas narinas saía desembestada, fome despertada pelo olfato aguçado.
Quando entrou na redação do "Jornal da Bahia" , o cheiro daquele ambiente a tocou.
Característico.
Só uma redação cheirava assim.
Ao menos, as redações de outrora.
As de hoje, quase assépticas.
Primeiro, era um fumacê só.
Todo mundo fumava, tragava a diversidade do fumo.
Havia Continental sem filtro, havia Hollywood, havia... é, havia também, sempre houve.
Sem culpa, para o bem e para o mal.
A onda antitabagista ainda não havia chegado.
A fumaça dos cigarros impregnava o ar, entrava pelos poros, todos acabavam fumando fossem ou não parte do vício.
Alguma química, alguma fusão de elementos, conferia um cheiro próprio, muito próprio.
Não, aquele cheiro você não encontraria em nenhum outro lugar.
Só numa redação.
E cada uma com seu cheiro, que as fusões químicas deviam ser diversas.
O do "Jornal da Bahia", Jaciara jamais esqueceu.
Também não esqueceu a balbúrdia, alarido, telefone tocando, converseiro todos com todos, uma feira.
Aprendeu a escrever pra jornal no meio dessa confusão
Acentua a brutal diferença entre as antigas redações e as atuais.
O número de trabalhadores era gigantesco, se comparado com os dias de hoje.
O mundo digital explodiu tudo.
Tudo que é sólido desmancha no ar.
O "Jornal da Bahia" contava com um número grande de editorias quando ela chegou em 1978: Local, Política, Economia, Nacional, Internacional, Polícia, Esportes, Municípios, Cultura.
Além dos editores e repórteres, copidesques, diagramadores, fotógrafos, editor de Fotografia, laboratoristas, correspondentes.
Havia, ainda, na Editoria Local, ou Geral, como a chamávamos, pauteiro e subchefe de reportagem.
O Suplemento de Domingo e o caderno dedicado ao público infantil tinham equipes próprias.
Repórter setorista, outra prática.
Destacado para um setor, se enfurnava lá diariamente atrás de notícias.
Essa estrutura foi pelos ares.
Pela revolução digital.
E pela lógica do capital, cuja diretriz é cada vez mais a da superexploração, concentrando muitas atividades nas mãos de um único profissional.
A máquina não tem culpa...
É o capital, estúpido!
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: E você, ah você... Transformando Jaciara em personagem. Ela que sempre esteve do outro lado, reportando as histórias de tantos e variados personagens... É estranho, de um jeito bom, ler a minha história.
 Emiliano José: Jaciara Santos Porque você é, as comadres são..
 Jaciara Santos: Emiliano José tá bom, cumpádi!
 Emiliano José: Jaciara Santos feliz por ser aceito
 Jose Jesus Barreto: maconha, cumpade, sem medo, sem preconceito de dizer, né? Bj.
 Jaciara Santos: ahahaha m a c o n h a. Com todas as letras. Quem passou pela Faconha nem deveria ter esse pudor, né, Barretinho?
 Jose Jesus Barreto: Jaciara Santos eu mesmo não tenho pudores com meu fumo, que hj já não uso, num posso mais. Rsrsr
 Emiliano José: Jose Jesus Barreto Era pra você vir pro debate...
 Emiliano José: Barretinho, era brincadeira, já falei maconha nessa série mais de uma vez, mas brincadeira às vezes é difícil entender. Tenho de reconhecer. Erro meu.
 Mônica Bichara: As mesas queimadas de cigarro era outra característica, depois vieram os fumódromos.....nunca fumei na vida, mas sempre ficava no fumódromo pra desfrutar a companhia dos mais chegados. Além de Tasso Paes Franco, Chico Vasconcellos, Almada e Pastore, Jose Jesus Barreto completava o time dos pauteiros e chefes de reportagem....É, comadre Jaciara Santos, demos muita sorte
 Diogo Carvalho: continuem, sou historiador e acho uma delícia os relatos das trajetórias de vcs.
 Jaciara Santos: Mônica Bichara por falar nisso, tentei lembrar o nome de Almada, mas estou em dúvida. Pesquisei na net, no livro de João Falcão, no arquivo do JBa. na Biblioteca Central... e nada! Coloquei como Antônio Luiz Almada, mas não tenho certeza.
Jose Jesus Barreto: sem lombrasrsrsrs Tou acompanhando cada tragada
Emiliano José: Você traga bem. E me honra, me alegra com suas leituras. Insisto: a gente sabe a quem chama de mestre.
Jose Jesus Barreto: Vosmecê também me ensina muito. Sempre. Bjs

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Emiliano José
22 de Setembro 2019
Perdidas na noite

Em 1982, Jaciara foi atrás das coisas do amor.
Pago, pero amor.
Negar, quem há de?
Matéria sobre prostituição.
Saía à noite pro brega.
No horário de trabalho das meninas, dos travestis, dos cafetões.
O anjo da guarda era Isabel Santos, comadre sempre solidária.
Matéria como aquela requeria um anjo assim.
Isabel queria apenas estar junto.
Mas, um anjo era pouco.
Eram ainda acompanhadas pelo já veterano fotógrafo Anízio Carvalho, outro anjo.
Numa reportagem assim, noturna, soturna, riscos na escuridão, no entanto, era bom, aconselhável ter ao lado alguém do pedaço, que conhecesse do ramo, estivesse por dentro do metiê, desaconselhasse espíritos malignos, caras feias, mandasse guardar as navalhas pra outros momentos, dissesse as moças são de paz, são do amor e não da guerra.
Anjos, não bastavam.
Ao menos numa jornada como aquela.
Acompanhadas por Raimundo Alves de Souza, Raimundão, presidente da Associação de Moradores do Centro Histórico, puderam caminhar seguras pelos becos, pelas casas onde as meninas recebiam os clientes.
Raimundão era figura respeitada em toda a zona.
E tomou a tarefa com zelo.
Não sei se as duas ficaram só ali pelo Pelourinho, 28 de setembro e adjacências, ou se desceram a Ladeira da Montanha, se entraram no 63, notória casa da Montanha, visitada por muita gente da elite baiana e por jornalistas ávidos, não por matérias propriamente.
Houve saias justas.
As duas meninas, novatas na área, despertavam atenção, os homens olhavam com gula, quem sabem fossem novas profissionais no mercado fazendo reconhecimento de área.
Clientes sempre estão atentos às novidades.
Entra em bar, sai de bar, a matéria requeria isso, as duas circulavam cheias de desenvoltura, à vontade, pareciam já do pedaço.
Num dos bares, luz mortiça, um dos clientes depois de muito olhar vai se encostando como quem não quer nada querendo se oferece para pagar uma cerveja já pronto pro bote quase a perguntar pelo preço da noite ou da hora.
Raimundão se meteu cheio de autoridade:
- As moças são jornalistas, e não são pro seu bico. Se saia.
O rapaz se saiu, que besta não era.
Conhecia Raimundão e sua fama de valente.
Melhor deixar quieto.
Procurar outras meninas na noite.
Ali não faltavam.
Pra quê arrumar confusão?
Jaciara seguia, conversava com as meninas, mais novas, mais velhas, tentava entender aquele mundo, ganhar a vida daquele modo.
Sofria um pouco.
Às vezes, é verdade, as histórias eram divertidas, até sorria.
A vida como ela é, feliz ou triste.
Vida fácil uma porra, a das meninas.
Trabalho duro.
Foi entendendo...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Ah, já que tocou no assunto, agora conte tudo. A reação do meu diretor pudico rs rs rs
Emiliano José: Você acha que vou perder? Isso aqui é folhetim, novela, não carece pressa, e você é ótima protagonista.
Joaquim Lisboa Neto: Essas histórias de brega me encantam...
Joaquim Lisboa Neto: Me lembrei do Midnight cowboy, com Dustin Hoffman
Emiliano José: Inspirado nele.
Mônica Bichara: E hoje é aniversário da nossa protagonista, minha cumadi Jaciara Santos. Parabéns minha ídola, não podia ter lugar melhor pra te desejar feliz aniversário do que aqui nessas memórias do nosso início no jornalismo, do nosso encontro.....Tudo de bom pra vc, minha irmã, vida longa pra que a gente ainda tenha muitos causos pra contar. TE AMOOOOOO
Emiliano José: Na carona, parabéns, querida Jaciara. Chegar aos 30, fácil não! Beijo
Mônica Bichara: E já que estamos nesse tema, lembre tb das aventuras com Paulo Mocofaia no Pelourinho e na Galeria 13. São hilárias 
 Isabel Santos: Esse foi um dia inesquecível, um momento ímpar da nossa vida profissional, Jaci. Uma reportagem sua para ficar na memória e na história, que agora o nosso querido Emiliano José ajuda a contar. Duas meninas querendo saber sobre a vida nada fácil das meninas que sobreviviam da prostituição, no Centro Histórico de Salvador. Foi nervoso, hilário, emocionante, triste, chocante.... Mesmo estando ali para lhe dar suporte (veja só), arregalei os olhos várias vezes. Senti friozinho na barriga. Temi, mas me senti feliz em estar fazendo parte da realização de uma Reportagem, que era tudo o que gostávamos (e ainda gostamos) de fazer. Obrigada por estarmos juntas, acho que desde sempre. Aplausos.
 Jaciara Santos: Tenho guardadas as publicações, Bel.

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Emiliano José
23 de Setembro 2019

Ravengar de volta para o futuro

Em fevereiro de 2017, a polícia o prendeu novamente.
Alegou volta ao crime.
Ravengar tinha pedigree.
Já cumprira cana dura.
De 2004, quando foi condenado a 25 anos por tráfico de drogas, até 2013, quando saiu em liberdade condicional.
Espirituoso, soltou os cachorros pra cima da polícia nessa segunda prisão:
- Parece que estou no filme "De volta para o futuro".
Negava estar no comércio da droga.
Não era mais com ele.
Prenderam-no e mais dois filhos, ex-mulher e até um neto.
Negócio de família - dizia a polícia.
E um sujeito bom de cintura - até ex-mulher estava no jogo com ele.
Interpretação da polícia.
Nada de droga.
Não mexia mais.
Insistia, falando aos jornalistas.
Estava agora trabalhando na feira.
Seu negócio era culinária.
Vendia salsinha, cheiro verde, coentro, cebolinha, hortelã, toda sorte de temperos, homem trabalhador, dado a madrugar, mourejar de sol a sol, e agora vem os home de novo e joga o inocente na tranca assim é foda.
Queria mesmo era dar tempero à comida baiana, conhecida por seus condimentos.
Que mal havia nisso?
Os filhos outra coisa injusta estavam trabalhando numa lava-jato tudo tudinho pode ser conferido eu vendendo cheiro verde na feira filhos empregados lavando carro de barão.
Se teve crime antes, nunca aceitou tivesse, já havia curtido cana em pagamento e não foi pouca não.
E agora, essa?
Indignado.
Diziam-no comandante do negócio da droga no Morro do Águia.
Ali no São Gonçalo do Retiro.
Dizia-se de branco chegando ao Morro do Águia durante muito tempo buscando levando maconha pra curtir sossegado crime é coisa da periferia branco só compra não tem culpa.
Justiça se lhe faça: nunca o encontraram com a mão na droga.
Nem um tiquinho.
Em nenhuma das operações.
Fosse do ramo, bom profissional.
Ao menos é isso o dito dos jornais.
Dizer de certeza não digo.
Ravengar estava com 64 anos quando o prenderam novamente em 2017.
Devia ter coisa de 39 anos quando ciceroneou
Jaciara e Isabel pelos bares do centro para conversas com as prostitutas, para o trabalho de reportagem.
Já se disse, mas não custa insistir: Raimundo Alves dos Santos foi gentil, atencioso, protetor, quase paternal com as duas.
Disso, não esquecem.
Digam o que digam dele.
E não pode ser verdade estivesse ele agora no ramo do tempero verde? #MemóriaJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Carlos Lenin Santos: Aparentemente, era estranhíssimo Ravengar ser "maior traficante da Bahia'.
Jaciara Santos: Verdade e dou fé: nunca encontraram 1g de pó com Raimundo. Lembro da megaoperação que a SSP fez no Morro do Águia. Acompanhei pelo Correio da Bahia. O resultado foi pífio. Foi uma daquelas situações em que o Estado tinha convicção, mas não tinha provas...
Denilson Vasconcelos: Verde é verde. Sempre. Uns cheiram mais, outros menos, mas sempre temperam a vida.
 Emiliano José: Ravengar sabia das coisas, dos muitos temperos...
 Emiliano José: Verde que te quero verde, verdes ventos, verdes ramas...
 Mônica Bichara: Tenho um causo com Ravengar. Já perto dele ser solto Délio teve um infarto e a Vitalmed o levou para o Menandro de Farias, hospital mais próximo lá de casa. Depois de atendido e constatado que precisaria aguardar transferência para o Ana Nery, teve que ficar na emergência. Tivemos como companhia de martírio um senhor em uma cadeira de rodas, desses que a gente fica com pena e quer ajudar...não tinha um parente junto. Mas tinha um pelotão de policiais fortemente armados, que empurravam a cadeira até para o banheiro. Um ficava na porta do sanitário com metralhadora engatilhada. O bom velhinho poderia ser resgatado no hospital, justificavam. Pensem na tranquilidade (SQN) que foi a espera da ambulância, que só chegou no dia seguinte. Teeeeeenso!!!!

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Emiliano José
24 de setembro 2019

"Elejo até uma vassoura"

1982 foi fácil não.
A marcá-lo tragicamente, Elis Regina aos 36 anos segue viagem num rabo de foguete cansada de tudo embalada por overdose de cocaína
Ainda era ditadura.
ACM governava a Bahia pela segunda vez.
Biônico, sem um mísero voto.
Sempre abençoado pelos militares.
Com a morte de Clériston Andrade, lançou João Durval Carneiro como seu sucessor.
"Eu elejo até uma vassoura", bradou.
Carneiro se elegeu.
No ano, amarguei desemprego.
Terminou sendo conveniente.
Candidato a deputado estadual pelo PMDB, desembestei-me mundo afora, quase 13 mil votos, mas não me elegi.
Comigo, na liça, Rêmulo Pastore, candidato a vereador.
Também não se elegeu.
Fizemos barulho.
No carnaval, ousamos, antecipando campanha, marketing diferenciado.
Produzimos a explosiva mortalha-jornal, toda mancheteada.
Uma delas, provocativa:
"Quem não acredita na Virgem Maria, não pode governar a Bahia".
Referência abusada, e digo hoje deselegante e desrespeitosa, a Clériston Andrade, me parece presbiteriano.
Ele morreu em acidente de helicóptero.
Nunca achei correto brincar com religião.
Ali, escorreguei.
Não é lembrança a me orgulhar.
Foi esse o ano do mergulho de Jaciara em busca de entender a vida das prostitutas.
Ela e Isabel.
Isabel, apenas acompanhando-a.
Nem tanto: participou de corpo e alma de toda a apuração.
Só não escreveu.
Imagino as duas noite após noite alternando ousadia e cuidado na aproximação tentando ser respeitosas sem deixar de ir fundo na existência de cada uma das entrevistadas umas mais abertas escrachadas outras recatadas olhando de soslaio desconfiadas Jaciara tornando nota como quem nada quer querendo muito...
Que vida, aquela, as duas deviam pensar, sem moralismos.
O corpo como ganha-pão, como alternativa de sobrevivência.
Melhor do que limpar chão de madame, uma ou outra devia dizer.
As duas, tornando-se íntimas daquela realidade, daquelas vidas, daqueles corpos, vindos de tanto lugar, corpos explorados de todas as maneiras.
São reflexões minhas, imaginação, colocando-me no lugar das duas comadres, o pensamento parece uma coisa toa mas como é que a gente voa quando começa a pensar...
Uma profissão, um meio de vida.
Hoje, mais organizada.
O mundo digital modificou essa área também.
As duas, tocando a pauta, deixa a vida me levar...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Claudia Moreira de Carvalho: #EuAmoEssesTextos
Graça Azevedo: Os textos deveriam virar livro!
 Emiliano José: As comadres já sugeriram, o professor Zeca Peixoto também. Ainda há, no entanto, uma longa caminhada. Estou disposto. Obrigado.
 Mônica Bichara: Muito bom, cada dia mais viciada nessas memórias
 Joaquim Lisboa Neto: Lupicinando... Uma vez levei, a pedido dela, uma amiga, Lúcia Bastos -irmã da jornalista Rosa Bastos que você citou numa das memórias- a um brega de Santa Maria, ela queria conhecer por dentro o ambiente. Um gaiato gritou pra dona do estabelecimento "Ô Maria, tem gente nova na área e você não diz nada pra gente!" Só não encostou porque ia se ver comigo, ia ser traulitada pra todo lado... Abraços camarada!
 Emiliano José: E você sempre foi tão forte, além da navalha levada na sola do sapato...
 Joaquim Lisboa Neto: Cê esqueceu das aspas no "forte"

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(Primeira matéria assinada)

Emiliano José
25 de Setembro 209

Alegria da missão cumprida

Apuração, foram alguns dias.
Noites, a profissão é da noite.
Agora, hora da onça beber água.
É quando você se prepara pra escrever. 
Olha pra o mundo de papel, pros rabiscos só decifráveis por você, pensa como vai ser a abertura, chave pra começar.
Sabe: reportagem especial como essa não requer lead clássico.
Emoção, emoções.
Com elas, tinha de se haver nessa matéria.
Trazer para o papel o transbordamento de vida experimentado na noite, as alegrias e as dores das meninas.
Creio nem tenha requerido rasgar tantas laudas para achar o caminho.
No lead clássico, você muitas vezes empaca rasga uma rasga duas dez e o lead não sai.
Nessa, outra arquitetura.
Menos presa aos formatos rotineiros.
E por isso, cobrando mais elaboração.
E quando setembro chegou, vocês se recordam, estamos em 1982, a primeira matéria de página ganha as ruas.
Jaciara já era experiente, mas parecia a primeira vez.
Jornal de domingo, dia 19.
Emoção ao ler o título:
"Amor a preço de ocasião".
Só a jornalista, ou jornalista, sabe a sensação, o frenesi de ler a matéria publicada.
Você escreveu, revisou, repassou, mas, publicada é outra coisa.
Não foi pequena a emoção.
O filme passava por sua cabeça as meninas travestis cafetões suas histórias a suave solidária presença de Bel o velho Anízio clicando Raimundão vigiando os homens olhando elas tão novinhas assim chamando atenção por onde passassem olhar não tira pedaço.
Gostou.
Muito.
Mas, podia ser melhor, pensou.
Jornalista, se bom, invariavelmente encontra lacunas em seu trabalho quando o vê publicado - estamos falando de jornalismo impresso.
Esse toque o acompanhará por toda a vida, se não perder a paixão e não for tomado pela arrogância.
A missão se concluiu no dia 26, no outro domingo, também matéria de página inteira:
"Atividade já passa do limite".
As duas matérias fizeram sucesso.
E causaram constrangimento também.
A tradição família e propriedade não descansam.
Que viva a putaria.
Mas, não seja exposta.
Toda nudez será castigada.
Jaciara estava posta em sossego na redação quando... 
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Eitcha que você sabe fazer um folhetim... Haja suspense. Até eu (que conheço o desfecho) estou ficando ansiosa rs rs rs
 Emiliano José: Aprendendo... E não vejo novela...
 Jaciara Santos: imagina se visse...
 Mônica Bichara: O novelista está se superando, brilhante
 Emiliano José: Vem aí "O cão morde a noite", resultado de outra série publicada no face, depois ajustada, Prefácio de João Carlos Salles. O próximo, este. Amanhã, segue a novela.
 Mônica Bichara: Ansiosa pelo desfecho, apesar de conhecer
 Emiliano José: Tenha calma, vamos ver se a protagonista me deixa contar amanhã...
 Mônica Bichara: hahaha vai deixar
 Emiliano José: Não deixou... Veja...
 Emiliano José: O diretor chegou à redação...
 Isabel Santos: E eu aqui, só na emoção, relembrando aqueles momentos de expectativa, o olhar de Raimundão (o que virá?).

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Emiliano José
26 de setembro 2019

Um diretor à espreita...

Jaciara estava posta em sossego na redação, ainda desfrutando do calor da recepção da primeira reportagem sobre a prostituição, quando surge um dos diretores do jornal, presença incomum naquele ambiente. Quando o viu, sabe-se lá por quê, passou a refletir sobre os homens, a presença masculina no jornalismo.
Sem rancor.
Com carinho com afeto.
Abria caminho em meio àquela selva patriarcal, iria seguir adiante.
Soube desde sempre negra pobre periférica: não teria nada de bandeja, tudo seria luta, foi assim desde os primeiros passos, será assim existência afora.
Já havia uma presença razoável de mulheres.
Recorda-se das duas diagramadoras Diana Tourinho e Maria Estella Carvalho, doce Stelinha.
Desta, dirá ter sido o mais belo rosto visto de perto.
E havia Alba Regina, Carmela Talento, Isabel, Linalva, Lúcia Cerqueira, Mara Campos, Mariana Soares, Vânia Queiroz, Mércia Moura, corpaço de parar as máquinas:
- Que macho não virava o rosto para acompanhar o bundão de Mércia serpenteando pela redação?
Tá legal eu aceito o argumento...
Mas os homens, maioria e poder.
E ela olhava o diretor conversando com um e com outro enquanto dava asas às lembranças.
De vez em quando, percebia-o olhando em sua direção.
Só impressão, pensou.
Dos homens, a lembrança forte de Tasso Franco, chefe de reportagem.
Jadson Oliveira, subchefe de reportagem.
Antônio Luiz Almada, pauteiro.
Na primeira fase de sua vida jornalística, toda orientação vinha deles.
Os copidesques ficaram para sempre na memória: Gílson Nascimento, Inácio Panzani e Luíz Augusto Santos, LA.
José Maria Rodrigues, o velho comunista, abrigado por João Falcão desde o início.
E aos borbotões surgem Adilson Borges, Chico Vasconcelos, Edson Almeida, Jânio Lopo, Jorge Lindsay, Marcelo Simões, Moacir Néry, Moacir Ribeiro, Rêmulo Pastore.
Foi Pastore o abre-alas noturno para Jaciara: apresentada à Cantina da Lua, ao dono Clarindo Silva com seu terno branco, às putas, à malandragem, a todo o centro antigo de Salvador, ouvindo o inesquecível bordão dele: - - Ô vidão.
Reminho amava a vida.
Morreu cedo.
Antônio Jorge Moura, Antônio Luiz Diniz (Dente de Leite), Dalton Godinho, José Carlos Mesquita, José Carlos Prata, Mário Freitas, Oldack Miranda, os nomes vão passando...
Afetos.
O diretor, conversava na redação...
E ainda olhava pra ela...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Joaquim Lisboa Neto: Mércia, com seu ardoroso vaivém llenando de envidia a las mujeres y de excitación a los hombres...
Joaquim Lisboa Neto: Jadson Oliveira do Movimento na Tingui?
Mônica Bichara: Vou marcar ela aqui pra ver isso hahaha Olha que sucesso Mércia Moura
Jaciara Santos: vai dizer que não lembra do corpaço de Mercia Moura?...
Mônica Bichara: Encontrei outro dia em Stella, tão linda quanto. Reconheci na hora
Emiliano José: Mônica Bichara Mande telefone dela. Preciso.
Jaciara Santos: tome-lhe suspense!!!!!!!!!!! Vou terminar furando você kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Emiliano José: Jaciara Santos Mancha sua biografia. O escrevinhador tem preferência. E é levado pelas mãos da protagonista.
Mônica Bichara As .... significam que vem mais novela Jaciânica pela frente, né Emiliano José? Ebaaaaa
Jaciara Santos: estou amando essa novela. Nunca me imaginei protagonista de um folhetim tão bem desenhado...
Mônica Bichara: Soube que a Globo comprou os direitos para transformar em filme. Quem será que vai interpretar a protagonista?
Isabel Santos: Calma irmã, tá tudo muito gostoso de ler e relembrar. Segue em frente Emiliano José
Graça Azevedo: Sócias Jaciara Santos e Mônica Bichara: ainda bem que a nossa sociedade foi formalizada antes que eu soubesse que não tinha cacife para compor o trio! Azar o de vcs que me aceitaram! Mesmo sabendo que eu era reserva do time! E eu estou feliz!
Mônica Bichara: hahahaha nada, vc já tem direito a carteirinha e tudo
José Carlos Teixeira: Encontrei faz pouco, em meus guardados, fotos da largada da campanha de Reminho Pastore a vereador, feitas na convenção do PMDB, julho de 1985, se não me falha a memória (bem ao fundo, Tasso Franco.
Emiliano José: 1982, Teixeira
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Emiliano José
28 de Setembro 2019

"Está uma merda"!

Jaciara passava a caneta na matéria para o domingo seguinte, 26 de setembro daquele 1982.
A segunda da prostituição travestis cafetões.
Olhou de lado, rabo de olho, como se não quisesse.
O diretor continuava zanzando, presença estranha, pouco usual na redação.
Suprimiu uma palavra na matéria, estava sobrando.
Poupava trabalho dos copidesques.
Fez uma pausa, e sem querer voltou no tempo, 1978.
Plantão de final de semana.
Escalada para cobrir missa campal celebrada por dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil.
Precisava fazer bonito.
Impressionar o chefe de reportagem.
Chegada à redação, toque escrever o lead.
Lead, isso é para os leitores comuns, é a abertura da matéria, síntese, responde clássicas perguntas sobre o acontecimento: o quê, quem, como, onde, quando e por quê.
Poucas linhas, cinco, seis, sete.
Escreveu o primeiro.
Retirou com violência da máquina, amassou, jogou no cesto de lixo.
Foi uma, foi duas, foi três, dez vezes, tome amasso.
O cesto, cheio.
Chegou ao lead ideal na décima primeira tentativa.
Entrega a Tasso Franco, o chefe.
Segura de si.
Tasso pega o papel, olha o lead, faz cara de desânimo, depois de desprezo, amassa, joga no cesto:
- Está uma merda!
Quer morrer.
Vai dando meia volta para retornar à máquina.
Tasso diz venha cá subitamente paciente generoso explica onde foi o erro como consertar como iniciar matéria de forma a prender o leitor.
Didático.
"Didática Tasso Franco" - assim ela qualifica a forma dele ensinar a quem chegava.
Um tanto brusca, é verdade, não obstante eficaz.
Mas, "o melhor professor de jornalismo que já encontrei pelo caminho".
Voltou à realidade quando levantou os olhos e deu com o diretor ao seu lado.
É, desconfiava, mas precisava de confirmação.
Toda hora olhava pra ela.
Havia de vir.
Veio.
Ali tinha coisa.
Parecia jogo de aproximações sucessivas.
Conhecia disso.
Os homens eram assim: cerco estratégico, cerco tático.
Mas, nesse caso, não atinava com o objetivo.
Chegou assim, simpático, um quase-sorriso, olá como vai eu vou indo e você...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Emiliano quer matar a gente de suspense kkkkkk Conheci bem a "Didática Tasso Franco", a Faculdade Tasso Franco de Jornalismo, mas qdo ele chegava de óculos escuros, com a barba enterrada no peito, a gente saía de baixo, melhor não contrariar 😜😜😜😜 Nera, chefinho Tasso Paes Franco?
Jaciara Santos: Essa experiência com Tasso Paes Franco foi de uma riqueza incalculável. Tasso era assim: duro por fora, mas doce por dentro. Sei que ele não lembra (foram tantos os/as focas que passaram por ele...), mas eu jamais esqueci. E tenho para com ele essa eterna dívida de gratidão. Aprendi muito com ele. Muito mais que nas aulas da Facom.
Emiliano José: Você seria capaz de saber em que mês ele chegou ao Jba em 1978?
Tasso Paes Franco: A propósito onde comprar o livro de Emiliano sobre Waldir Pires? Essas meninas são generosas, pero, grandes jornalistas.

Emiliano José: Tasso, mande endereço. Envio autografado. Os dois volumes? Mando conta e vc faz depósito. A propósito, que mês você chegou ao Jba em 1978?

Tasso Paes Franco: Cheguei ao JBA pela primeira vez em 1968 como foca e o chefe da reportagem era Anizio Félix. Depois saí, fui para a Tribuna e retornei ao JBa, salvo engano em 1974.

Emiliano José: Mas você esteve como chefe de reportagem do DN nesse entremeio. Tenho certeza disso. Você chegou a me convidar pra integrar equipe. Tente juntar as datas.
Tasso Paes Franco: O DN foi em 1975 fui ser editor chefe a pedido de David Raw
Emiliano José: E ficou lá de 1975 a..
Joaquim Lisboa Neto: Diretor querendo sinal aberto. Lead é o mesmo que nariz de cera?
Emiliano José: Não. Nariz de cera era o arrodeio antigo, as preliminares, do jornalismo antigo, sepultado pelo lead. Este, vai direto ao ponto. Pirâmide invertida: concentra tudo logo no começo e vai afunilando, deslindando. Nariz de cera derreteu com o lead.
Joaquim Lisboa Neto: Muchas gracias, saiu nariz...entrou lead. Aprendi mais uma graças a você.

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Emiliano José
29 de Setembro 2019

O tamanho do membro...

Antes da prosa do diretor, pensar um pouco sobre a construção das matérias sobre as putas travestis cafetões.
Jaciara pensava nos relatos daquele mundo João Antônio Nelson Rodrigues Plínio Marcos Navalha na Carne Zéfiro Dalton Trevisan.
Por dias e noites, povoaram sua mente, não parava de pensar neles, no mundo revelado por eles.
Que relatos!
Que mundo!
Corpos expostos em sua beleza e crueldade.
A crueldade da sociedade reprimida e violenta.
É pau é pedra é o fim do caminho é o fundo do poço..
Um mundo, no entanto, onde ela descobria ternura, humanidade.
Nas brechas daquele cenário, histórias fortes, de resistência, mulheres fortes, capazes de embaixo de pau e pedra, seguir adiante, até sorrir, vida segue.
Escrever sobre aquele mundo, o desafio.
Não era roteiro hollywoodiano.
Na maioria das vezes, não havia final feliz.
Era muita miséra, como costuma dizer o baiano.
E muito, muito sexo.
Pago, ali se requer pagar para trepar.
É do negócio, da profissão.
E o sexo é sexo e ela tinha de se haver com ele em sua crueza não sei se ali digo beleza sua natureza corpos suados entrelaçados sussurrados nas noites camas luzes mortiças do Pelourinho.
Ah, o tormento da texto vis a vis a vida.
O diretor chegou todo elogios:
- Que beleza de reportagem!
- Quanta sensibilidade!
Derramou-se na celebração da matéria.
Jaciara, toda agradecida, orgulhosa, mas ressabiada.
Esmola demais o santo desconfia.
E aí começou a ponderação, ele chamava assim, ponderação:
- Você sabe, sei que sabe: o jornal é lido por gente de família, minha esposa, meus filhos...
De cara, meteu mulher e filhos no meio.
Mulher, não, a esposa.
A mãe, ele preservou.
- Em alguns trechos, como diria?, você foi muito explícita.
Jaciara, com tato, pergunta:
- Mas, que mal lhe pergunte, o senhor se refere exatamente a que trecho?
Ele, todo sem jeito, constrangido que só a porra, tenta encontrar maneira de dizer:
- Sabe, como digo?... é aquela parte onde você discorre sobre o tamanho do membro.
Não consegue falar pau, pica, o caralho!
Caiu a ficha...
Jaciara sabia de cor e salteado o trecho...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Joaquim Lisboa Neto: Fiquei sabendo que os catecismos de Carlos Zéfiro estavam disponíveis num sáite através de Osvaldo Barreto, quando secretário da Educação, batendo um papinho com ele e Cezar Lisboa na beira do Rio Corrente sorvendo cerva. Acesso esporadicamente [cuidado revisão].
Emiliano José:  esporradicamente...?
Joaquim Lisboa Neto: Por isso pedi cuidado revisão...
Mônica Bichara: Viuxe que agora o homi vai se deparar com os argumentos da comadre. Sim, pq ela sabe defender um texto com unhas e dentes. Cada porém, cada " não fica bem".....ela tinha a justificativa na ponta da língua. OZzadia ela tem muita, inté hj

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Emiliano José
30 de Setembro 2019

O conselho da dona do bordel

Preocupação dele, do diretor, era com o tamanho do membro.
Você sabe família é o que é deve ser respeitada jornal entra em todas as casas está ali em cima da mesa no café da manhã a esposa lê a filha lê de repente constrangimento sorrisinhos e o pai sem saber como responder se a pergunta vier palavra tem peso todo cuidado é pouco.
Jaciara atenta.
Sabia qual texto.
E contexto.
Reportagem é reportagem.
Você tem de ir fundo.
As coisas estão no mundo minha nega só é preciso entendê-las, fã de Paulinho da Viola.
Conversando com as meninas, foi entendendo, tentando entender aquele mundo.
Não se recusa cliente.
O amante de ocasião apareceu tem de ser atendido.
A dona do bordel avisava logo a menina recém-chegada.
Não tem nhem nhem nhem não tem mimimi: o cara chegou é atender.
É da boa ética.
E do negócio.
Ponto final.
Isso aqui não é amorzinho.
É ganha-pão.
Meu e de vocês.
Mas, as novinhas se assustavam quando o sujeito apresentava armas.
Havia alguns de assustar.
Não era normal.
Tudo aquilo?
Cabe?
Um pau assim não há quem aguente.
As mais velhas então chamavam as novinhas pra uma conversa, orientavam procedimentos acautelatórios.
Jaciara relatou na matéria um desses conselhos, dados por Luci, já calejada nos seus 38 anos, vinda de Itabuna, um filho nas costas:
- Se o cliente é grande demais pra gente, amarra um pano no pênis dele para impedir que se introduza completamente.
Essa riqueza de detalhes, a vida como ela é, horrorizou o diretor, deixou-o à beira de um ataque de nervos.
Jaciara não revela o nome do diretor.
Não dá pista nenhuma.
Se desse alguma, fácil descobrir.
Nada.
Nem que a vaca tussa.
Provável ele estivesse tentando fazer uma vacina, medo da segunda matéria.
Desnecessário.
Na segunda, "Atividade passa do limite", publicada dia 26 de setembro de 1982, não houve pau grande.
O diretor deve ter dormido em paz.
Sem pesadelos.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Num falei que ela (Jaciara Santos) era chegada aos mínimos detalhes????? "Minha lôra, observa tudo que possa enriquecer a descrição do ambiente", me ensinou qdo tomamos de amores uma pela outra. E não seria AQUELE detalhe que passaria despercebido
Jaciara Santos: Mônica Bichara 🙈
Jaciara Santos: fim do suspense! Aff... já estava prestes a lhe atravessar e contar o desfecho rs rs rs
Mônica Bichara: Kkkkkkk não ia ter graça
Jose Jesus Barreto: Tinha um cidadão do interior, produtor da região do sisal, um desmarcado. Quando ele aparecia no 63, ladeira da Montanha, muita menina traquejada se escondia, a despeito da generosidade do jegue. Verdade.
Jaciara Santos: oxe, se ela conversasse com "Luci" (nome fictício), resolvia o problema
Isabel Santos: Pois é, Jaciara Santos, 'Luci', minha conterrânea, sabia onde dormiam as cobras. Ao lhe acompanhar nessa reportagem ficou muito marcante para nós a bacia, lembra?
Emiliano José: Que bacia?
Jaciara Santos: ahahahahahahaha, a baciinha "pra fazer o asseio...". se o diretor se escandalizou com o tamanho do membro, imagina se eu falo da bacia que as moças usavam entre uma e outra função. Uma bacia pequena, de plástico...
Emiliano José: Vai ver frequentava... Iria se escandalizar.
Jaciara Santos: Emiliano José se bem que, olhei agora, eu coloquei, sim, Bel Isabel Santos: "(...) Ao canto, uma jarra plástica, dentro de uma bacia, também plástica, ambos sobre um banquinho de madeira..." (Só não entrei em detalhes sobre a utilidade desses utensílios. Eu acho...)
Emiliano José: Tá saindo é coisa nova...
Jose Jesus Barreto: Usei muito, cumade. Bacia esmaltada. Jarra, toalhinha, papel higiênico, aquele odor... afffe ! Dá até saudade rsrsrsrsr
Cely Barbosa 😂😂😂😂
Jaciara Santos: Matheus Morais, tá acompanhando a série?
Matheus Morais: Tô adorando, Dinha! Que histórias maravilhosas
Jaciara Santos: Renato Souza, Luciana Rodrigues, Paulino Jose Dos Santos acompanhem a série...
Renato Souza Kkkkkkkk tô me divertindo
Jaciara Santos: Renato Souza mas pega do início. Tem Mônica Bichara, Isabel Santos...

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Emiliano José
1º de Outubro 2019
Irmã Dulce

Jornalista é metamorfose ambulante.
Ora pode viver noites com as putas.
Ora pode conviver com a santa.
Acaba conhecendo o mundo.
Confrontado diariamente com a diversidade.
Esse exercício pode torná-lo, torná-la, um ser tolerante, aberto, quase sem preconceitos.
Pode.
Não necessariamente, claro.
Há quem não saia do lugar.
Jaciara experimentou de tudo um pouco.
Já disse: quem foi de Geral aprende muito.
Sai de suas zonas de conforto.
Das putas à santa, um pulo.,
Viveu experiência inesquecível com Irmã Dulce, hoje santa consagrada pela Santa Madre Igreja.
Pautada, seguiu para Roma.
O bairro onde fica a sede da Instituição então dirigida por Irmã Dulce chama-se Roma. Fotógrafo, Anízio Carvalho.
Chegou de manhã, pouco depois das 8 horas.
É informada: a religiosa estava em ronda pelo hospital.
Pedia-se um pouco de paciência.
Já tomada da arrogância de jovem repórter, Jaciara não escondeu a insatisfação.
Mas, que fazer?
Furar a matéria, não podia.
Era reportagem de interesse da direção.
Esperar, não obstante indignada.
Mais de uma hora decorrida, depara-se com a figura franzina, muito miúda, visívelmente apressada.
Queria continuar vendo as coisas.
- Você pode nos acompanhar.
Jaciara concorda mas explica quero falar sobre os seus pobres, obras sociais, o alcance do seu trabalho social.
Irmã Dulce, nenhum interesse:
- Falar o quê sobre mim, minha filha?
Jornalista sempre acha ser o condutor do mundo, dirigente da fonte.
Jaciara recebe a ducha de água fria.
E antes de qualquer contra-argumentação,
Irmã Dulce completa:
- Vamos falar sobre o que meus velhinhos estão precisando?
Jaciara foi perdendo a pose, percebia a grandeza daquela mulher, sentia sua dianteira.
Ia ser difícil assumir o controle da entrevista.
E precisa?
Não pode deixar as coisas correrem e escrever sobre elas?
Ela segue atrás da pequena criatura,
elétrica, determinada,
autoridade a emanar de sua alma:
manda uma funcionária dar um jeito no balde de água suja e utensílios de limpeza esquecidos num canto,
entra na enfermaria geriátrica,
chama cada paciente pelo nome,
como está?
melhorou?
como amanheceu?
o apetite?
Olha o curativo de um, ajeita os lençóis de outro, ouve as queixas de um deles...
Que energia.
E que carinho, quanto amor.
Ia apreendendo...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Era sempre uma pauta que enchia nossos olhos e acelerava o coração. Acompanhar a rotina do nosso Anjo Bom era pura emoção. E Jaciara sabia traduzir como ninguém
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Emiliano José
2 de Outubro 2019
Amor

Jaciara acompanhava Irmã Dulce, atenta a cada movimento dela.
Na ala das crianças com deficiência, pergunta sobre a evolução de um bebê.
Ordena a troca de fraldas de outro.
- Cadê o médico? Já passou por aqui?
Com desculpa da metáfora, parecia um general à frente de seu exército.
Um general do bem.
Jaciara olha para um menino com hidrocefalia.
O corpinho mirrado, esquelético, contrastava com a cabeça descomunal, assustadoramente grande.
Irmã Dulce vai se aproximando olhando para o menino deixando trair uma ternura só dedicada a ele, a mais ninguém.
Acerca-se do berço e surpreendendo a todos toma a criança no colo, revelando insuspeitada força.
Abraça o menino, beija-o, desdobra-se em carinhos, sussurra, balbucia, comunica-se com ele.
Dele, do menino acarinhado, recebe de volta risos cheios de prazer.
Irmã Dulce, pouco dada ao riso, também sorri.
É, o amor, o carinho, a atenção têm poderes milagrosos.
À chegada da pequena comitiva, parecia uma criatura sem vida.
A mão carinhosa, os beijos e abraços cheios de amor, as palavras sussurradas envoltas em ternura, as suaves brincadeiras trouxeram-no de volta à existência, mostrando-se capaz de relacionar-se com o outro.
Muito provavelmente Irmã Dulce inspirava-se nas andanças de Jesus.
Suas mãos, conta a Bíblia, tinham especial preferência pelos pobres, leprosos, doentes, pelos pequeninos, pelos lazarentos, pelas prostitutas, Lázaro levanta-te e anda, recomendação a ecoar pelos séculos.
Nesse exemplo mirava-se, no Deus amoroso.
O do Novo Testamento, carta de amor.
Não no Velho Testamento, de onde emerge um Deus punitivista e rigoroso.
Jaciara, diante da cena, não consegue disfarçar a emoção.
A santa conta: o menino fora a abandonado pela família.
Nem toda família é generosa com um menino assim vai explicando menino esteve desenganado quase morreu mas graças a Santo Antônio está firme e forte.
A Santo Antônio e a ela, a santa, pensa Jaciara.
Enquanto conversava com a santa, percebe a movimentação de alguns funcionários em direção à cama do menino.
Passam a lhe fazer carinhos.
Irmã Dulce contagiara o entorno.
A cena nunca mais seria esquecida por Jaciara.
Ela sabe por que Irmã Dulce tornou-se santa.
A impaciência, a arrogância da chegada desapareceram.
Ao final, no meio do dia, experimentava uma indescritível sensação de bem-estar.
Entregou-se ao carisma de Irmã Dulce, constatou nela total ausência de vaidade.
Por isso, santa.
Por pensar e amar os outros, santa.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Revivendo aqui todas essas emoções... Obrigada. Muito obrigada.
Mônica Bichara: Nem me fale dessa ala de crianças com deficiência. TB foi aí a maior emoção da minha carreira
Emiliano José: Mônica Bichara Curioso, vocês sofreram as mesmas dores.
Mônica Bichara: Verdade Emiliano. Já contei isso aqui, no meu caso foi cobrindo a visita de Madre Teresa a Irmã Dulce no hospital Santo Antônio. Nessa ala das pessoas com deficiência uma menina bem grandinha, adolescente, veio correndo e se jogou no colo da nossa santa. Devia ser mais pesada do q ela. Mas qdo Irmã Dulce contou q ela foi parar lá pq foi resgatada do trilho do trem, onde foi colocada provavelmente pelos pais. Nem sei como consegui terminar a cobertura. Pena não ter essa matéria guardada
Emiliano José: Mônica Bichara Só procurar. E achar. 😘 Jaciara andou pela Biblioteca Central. Será que o arquivo do Jba não foi preservado? Tudo é possível...
Mônica Bichara: A última vez que eu soube estava em um local úmido, pastas jogadas no chão. Mas é possível que tenha sido preservado, gostaria muito de saber
Jose Jesus Barreto: Bonito, muito bonito.
Emiliano José: Jose Jesus Barreto Meu mestre, honrado.
Cely Barbosa: Essas meninas e suas histórias maravilhosas! Obrigada Emiliano.
Emiliano José: Cely Barbosa Eu sou o agradecido...
Lucia Correia Lima: Uma pena que hoje, fui lá fazer exames de sangue, todos são marcados para 7h as pessoas idosas carentes são amontoadas sem bancos para sentarem, sem água funcionários nada gentis, e, muitas são atendidas até as 11hs com fome devido ao jejum obrigatório.
Qdo reclamamos soltam números de atendimentos. Qualidade nada.
Graça Azevedo: Estou emocionada com as histórias das sócias.
Jaciara Santos: ainda mais contadas por um escritor como Emiliano, né?...
Graça Azevedo: Jaciara Santos Só gente TOP!
Sarno Carlos: Mano, parece que ascendente lírico vai ocupando cada vez mais espaço. O irmão Zanetti deve tá desconfiado. Bonito texto.
Emiliano José: Sarno Carlos Vindo do poeta, orgulho.
Emiliano José: Zanetti é capaz de achar esteja deixando a militância...

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(Prêmio de reportagem do BB)

Emiliano José
3 de Outubro 2019
Ou eu ou ele!

Ser jornalista não é qualquer coisa, não.
Você corre riscos, muitos.
O primeiro, o de se apaixonar.
Não é raro.
Jaciara não nega: o "Jornal da Bahia" foi o seu primeiro amor.
O verdadeiro primeiro amor.
Avassalador, capaz de provocar rompimentos.
Para o bem em muitos casos.
O "Jornal da Bahia" foi para ela uma espécie de deus ex-machina: chegou para perturbar, mexer com tudo, mudar a vida.
Estava noiva, posta em sossego.
Exagero: nada de posta em sossego.
Verdade, verdade, cartas à mesa: vivia um relacionamento tóxico.
Pense num cara ciumento.
Pense num sujeito possessivo.
O rapaz era assim: todo macho.
Pensava ser dono e senhor da situação.
Há homens cuja mentalidade os leva a considerar a mulher como propriedade deles.
E o rapaz ampliava o seu ciúme: rejeitava abertamente a profissão escolhida por Jaciara.
Sabia, ele sabia, dizia saber: ela arrumara uma profissão onde só havia maconheiros, viados e putas.
Um celeiro de perdição.
Diante desse mundo pervertido, danou-se a pressionar a noiva, incomodado, impaciente, nervoso, irritadiço.
Um dia, depois de muitos desentendimentos, Jaciara sempre rebarbando, desrespeitando a autoridade do homem, ouviu o ultimato:
- Ou eu ou ele!
Deu ele.
Tirou a aliança e caiu nos braços do outro,.o "Jornal da Bahia".
"Esses moços, pobres moços, ah se soubessem o que eu sei", o velho Lupicínio alertava.
A vida já me ensinou: se quiser resolver pendência amorosa, nunca, nunca vá para a fórmula "ou eu ou ele", "ou eu ou ela".
O eu sempre dança.
O outro, a outra, parece à espera pra saltar fora.
E salta.
Assim com Jaciara, já mergulhada em outra paixão, o jornalismo.
Paixão a exigir sacrifícios sob situações embaraçosas.
Embaraçada, aliás, é palavra em espanhol para designar mulheres prenhas, e Jaciara nesse episódio carregava barriga de sete meses.
Mas, não é de gravidez o acontecimento.
Ou ao menos não diretamente.
É a história da baba de seu Biliu.
Baba, baba.
Não é futebol.
Final de junho de 1980, São Pedro em São João do Cabrito, perto de Plataforma, subúrbio de Salvador.
Carecia encontrar o morador mais antigo do Cabrito.
Ele contaria a origem dos festejos...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS
Paulino Jose Dos Santos: Por isso ela "Jaciara Santos" também não bebe caldo de cana uma história de um carnaval de Salvador essa poucos sabem.
Jaciara Santos: kkkkkkkkkkkkkkkkk DEXAKETO
Renato Souza: Gente... que maravilha saber de tantas histórias <3 span="">
Jaciara Santos: quem não gosta muito da história de seu Biliu é Luciana Rodrigues...
Jaciara Santos: e não vale "furar" o novelista, viu, Luciana Rodrigues? Deixa ele conduzir o relato como bem lhe aprouver rs rs rs
Emiliano José: Jaciara agora vai contar essa história. Senão, vou atrás. Sou repórter. Caldo de cana turbinado?
Jaciara Santos: DEXAKETO 🤣🤣🤣🤣🤣
Emiliano José: Nada de dexaketo. Ajoelhou tem que rezar...
Matheus Morais: A da baba eu conheço! Hahahhahahhshsa. Dinha, minha ídola para sempre! ♥️♥️♥️♥️♥️♥️♥️
Luís Filipe Veloso: Jaciara Santos, tô meio atônito... Rs... Vou digerir melhor esse texto que lhe faz ainda maior do que já a consideramos!
Jaciara Santos: menos, mestre, menos...
Regina Celia Souza: Esse é o verdadeiro PODER das mulheres que AMA o que faz, ser lembrada e homenageada sempre, ainda mais quando está muito VIVA , para poder ler tudo isso. Mil curtidas para nossa Jaci!
Mônica Bichara: O cara parecia que nem conhecia a noiva que tinha....imaginar que essa virginiana autêntica ia aceitar um "ou eu ou ele". Claro que seria "ele", ainda mais esse "ele" sendo o nosso primeiro grande amor, o JBa
Mônica Bichara: Quanto a seu Biliu.....Paulo Mocofaia tem que ser convocado com urgência
Emiliano José: Mônica Bichara Falei com ele ontem. Está esperando
Mônica Bichara: Ele está no face? Acho q não
Emiliano José: Mônica Bichara sou repórter. Falei pessoalmente. Conheci Mocofaia motorista do Estadão. Eu, repórter. Logo depois, o encontro fotógrafo talentoso. Sempre bem-humorado
Mônica Bichara: Ele tinha q estar aqui
Adilson Borges: "EU!", EU!", EU!"
O jornalismo gritou em coro com centenas de vozes combativas!
Mônica Bichara: Não Adilson Borges, gritamos "ELE, "ELE", "ELE", no caso o sujeitinho oooozado era o "EU" kkkkkkk

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Emiliano José
4 de Outubro 2019
Terror num fio de baba

Jaciara andou bastante até encontrar o morador mais antigo de São João do Cabrito.
Por aquelas redondezas, aqueles subúrbios, andar andei muito.
Com Jorge de Jesus, fotógrafo sempre bem humorado, caminhei por Plataforma, ali encostado.
Jesus me apoiava.
O Jorge.
Eu, candidato.
Até feijoada organizou pra me recepcionar em sua casa.
Pense num sujeito gente boa.
Do outro lado, Alto do Cabrito, estive em casa do querido amigo Raymundo Mazzei, notável jornalista, também me apoiando para deputado.
Morava, creio, num conjunto de casas da Petrobras.
Marina, filha dele, doce e querida criatura, será minha secretária quando em mandatos parlamentares. Emília, outra filha, trabalhará comigo como jornalista, as duas, amizades eternas.
Com Dirceu Régis, poeta e companheiro de prisão, caminhei pelo Lobato, andança política.
Encontrou o mais velho.
O contador de histórias.
Um ancião como a matéria pedia.
Simpático, acolhedor que só o diabo.
Sentia-se muito à vontade ao receber os dois, Paulo Mocofaia, fotógrafo, e Jaciara.
Mocofaia era motorista no meu tempo de Estadão.
Depois, excelente com a câmera na mão.
A seu Biliu, pouco se lhe dava fosse de chão batido sua casa.
Dava dignidade a ela.
Asseadíssima, limpíssima.
Um palácio.
Jaciara ouvindo, feliz com o guardião da história dos festejos de São Pedro.
Jornalista sabe do deslumbramento de se ver frente a frente com um bom contador de histórias.
Você viaja, segue com ele estrada afora.
Jaciara sentiu o calor das fogueiras nos quintais, os fogos, os balões subindo, crianças correndo na noite escura.
O contador revelando o mundo do passado pra ela, deslumbrada.
Quanta alegria ao descobrir em seu Biliu um criador de caprinos, justo ela crescida no leite de cabra.
- Peraí, volto já! - disse Biliu.
Trouxe um caneco de alumínio transbordante de leite, fresquinho, fresquinho, tirado naquela horinha.
Jaciara reluta.
Pensa nas lições da escola, nada de intimidades entre fonte e repórter.
Mas pensa também na recusa, poderia ofendê-lo.
A oferta tornou seu olhar ainda mais atento.
Olha pra ele, um ancião passado dos 90 já a sofrer do Mal de Parkinson, mãos tremendo levemente, um único dente na boca avariado pela cárie, e o mais grave: o olhar vigilante dela percebe um fio de baba pendendo do lábio inferior dele.
Ah, que terror.
Jaciara...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Luciana Rodrigues, vai perder? (postei e saí correndo rs rs rs). Ah, essas #MemóriasJornalismoEmiliano...
Luciana Rodrigues: Kkkkk ouço essa história desde pequeninha... Esse fiozinho de baba diliça 😜
Mônica Bichara: Kkkkkkkkk isso vai render mais q as moças do 63
Emiliano José: Tenham calma... A vida é complexa... É mais que novela...

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Emiliano José
5 de Outubro 2019

A teia de aranha

E o seu Biliu estava ali à sua frente.
Mirrado, mirradinho nos seus 90 e caquerada.
Jaciara agora via um gigante.
Ameaçador.
Que transmutação!
Do velhinho tranquilo, do cândido contador de histórias, do cronista das noites de São Pedro, para um ser monstruoso como aquele.
- Beba, minha filha!
Segurava o copo de alumínio transbordante de leite de cabra.
Olhava pra ela com ternura, ela já com raiva e medo já não o via como antes.
- Tirado agora agorinha.
- De cabra de boa saúde!
Que terror - a baba pendia do lábio inferior de seu Biliu.
Parecia uma fina teia de aranha, resistente.
Ia assim se alongando, alongando, descendo, e seu Biliu na inocência ou maldade dos seus 90 e muitos anos insistindo:
- Beba, minha filha! Vai se lembrar de seus tempos de criança.
E Jaciara em transe, terra em transe no barraco de São João do Cabrito.
O mundo havia parado.
Era apenas um caneco de alumínio cheio de leite de cabra.
E a baba, branquinha e fininha.
Teia de aranha.
Não tirava o olhar do caneco e da baba.
O mundo era aquilo.
Só aquilo.
O olhar de terror cresce quando percebe um movimento e um barulhinho a ela de parecença com um trovão:
Ploft!
Tudo isso aconteceu em câmera lenta, como nos filmes de terror de sua adolescência.
É: terror!
Seu Biliu, impassível.
Insistia na gentileza ou, não se descarte, na maldade:
- Beba, minha filha. Você não sabe o quanto vai lhe fazer bem.
Acrescentou:
- Pra mulher prenha é um santo remédio.
Grávida de sete meses.
O leite a baba o filho o porvir a cabeça em polvorosa turbilhão.
E seu Biliu nada, parecia não ter qualquer noção da baba, do ploft, do leite de cabra agora condimentado.
Claro, caíra apenas uma pontinha da baba, não ia alterar o gosto do leite.
A aranha continuava a tecer.
Mas, diante do ploft, Jaciara sai do transe. Vira-se para Paulo Mocofaia, o diligente fotógrafo, e fala baixinho:
- Eu não vou beber esse leite com cuspe!
Diz com raiva...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Graça Azevedo, depois desta, acho que você vai pensar duas vezes antes de me deixar usar suas taças...
Jaciara Santos: Elissandra Deocleciano, conhecia essa história? Mas tem que pegar do começo...
Jaciara Santos: Ah, essas memórias de Emiliano...
Regina Celia Souza: Jaciara Santos Que ploft tenso. Se fosse hj vc diria que é intolerante a lactose kkkkk
Jaciara Santos: Regina Celia Souza leu do início?...
Flavia Vasconcelos: Ecaaaaaaa!!!!
Jaciara Santos: Flavia Vasconcelos aguarde o final...
Flavia Vasconcelos: Jaciara Santos jesus...
Mônica Bichara: Tinha que ser Mocofaia nessa pauta kkkkkkk Pedir socorro a ele era o mesmo que dizer ATIRE LOGO, mizera ....E nova teia se formando
Jaciara Santos: Mônica Bichara conte a história da galeria 13. Essa e a da Cracolândia eu não lembro com detalhes...
Emiliano José: É, Mônica, se solte, esconde ouro não...
Mônica Bichara: Kkkkkkkkkk Mocofaia tem história q não acaba mais. Eu e Jaci éramos as cúmplices preferidas e Isabel Santos a vítima 01
Mônica Bichara: Na Cracolândia foi a Galeria 13, q funcionava lá, na Rua da Independência, onde diziam as más línguas que funcionavam TB alguns bregas. Saímos juntos pra cumprir pautas minhas e de Jaci com Mocofaia. Uma delas com Deraldo, o artista dono da Galeria 13. Na porta com as duas, o safado aguardou umas senhoras se aproximarem e tascou, tendo o cuidado de aumentar bem a voz pra ser ouvido: "Vocês têm certeza que querem mesmo ir as duas de vez? Porque eu dou pra todas, mas depois não reclamem". As criaturas devem ter sofrido torcicolo braba, pq a virada de pescoço foi radical. Ordinário foi o mínimo q chamamos o kengo
Jaciara Santos: Lembrando agora... Kkkkkkkkk haja história com esse Mocofaia!
Mônica Bichara: Um dia, na Chapada do Rio Vermelho, ele viu uns meninos fumando, mandou parar o carro (que não tinha logotipo do jornal) e chamou os garotos com voz de autoridade, perguntando pq estavam fumando. Acho que os bichinhos estão correndo até hj

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(O fotógrafo Paulo Mocofaia fotografado por Jaciara)

Emiliano José
6 de outubro 2019
Vade retro, Satanás!

Talvez não tenha sido uma boa escolha falar com Mocofaia.
Não foi bem uma escolha.
Era o único a quem dizer alguma coisa.
Era o parceiro ao lado.
O mundo continuava o mesmo pra Jaciara.
Aquele caneco de alumínio transbordante de leite.
Já depois do ploft.
Seu Biliu insistindo tome minha filha faz bem pra mulher prenha tá fresquinho tirado na hora ela toda constrangida.
Disse entredentes não vou tomar esse leite com cuspe.
Mocofaia deu um sorrisinho cheio de maldade.
O parceiro errado.
E tinha outro?
Nas muitas jornadas, já havia aprontado poucas e boas com as meninas.
Divertia-se maltratando-as, querendo brincar.
Às vezes, era divertido.
Outras, nem tanto.
Mônica Bichara guarda episódios.
Foram ela e Jaciara um dia cumprir pauta na Independência, rua bem próxima ao "Jornal da Bahia" havia muito tempo povoada de craqueiros não por acaso denominada Cracolândia putas caminhando pra lá e pra cá atrás de escassos clientes.
Iam fazer matéria na Galeria 13, de Deraldo, artista.
Quase à porta da galeria, as duas são surpreendidas por Mocofaia, que havia esperado a aproximação de duas respeitáveis senhoras:
- Vocês têm certeza de que querem mesmo ir as duas de vez? Eu dou conta das duas e vou de com força. Mas, depois não venham reclamar. Não quero chororô.
As duas mulheres voltam-se olhos esbugalhados vêem o garanhão as duas meninas tão novinhas e já na vida coitadinhas apertam o passo horrorizadas benzendo-se tentando afastar o demônio já estimulando-as a pensar a cena dos três na cama que coisa gostosa não vade retro Satanás Deus me livre guarde afasta-se Belzebu salve rainha mãe de misericórdia vida e doçura esperança nossa salve creio em Deus pai todo poderoso pai nosso que estais no céu..
E Mocofaia ria, parecia ouvir as prédicas, as duas novinhas putas.
Putas da vida, se me faço entender, que palavra é bicho amardilhento.
Ele ria também diante da ira das novinhas.
E mais mais do constrangimento das senhoras de bem.
Era, sempre foi, moleque travesso.
Por isso, logo que cochichou, Jaciara pensou no erro.
Erro, nada.
Falta de alternativa.
Procura de colo.
Errado fosse.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Bem isso... E a gente não tomava vergonha. Adorávamos sair com aquele safado. É tanta história...
Matheus Morais: Muito boa! Hahahahaha. Sensacional. Dinha tem que escrever logo suas memórias
Mônica Bichara: Sobrou pra mim kkkkkkkkk Mocofaia sozinho dava um livro. Todo ano ele inventa uma história mais cabeluda com Jaciara Santos e a fila de filhos e netos, munidos de bóia de pneu de trator, tentando entra no clube do Sesc no dia do comerciário. Claro que a farofa não podia faltar
Jaciara Santos: com um bando de meninos catarrentos e esfomeados...
Mônica Bichara: Jaciara Santos essa parte não podia faltar
Isabel Santos: Concordo, Mônica. Um livro só para os causos de Mocofaia. Sorriso na certa.
Mônica Bichara: E Isabel Santos, se dependesse do meliante, tinha uma creche, vivia em estado permanente de prenhez. Toda vez q alguém pergunta por ela, até hj, a resposta é a mesma: "Não soube não? Tá prenha"
Isabel Santos: kkkkkkkkkkkkkk Filhos e mais filhos. Continuo 'povoando' o mundo kkkkkkk Mocofaia é uma figura.
Jose Jesus Barreto: Mocofaia, amigo querido, é arreliento e perturbado, filho de Exu, o dono das encruzilhadas. Se é que já não virou crente rsrsr
Isabel Santos: kkkkkkkkkk ninguém sabe ao certo, Barretinho.

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Emiliano José
7 de outubro 2019
Beba, minha filha...

Colo com Mocofaia, Jaciara não ia encontrar.
Sempre foi da pá virada.
De vez em quando gostava de assustar maconheiros, pobrezinhos.
Mônica Bichara, boa cronista, resgatou uma dessas.
A equipe de reportagem passava pela Chapada do Rio Vermelho.
De repente, o grito:
- Para, para!
Ninguém entende.
Mocofaia, com seu olhar de lince, viu um punhado de meninos fumando tranquilamente a maconhazinha tranquilizante.
Desceu do carro.
Os meninos, ressabiados.
Pensaram: lá vem bronca.
Esperam com um medo da zorra.
Chegou cheio de pose, voz de autoridade, faltava a carteira de poliça, mas quem vai perguntar por isso?, gritando:
- Como é que é isso? Fumando assim à luz do dia?
Os meninos saíram picado, devem estar correndo até hoje.
Era a esse parceiro sempre pronto a qualquer tipo de molequeira o único a quem protestar
Mais de uma vez, baixinho de modo a não permitir a seu Biliu ouvir, Jaciara bateu pé: 'não vou beber esse leite com cuspe".
Podia dizer catarro, a porra fosse.
E minha filha?
Sete meses de prenha.
E ela mal ouvia seu Biliu falando tirado da hora faz bem pra mulher prenha desde menino sei disso minha mãe me dizia isso há mais de século.
Mal ouvia porque concentrada na baba de seu Biliu resistente como teia de aranha e no copo de leite temperado com uma gota daquela terrível baba.
- Poxa, seu Biliu, o senhor não sabe quanto lhe agradeço, mas o leite vai ficar para outra oportunidade, viu?
Seu Biliu não recuava tome minha filha já lhe disse que faz bem pra mulher prenha.
E repetia as sábias palavras da santa mãe que Deus a tenha.
- Está bem, seu Biliu, compreendo, pode ser que tenha razão, mas me deu um enjôo danado agora, e o leite vai ficar para outra oportunidade.
Vê a cara de decepção, quase de sofrimento de seu Biliu.
Mas, não podia ceder.
Por que Luciana, com sete meses, tinha de tomar aquela porra?
Permanecia irredutível.
Não tinha vocação para Sócrates jura ter lembrado das lições de história o filósofo tomando cicuta ficou para a posteridade a posteridade que se foda bebo não agora quero saber é de meu filho...
Ela mal ouvia, mas ao longe, quase imperceptível, a vozinha trôpega e insistente:
- Beba, minha filha...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Era Luciana, né Jaciara Santos? As tiradas de Mocofaia eram as melhores, a gente se divertia
Jaciara Santos: sim sim... e ela (Luciana Rodrigues) não consegue esquecer essa história. De vez em quando, passa na minha cara. Sem "spoiler", viu Lu?
Jaciara Santos: Emiliano, tô quase chamando isso de tortura... Tá parecendo o "Quem matou Odete Roitman?", (Vale Tudo - 1988), de Gilberto Braga rs rs rs
Emiliano José: Que posso fazer? Roteirista e protagonista é você...Amanhã, se me der chance, você se livra do leite temperado...
Mônica Bichara: Nunca deixamos ela (Luciana) esquecer, deve ter aversão a leite
Adolpho Henrique: Almeida Loyola Joana Vitória
Joana Vitória: Tiago Rocha mostra a seu pai
Isabel Santos: Que será que vem por aí? Coisas do espirituoso Mocofaia. Jaci, nessa época, já estava assinando a sina dela com ele, que não cansa de nos fazer rir, até hoje, com seus causos. Eu e Mônica também somos suas 'vítimas', mas em menor grau kkkkkkkkkk Não tem como não abrir um sorriso ao ver Mocofaia, gente fina.
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Emiliano José
8 de outubro 2019
Jaciara toma o leite

Não aquele leite não seu Biliu me desculpasse mas não ia beber.
Inda mais com Luciana na barriga.
Porra nenhuma.
Tinha amor à vida.
E à filha por vir.
Desconfiava, mas não imaginou pudesse Mocofaia deixar de protegê-la.
Dessa vez, ela prenha, estaria ao seu lado.
Era um quadro de horror.
Se ela relutara em tomar o leite desde o primeiro momento quando vindo do quintal em passos trôpegos seu Biliu atravessou o umbral da porta com aquele caneco de alumínio na mão, imagine depois do ploft! quando caiu um tantinho da baba dele no leite.
Pela cabeça lhe passava de um tudo.
Quem disse não ter seu Biliu uma tuberculose uma pneumonia uma doença catarrenta qualquer..
Só de pensar lhe vinham ânsias de vômito não não ia beber aquele leite nem que a vaca tussa.
Claro, diante disso tudo, teria o apoio de Mocofaia.
A vero, Jaciara não o conhecia.
O instinto sádico dele, brincalhão se quiserem, não resistiria.
Como perder uma oportunidade daquela?
Perco a amiga, mas não perco a piada - sempre foi a filosofia dele.
Era história pra não sair das rodas de conversa
dos jornalistas baianos por décadas.
Ao ouvir o murmúrio dela, recusa em beber o leite da cabra sadia tirado na hora pelo pobre velhinho tão acolhedor, ele disse bem alto:
- De jeito nenhum!
- Como? - reagiu Jaciara, baixinho, intimidada.
- Você não vai fazer uma desfeita dessa com seu Biliu, né?
Faltou morrer.
Que filho de uma puta! - pensou.
Como faz isso comigo?
Foi educada para não fazer desfeita.
Respeitar aos mais velhos.
Empurrada sem dó nem piedade para o cadafalso.
Olhou pra seu Biliu, caneco cheio, mãos tremendo, olhando pra ela cheio de alegria e esperança depois das palavras de Mocofaia, a moça agora não havia de recusar, de fazer desfeita, parecia ler o pensamento dele.
Jaciara, à beira do precipício, estende as duas mãos, pega o caneco, ainda olha pra resistente baba a pender do lábio inferior de seu Biliu, para o copo cheio, o líquido branquinho branquinho, pensa Deus me proteja e à minha filha nos livre do mal amém e bebe tudo de uma só vez, tivesse de ser, fosse.
Passou o dia vomitando.
Sobreviveu para contar a história.
A filha nasceu sadia.
Firme e forte.
Afinal, um copo de leite não faz mal a ninguém.
E cuspe às vezes ajuda em algumas situações. 
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: não sei como a amizade com o fdp do Paulo sobreviveu a esse teste, mas somos amigos até hoje. E, por onde ele passa, faz questão de contar essa sacanagem que fez comigo. Quando lembro, dá vontade de vomitar de novo...
David Go Leal: Risos. Bam parece as visitas a comunidades no sertão: 3 anos sem chover regularmente. De água, somente a captada pelo telhado empoeirado. A varanda apinhada de gente, vizinhos, comunidade. A presença do Gestor de Projetos da Petrobras, tratado como autoridade e carinho. Local ermo. Sede. Uma moringa e um caneco de alumínio aparecem para matar a sete. O caneco é o mesmo. A alça orienta o local certo de sorver o líquido. Recebi o copo pela metade. A ninguém foi dado cheio. Tomei de um gole e percorrendo os olhos pelos lábios que indiretamente beijei.
Jaciara Santos: Luciana Rodrigues, não tem jeito. Saga é saga...
Mônica Bichara: kkkkkkkkk Jaci chegou na redação botando os bofes pra fora e xingando o meliante de tudo quanto era nome. Ele só fazia rir, chega engasgava de tanto rir e contar que a desalmada da prenha queria fazer desfeita a seu Biliu. Sujeito ordinário, logo com minha dinda Luciana Rodrigues... E o pior que Jaciara Santos grávida a gente encontrava em qualquer lugar, era só seguir as pegadas, digo as cuspidas pela cidade. Imaginem depois do leite babado. Vc se livrou dessa, Leonardo Aguiar
Jaciara Santos: tem coisas que só acontecem comigo... Eu mereço!
Emiliano José: Jaciara Santos eita mundo marvado...
Mônica Bichara: Merece, não posso negar
Emiliano José: Mônica Bichara merece, não, gente ruim a persegue
Isabel Santos: kkkkk E Lu taí, uma moça muita da arretada. Leite de cabra é leite de cabra, tomado de qualquer jeito, mesmo com a mãe colocando os bofes pra fora. Esse Mocofoia, hein, 'comades'. Êtcha tempos bons, contados com tanta graça e leveza por você, querido escritor Emiliano José.
Leonardo Aguiar: ahahahaha Tô me acabando de rir! ahahaha
Mônica Bichara: Leonardo Aguiar vc escapou de boa, Lu pegou a fase mais inspirada do meliante
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Emiliano José
9 de outubro 2019
Sangue no asfalto

Sábado, 14.
Mormaço da tarde.
Calor, suor e cerveja.
Março de 1981.
Bar do careca.
Matérias entregues.
Jaciara, o chefe de reportagem Chico Vasconcelos, Mônica Bichara, Isabel Santos tentavam amenizar o calor.
Cerveja ajuda.
E baiano gosta um tiquinho.
Bar do Careca era coisa de cinema, comum e singular.
Pertinho pertinho do "Jornal da Bahia".
Bar, modo de dizer.
Bar é coisa chique.
Boteco.
Xexelento.
A ele você chegava percorrendo um beco estreitíssimo de mão única.
Ralando as paredes.
Barroquinha.
Tarde agradável.
Embalada pelo álcool, melhor ainda.
Num boteco daquele, então, paraíso.
Chega o office-boy esbaforido.
O redator-chefe quer todos na redação.
Imediatamente.
Lá, tomam conhecimento:
correu sangue na Calçada.
Jaciara até pensou em manchete.
Um oficial da PM foi morto, outro gravemente ferido terminou paraplégico.
Bem, nem se sabe como jornalistas estavam tão à vontade numa tarde de sábado.
A cidade desde sexta, 13, estava em polvorosa.
Havia estourado uma greve.
Da PM.
E greve de gente armada nunca dá coisa boa.
Menos ainda se o governante tiver espírito visceralmente autoritário.
Era o caso.
ACM era o governador.
Seu segundo mandato biônico.
Não contou conversa.
Nada de diálogo.
Pediu ajuda das Forças Armadas.
Com elas, tinha prestígio.
E não era de hoje.
Tinha conversa, não.
Qualquer coisa, meter bala.
Fuzileiros Navais entraram em campo com todo seu espírito bélico.
Uma guerrinha de vez em quando faz bem pra tropa.
A ninguém é dado esquecer: o País ainda vivia sob uma ditadura, cujo fim só ocorrerá em 1985.
Naquele sábado, fuzileiros navais e oficiais da PM se estranharam pra valer no bairro da Calçada.
Tiroteio.
Dois corpos estendidos no chão.
Sangue no asfalto.
Requeria tropa na rua.
De jornalistas.
Para isso, o redator-chefe os chamara.
Deu as primeiras orientações, distribuiu responsabilidades, e disse rua urgente que atrás vem gente...
Jaciara saiu cheia de adrenalina.
Não era uma pauta qualquer.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: eu, Bel (Isabel Santos) e Chico Vasconcellos fomos para o front... Nem deu pra pensar direito.
Jaciara Santos: A matéria que fizemos a não sei quantas mãos rs rs
Mônica Bichara: Que relíquias, Jaci. Pena q jogaram fora todo o meu arquivo de matérias. Foram dias tensos. Tenho fotos do bar de careca, um fundo de buteco todo grafitado com nossos nomes (vou postar mais tarde)
Emiliano José: Mônica Bichara Como é que alguém joga fora todo o seu arquivo? Vândalos invadiram sua casa? Loucura...
Mônica Bichara: Uma das fotos que falei, no bar de Careca, em frente ao Jornal da Bahia, na Barroquinha. Tasso Paes Franco, Marcelo Simoes, Pedro Augusto (olha Socorro Araújo) quase não aparece...

Mônica Bichara: Na parede "Jaciara vem aí?", "Bogê: Boca do inferno" kkkkk. Lembro que tinha "Silvete Marciana", era Silvia Maria Nascimento

Emiliano José: que maravilha, Mônica. Vamos precisar disso à frente, se fizermos o livro. Especial. Coisa de cinema...
Mônica Bichara: Rafael Pastore, o editor chefe, e o chefe de reportagem Tasso Paes Franco, na farra com a gente. Tempos do jornalismo boêmio

Emiliano José: Mônica Bichara Não parece Rafael. Mais pra Marcelo Simões. Tasso, óbvio. Cheque.
Mônica Bichara: Pastore sim, Marcelo está na outra foto
Emiliano José: Mônica Bichara Olhei melhor. Tem razão.
Mônica Bichara: Dalton Godinho dançando com Jorge Lindsay kkkkkkkk a gente se divertia

Mônica Bichara: Dias de costas (na parede Silvete Marciana. Olha aí Silvia Maria Nascimento)

Silvia Maria Nascimento: Quem pôs este apelido em mim foi Marcelo Dantas. Ele disse que passou por mim e eu estava aérea e não falei com ele. Na verdade, a vida toda e ainda tenho este tipo de distração. Na época eu era muito míope e andava sem os óculos. Nem imagino porquê este apelido foi parar neste bar. Só fui ali uma única vez e nem gostei do lugar, achei apertado, barulhento. Quando saía do estágio no jornal, queria mais era correr para o terminal para não perder o ônibus. Também, eu não bebia. Sempre fui uma jornalista atípica: não bebia, não fumava nem era de esquerda. Rsrsrs
Mônica Bichara: Silvia Maria Nascimento kkkkkkk TB não sei como o apelido foi parar ali, acho q pintaram com todos da redação. Tinha o meu TB, mas não aparece em nenhuma foto
Isabel Santos: Momento muito forte, de muita emoção, sim, Adrenalina pura. Lembro direitinho...
Mônica Bichara: Olha Chico Vasconcellos, o texto e as fotos
Delegado Valdir Barbosa: Bela viagem no tempo amiga. Bem lembrada e bem dita. Afinal, sua pena é bendita.
Ana Virgínia Vilalva: Emiliano, esse livro sai quando?? Quero ler tudo de vez!! Ansiosa pelos Contos de Jaci nas Ruas de Salvador
Emiliano José: A ver. Ainda tem muita estrada. Beijo
Ana Virgínia Vilalva: Estou adorando acompanhar por aqui seus textos.
Mônica Bichara: Ana Virgínia Vilalva seus pais TB são boas lembranças dessa fase. Lembro bem de vc vestida de bailarina na redação. Bj
Ana Virgínia Vilalva: Mônica 🥰🥰🥰 ohhh meu playground favorito
Jaciara Santos: Mônica Bichara eu sempre digo pra ela: você é a minha garotinha, minha delicinha. Nem adianta vir posar de mulher casada e tals...

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Emiliano José
10 de outubro 2019
Campo de guerra

ACM apelou às Forças Armadas.
Salvador, tensa.
Desde cedo e desde o dia anterior, 13, quando a greve da PM se iniciara, a redação do "Jornal da Bahia e de toda a imprensa respirava greve.
A farra no boteco do Careca foi interrompida depois das 15 horas.
Interrupção provocada pela morte do 1º tenente da PM, Walmir Alcântara dos Santos.
Com ele, foi atingido o 2º tenente João Mário de Almeida
Uma bala na coluna o deixou paraplégico.
Às 15hs, quando já havia sinais de recuo dos grevistas e já se articulava o restabelecimento do policiamento da capital, um grupo fardado de cinco tenentes da PM, numa atitude isolada, espontaneamente, decidiu tomar uma viatura dos Fuzileiros Navais na mão grande.
A viatura, um Volks, estava aos cuidados de um sargento e soldados.
Fuzileiros.
Tudo acontecendo no Largo da Calçada, Cidade Baixa, Salvador.
Na tentativa, quando parecia tudo dominado, os cinco tenentes são surpreendidos pela retaguarda: de uma Kombi, salta um magote de fuzileiros já metendo bala, sem contar conversa.
São secundados por outros fuzileiros, localizados em pontos estratégicos, também cuspindo fogo.
Os tenentes da PM de armas nas mãos tentam reagir.
Sem chance.
O oficial da Marinha, comandante do policiamento ostensivo do Largo da Calçada, ordenava aos gritos o deslocamento dos fuzileiros para posições de defesa.
E solicitava reforço imediato da Marinha e do Exército.
Era guerra.
Não demorou e viaturas com sirenes ligadas caminhões camionetas da Marinha carros da Polícia Civil Polícia Federal Polícia Rodoviária Federal vindos de tudo quanto é canto chegavam para tomar conta da situação.
O Largo da Calçada virou praça de guerra.
Edifícios foram tomados manu militari.
Casas comerciais, fechadas.
Apocalipse now.
Esperava-se um revide dos grevistas, vingança.
Não ocorreu logo.
Chega uma veraneio com vários oficiais do Exército.
Informam estar a caminho uma frota de caminhões lotados por soldados da Força Militar Terrestre.
O Exército assume a direção.
Pronto para o que desse e viesse.
Pronto para o confronto.
Acabou não ocorrendo.
Foi nesse clima tenso, nervoso, oficial morto, outro baleado, Largo da Calçada transformado em praça de guerra, o desembarque de Jaciara para a cobertura.
Quando deu por si, estava a caminho da Calçada
Ela, Chico Vasconcelos, Isabel Santos.
Nem sabe como se chegou à definição dessa equipe.
O coração, descompassado.
Parecia saltar boca afora.
Nervos, à flor da pele.
Jaciara, contudo, tinha uma convicção: queria estar naquela cobertura.
Desse no que desse.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Isabel Santos, conta aqui o que lembra do episódio...
Isabel Santos: Sua memória do passado é bem melhor que a minha. Sou chegada a aquela frase 'deu um branco", sabe como é?rsss Mas foi um momento ímpar essa cobertura. Fomos destemidas (o), chegando a enfrentar a arrogância de alguns militares, como você lembra bem. Emiliano José me pede algum depoimento. Estou tentando aqui lembrar. Jaci, estou achando interessante nessa sua trajetória, dois momentos que esta semana estão atuais, e que também fazem parte do meu caminhar profissional. A greve da PM e a história de Irmã Dulce, que tantas vezes entrevistei. Lembro de uma vez que ela respondia às minhas perguntas enquanto lavava literalmente o chão de uma enfermaria, com a voz bem baixinha, quase inaudível. Afinal, como fazia questão de afirmar, seus pacientes eram muitíssimo mais importantes do que ela parar seus afazeres, deixar de cuidar de seus pobres... para atender repórteres. Inoportunas presenças em alguns momentos rssssssss
Mônica Bichara: Tão atual.....Essa equipe era fera, cada cobertura mais adrenalina que a outra
Emília Couto Della-Porther: interessante lembrar daqueles dias....
Mera Carneiro: Eu me lembro dessa história...
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Emiliano José
11 de outubro 2019
Adrenalina em meio à balbúrdia

Quando Jaciara Santos, Chico Vasconcelos e Isabel Santos chegaram ao Largo da Calçada viram-se em meio a um cenário parecido com uma praça de guerra.
Era uma praça de guerra.
Jaciara confessa: só vira aquilo nas telas de cinema.
Os três esgueiravam-se procurando alguma proteção tentando chegar à estação ferroviária.
A cada passo, Jaciara nunca mais esqueceu, um soldado armado, e carrancudo.
E tensos, todos eles.
Foi apresentada às baionetas: nunca vira uma.
Viu-as caladas entrando no corpo inimigo invadindo entranhas o sangue jorrando o ódio e o medo nas faces os filmes invadindo sua alma.
Adrenalina pura.
Isabel dirá: misto de tensão, medo, terror.
E prazer.
A ideia de ser parte de um momento rico da história, trágico fosse.
Estar no front, ao lado de dois companheiros de profissão, especialmente para ela junto de Jaciara.
Era uma sensação curiosa, a de Isabel:
- Duas mulheres, duas jovens profissionais mostrando a sua força, nada de indefesas, não temíamos enfrentar as adversidades para cumprir a missão de bem informar.
É verdade, ela confessa, o coração batia forte.
Havia algum receio, algo podia lhes acontecer em meio a uma situação de guerra.
Tanta gente com tanta arma é risco de bom tamanho.
Ninguém garante nada.
Mas, o sentido de missão falava mais alto.
Enquanto se esgueirava pela praça pensava: vivo um momento de superação.
Sempre temeu policiais.
Era um deles se aproximar, e sentia uma insegurança imensa.
Medo fora inoculado pela ditadura.
Ao chegar à praça, tudo mudou.
A ansiedade por fazer uma boa cobertura predominava, sufocava medos de qualquer natureza.
Jaciara não esconde: tremia.
Nem por um segundo, não obstante, passou por sua cabeça recuar, voltar ao carro, instalar-se em lugar seguro.
Meu lugar é aqui, murmurou, enquanto metro a metro iam os três tentando chegar a estação ferroviária presumivelmente o local mais seguro um caminhar em meio a baionetas metralhadoras pistolas empunhadas por soldados cabos sargentos e oficiais carrancudos e tensos dedos no gatilho.
Adrenalina grau máximo era Jaciara.
Quem sabe, os três.
Aos mortais comuns, jornalistas inclusive, aparentava não haver comando nenhum.
Parecia uma Babel - recordação de Jaciara.
Uma gritaria da porra.
Todos falavam.
Ninguém se entendia.
Não era pra menos: os três haviam chegado...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Foram dias de tensão, agravados pelo fato de ainda estarmos na ditadura militar. Mas nossos guerreiros jornalistas jamais abandonariam a trincheira. Recuar, nem pensar. E brilharam na cobertura
Jaciara Santos: Ah... Emiliano, só você pra me fazer reviver aqueles momentos...
Isabel Santos: E vai passando o filme/terror na minha cabeça. Tudo aflorando. Jaci, a nossa história é muito mais profunda, mais enraizada do que possa parecer. E, parabéns, pela profissional que sempre foi e sempre será. Aplausos

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Emiliano José
12 de outubro 2019
Um dia pra jamais esquecer

Jaciara andava em direção à estação ferroviária da Calçada olhando para os soldados tensos e carrancudos.
Prontos pra atirar.
Ela, Chico Vasconcelos, Isabel Santos.
Metro a metro.
Passo a passo.
Medo no ar.
E determinação de cobrir bem a tragédia.
É, já era tragédia.
Os três chegaram depois do tiroteio.
Os dois oficiais baleados já haviam sido levados para o Hospital Getúlio Vargas, no bairro do Canela.
Um morreu, outro restou paraplégico, já dissemos.
Jaciara olhou pro relógio na torre da estação, nem gravou a hora.
Esse olhar a levou de volta no tempo.
Na caminhada até ali.
Pensou na filha de poucos meses, nos obstáculos enfrentados e superados, no quanto havia aprendido, no quanto era rica a vida de jornalista.
Louca vida, a escolhida.
Pudesse cantar, não era hora, cantaria: gracias a la vida que me ha dado tanto...
A menina pobre negra periférica subindo temerosa as escadas do "Jornal da Bahia" desconfiada de si arrodeada pelos preconceitos ficara para trás.
Era outra.
Mulher dona de si.
Aquela vitória, até ali, fora fruto de sua obstinação, da confiança em si mesma, necessárias para obter o acolhimento de seus companheiros, companheiras de profissão.
Andava imersa no passado e atenta ao entorno.
Um olho no padre, outro na missa.
Chegam a um ponto da estação e param.
Jaciara percebe um movimento de Isabel.
Repórter inquieta como deve ser toda boa jornalista, queria circular.
Soldados barram a tentativa.
Ela ainda insiste, sob os olhares atentos de Jaciara e Chico.
Foi momento tenso.
Isabel não pôde circular.
Era praça de guerra.
Papel e caneta à mão os três registraram tudo, e seguiram de volta à sede da Barroquinha.
A seis mãos, atesto possível, escreveram matéria de página inteira, manchete do dia seguinte.
A matéria interna levava título forte:
"Cuidado, fuzileiros na praça".
Publicada na Editoria de Polícia, reaberta às pressas.
A manchete de primeira página não deixava por menos:
"Fuzileiros matam oficial da PM".
Jaciara, entre tantas lições, aprendeu o valor do trabalho em equipe.
A excessiva valorização do trabalho individual dos jornalistas leva à subestimação da possibilidade de elaboração comum.
Naquele dia, viu o quanto isso era possível.
Um dia para não esquecer.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Estou emocionada. Nem sei o que comentar. Queria muito que Chico Vasconcellos visse este post. Isabel Santos, dizer o que, amiga?
Isabel Santos: Estou literalmente chorando amiga, muito emocionada. Benneh Amorin, que me convidou a fazer hoje um rápido free para os 25 anos da Super Revista, está testemunhando minhas lágrimas e ouvindo os meus relatos.
Isabel Santos: Gostaria também que Chico Vasconcellos pudesse ler esse texto e acompanhar também a série MemóriasJornalismoEmiliano, onde ele está sempre mencionado.
Matheus Morais: Eu digo sempre que posso, nos lugares por onde ando, para pessoas queridas, para estagiários, para colegas, minha carreira não aconteceria se Jaciara Santos não tivesse cruzado meu caminho. Eu agradeço até hoje, no meu coração, a Flavia Vasconcelos por me apresentar a ela. Dinha, além de ter história, continuo te achando a melhor e maior de todas. Você é nossa Fernanda Montenegro do jornalismo. Te amo e te admiro para sempre!
Jaciara Santos: Matheus Morais e você, não importa o quanto cresça, quantos prêmios venha a conquistar (todos merecidos!) vai ser sempre o meu garotinho. Te amo!
Matheus Morais: Jaciara Santos Te amo demais, Dinha! Você é minha mãe querida! Quero mais histórias e histórias maravilhosas. Estou amando demais descobrir que esses caminhos por onde vocês andaram! ♥️
Mônica Bichara: Matheus Morais tô achando q vc TB bebeu leite babado de seu Biliu e não sabe
Graça Azevedo: Muita coragem! Se sou eu perderia a matéria!!
Jaciara Santos: Iracema Santos, você que gosta de história, dá uma espiada nessa série #MemoriasJornalismoEmiliano. Vai curtir!
Mônica Bichara: Guenta coração..... até eu arrepiei aqui, imagino vcs comadres..Realmente uma pena Chico Vasconcellos não estar interagindo, acompanhando. Ele está bem? Alguém pode dar uma ligadinha p ele
Chico Vasconcellos: Haja coração Moniquinha! Ainda lembro da cara do boy da redação, Gilmar, se não estou enganado, entrando pelo corredor estreito do boteco do Careca, gritando que os fuzileiros estavam matando os PMs. (Era pra acreditar porque o governador indicado era o avô do atual prefeito). O barzinho era nosso point das tardes de sábados e noitinhas dos dias da semana, depois do fechamento do noticiário da cidade. Esse sábado foi diferente: deixei o copo pela metade e, protegido pelas comadres Jaci e Bebel, desembarquei no Largo da Calçada - o front montado pelos fuzileiros armados até os dentes, esperando os PMs que vinham da Baixa do Bonfim. Naquela época não havia celular, produtor e outros bichos de pena: o repórter fazia tudo. Minhas comadres foram repórteres, cono Zé Hamilton foi cobrindo a guerra do Vietnam . Voltamos para a redação com o troféu, com a notícia redonda. Demos um banho na concorrência. Careca esperou a gente com umas geladas, regadas com deliciosas moelas. O JBa da Barroquinha ficou na história.
Jaciara Santos: Ooooi, sumido!!!! Bons tempos, hein compadre? Confesse: deu uma saudade da zorra, né?
Isabel Santos: Que massa, compadre, você ter aparecido. Que bom estar com a memória tão fresquinha. Minha gratidão por ter nos deixado ir, por ter confiado, pelo aprendizado que passou neste momento e em outros tantos. Só guardo coisas boas desse convívio profissional e pessoal. Como a irmã Jaci, você é uma fera do Jornalismo. Realmente, o JBa da Barroquinha ficou na história. É saudade pura.
Jaciara Santos: Emiliano joga esse turbilhão de emoções na gente e some... Tá certo não!
Mônica Bichara: Poxa, fiz um comentário enorme e agora q vi q não salvou. Q zorra, vou tentar recuperar kkkkk
Jandyra Rocha: Jaciara Santos, emocionante é pouco. Dá pra sentir o coração apertado, como os de vocês - e o seu, sobretudo - deveriam estar naquela hora. É horrível e sempre será. Esta história e o que ela traz de você, só me faz admirá-la mais. Por tudo e pelo respeito que você tem a você mesma, à sua escolha, com tudo de bom e apesar do terrível que veio junto. Linda história, de uma linda pessoa. De coração apertado, vendo o rumo que as coisas estão tomando nessa nossa realidade de hoje.
Jaciara Santos: Jandyra Rocha obrigada, minha chefa.
Jandyra Rocha: Às vezes, as palavras não tem a força que queremos que tenham. Mas a gente tenta.
Claudio Max: Jaciara Santos valeu demais ter voltando no tempo! Vcs são feras!!!! Que tal, marcar os novos FOCAS ?! KKK
Mônica Bichara: Chico Vasconcellos verdade, era nosso point. Veja fotos do boteco em outro capítulo de Jaciara. E acompanhe a série de Emiliano no face dele e no Pilha pura, já postei a minha, de Isabel Santos e de Anízio Carvalho, todos com muitas fotos e comentários. Uma viagem no tempo. E vc tem muito a acrescentar nessas memórias, pq elas TB são suas. Tasso Paes Franco e Jose Jesus Barreto já estão por aqui, faltava vc. O JBA tinha essa coisa massa de misturar repórteres de outras editorias em coberturas, o q dava muito certo. Lembro que fui com Chico fazer uma entrevista de duas páginas sobre esporte. Adorei. Vcs foram nossa faculdade, na prática.
Jaciara Santos: Claudio Max que nada... Essa galera sabe de tudo, já veio pronta.
Jose Jesus Barreto: Mônica Bichara feliz de estar partilhando. Bjs
Jose Alcino Alcino: Testemunho enquanto as personagens estão por aqui. Assim que é bom. Depois que partem, vira epitáfio.

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Emiliano José
13 de outubro 2019
Reconstrução da UNE

Jaciara foi além, aprendendo.
Viu a UNE ser reconstruída em maio de 1979, inebriada com aquela festa de cores vibração agitação Ruy César ser eleito.
Surpreendida, como todo mundo, com o apoio de ACM ao encontro, embalado pelos movimentos de distensão da ditadura, cujo fim ocorreria somente seis anos depois.
Foi cobertura feita e escrita a muitas mãos. Isabel, Alba Regina, Carmela Talento, Arnaldo Oliveira, Dailton Mascarenhas, Limiro Besnosik, Mércia Moura, Mônica Bichara e Ronaldo Carlos são alguns alcançados pela memória.
Como fotógrafos, Anízio Carvalho, Fred Passos, Jorge de Jesus e Sérgio Félix.
Ela e Jorge de Jesus, ainda em 1979, foram a Gandu, sul da Bahia, para retratar o ambiente na cidade, conflagrada por um escândalo de bom tamanho: o suposto suicídio de Eliége Santana Barbosa, de 21 anos.
Não pelo suicídio apenas, se suicídio fosse.
Mas pelo fato de a jovem ser amante de Eliseu Leal, ex-deputado federal e prefeito em segundo mandato, 42 anos de idade.
Encontrou Gandu dividida: uma parte acatava a tese do suicídio, outra apostava em assassinato.
E o autor, neste caso, o prefeito.
"Pai herói em Gandu é caso Eliége", título da reportagem de 12 de agosto.
"Pai herói" do título era uma recorrência à novela homônima exibida pela Rede Globo.
A vida ultrapassa a arte: pouco mais de um ano depois, 1º de setembro de 1980, Eliseu Leal foi passado na bala.
Emboscado e morto no bairro de Ondina, em Salvador.
No mesmo ano, ela e Anízio Carvalho registram um pacato cidadão recolhido à sua residência, distante agora dos rebuliços do poder.
"No silêncio de uma casa, o cidadão Roberto Santos", matéria do dia 16 de março, registra a volta à rotina do ex-governador, sucedido pelo seu arqui-inimigo ACM.
Cobriu em fevereiro a grande enchente de Xique-Xique, a maior da história do município. Sem quaisquer recursos tecnológicos, escreveu a reportagem à mão e passou por telefone ao redator Adilson Borges. Ficou maravilhada pela fidelidade ao texto quando viu a matéria.
Era acompanhada pelo fotógrafo Fred Passos.
Para economizar "caixinha", resolveram dividir um mesmo quarto de hotel.
Garante: foi uma noite de irmãos.
Dormiram o sono dos justos, dos sem-pecado.
Ela assegura: Fred está aí e não me deixa mentir.
Lead da matéria:
"O fantasma que ameaçava a população de Xique-Xique - 600 km a noroeste de Salvador - está se materializando: a chuva que vinha se armando ao longo dos dias começou a cair ontem, por volta das 15h.". 
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Passando pela cabeça como num filme
Jaciara Santos: Adilson Borges, lembra que lhe ditei a matéria de Xique-Xique por telefone?
Adilson Borges: Rapaz, digo moça, me lembro vivamente. Estou impressionado com minha memória, Jacilene!
Fred Passos: Ainda em Xique-Xique, lembro da queda aconteceu comigo, quando subi no telhado da casa pra ter um ângulo melhor da invasão do rio na cidade, o telhado veio abaixo, uma queda assustadora, mas nada demais, além de um corte no pulso. Fomos ao posto, uma costura foi necessária e voltamos com avião Hércules da força aérea. Uma grande aventura.
Aproveito para parabenizar Emiliano José por esta iniciativa, Jaciara Santos, Mônica Bichara por esta iniciativa e pela lembrança do nome Fred Passos. Grande abraço para todos vocês e envolvidos.
Emiliano José: Fred Passos Fred, companheiro, gostaria muito de um copião seu , o repórter fotográfico e suas peripécias. Faça. Me ajude. Sua convivência com os demais fotógrafos, como aprendeu... Espero. Abração
Jaciara Santos: faz, sim, Fred Passos. Temos muita história...
Mônica Bichara: A caixinha nos salvava de muito aperto. Quando a pauta era perto, pegava buzu ou carona e economizava. E as amizades eram tão sólidas que dormir no mesmo quarto era tranquilo, o importante era economizar kkkkk grandes memórias
Fred Passos: Jaciara Santos já não tenho a memória de antes Jace rsss, alguns momentos muito pontuais apenas, como por exemplo, com Luiz Luzi do jornal A Tarde, 1976, quando tomamos uma carreira dos seguranças do hotel Meridian, fazíamos uma matéria sobre turismo e flagrei uma turista de topless na piscina, os seguranças nos viram e vieram pra evitar o flagra, saímos correndo, Luzi grandão, usava um óculos fundo de garrafa, com uma voz grave, gritava, bora, bora, cadê o carro? Foi muito engraçado!
Só tenho boas lembranças com todos os parceiros de pautas. Cobertura da UNE no centro de convenções, viagens com Pedro e Levi cobrindo municípios, dormi também com outras e outros colegas no mesmo quarto, inclusive o motorista no pacote. Cobri grandes eventos, fomos uma grande equipe de repórteres e fotógrafos que muito me orgulho de ter participado desse time. Outro momento de tensão foi quando Ronaldo e eu fomos fazer uma matéria com um preso político no escritório de uma grande advogada, Romilda Noblat. Foi tenso! E por aí vai Tenho a memória comprometida, se puderem me ajudar, agradeço!!!
Jaciara Santos: Mônica Bichara economizar caixinha era o que, às vezes, nos levava a sair na carona do canalha (Paulo Mocofaia). O preço, às vezes, era muuuuuuuuuuito alto. Cada mico que a gente pagava...
Mônica Bichara: Jaciara Santos kkkkkk bote mico nisso
Aurelio Miguel: Posso contar como aconteceu o " apoio " de ACM, ao congresso .
Emiliano José: Aguardando seu copião, Aurélio. Inclua isso
Aurelio Miguel: Emiliano José, prosa curta. Eu integrava uma comissão de apoio ao Congresso. Recebemos um convite/intimação de ACM. Ele queria uma reunião conosco. Um carro oficial veio nos buscar. Fomos. Lembro de Valdélio, grande figura, que era o candidato da corrente Viração. Chegamos ao Desembanco onde o todo poderoso despachava. Na chegada, aquele climão. Silêncio. Frente a frente o Dragão da Maldade e os Santos Guerreiros. Silêncio absoluto. Então eu falei. As primeiras frases provocaram estupor : quero agradecer . Olhares de letais de reprimendas . Agradecer pelo fato de andar em um carro oficial e preto , não estando preso . Gargalhadas . A prosa foi curta . ACM disse: " podem fazer o congresso , numa boa , no Centro de Convenções . Eu garanto. Caso vocês saiam para as ruas terei que baixar o cacete". Eu, sem deixar a bola cair, retruquei : " Zé Dirceu , há onze anos , acreditou nessa prosa e acabamos hóspede do Presídio Tiradentes ". ACM se retou: " Tem uma diferença : Abreu Sodré é um moleque. Eu sou um homem de palavra". Façam a porra do seu Congresso " Fizemos. Não houve repressão. Aconteceu assim, Emiliano. Abreu Sodré era o governador , sem votos , de São Paulo . O candidato era Valdélio . Sucede que Rui se destacou tanto na presidência da mesa que se tornou o cara .
Emiliano José: Muito obrigado, meu velho
Emiliano José: E que comissão era essa? De personalidades? Com que participações?
Aurelio Miguel: Eram muitas pessoas , de vários segmentos .
Jaciara Santos: e dessa, em Cachoeira, Fred Passos, será que você lembra? A gente tava ficando "craque" em cobertura de enchente rs rs rs
Fred Passos: Jaciara Santos com certeza! Rssss
Não lembrava mais, deve ter muita coisa que não lembro mais e fiquei feliz por rever essa matéria. ♥️
Jaciara Santos: aqui a de Xique-Xique...

Fred Passos: Jaciara Santos que maravilha rever esse material!
Jaciara Santos: a de Eliseu & Eliége, com Jorge de Jesus...
Fred Passos: grande profissional!!!
Isabel Santos: A cobertura da reconstrução da UNE eu guardo na memória como um grande e lindo momento da minha trajetória de reportagem. Tenho praticamente todas a matérias guardadas numa pasta velhinha. Foi com uma felicidade imensa que, por volta das 3 horas da manhã. no Centro de Convenções, a voz de Ruy Cézar ecoou,vibrante, informando que a UNE estava reconstruída. Foram tantas entrevistas. Querido Ruy, que voltei a ter contato quando meu filho, Flávio Borges foi estudar na sua escola, a Via Magia.
Emiliano José: Isabel Santos Por que não escreveu? Solte, se solte...
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Emiliano José
15 de outubro 2019
Caça às baleias

O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito...
Lindo, belo.
Agora, brinque com ele não.
Ou sabe de suas manhas, manias, correntes, ou melhor ficar longe, deliciando-se com sua beleza, leveza, até quem sabe metendo-se a poeta.
O mar gosta de poetas, de amores e amantes.
Gosta tanto a ponto de puxar alguns para o fundo, a viver ali para sempre, a dormir com as sereias o sono dos justos.
Há quem não entenda, e queira arriscar-se
Nem pescadores cheios de experiência devem desafiá-los.
Os mais ousados se arrependem.
Ou não têm sequer a chance.
Jaciara Santos, leitor sabe, era dada a aventuras.
Corria a primavera.
De 1984.
Havia boatos, rumores fortes indicando o aparecimento de baleias na Baía de Todos os Santos.
Afirma-se: a Bahia com suas águas mornas atrai algumas espécies de baleias durante sua temporada reprodutiva.
Mamãe baleia quer uma água quentinha pra parir.
Como não?
Especialistas contam: entre junho/julho e novembro/dezembro coisa de nove mil desses mamíferos circulam pelo litoral brasileiro para acasalar e dar à luz.
Litoral-maternidade.
Em setembro de 1984 falava-se com insistência sobre a presença delas na Baía de Todos os Santos.
Os rumores cresceram a partir do dia 11.
O comandante do ferryboat Maria Bethania, Dilton Teixeira, jurava de pé junto, e por todos os santos necessário fosse, ter visto uma delas, majestosa, a pouca distância da embarcação.
Falava até no tamanho da parideira: media de 15 a 20 metros.
Essa aparição se deu quando ele fazia a travessia São Joaquim/Bom Despacho, de Salvador para Itaparica.
Garantir, quem?
Os lobos do mar não costumam mentir.
Pero, deixam a imaginação trabalhar.
Parecia história de pescador, aquela.
Só ele tivera a visão.
Um privilegiado.
Homens da Capitania dos Portos e da Superintendência de Desenvolvimento da Pesca esquadrinharam a Baía de Todos os Santos, e nada.
A ver navios.
Só.
Jaciara estava grávida do segundo filho, Leonardo, e o chefe de reportagem do "Jornal da Bahia", Porquinho, resolveu fosse ela a repórter a caçar a baleia.
Cada apelido, né?
Porquinho era Roberto Messias.
Não se apavorem: Paulo Roberto Tavares era conhecido como Paulo Bunda Podre, eu nunca soube por quê.
Bem, Jaciara, gosto danado por uma aventura, aceita a incumbência.
Sabia nada do mar, mas...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Essa Jaciara Santos só vivia prenha, era? Rapaz, toda pauta a criatura tava embuchada.... Depois num quer que Mocofaia fale
Jaciara Santos: feche sua cara, viu?🤣🤣🤣🤣🤣🤣
Mônica Bichara: Jaciara Santos é mentira? Vou grifar em todos os capítulos na edição do Pilha kkkkk 😜😜
Mônica Bichara: A vítima agora é vc, Leonardo Aguiar. Se segure aí nesse balanço do mar
Isabel Santos: kkkkkkkk pois é. A maternidade lhe inspirava mais ainda, e, na energia da Rainha do Mar estava chegando o lindo netuzinho.
Leonardo Aguiar: Ahahahah... Me divirto com esses textos!
Jaciara Santos: essa tem que ter trilha sonora rs rs rs
Jaciara Santos: aí a capa da edição do JBa. de 12/09/1984, quando surgem rumores sobre baleia que teria sido avistada na BTS pelo comandante Dilton Teixeira.

Mônica Bichara: Jaciara Santos esse mata a cobra e mostra o pau kkkkkk Acha alguma minha aí, comadre. Não tenho nada guardado
Jaciara Santos: o problema é que a assinatura em matérias não era comum, nessa fase do JBa. Então, se a gente não lembra de ter feito, fica difícil identificar. Mas estou mandando uma no seu zap que vai mexer com você. Não sei se é matéria sua, mas a personagem, com certeza, é...
Jaciara Santos: Mônica Bichara só um detalhe: essa aí é só um aperitivo...
Jaciara Santos: Iracema Santos, essa história lhe interessa: era o SEU afilhado na minha barriga rs rs rs
Mônica Bichara: Jaciara Santos amei, tia Zilda 😘😘
Jaciara Santos: Iracema Santos tenha suas calmas... Acompanhe.
Isabel Santos: Você, Emiliano José, cada vez mais poético👏👏

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Emiliano José
16 de Outubro 2019
Jaciara, dona dos mares

Grávida de Leonardo, três meses de gestação, Jaciara Santos já se considerava pronta para a caça às baleias.
Caça modo de dizer.
Vê-las de perto.
Uma, fosse.
Trazê-la para a primeira página.
Ela e filhote, quem sabe.
Dia 11 de setembro de 1984 surgiram os primeiros rumores sobre presença de baleias na Baía de Todos os Santos.
O "Jornal da Bahia" se interessou pelo assunto e logo pensou em Jaciara para a tarefa.
Falou em aventura, com ela mesma.
Prenha estivesse.
Mônica Bichara fala no gosto de Jaciara por ficar prenha.
Ou embuchada, como prefere Mônica.
Em espanhol, embaraçada.
Garantir, garanto não.
Coisa de comadres.
Briga de comadres, bom não se meter.
Sobra pro intruso.
Queria cair no mar, isso ela queria.
Parecia, tal o assanhamento, uma veterana das águas.
Dia 18 surgiu novo rumor sobre aparição de outra baleia.
Dessa vez, conversa de pescador.
A vero.
Relatava aparecimento da espécie no litoral norte.
Para o jornalismo, no entanto, o assunto do dia era a chegada do navegador solitário Amyr Klink.
Não era uma chegada qualquer.
Saíra da Namíbia, África, cem dias antes, no barco Paraty I. A. T.
Chegava às 16,25hs daquele dia 18.
Jornalistas do Brasil inteiro acorreram à Praia da Espera, em Itacimirim, distrito de Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador.
Dia seguinte, manchete do "Jornal da Bahia": "100 dias no mar - Remador chega depois de atravessar o Atlântico".
Logo abaixo, um box, lá vinha a conversa:
"Pescador acredita que baleia está viva".
Conversa de pescador é de se desconfiar.
Mas, também, bom checar.
Juntando as coisas, parecia certa a presença das baleias nas bandas do mar da Bahia.
Pra aumentar a convicção, mesmo escasseassem provas, aparecia agora a palavra de um mergulhador.
Um mergulhador profissional.
Palavra de responsa.
Quando soube disso, Jaciara pensou: não perco essa matéria por nada deste mundo.
E sabia que Porquinho, o chefe de reportagem, a queria nela.
Sentia-se a dona dos mares.
O mergulhador, Roberto Schneider, liga para o "Jornal da Bahia", e... #MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Joana D'arck: Essa comadre é retada! Também já entrevistei um navegador solitário, mas foi Aleixo Belov para a Tribuna da Bahia. Posso dizer que a entrevista foi "uma viagem ", tantas as aventuras que ele contou na casa dele.
Emiliano José: Joana D'arck E você contará isso no seu complemento, detalhadamente
Jaciara Santos: eu tô atrás é da baleia, cumádi!
Jaciara Santos: você sabe mesmo como fazer suspense, né, cumpádi?
Emiliano José: Jaciara Santos Faça como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar...Inda mais se houver baleias por perto...
Mônica Bichara: Suspense....esse causo tá parecendo conversa de pescador. Por isso q Léo Leonardo Aguiar deu tanto trabalho pra nascer, medo das aventuras em terra firme. Cês pensam que é fácil ser filho dessa cumadi aí?
Emiliano José: Mônica Bichara Cara deve pensar: líquido por líquido, fico aqui nesse mundo mesmo... Mãe dessa, só quer aventura, aqui ao menos tô abrigado, protegidinho, fortaleza líquida.
Mônica Bichara: Isso....Vai que ela resolve revisitar seu Biliu
Leonardo Aguiar: Ahahahahahah... Curioso com os desdobramentos dessa história! Rs

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Emiliano José
17 de outubro 2019
Roberto Carlos e as baleias

Sempre quis saber o sentido da expressão "é com Roberto Carlos e as baleias".
Ouvia isso e não atinava.
Ainda não atino.
Mas, me veio à memória a canção dele, de Roberto, sobre as baleias.
A modo dele e de Erasmo, um libelo contra a matança dos bichinhos.
Jaciara me fez lembrar da música.
Ela deve ter ouvido, assistido, sei lá.
Não me disse nada a respeito.
"Seus netos vão te perguntar em poucos anos pelas baleias que cruzavam oceanos...".
Era 1981, Jaciara já na lide jornalística, quando a música explode.
"Não é possível que você suporte a barra
De olhar nos olhos de quem morre em suas mãos..."
Claro, o movimento dela de Jaciara, seu desejo, era o da vida, ver quem sabe o nascimento dos filhotinhos, mamãe ali do lado, vigilante.
Não o da morte.
Mas, é provável ter Roberto inoculado sentimentos de ternura e admiração pelas baleias.
Ela deve ter se lembrado de Roberto Carlos e as baleias.
Então, voltando ao "Jornal da Bahia", o mergulhador profissional Roberto Schneider liga para a redação.
Garante, jura por Deus nosso Senhor: viu uma baleia.
Um colosso de 20 metros de comprimento.
Azul.
Baleia azul.
Da cor do mar.
Enfatizava sua visão vi com esses olhos que a terra há de comer.
Não sou de mentir nem de aumentar.
Só dou ciência do que meus olhos vêem.
O mergulhador solitário era um felizardo.
Para completar, um bebezinho de nove metros nadava placidamente ao lado de mamãe.
Azulzinho azulzinho.
Uma fofura.
Coisa de cinema.
É brincadeira?
Mamãe e o filhote foram avistados entre os canais de Mar Grande, Madre de Deus e Ponta de Nossa Senhora.
Tudo Baía de Todos os Santos.
Bom, pelo menos assim garantia o pescador.
Corrijo: mergulhador.
Quando soube do telefonema, Jaciara murmurou: essa baleia não me escapa.
Nem ela nem a fofura do filhote.
Terminou a matéria do dia e o chefe de reportagem, Porquinho, avisa:
"Amanhã...".
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Agora vai.... Jaciara Santos queria levar o filhotinho de presente p Leonardo Aguiar
Jaciara Santos: como vai, se o autor mata o leitor de ansiedade. Se eu não conhecesse o fim da história, estaria subindo pelas paredes...
Leonardo Aguiar: ahahahahaah... Gente, que ansiedade pra saber o fim da história!
Jaciara Santos: aff... você mata o leitor de curiosidade. Tô quase dando spoiler rs rs rs
Isabel Santos: Estou ansiosa também Leo (Leonardo Aguiar), mas vamos aguardar mais esse suspense do querido escritor rssss.
Lucia Correia Lima: Outra hora conto mas foi o grande Neguinho do Samba quem inventou "ah isto é com você, Roberto Carlos e as baleias"
Ele queria dizer " me tire de problema"
Emiliano José: Lucia Correia Lima Muito obrigado. Descobri.

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Emiliano José
18 de outubro 2019
Lembrou-se: estava grávida

Jaciara Santos estava com três meses de gestação.
Leonardo a caminho.
Sem pressa.
Grávida.
Mônica Bichara provoca: e quando ela não estava embuchada?
Bem, gravidez à parte, estava doida doidinha pra cair no mar.
Atrás da baleia e de seu filhote, aquela fofura.
A fase do enjôo já havia passado.
Sentia-se leve, forte.
Com todo gás.
Chegou cedinho à redação no dia marcado para a epopéia da caça às baleias.
Redação já era na Djalma Dutra, dividindo prédio com a "Tribuna da Bahia".
Vestimenta apropriada: um macaquinho curto, azul, de mescla.
Roupa de gestante.
Como convinha.
As tratativas para a operação, já adiantadas.
Dailton Mascarenhas, repórter de política, era morador do bairro da Ribeira.
Conhecia um dono de embarcação.
Conversou com o plataformista aposentado Argemiro Oliveira.
Topou ceder Oliveira para a empreitada.
"Oliveira" não era gente.
Tirado do sobrenome para dar nome ao saveiro.
"Vocês colocam o combustível".
Eram 9hs da manhã quando zarparam do cais da Ribeira.
Jaciara, uma agonia só, era a aventura de sua vida.
Ao seu lado, Milton Mendes Filho, grande fotógrafo, insisto: meu companheiro de prisão, impetuoso, talentoso jogador de futebol.
Claro, Argemiro, dono do saveiro e comandante da operação.
E o mergulhador Bebeto - não abriu mão de ser chamado pelo apelido.
O motor fazia um barulho ensurdecedor.
Jaciara começava a sentir algum incômodo.
O cheiro do óleo é nauseante.
Lembrou-se: estava grávida.
E grávida sente náuseas.
Mas, vamo que vamo.
Tentam, ela e Leonardo, acomodarem-se da maneira menos desconfortável possível.
Os bancos são de madeira crua, sem qualquer acolchoamento.
Lembrou-se: estava grávida.
Antes de zarparem, conversaram com os pescadores Nosinho e Cosme.
Souberam mais da baleia e do filhote.
Os dois estavam com Schneider na antevéspera quando do aparecimento da mãe e do filhote
Mais duas testemunhas.
O dia estava claro
Céu azul.
Mar, lindo.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: não acredito... Vai continuar o suspense? Leonardo Aguiar, não me culpe (pelo menos, não pelo suspense rs rs rs)
Emiliano José: Jaciara Santos Não deu pra terminar. A protagonista não deixou. Amanhã, sem falta.
Emiliano José: Jaciara Santos A gente não controla o mar. Pode ser.... Alguma tempestade, sei lá . Mas, creio, amanhã você encontra a baleia e seu filhote
Joaquim Lisboa Neto: Miltinho, o fotógrafo do Lamarca..., tomamos muitas cachaças aqui e em Salvador. As sessões eram não só etílicas senão que canábicas também.
Emiliano José: Joaquim Lisboa Neto Fotógrafo do Lamarca, não. Ao menos que eu saiba, não. Quanto às cachaças, nada a opor...
Joaquim Lisboa Neto: Se você que é coautor do livro afirma, eu "desafirmo" retificando: um dos [nas fotos de Deraldino e Santa Bárbara].fotógrafos; que Oldack Miranda, Rino Marconi e Agliberto C. Lima me perdoem pelo vacilo.
Emiliano José: Joaquim Lisboa Neto Veja, ter feito fotos de pessoas posteriores à morte dele, é uma coisa. Entendi "fotógrafo do Lamarca". Ele, Miltinho, estava preso quando Lamarca foi morto. Mas agora está entendido. Palavra é o diabo...
Joaquim Lisboa Neto: ...do Lamarca livro, não do guerrilheiro...Não só viver é perigoso como escrever também..., falo com um PhD de mão cheia.
Emiliano José: Nada. Esforçado, só. Verdade.
Joaquim Lisboa Neto: Aí não é autocrítica, é mentira! Aí não precisa fazer esforço, a pluma desliza como o Corrente rumo ao Velho Frisco
Mônica Bichara: Tô mareada igual a cumadi, só treitando o q ela e Léo passaram nessa viagem
Emiliano José: Mônica Bichara Até agora, ela resiste. E pelo andar da carruagem, vai assim até o fim. Do saveiro, quero dizer.

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Emiliano José
19 de outubro 2019
Kirimurê

Dia claro.
E o mar, ao zarpar, parecia calmo.
Azul, belo.
Jaciara, não obstante o desconforto do saveiro, calma e feliz.
O jornalismo lhe presenteava com aventuras inesquecíveis.
Precisavam fazer uma varredura pela Baía de Todos os Santos.
Pensou na grandeza do mar e daquela baía. Descoberta em 1501.
Os portugueses, felizes por terem encontrado tal sítio, muito próprio para lá na colina edificar uma fortaleza.
Assim, surgiu Salvador.
Foi pesquisar: mais de 1.200 quilômetros quadrados, do tamanho do município do Rio de Janeiro.
Soube até profundidade: na média, em torno de 1O metros.
Mas, eita porra, chega até a 70 metros.
Foi no passado, me dizia o grande Cid Teixeira, com seu vozeirão, o local do maior porto exportador do Hemisfério Sul.
Os Tupinambás chamavam-na Kirimurê - grande mar interior.
Os portugueses chamaram-na Baía de Todos os Santos pelo fato de a terem encontrado no 1º de novembro - dia de Todos os Santos.
Jaciara gostou de saber do nome indígena: Kirimurê.
Soava bem.
Com todo respeito, bem mais sonoro, musical do que Baía de Todos os Santos.
Leonardo já pesava um pouco e aquele banco de madeira era incômodo pra burro.
Que fosse.
Importante era o encontro com a baleia e seu filhote.
Argemiro, velho lobo do mar, falava e falava, enquanto fazia a varredura.
Miltinho também puxava conversa.
Bebeto manifestava esperança: vamos encontrar a baleia.
Verdade, verdade, era um alarme falso atrás do outro.
Via-se baleia pra todo lado.
Bastava avistar uma pequena embarcação ao longe, e lá estava o bicho.
Ou alguma bóia.
Um detrito flutuante.
Era muita baleia.
E nenhuma.
Jaciara começava a se preocupar
Até que..
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Valei-me, Iemanjá! 😲
Emiliano José: Iemanjá nunca lhe abandonou. E sempre a orientou: tenha calma.
Jaciara Santos: Emiliano José quase parindo um boto aqui kkkkkkkkk
Graça Azevedo: Jaciara Santos Sócia, já estou com o coração na boca!
Jaciara Santos: sócia, Emiliano aprendeu técnicas de tortura, esqueceu?
Graça Azevedo: Mas, usar conosco não pode!!
Emiliano José: Graça Azevedo É que a história é muito rica...
Graça Azevedo:Vc é bom de suspense! E a sócia Jaciara dá muito material.
Emiliano José: O suspense é por conta dela. Não posso fazer nada...
Jaciara Santos: Leonardo Aguiar, não é comigo, não. É com Emiliano, Roberto Carlos e as baleias...
Emiliano José: Jaciara Santos De amanhã, a baleia não escapa...

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Emiliano José
20 de outubro 2019
Em silêncio no meio do mar

Miltinho, nosso Milton Mendes Filho, extraordinário fotógrafo, olhava o mar, doido doidinho para clicar a baleia e seu filhote.
Nem se ligava para o desconforto do saveiro.
Além de tudo, Miltinho cultivava um bom humor permanente.
Saí com ele algumas vezes e nessas coberturas pude testemunhar esse bom humor e seu compromisso com nosso povo.
Esse olhar politizado nascera na luta política, no MR-8, na temporada passada na "Penitenciária Lemos Brito".
Lembro-me da cobertura da ocupação de "Nova Divinéia", na encosta do IAPI.
Andamos por entre as estacas fincadas freneticamente vendo surgir os precários barracos e me emocionei ali e depois quando deparei com as fotos de Miltinho - elas, sobretudo, revelavam a miséria em seu estado bruto e a força de nossa gente pra resistir, sobreviver.
As fotos de Miltinho são um precioso acervo de nossa história.
Elas revelam a Bahia, especialmente a vida do povo trabalhador.
Foi por anos fotógrafo de sindicatos de trabalhadores.
Miltinho olhava o mar.
Haviam chegado à área onde a baleia e seu fofo filhote haviam aparecido, dois dias antes.
De repente, Miltinho propõe:
- Vamos desligar o motor.
Ninguém entendeu.
Explicou:
- Se a baleia e seu filhote estiverem por aqui podem se assustar. Vamos dar um tempo pra ver se elas aparecem.
Não foi tanto tempo de motor em silêncio: escassos dez minutos.
E a baleia e o fofo filhote não deram sinal.
Baixou um clima de decepção.
Jaciara estava fissurada por aquela pauta.
Caíra no mar.
E agora chegava a hora de voltar.
Já haviam vasculhado a Baía de Todos os Santos por mais de duas horas.
Pra quem está num saveiro, chegar a Salvador ainda levaria tempo.
Mas, quem sabe, a baleia e seu fofo filhote pudessem ainda dar sinal de vida.
Jaciara...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Por onde anda Miltinho, Emiliano José? Grande companheiro de pautas e de lutas.
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Emiliano José
21 de outubro 2019
A beleza e a fúria do mar

No mar, tudo é longe.
Parecença tudo é mar.
A terra, então, longe só o diabo.
Jaciara começou a pensar em lonjuras.
O mar tem disso: faz pensar, imaginar.
Emociona e amedronta.
Nem sabe por quê, mas pensou na música de Caymmi.
O mar.
Olhar praquele infinito azul provocava o mergulho no Caymmi amante do mar.
Poesia e dor.
O poeta lembra: pescador quando sai nunca sabe se volta nem sabe se fica e como saber se o mar num minuto pode estar calmo plácido e noutro furioso alevantando ondas Deus duvida?
Jaciara pensa com alguma tristeza, junto com Caymmi, sobre quanta gente perdeu seus maridos seus filhos nas ondas do mar.
Essas ondas, tão lindas olhadas de longe, tão perigosas vistas vividas de perto.
É, maridos e filhos de pescadores, vão pro fundo pra nunca mais voltar.
Estremeceu quando pensou nisso.
Pensou no filho, tão pequenininho ali em sua barriga.
E ela no meio do mar, tão cheio de surpresas.
O pensamento acompanhava toda a beleza da história contada pelo poeta, a beleza e a tragédia.
A história de Pedro.
Vivia da pesca.
Saía no barco seis horas da tarde só vinha na hora do sol raiá.
Todos gostavam de Pedro mas gostar gostar de doer mesmo era Rosinha de Chica a mais bonitinha e a mais bem feitinha de todas as mocinhas lá do arraiá.
Jaciara cantalorava baixinho, e alisava a barriga acarinhando e protegendo o filho.
Ninguém lhe fará mal meu filho.
Duro era cantar Pedro saiu no seu barco passou toda a noite não veio na hora do sol raiá deram com o corpo de Pedro jogado na praia roído de peixe sem barco sem nada num canto bem longe lá do arraiá.
Jaciara não sabe a razão: começa a ficar com medo.
A música toca sua alma.
Emociona e amedronta.
Acaricia acaricia a barriga estou aqui murmura pro filho nada vai acontecer.
E continua a poesia-canção a Rosinha tão linda sem Pedro enlouqueceu vive na beira da praia olhando pras ondas andando rondando dizendo baixinho morreu morreu...
É, Jaciara pensava, o mar quando quebra na praia é bonito...
Quando quebra na praia.
Duro é no longe, a terra distante, aquele infinito azul azul.
Ela naquele saveiro.
Olhou bem: um barquinho.
E de repente...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: tocou no fundo da alma...
Emiliano José: Jaciara Santos Tentei raciocinar no seu lugar, ousadia de quem escreve, você conhece disso..
Mônica Bichara: E de repente.....tchan-tchan-tchan-tchan....
Jaciara Santos: nada... o homi é pirracento!
Mônica Bichara: Jaciara Santos tá cheirando a conversa de pescador. Daqui a pouco ele vai dizer que vc pegou a baleia na unha

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(Desalmada nada, sempre foi uma mãezona. Depois dos sustos que passou com Léo na barriga, nessa aventura que começa, deu tudo certo)

Emiliano José
22 de Outubro 2019
Mãe desalmada

De repente, Jaciara Santos teve medo.
O mar era muito.
Era bonito.
E muito para suas forças.
A beleza às vezes é perigosa.
É preciso estar preparada para encará-la.
Medo, teve muito medo.
Não era ela.
Era ela e Leonardo e as baleias.
Estava ali no meio do mar.
E lembrou: não sabia nadar.
Simples assim: não sabia nadar.
E ela ali: aquele mundão azul azul de água tão belo e tão perigoso quase uma vertigem.
O que deu em mim?
Que loucura foi essa?
Como chegar a esse grau de irresponsabilidade?
Não por mim, mas por meu filho.
Não cabia correr esse risco.
Por Leonardo, não cabia.
Ave Maria cheia de graça...
Começou a rezar todas as rezas pai nosso que estais no céu santificado...
Apelou aos orixás a Oxalá a Xangô...
Rezou pra Mãe Menininha.
Apelou a Mãe Stella.
Chamou por Irmã Dulce.
Todos os Santos.
Yemanjá.
Valei-me Senhor do Bonfim.
Baleia, pensou, nada mais de baleia.
Quero saber mais dela não.
Nem dela nem de filhote.
Saveiro media seis metros e trinta centímetros de comprimento.
Mamãe baleia, uns 20 metros.
O filhote, uns nove metros.
Quero voltar, hora de voltar.
Se baleia e filhote aparecerem por aqui, esse barquinho vira e eu não sei nadar...
Onde estava com a cabeça quando aceitei essa pauta?
Não, não falava com Miltinho.
Não dava palavra com seu Argemiro.
Não conversava com Bebeto.
Era um diálogo dela com ela mesma toda se tremendo por dentro um medo fazia tempo desconhecido assombroso pavoroso e pensando em Leonardo tão pequenininho mãe desalmada.
Voltar, só pensava nisso...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: MARMININO... cê inda estica essa prosa? Mônica Bichara e Leonardo Aguiar, já disse e repito: é com Emiliano, Roberto Carlos e as baleias...
Emiliano José: Jaciara Santos Estico não. Seu medo e suas rezas...
Emiliano José: Jaciara Santos E agora é com você, Leonardo e as baleias...
Mônica Bichara: A virginiana raiz morria de medo, mas não ia admitir nunca. Nunquinha, o nariz empinado de mulher coragem não ia deixar. Mas por dentro.....Se o filhotinho aparece, nem precisava da mãe p brincar de barquinho. Leonardo Aguiar, seu santo é forte
Jaciara Santos: vou mentir, não: amarelei dicumforça...
Emiliano José: Jaciara Santos inda bem, a moça não me deixa mentir...
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Emiliano José
23 de Outubro 209
Alegria da pauta furada

E iniciou-se a viagem de volta.
Em todos, a frustração.
Afinal, tudo fora pensado para encontrar a baleia.
O espetáculo de vê-la majestosa senhora das águas protegendo seu bebê.
Bebeto, o mergulhador.
Milton Mendes Filho, Miltinho.
Argemiro Oliveira, comandante do navio.
Do saveiro, melhor dito.
Em Jaciara, a frustração era sufocada pelo medo.
Queria mesmo era pisar em terra firme.
Que loucura lhe deu na cabeça um filho de três meses na barriga se meter mar adentro como fosse rainha do mar sem saber nadar nem um tiquinho assim nem cachorrinho sabia tinha era medo muito medo de água quanto mais de mar entusiasmo por uma reportagem mexe com a cabeça que diabo fui fazer e esse mar tão longe Salvador tão longe Salve rainha mãe de misericórdia...
Se pegava com Deus, orava, clamava aos orixás.
No barco, ninguém dava uma palavra.
Cada um mergulhado em si.
Jaciara olhava praquele silêncio e começava a desconfiar não fosse a única com medo.
Homem é bicho metido a besta faz-se de macho tenta esconder fraqueza coisa de mulher e silencia melhor assim palavra é traiçoeira cada um refugiado no silêncio.
O cais parecia nunca chegar.
Jaciara tinha vontade de fazer alguma coisa para aumentar a velocidade do saveiro.
Tinha jeito, não.
Melhor orar, e ter paciência.
Muita calma nessa hora.
Nada: nem calma nem paciência fervia por dentro e o mar era grande aquele azul azul infinito e o cais ai ai parecia nunca chegar como era longe longe...
Quando o saveiro ancorou, quando pisaram em terra firme, foi uma explosão de alegria.
De todos.
Jaciara teve certeza: todos estavam com medo.
Teria história pra contar.
Nada de heroísmo.
Mas história.
Comemorou-se efusivamente uma pauta furada.
Pouco se lhe dava fosse a anti-heroína.
Alisou a barriga murmurou pra Leonardo falou de seu amor ele atento nos seus três meses de existência entendendo pouco ainda das loucuras da mãe.
Jornalista é gente cheia de esperteza.
Faz o furo parecer o contrário.
Matéria de 21 de setembro de 1984 estampava o título "Baleia vista de novo - Pescadores chegaram perto dela que estava acompanhada do filhote", página 10, editoria Geral.
Sem tê-la encontrado, recuperaram visão dos pescadores.
História de pescador.
O "Jornal da Bahia" completava 26 anos de existência.
Véspera do aniversário de Jaciara.
Comemoraria 29 anos.
Em terra firme.
O mar, quando quebra na praia é bonito é bonito... 
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Hahaha medrosa, se eu fosse a editora ia fazer voltar e só me aparecer com a pauta. Furar uma pauta fácil dessa....onde já se viu?
Jaciara Santos: ahahahahahahaha... feche sua cara! Foi osso. Nunca uma pauta furada me deu tanta alegria. Aff...
Jaciara Santos: registro feito por Miltinho (Milton Mendes Filho)
Jaciara Santos: ...e a matéria publicada. O texto é meu, mas o título é com o editor, Roberto Carlos e as baleias rs rs rs.
Mônica Bichara: E ainda virou personagem, com direito a foto e tudo
Jaciara Santos: Mônica Bichara #soudessas (mas chega de aventuras, né Leonardo Aguiar?)
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Emiliano José
24 de outubro 2019
Papa nos Alagados

Jaciara Santos sempre foi moça de fé.
Vocês viram o quanto ela rezou naquela caça às baleias.
Parecença com a Batalha de Itararé.
Rezou tanto e a baleia sumiu.
Foi forte a oração.
A baleia e filhote devem ter se assustado com tanta reza pra tanto santo.
Melhor nadar no fundo do mar tranquilo confortável deixa ela com seu filho novinho na barriga.
Nada de baleia.
Batalha de Itararé.
Fé era com ela.
E distribuía sua fé com muitos santos ecumênica que só o diabo.
Desde antes de Roberto Carlos e as baleias.
Luciana estava às portas de nascer.
Quase quase.
Faltava um mês unzinho somente prela vir ao mundo.
E Jaciara na lida.
Gravidez?
Mônica Bichara garante: era viciada nisso.
Prenha?
Com ela mesma.
Um mês ainda pela frente pra Luciana nascer.
Tempo que só o diabo.
Dava para cobrir visita do Papa João Paulo II.
Vinha a Salvador com pompa e circunstância.
Julho de 1980.
No programa oficial, a inauguração da Paróquia e Igreja de Nossa Senhora dos Alagados, na Ilha de Santa Luzia, bairro do Uruguai, bolsão de miséria encravado na Península de Itapagipe, Salvador
Com aquele barrigão, oito meses, não foi jogada na cobertura factual, no meio da multidão.
Ela e Luciana são escaladas para uma pauta de apoio.
Olha a mãe: não sossega quase parindo vai cobrir Papa depois pega Leonardo com três meses e o leva pro mar pra caçar baleias ninguém merece e a filharada nem reclamava quem sabe até gostasse travessura é com criança mesmo na barriga seja pra que melhor?
A pauta de apoio: registrar a expectativa dos moradores na noite anterior à ilustre visita.
Tinha de dar um jeito de pernoitar na casa de um morador próximo à igreja.
Repórter passa por isso.
O chefe entrega a pauta e você tem de se virar nos trinta.
Ainda pensou: não é uma invasão, não é uma atitude agressiva, desrespeitosa?
Chegar assim ninguém lhe conhece ô moça ô moço dá preu ficar aqui em sua casa sabe como é que é Papa está chegando jornal me pediu...
Jaciara, de fé mas também muito jeitosa, muito educada, tão civilizada a ponto de beber o leite com a baba de seu Biliu, convenceu uma família a dormir na casa, bem próxima à igreja...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Eu q num deixava Jaciara Santos dormir na minha, vai q inventava de parir justo naquela noite....pq criar problema era com ela mesmo. E minha dinda Luciana Rodrigues nessa empreitada, tadinha
Emiliano José: Mônica Bichara Quer dizer que é verdade? Sempre grávida?
Mônica Bichara: Emiliano José sempre, era o estado natural dela. Taí Mocofaia que não me deixa mentir. Na fase do Correio desandou a fazer neto e num parou mais
Jaciara Santos: Meu Deus! Vocês não dormem, não?... Uma hora dessas e já essa resenha toda? Valei-me São João Paulo II! Kkkkkkkkk
Emiliano José: Jaciara Santos Dormir é para os fracos. E para grávidas. ..
Isabel Santos: kkkkkkkkkkkk O Papa deve estar se remexendo lá nas itálias kkkkkkk, né, dona sempre gravidíssima? Êtcha Emiliano José danado de criativo, sô.
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Emiliano José
25 de outubro 2019
A dignidade dos pobres

Jaciara chegou à casa.
Fizera um cerco cuidadoso.
Visitou o bairro várias vezes.
Jornalismo se alvoroça todo quando um Papa aparece.
Cumpriu pauta uma atrás da outra na região.
Acompanhou os três meses de construção da igreja de linhas modernas e arrojadas a ser inaugurada por João Paulo II.
Numa dessas idas, bate à porta de uma família.
Senhora sabe o Papa está vindo aí não sei se posso mas gostaria de passar a noite em sua casa jornal me pediu isso não sei se incomodo se incomodar esteja à vontade pra me dizer será possível?
A dona da casa nem pestanejou pobre é de acolher tem mais educação muito mais do que rico ninguém se engane a senhora pode se achegar a casa é pequena o coração é grande.
Comovente, a acolhida.
Era 6 de julho de 1980, véspera da chegada do Papa.
Uma casa de gente pobre pobre pobre de marré deci não tinha luz elétrica nem água encanada paredes sem reboco chão de barro batido tudo limpinho limpinho.
Essa miséria, Jaciara conhecia: mãe provedora, pai sumido no mundo, quatro filhos amontoados no casebre.
Jaciara chegou cedo no domingo, inauguração marcada para dia seguinte, 7, manhã de segunda.
Um forte esquema de segurança fechou tudo, deu tempo de ser acolhida pela mãe e seus filhos, todos pequenos.
Jaciara vestia uma calça verde de gestante, bata estilo indiano estampada em marrom e verde, barato legal, espírito do tempo, sandálias baixas, convenientes para os pés ligeiramente inchados, coisa de final de gravidez.
Dali, da casinha humilde, acompanhou toda a movimentação do dia.
Um movimento da porra.
Chegada a noite, dormir não era fácil.
O vai e vem de veículos oficiais envolvidos na montagem de todo o aparato, do cenário pra receber o Papa.
A comunidade se desdobrando na ornamentação das ruas por onde o Papa passaria.
Pra completar o furdunço, o desassossego de um alto-falante instalado no final de linha do bairro do Uruguai.
Um desavisado locutor passa boa parte da noite repetindo frases a serem entoadas pelos moradores em saudação ao Papa: "O Papa é nossa voz/ele é pobre como nós", "O Papa em Alagados/bem-vindo e abençoado", e tantas e tantas.
Meia-noite e cinquenta, não bastasse tudo, um avião dá um voo rasante sobre a comunidade.
Não, não era noite pra dormir.
Luciana, às portas do novo mundo, devia se perguntar das razões de estar ali no meio de tanta confusão.
Era a mãe dela, alguém havia de dizer.
Mãe de espírito aventureiro.
Espírito de porco.
Quieta na barriga, deu depois alguns pontapés, e dormiu.
A mãe, não soube.
Chuva, muita chuva, e Jaciara começou a se preocupar... #MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: É como se eu revivesse aquelas emoções...
Graça Azevedo: Sócia, quanta história eu quero saber de vc!
Jaciara Santos: Graça Azevedo ahahaha... Sócia, você não sabe da missa a metade. O que eu e as cumádis aprontamos nesta Bahia... Haja prosa, né Mônica Bichara e Isabel Santos? Mas Emiliano faz tudo parecer ficção, com seu tino de escritor... Adoro!
Mônica Bichara: Jaciara Santos ô se era...., Mas q o noveleiro Emiliano José sabe aumentar o suspense, isso ele sabe
Graça Azevedo: Personagens e escritor são dignos de realidade e ficção!
Lucia Correia Lima: Emocionantes textos com foco em uma repórter que, como dizia Hamilton Almeida Filho " tem compromisso com a notícia" . Por meio desta grande repórter Emiliano sempre generoso pois tem alma nobre, mostra os verdadeiros caminhos e sentimentos de um VERDADEIRO repórter.
Jaciara Santos: Lucia obrigada. Verdade, Emiliano é um querido!
Lucia Correia Lima: Jaciara Santos sim mas suas histórias lindas fortes, credibilizam nossa profissão e justificam o apelido de Quarto Poder.
Mônica Bichara: E a aventura tá só começando. Essa menina Luciana Rodrigues não tinha madrinha não? Pra denunciar isso
Jaciara Santos: Mônica Bichara oxe, se nem da baba de seu Biliu a tal madrinha livrou a menina...
Mônica Bichara: Jaciara Santos tadinha, Lu já nasceu sobrevivente
Emiliano José: Mônica Bichara Os filhos, não?
Luciana Rodrigues: boa pergunta... Cadê você pra me salvar??
Mônica Bichara: Luciana Rodrigues acho q estava tomada pela paixão também, vibrando com cada pauta q nos desafiava. Tivemos grandes mestres pauteiros q faziam isso com a gente e encorajavam. No dia da missa no CAB choveu, virou um lameiro, me atolei toda...mas feliz da vida
Luciana Rodrigues: Lindeza ter a vida tão bem vivida; precisa ser eternizada, compartilhada. Lindeza ser cria dessas mulheres, profissionais do jornalismo que fizeram e fazem história. Jaciara Santos, Mônica Bichara e Isabel Santos. Gratidão, Emiliano José! 🌻
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Emiliano José
26 de outubro 2019
Sono, pra que te quero?

Chovia em Alagados.
Jaciara começou a ficar com medo.
Olhou pra casinha de reboco.
Resistiria?
Pensou na filha.
Disciplinada, disposta a cumprir a pauta, não obstante pensava insistentemente em Luciana, vida prestes a ganhar o mundo.
E se a casinha ruísse?
Caísse por cima dela e de Luciana?
Rezou, era dada a rezar.
Deus piedoso e misericordioso havia de protegê-la não por mim meu Pai mas por minha filha carente de proteção me ampare segure essa casa e orava pra tantos santos chamou Nossa Senhora dos Alagados conhecedora dos mistérios de toda aquela área e não havia de deixar nada acontecesse.
O barulho da chuva e tanto pensamento vadio e tanto cansaço foram tomando-a, e ela quase ia deixando o sono dominá-la quando...
Duas centenas de soldados tomam posições estrategicamente definidas em ritmo acelerado botas chapinhando na lama sob gritos de comando era uma e trinta da manhã.
O resto da casa também acordado, a criançada e a mãe.
Ela, olhava pro teto, pra telha de Eternit, laje não existia.
Não podia reclamar.
O carinho da mãe era comovente.
Reservou-lhe o quarto dela, o melhor da casa, roupa passada e lavada.
Mas, havia também as muriçocas, ah, as muriçocas e seu zumbido infernal, parecia gostarem de zumbir em seus ouvidos, apenas neles, exército.
Bastava começar a cochilar e lá vinha o zumbido a chamar desperta moça Papa chega amanhã e você tem trabalho a fazer.
É, havia a ansiedade, a responsabilidade com a cobertura.
Que dormir que nada.
E aquele cheiro forte, cheiro do manguezal ali encostado, desagradável.
Estava em Alagados, vasta área invadida pelo povo décadas afora para garantir um teto, precário fosse.
O mar, invadir o mar, último refúgio dos pobres muito pobres à falta de terra e teto pra morar.
Primeiro, foram as estacas madeira se achegando mar adentro milhares depois aterrando como o Uruguai onde estava tomando espaço do mar...
E a chuva, nada de parar.
E a porra do sono, nada.
Bom, bom mesmo, era o carinho o paparico da mãe toda preocupada com ela sabe como é que é mulher grávida de oito meses carece de cuidados ela e a filha...
E se desdobrava em atenção.
Comovente.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Ah se os milicos desconfiam que tinha uma intrusa barriguda infiltrada ali....
Jaciara Santos: Comento já... Deixa digerir a emoção...
Emiliano José: Jaciara Santos Confesso felicidade ao saber da emoção...Nada de digerir?
Jaciara Santos: Emiliano José menino, essas suas memórias têm mexido muito comigo. Hoje, mesmo, estive em Cachoeira e lembrei de uma cobertura que fiz... Foi muito forte. Olha que estive em Cachoeira tantas vezes depois, mas hoje foi diferente. Com certeza é o efeito #MemoriasJornalismoEmiliano. Obrigada.
Emiliano José: Jaciara Santos Olhe, o vapor de Cachoeira não navega mais no mar, mas você vai escrever sobre essa cobertura....estou aguardando...
Jaciara Santos: Emiliano José dexaketo a fila tá grande, moço...
Emiliano José: Jaciara Santos Você está quase no fim... Na série. Uma a mais, nenhuma diferença. E as cumadis não se incomodam...
Mônica Bichara: Emiliano José de jeito nenhum, estamos amando. Mesmo pq essas memórias são tb nossas. Esse turbilhão de lembranças que Jaciara Santos fala que está acontecendo com ela é verdade e mexe com a gente tb. Ontem eu estava lembrando de outra cobertura que me abalou muito e certamente a todos os jornalistas que atuavam naquela época, se não me engano também início dos anos 80. O descarrilamento do trem de combustível em Pojuca, acidente onde morreram dezenas de pessoas. A gente chorava muito, aquilo era triste mesmo para quem já era tarimbado nas coberturas policiais. Lembro que o povo começou a saquear os vagões levando gasolina pra estocar em casa, uma tragédia anunciada. Não sei bem o q causou a explosão, mas foi carnificina. No dia eu não fui cobrir, graças a Deus, mas no dia seguinte Chico Vasconcellos me mandou fazer o rescaldo, ouvir a população, contar a comoção na cidade. Comoção mesmo foi no meu coração, não sei como consegui escrever uma página. O que mais me marcou, nunca esqueci, foram as pegadas de sangue no mercado da cidade, um dos lugares atingidos. Pelas pegadas, em todas as direções, dava pra ter ideia da extensão da tragédia.....A cidade era luto só, todos choravam, todos tinham pessoas envolvidas.....difícil ser profissional num cenário daquele, mas a gente conseguia
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Emiliano José
27 de outubro 2019
Desejo de meter o coturno

Deitada, olhos no teto, nem virar podia muito. Gravidez de oito meses não é qualquer coisa.
A chuva não deu trégua.
Podia até ajudar o sono.
Em outras ocasiões, chuva tivera esse efeito.
Jaciara percebe o dia chegando acordada, pelas frestas da janela.
Nada de sol.
Se era coisa de Deus, não sabia, mas não houve trégua.
O Papa chegaria debaixo d''água tudo alagado numa vasta região denominada Alagados.
Hora de levantar, vestir-se.
Coisa nenhuma, nada de se vestir.
Dormira com a roupa da chegada, e com ela enfrentaria a peleja do dia o Papa Alagados Roberto Carlos e as baleias...
Nem lembra como foi o café da manhã.
Paparicada foi.
Em nenhum momento deixou de ser.
Despediu-se da mãe e dos meninos, agradecida, comovida por tanta atenção, carinho, não merecia tanto.
Rua, cobertura, chuva.
A poucos metros da igreja flagra conversa entre dois soldados - boa repórter não perde viagem, ouvidos sempre atentos.
Um soldado confessa ao outro o temor de uma invasão da área restrita à comitiva oficial:
- O povo vai arrebentar essas cordas.
- Vai arrebentar porra nenhuma - retruca o outro.
- Sei não - diz o temeroso.
O poliça poliça jeito de caveirão emenda com gosto de sangue na boca:
- O primeiro que se fizer de besta vai levar uma coturnada na cabeça que é pra ficar logo estirado aí no chão fudido de vez prontinho pro Papa benzer.
Botar pra foder.
Jaciara relativiza o mau-humor dos policiais, quase os desculpa: passaram a noite em claro, um stress danado, responsabilidade de dar segurança ao Sumo Pontífice, ao relento, sob a chuva, encharcados, com uma fome dos diabos.
Eram um pote até aqui de raiva e aí qualquer alteração era cacete.
Boa moça, sempre foi, mas visse Jaciara alguma arbitrariedade e não pouparia ninguém: estaria ao lado do cidadão ou cidadã agredido.
Aquela noite e aquele início de dia era uma expectativa só: Papa é Papa, e todos queriam vê-lo, se pudessem, tocá-lo.
O povo dos Alagados, do Uruguai, de tudo quanto é lugar das redondezas, ia chegando aos montes, guarda-chuvas abertos ou sem nada, se molhando todo, se acotovelava, chegava perto das cordas do isolamento, queria ver o Papa.
Só que...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Ivy Marcia: Oi como faz para adquirir seu livro???
Emiliano José: Ivy Marcia Está falando da biografia do Waldir?
Ivy Marcia: Emiliano José eu estou falando desses textos postados,q fico lendo e me imagino na cena  #MemoriasJornalismoEmiliano
Emiliano José: Ivy Marcia Ainda escrevendo. A decisão do livro, pra frente. Se puder, continue acompanhando. Beijo
Mônica Bichara: Dessa chuvarada eu lembro muito bem, foi um lameiro da peste. Se Jaciara Santos pega uma gripe daquelas, como eu peguei cobrindo a missa no CAB, minha dinda Luciana Rodrigues tava ferrada
Emiliano José: Mônica Bichara Lamarca, "O Revolucionário" está reproduzindo textos comadres.
Emiliano José: Mônica Bichara E Jaciara levando Luciana pelo meio do lamaçal...
Jaciara Santos: Emiliano José eu não fui pro CAB. Fiquei pelos Alagados mesmo...
Emiliano José: Jaciara Santos Alagados também choveu, não?
Jaciara Santos: mas o lamaçal forte foi no CAB. Parece que foi feito um aterro às pressas para a missa. Aí, veio a chuva e o aterro virou mingau...
Mônica Bichara: Jaciara Santos isso mesmo, improvisaram uma área gigantesca e não contavam com a chuva. São Pedro meteu água, literalmente. E o q tinha de beatas idosas, tadinhas, vindas de tudo qto era canto....dava pena

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Emiliano José
28 de outubro 2019
ACM é vaiado

Todo mundo queria ver o Papa.
Mas, foi uma decepção.
Profunda.
O povo só teve chance de ver Sua Santidade quando mais tarde ligou a tevê.
Só aí teve certeza de que o Papa estivera no bairro.
Cercaram-no de tanta segurança, tanto coturno, realizaram uma cerimônia tão fechada, restrita a uns gatos pingados, autoridades e membros da Igreja, tanta restrição, e impediram assim o povo de vê-lo.
Imagine a revolta da população, daquela gente humilde, que madrugou, veio caminhando pelas ruas, vielas, becos, pelos madeirames dos barracos, chapinhando os pés na lama.
Seja qual seja o Papa, e olhe, João Paulo II será um Papa no mínimo no mínimo controverso, seja qual seja ele é sempre visto como o representante de Deus na terra.
Assim é olhado pelos católicos.
E é enxergado com imenso respeito por todas as outras crenças.
Então, a ansiedade, a expectativa eram enormes.
E a frustração foi do tamanho do mundo.
ACM, em seu segundo governo biônico, bafejado sempre pelas preferências da ditadura, ainda presente, parecia à vontade, e querendo capitalizar ao máximo a visita do Sumo Pontífice.
Natural.
Mas, não teve jeito: sobrou pra ele.
O povo não ia deixar barato.
Era muita desfeita.
Um pedreiro entrevistado por Jaciara, desabafou:
- Se fosse outro dia qualquer, até que eu ficava contente em ver o governador, mas hoje eu quero ver o Papa.
Não viu.
Nem o pedreiro nem a lavadeira o dono do mercadinho nem Roberto Carlos e as baleias...
ACM acreditava no seu taco.
Certo de sua popularidade.
Após a inauguração da igreja, ele se dirige em direção ao helicóptero.
Era a forma de chegar ao Centro Administrativo da Bahia onde Sua Santidade encerraria a visita à Bahia com uma missa campal.
No pequeno trajeto, ACM acena e joga beijinhos para a multidão.
Tinha mania de fazer isso.
Recebe sonora vaia.
Aperta o passo rumo ao helicóptero, sob insistente palavra de ordem:
- Queremos ver o Papa! Queremos ver o Papa!
Saiu enfurecido.
Sem jeito a dar.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: dava gosto ver o povo berrando: "Queremos ver o papa! Queremos ver o papa", misturado às vaias. Não teve claque que encobrisse o mico pago por Suas Excelências...
Mônica Bichara: No CAB até q viram e acompanharam a missa, mas de longe (salvo a galera vip) e no lameiro. As sombrinhas até q formavam um visual bonito, mas não deixavam ninguém ver nada
Mônica Bichara: Um momento emocionante da missa campal do papa foi o imenso coral regido pelo maestro Lindemberg Cardoso, primo de Délio e Sinval, natural de Rio de Contas. Ele compôs músicas exclusivas para o evento, q reuniu vários corais 
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Emiliano José
29 de outubro 2019
Tristeza

Repórter pensa, tem opiniões.
Jaciara estava revoltada com a exclusão do povo.
Com o fato de a organização da cerimônia excluir a população, impedi-la de ver o Papa.
Confessa: achou justa a sonora vaia recebida por ACM.
Quisesse, e ele poderia ter facilitado a aproximação.
Afrouxado os mecanismos de segurança.
Mas, não.
Preferiu ou concordou em esconder o Pontífice.
Sentiu-se confortada.
Estivesse no meio do povo, não estivesse como profissional, e estaria vaiando também.
Deu um sorriso de canto de lábio.
Viu logo depois, população se dispersando lentamente e o Papa e comitiva entrarem às pressas no ônibus 412 da Empresa Santa Maria.
Foi o único momento de aceno do Papa para alguns ainda em expectativa ao longo da rua Direta do Uruguai.
Muito pouco.
O Papa, de pé dentro do ônibus, acenava para os resistentes, alguns poucos privilegiados puderam vê-lo de passagem, o ônibus se afastando..
O Sumo Pontífice vai deixando para trás cordões de isolamento arrebentados, sandálias quebradas e abandonadas, flores e bandeiras pisoteadas em meio à lama, um cenário desolador.
Tristeza, muita tristeza, Jaciara testemunha essa infinita tristeza.
A expectativa de um encontro especial termina assim.
Vida que segue, e ela corre para a redação para escrever.
Nem se despediu da família acolhedora.
Antes de entrar no carro, a dúvida do pescador Antônio Gonçalves:
- Afinal, ele veio no aviãozinho ou no carro?
Ela não sabia responder.
E isso não tinha mais importância.
Com a canonização do Papa em 2014, o templo inaugurado por ele no longínquo 7 de julho de 1980 passa a se chamar Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II.
Luciana, a primeira filha de Jaciara, nasce um mês depois de a mãe contar toda essa história no "Jornal da Bahia".
Vem ao mundo aos 25 minutos do dia 8 de agosto de 1980.
As peripécias com o Papa e o povo de Alagados ela viveu na barriga da mãe, quase nascendo...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: foi uma frustração tão grande, tão doída... O pessoal passou a noite enfeitando as ruas, decorando as frases de boas-vindas e, no final, pelo menos para a maioria, a visita se resumiu a empurrões, cotoveladas... Triste, muito triste. Foi como uma traição.
Emiliano José: E esse Papa, ai, ai.... Um furacão da extrema-direita. Ainda bem; hoje,.o grande Papa Francisco.
Graça Azevedo: Jaciara Santos Enganar o povo é tradição neste país.
Isabel Santos: Mas o povo queria vê-lo, Emiliano José. Mostrar tudo o que foi preparado, provavelmente, com muito esforço, depois de um dia suado de trabalho.
Isabel Santos: Eu tenho um pedaço do tecido que forrou a cadeirinha em que o Papa iria se ajoelhar (me deram quando fazia reportagens sobre os preparativos para a sua chegada), no Palácio Arquiepiscopal, no Campo Grande, o que não aconteceu. Imagine a decepção das freiras, ou pessoas, que fizeram a escolha do tecido floral, verde e bege, em alto relevo, organizaram o local onde a cadeirinha ficou aguardando, e coisa e tal. Era um outro público, mas cada um com sua expectativa, sua devoção...
Emiliano José: Isabel Santos Eu destaquei Isso: o povo queria vê-lo e é muito justo que o quisesse. Era o Papa. Tudo isso é retratado por Jaciara. E destaquei isso.
Isabel Santos: Sim. Fiz referência apenas ao seu comentário sobre o papa
Oculte ou denuncie isso
Emiliano José: Ele tem um papel na história, é este que indiquei. Um conversador obstinado.
Lucia GA: Na época tive uma unha arrancada um dedo do pe . Isso aconteceu no Campo Grande. Até hoje a unha só nasce escura, eu me refiro como a unha do Papa. De triste memória. PS: não vi o papa.
Liliana Peixinho: Estava lembrando esses dias que cantei no chamado Coral do Papa, regido por Lindemberg Cardoso! No final dos anos 90 trabalhava na Telebahia, do Cabula (lembram Tasso e Vita?) e fazia parte do Coral da empresa. Vários corais se uniram, inclusive o Madrigal, da UFBa, para formar um dos maiores corais que se teve notícia, até então! Cantamos lá no CAB, onde foi montada uma mega estrutura para um ato, tipo ecumênico, naquelas gramas, repletas de gente. Foi pra sempre, em minhas memórias! O maestro Fred Dantas com Lindemberg Cardoso, fizeram arranjos incríveis em músicas como Berimbau, Ave Maria de Arcadelt e outras, que levamos muitooooo tempo, a ensaiar. Eu soprano, cantei alto, do fundo da alma, pra sempre, naquele evento maravilhoso, com gente de toda parte! Obrigada, Emiliano por nos fazer rememorar fatos tão importantes em nossas vidas!
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Emiliano José
30 de outubro 2019
Viva o Papa Francisco!

A visita do Papa, Jaciara registrou em dois textos: "O Papa é nossa voz" e "E também muita decepção".
O primeiro descreve a expectativa ao longo da noite e madrugada.
O segundo, a decepção, a frustração de não ver o Sumo Pontífice.
Publicados pelo "Jornal da Bahia" no dia 8 de julho de 1980, caderno 2, noticiário local, página 5.
Karol Josef Woytyla, polonês nominado João Paulo II, foi um Papa a marcar época.
Primeiro Pontífice não-italiano desde o neerlandês Adriano VI em 1522, segurou o cetro entre 1978 e 2005, 26 anos de Pontificado.
Beatificado em 2011, canonizado em 2014, inseriu-se nas lutas políticas de sua época com gosto de gás.
Conservador, usou de toda sua influência para o combate aos comunistas.
Apoiava qualquer regime, ditadura, o que fosse.
Única condição: não ser de esquerda, não ser comunista, não simpatizar com aquelas ideias demoníacas.
No Brasil, à vontade.
Governo Federal, ditadura.
Bahia, preposto.
Estava em casa.
Tinha um cardápio de valores quase, não sei se quase, medieval: queria as mulheres no seu lugar - o lugar de subordinada ao homem, nada de contracepção, de preservativos, nada de aborto.
Fizessem tabela, calculassem os dias possíveis para o amor se não queriam ficar grávidas.
Contra os homossexuais, contra o casamento gay.
Condenava o uso de preservativos mesmo no caso de parceiros com doenças sexualmente transmissíveis.
Um poço de reacionarismo.
Inimigo visceral da Teologia da Libertação.
Coisa do diabo.
Devia ser combatida a ferro e a fogo.
Leonardo Boff foi condenado ao silêncio obsequioso sob seu Papado.
Viveu uma época gloriosa para suas ideias.
Sobretudo porque coincidente com o fim da ex-URSS, a ascensão do neoliberalismo e a superexploração do mundo do trabalho.
Contribuiu para tudo isso.
O mundo dá voltas, no entanto.
A roda da história gira.
Mesmo no mundo das igrejas.
Viva o Papa Francisco!
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: na época, eu não tinha essa visão panorâmica sobre João Paulo II. Só depois, muito depois, é que a ficha veio a cair E, sim, o papa Francisco é o cara!
Emiliano José: Jaciara Santos Não dava pra ter
Isabel Santos: Também pra mim, Jaciara Santos. Vivi uma ilusão. O Papa Francisco, sim, é o cara. Fala, age com a alma, coração e sabedoria...
Joaquim Lisboa Neto: Os cubanos sempre gostaram de comentar sobre as tiradas bem-humoradas de Fidel Castro.
Uma delas se deu quando da visita do Papa João Paulo II a Cuba.
Estavam os dois trocando ideias quando um funcionário pergunta se eles querem beber e comer alguma coisa.
João Paulo diz “quero Cuba libre”.
Fidel, “e pra mim purê de papa”.
Mônica Bichara: Quanta diferença do nosso Chico , Viva o papa Francisco. Duvido que se fosse ele na visita ia dar um ninja desse no povo
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Emiliano José
31 de outubro 2019
Não tenho medo de cobra, nem medo de lobisomem

O vapor de Cachoeira não navega mais no mar...
Jaciara navegava.
E navegava grávida.
Há controvérsias sobre o número de barrigas dela.
Mônica Bichara suscitou a controvérsia: fala em muitas.
Da fonte, dela Jaciara, temos a garantia: tomou-se embaraçada tão-somente duas vezes.
Mata a cobra e mostra a cobra morta: dois filhos.
Luciana e Leonardo.
Estão pelo mundo.
Não a deixam mentir.
Luciana foi barriga de muitas peripécias.
A menina estava no abrigo materno há três meses.
É, Jaciara estava com três meses de gestação quando navegou com ela no mar de Cachoeira.
A cidade havia se transformado em mar, água pra todo lado, cobrindo quase tudo, enchente igual só fora vista em 1960.
Era o dia 5 de fevereiro de 1980, data de meu aniversário.
Era pequena a embarcação.
Dois marujos experientes - um consolo.
Conversou com Teresa Ferreira, moradora do Caquende, e o depoimento dela foi assustador:
- É, moça, o pior é que lá no Caquende passa um riacho. Agora, está engrossando com a correnteza. Andar de barco é o maior perigo porque qualquer descuido pode resultar numa tragédia.
Medo.
O que estou fazendo aqui, grávida de três meses?
Arriscando a vida, não?
Parecia ouvir o canto ancestral:
"Navegar é preciso e viver não é preciso".
Seguia.
O barco avançava pelas ruas inundadas.
De repente, gritos: abaixem a cabeça, abaixem a cabeça, olha os fios.
É quando Jaciara se dá conta da dimensão da cheia: as águas haviam subido tanto tanto a ponto de o barco navegar rente à fiação da rede de iluminação pública.
As normas técnicas determinam uma distância de três a sete metros dos fios de alta tensão do solo.
Água, muita água em Cachoeira.
Primeiro grande susto.
Nota o barqueiro mais próximo a ela empurrar o remo para afastar alguma coisa do barco.
Adivinhando a pergunta dela, fala;
- Essas cobrinhas d'água enchem o saco!
Jaciara, alisando a barriga acariciando Luciana, pergunta, temerosa da resposta, e quase gaguejando:
- É cocobra, cobra mesmo, de verdade?
O barqueiro quer tranquilizá-la ao senti-la, digamos, um pouco apreensiva:
- Que é cobra é, não vou negar pra senhora.
Ela arregala os olhos doida sou doida fazendo o quê aqui? Luciana fique tranquila prometo lhe proteger e mal ouve o barqueiro;
- Não tem perigo, não, dona. É só não botar a mão na água.
Um friozinho de terror no pé da barriga aquelas coisinhas passando ali ao lado verdinhas verdinhas não eram vegetação sujeira inocentes galhos eram singelas cobrinhas d''água uma mordidinha e podia dar adeus à vida e não daria sozinha Luciana na barriga puta que pariu xingou e começou a rezar justo ela um medo de morrer de bicho cobra.
O segundo susto.
Sempre atenta às expressões e movimentos dos velhos marinheiros.
Percebeu então preocupação na troca de olhares dos dois...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Eu devia ter pedido a guarda da minha afilhada, essa criatura parece q pedia as pautas mais arriscadas. Luciana Rodrigues, vc não ficou com trauma de barco não?
Jaciara Santos: tô começando a concordar com a cumádi: parece que eu só vivia embuchada mesmo kkkkkkkkkkkk
Mônica Bichara: num tô dizeno ......
George Silva: O AI-5 está de preto nas águas do Nordeste matando inocentes para intimidar uma nação inteira.

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Emiliano José
1 de novembro 2019
Salvai-nos Oxalá e Senhor do Bonfim

Jaciara olhava para a água.
Cuidava pra não deixar a mão à solta.
Cobras.
Luciana tão pequenininha na sua barriga inaugurando uma fase - mulher prenha.
Alisava o ventre como se a protegesse.
Medo, tinha medo.
Mas, enfrentar.
Sua sina.
De jornalista.
Navegar é preciso viver não é preciso.
O refrão de Fernando Pessoa a voz de Caetano Veloso a invadia.
Insistente.
Olhou pros dois marinheiros, cautelosos.
Experientes.
Desde o início da navegação, vira-os sempre descontraídos.
Atentos, mas sem nenhuma sombra nos olhos.
De repente, viu-os de cenhos franzidos, cochichando entre si.
A correnteza em fúria.
Violenta.
Assustadora.
Conversavam sobre isso.
Gritavam já.
- Bora voltar, cumpadre!
- Bora - diz o outro!
Jaciara estremeceu bem que a moça do Caquende havia alertado Deus meu meu Deus que será de nós nem Caetano mais agora só rezar só Jesus na causa Jesus e os orixás e todos os santos Oxalá e Senhor do Bonfim.
- Bora, cumpadre, corrente tá puxando muito, tá arriscado da gente não segurar esse tranco.
- Logo - diz o outro.
- É, se a gente entrar no canal...
Frio, sentiu um frio gelado no pé da barriga outra vez frio de morte e Luciana?
Que loucura estou fazendo?
Aquela frase no ar se a gente entrar no canal...
Canal, ela sabia, era o majestoso rio Paraguaçu, indomável, outro rio, gigantesco, fora de seu leito natural.
Viver era preciso.
Não dava pra distinguir margens naquele mundaréu d'água.
De um lado, água.
Do outro, também.
À frente, água.
Ali era Recôncavo, mas ela pensou o mar virou sertão e o sertão virou mar Paraguaçu não era mais rio era mar e ela só pensava em amar em Luciana nascendo ela cheia de beijos e aconchego amar...
Faça como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar...
Os dois marinheiros usaram toda experiência acumulada, os músculos adquiridos na longa vida nas águas...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: no sábado passado, quando fui a Cachoeira em visita à Flica, me vi tomada por um turbilhão de emoções... Lembrei tanto dessa cobertura, Fred Passos. Mais uma vez, estávamos juntos lutando contra a fúria das águas...
Fred Passos: Inesquecíveis, Jace!!!

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(Com Fred Passos)

Emiliano José
2 de novembro 2019

Desabrigados querem mesmo é comida de graça

Enquanto os velhos marinheiros mexiam músculos, utilizavam toda experiência adquirida para evitar uma tragédia, Jaciara rememorava o dia, um refúgio quem sabe para afugentar o pavor a acossá-la, nem medo era mais, pavor.
Rememorava rememorava e o dia desde a manhã surgia como num filme.
Chegada à redação, apesar de grávida, é pautada pelo "Jornal da Bahia" para ir a Cachoeira ver de perto aquela terra virando mar.
Pertinho, pouco mais de 100 quilômetros.
Vou num tapa.
Saio agora de manhã.
À tarde, de volta.
Bora, bora.
Motorista e o fotógrafo Fred Passos juntos.
O País começava o ano sob um raro volume de chuvas.
Enchentes já haviam produzido mais de 180 mil desabrigados.
Os céus estavam furiosos.
Não se sabe a quem queriam castigar.
Fato: o povo pagava o pato.
Na Bahia, alguns municípios sofriam.
Santa Rita de Cássia e Jacobina sentiram o castigo vindo dos céus.
E Cachoeira e São Félix.
O prefeito de Cachoeira, vá lá se entender por quê, recusa categoricamente a instalação de um posto de atendimento da Coordenação de Defesa Civil do Estado (Cordec).
Não queria ajuda do Estado.
E olhe: o município já contava quase uma centena de desabrigados.
Ariston Mascarenhas, o distinto alcaide, explica a negativa de aceitar a ajuda do governo do Estado:
- Olhe, moça, o que esse pessoal quer mesmo é comida de graça. Não há motivo para essa ajuda.
De lascar, mas era esse o raciocínio do prefeito.
As águas invadem as casas as pessoas vêem seus trens boiando tudo sendo levado pela correnteza violenta desrespeitosa perdem o pouco amealhado vida afora vêem os filhos chorando diabo do prefeito vem dizer isso.
Jaciara ainda insiste:
- Mas, se a enchente se agravar?
- Se encher, paciência. As providências terão de ser agilizadas no momento certo.
Agravar?
Educação de Jaciara.
Só se Cachoeira se visse inteiramente submersa.
Um prefeito assim ninguém merece, Jaciara pensava, indignada, imaginando os desabrigados com fome e sem assistência.
Deixou a rememoração do dia de lado e voltou a prestar atenção nas manobras dos velhos marinheiros e nos clicks de Fred tentando capturar a dramaticidade daqueles instantes.
Medo, tensão, o pavor voltando...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Ari (o prefeito) e suas sutilezas... Três dias depois, ele viu no que deu sua arrogância...
Mônica Bichara: Mulher, dá pressa a esses barqueiros. Já tô de agonia c minha dinda boiando nessa enchente. Pelo menos botaram colete salva-vida?
Jaciara Santos: ahahahaha que "ete" que nada, fia!

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Emiliano José
3 de novembro 2019
Doce de pessoa

Os marinheiros manobravam bem.
Evitavam a chegada do barco nas águas do Paraguaçu, entrasse no canal.
Ela sentia o esforço e a responsabilidade deles.
Mergulhou novamente na rememoração do dia.
Melhor.
Saía do desespero.
Quando entraram de manhã na pequena embarcação viu-se lado a lado com colegas de outros veículos todos interessados no dilúvio.
Enturmou-se logo com Leila Cordeiro, repórter da TV Aratu, então afiliada da Rede Globo.
ACM só vai tomar a concessão em 1986, quando Waldir ganha a eleição.
Um doce de pessoa - Jaciara se encantou com Leila.
- Tão doce quanto bonita, dona de lindos olhos verdes e de um sorriso cativante.
Faltou pouco para paixão à primeira vista.
A confissão deve causar ciúmes entre as comadres.
Não parou: ah, tão doce, tão novinha, 23 anos completados, e uma simplicidade encantadora...
Seguia, quatro pneus arriados: não exalava a arrogância e a vaidade tão comuns a quem trabalha em televisão.
E mais: a novinha, vendo-a grávida, cerca-a de cuidados.
Tanta ternura...
Sentiu-se amparada.
Sabe como é que é né?
Mulher grávida tem sensibilidade aguçada, e aqueles mimos eram uma delícia...
Olha pra Fred, o fotógrafo, todo disposto.
Enchente não era novidade pros dois: haviam enfrentado a de Xique-Xique.
Deixou a rememoração de lado e fixou-se novamente nos marinheiros.
Que esforço, que luta para não deixar o barco ser engolido pelo Paraguaçu.
O medo, estampado nos olhos esbugalhados.
E ela, Leila, outra vez, um doce de pessoa, se achega, passa a mão na barriga dela, acaricia, e fala suave, carinhosamente, protetora, amorosa, nunca se esquecerá:
- Calma, viu? Fique calma!
Jaciara olha pra ela, agradecida, sem conseguir esconder o medo.
Leila insiste:
- Fique calma! Você não pode ficar nervosa por causa de seu bebê.
Troca um doce olhar com ela, sem conseguir dissipar o medo.
Leila insiste:
- Vai dar tudo certo!
Um doce de pessoa.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Leila era realmente um encanto de pessoa. Simples, sem a afetação que caracteriza boa parte da galera que trabalha em TV. Pelo menos, à época em que estava por aqui. Nunca vou esquecer seus cuidados comigo naquela cobertura.
Mônica Bichara: Só vi o texto agora, boas lembranças. Leila era mesmo uma simpatia, companhia frequente de coberturas. Depois foi p Rio, casou c Eliakin Araújo. Qdo clara era pequena, menos de um ano, portanto há 31 anos, fomos passar Carnaval no Rio pra família do pai conhecer. Na Sapucaí avistei Leila cobrindo pra Globo. Já no final uma galera invadiu a passarela desafiando os policiais, última escola, Mangueira, na avenida. O cinegrafista q acompanhava Leila, um gordinho, foi atingido. Lembro q os colegas atravessaram todo o percurso do desfile correndo, revezando na padiola, pra ambulância na dispersão. Sufoco

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Emiliano José
4 de Novembro 2019

Ô marinheiro marinheiro marinheiros só...

Aquele carinho todo, tanto mimo de Leila Cordeiro, leva o espírito a um canto calmo.
Pensa no Paraguaçu.
Mar Grande - o significado tupi do nome.
Nada mais apropriado.
Maior rio genuinamente baiano.
Nascido em Barra da Estiva, centro-sul da Bahia, desemboca na Baía de Todos os Santos, entre os municípios de Maragogipe e Saubara.
Era bonito vê-lo correr mansamente quando em tempos de paz.
Paz das águas.
Não agora, revolto, violento, levando tudo, gente, animais, casas, madeira, tijolos, lixo, o que encontrasse pela frente.
Olhando de cima quem sabe ainda assim o Paraguaçu parecesse bonito selvagem indômito força da natureza.
Mas, não pra ela.
Um pouco mais calma, não deixava de alisar a barriga, acariciar Luciana tão novinha nos três meses de existência.
Lembrava das palavras de Leila calma você está grávida não pode ficar nervosa.
Logo ao chegar a Cachoeira, observou as línguas do Paraguaçu lambendo as escadarias da Câmara Municipal.
O prédio de imensurável valor histórico situa-se bem acima do nível do mar, e não podia ser alcançado pela enchente.
As ondas apenas iam e vinham molhando as escadarias.
O sobrado abrigou em tempos passados a Casa de Câmara e a Cadeia Pública, simultaneamente.
Outros prédios não tiveram a mesma sorte.
Ela se comoveu com o cenário de destruição logo quando o barco começou a navegar.
Era a história tomada pelas águas.
Casa de Ana Nery.
Museu Hansen Bahia.
Tiro de Guerra.
Biblioteca Ernesto Simões Filho.
Tudo sendo encoberto pelas águas.
Viu casas sendo arrastadas pela correnteza gente desesperada tentando salvar os poucos pertences principalmente no Comércio.
Deixa a rememoração de lado.
Olha pros marinheiros quanta luta quanta força quanto músculo quanta disposição coragem para enfrentar a violência da correnteza.
Conseguem sair da correnteza principal.
Salvar a todos.
Jaciara alisa a barriga novamente murmura conseguimos minha filha e reza baixinho um murmúrio de oração misturando súplicas aos santos aos orixás a Deus bota Jesus na causa não ele nunca havia saído quase chora de alegria vê Fred clicando sem parar.
O resultado da cobertura está na matéria "Paraguaçu mata um e flagelo continua".
Publicada no dia 10 de fevereiro de 1980, um domingo.
O homem morreu afogado no dia 8.
Quando falei na ida de Jaciara no dia 5, devia explicar ter sido a primeira vez.
Essa, foi dia 9, um sábado.
Cachoeira nunca mais experimentaria uma enchente como aquela.
Não se pode dizer o mesmo dos medos de Jaciara nas águas.
Enfrentará outros mares.
E grávida.
Novamente.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Jaciara Santos: Obrigada. Muito obrigada por relatar nossa história de uma forma tão poética. Nunca me imaginei do outro lado, já que passei a vida contando histórias dos outros. Valeu!
Emiliano José: Jaciara Santos A protagonista é boa. Demais. sem mérito pro autor
Jaciara Santos: Emiliano José menos, mestre, menos...
Mônica Bichara: Essa parte do "grávida novamente" é dispensável, Emiliano José. Esqueceu que era o estado normal dela? às vzs eu penso que tem um monte de filho espalhado por aí....vou dar ideia a Mocofaia 


(A dona da porra toda)








(As comadres Iracema, Célia, Jaci, Mônica e Isabel)









Na fila para autógrafo do jornalista e escritor Emiliano José no lançamento da 1º volume da biografia de Waldir Pires)







Comentários

  1. Jaci, você não é fraca não! Emiliano fez um livro só seu (rsrs). Muito bom! legal também rever nas suas histórias e nos comentários tantos colegas,com os quais compartilhamos outros momentos também memoráveis. Enfim, como você disse, Emiliano tá mexendo com a gente sim!

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  2. Comadre Mônica, também quero postagem sua aqui da minha participação, com essa introdução mara que vc fez pra Bel e Jaci! :)

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    1. hahahaha só pq pediu não vai ter......Vc acha que logo a blogueira que é pilha pura vai ficar de fora? Aliás, tem que falar do Pilha nessas memórias

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  3. bom, não sei por onde começar. Vamos lá.
    Tudo começou com Elieser e a descoberta do comadrio, prontamente comprada por Emiliano. Ou teria sido o contrário?... Elieser viajou nas #MemóriaJornalismoEmiliano e pensou: se tem memórias no jornalismo, tem que falar de (e com) as comadres jornalistas. Bom, enquanto a gente matuta pra descobrir quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, vou navegando neste mar de emoções propiciado por esta série. Como se não bastasse tudo o que esse resgate me fez reviver, ainda sou brindada por este texto maravilha de introdução da minha irmã gêmea-comadre-amiga-filha-parceira Mônica.
    Foram quase dois meses de postagens diárias. Meu Deus, a cada dia uma nova emoção. Para mim, acostumada a contar histórias, me ver como protagonista foi uma sensação única. O conteúdo ficou gigante. Espero que as pessoas tenham paciência para ler. Não por uma questão de vaidade pessoal, mas como um reconhecimento a este trabalho magnífico de Emiliano e, aqui no Pilha, de Mônica. Queridos, só gratidão.
    Agora, é a comadre Joaninha que tá na fita. Vai que é sua, cumádi!

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    1. Você merece, comadre. Nossas histórias estão juntas e misturadas pra sempre. E cada texto desta série linda que ganhamos de Emiliano José (olha a responsa) é como se fosse de todas nós. Gratidão, mestre

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  4. Sugiro que você leia meu testemunho. "Estou tão animada que minha esposa voltou depois que ele me deixou por outro homem. Minha esposa estava tendo um caso com um colega de trabalho e eu amo muito minha esposa, mas ela estava me traindo com ele. Colega de trabalho e esse cara que eu acho que usa bruxaria ou magia negra em minha esposa para fazê-la me odiar e isso foi tão crítico e desnecessário, eu choro o dia todo e noite por Deus me enviar um ajudante para trazer de volta minha esposa! Fiquei muito chateado e precisava de ajuda, então procurei ajuda on-line e me deparei com um site que sugeria que o Dr. Wealthy pode ajudar a recuperar a ex-esposa rapidamente.Então, senti que deveria experimentá-lo. ele me disse o que fazer e eu fiz, então ele fez um feitiço de amor por mim 11 horas depois, minha esposa realmente me ligou e me disse que ela sentia tanto minha falta, oh meu Deus, eu estava tão feliz e hoje eu estou feliz com minha esposa novamente e estamos vivendo alegremente juntos e agradeço ao poderoso lançador de feitiços Dr.Wealthy, ele é tão poderoso e eu decidi compartilhar minha história aqui. você está aqui e seu Amante está recusando, ou sua esposa se mudou para outro homem, não chore mais, entre em contato com o Dr.Wealthy para obter ajuda agora. Aqui está o contato dele, ligue / WhatsApp: +2348105150446.

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