Parceiro de longas
datas do escritor e jornalista Emiliano José, autor dessa série que mergulha em
uma fase do jornalismo baiano, especialmente do extinto Jornal da Bahia, por
meio das lembranças dos colegas, Oldack de Miranda é a bola da vez.
Uma parceria que
envolveu a dureza da prisão na Ditadura Militar; clandestinidade; o livro “LAMARCA
– o capitão da guerrilha”; 40 anos de formatura em jornalismo, comemorados em
2019; a redação do Jornal da Bahia e jornais alternativos.
Por falta de mais fotos antigas, a edição vai ser ilustrada com muitas fotos recentes, pescadas das redes sociais, sem qualquer ligação com os capítulos da série.
*****************************************
(À esquerda, de camisa xadrez e calça boca de sino, Oldack Miranda cobre, pela Tribuna da Bahia, a entrevista do cineasta Guido Araújo, no ICBA, anunciando a ll Jornada de curta-metragem da Bahia, que se tornaria a Jornada de Cinema da Bahia, foco de resistência cultural à ditadura militar)
Emiliano José
17
de fevereiro 2020
No Vale do
Pindaré-Mirim
A
"Tribuna da Bahia" foi sua primeira casa.
Chegou
indicado por Telma Andrade, estudante de Física da UFBA, amiga de Césio
Oliveira, chefe de reportagem.
Contratado
por RC$ 500 cruzeiros mensais, permanece no jornal entre 1º de abril a 14 de
outubro de 1973.
Já
lá se vão quase cinquenta anos.
O
redator-chefe era Milton Cayres de Brito, o veterano comunista.
O
pauteiro, José Barreto de Jesus.
Começou
penteando telex de notícias nacionais.
Pentear
era nosso jargão para corrigir, acentuar as notícias chegadas das agências.
Logo
foi convidado para o Departamento de Pesquisas, onde trabalhou ao lado de
Gustavo Falcón.
Faziam
pesquisas e textos de apoio para as reportagens especiais.
Foi
seu laboratório de Jornalismo.
Pede
demissão em outubro.
Destino:
"Jornal da Bahia".
Convidado
por Césio Oliveira, o Gordo, atraído para a nova experiência depois do rico
aprendizado na "Tribuna".
Antes
de chegar ao novo emprego, Oldack Miranda é preso.
Uma
sucinta retrospectiva.
Militante
de Ação Popular desde o movimento estudantil em Belo Horizonte, Miranda viveu a
experiência de luta na Mata do Jaíba, em Minas Gerais, chamada pela Organização
de integração na produção.
Da
Mata do Jaíba para o Vale do Pindaré-Mirim, no Maranhão, onde o líder camponês
Manoel da Conceição liderava o trabalho de organização sindical de cerca de
cinco mil trabalhadores rurais, plantadores de arroz e mateiros.
Em
setembro de 1971, desembarca vindo das matas do Pindaré-Mirim no Terminal Rodoviário
de Sete Portas.
Reencontra
a família.
Pai
e mãe morando na Baixa do Bonfim, no final da avenida Dendezeiros.
Não
podia morar com eles.
Clandestino,
prisão decretada, hospeda-se na casa de tia Lídia, na Pituba.
Para
sair do isolamento, frequentava a casa das primas Indaia Junquilho Freire,
Isnaia e Ismaília, na Caixa D'água.
Sabia,
Miranda sabia: era uma situação insustentável, por mais solidários fossem os
familiares.
Dia
mais, dia menos, a casa iria cair.
Pensa
muito, conversa com Nelly, a mãe, e em maio de 1972 resolve se apresentar para
cumprir seis meses na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Sentença
decretada à revelia, no chamado processo dos 17 militantes da Ação Popular, em
Belo Horizonte, levando-o à clandestinidade desde 1968.
Mas,
só se apresentou porque dona Nelly...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Justa homenagem,
imagino quanta história tem pra ser contada
Telma Andrade: História de
resistência. Sempre
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(D. Nelly era amiga de Zezéu Ribeiro (PT), vereador e depois deputado federal. Em 1973, comeu o pão que o diabo amassou ao procurar três de seus nove filhos nas prisões da ditadura. Já havia experimentado esse tormento quando seu marido, Oldack Caetano Miranda, foi preso no golpe de 1964. Nilmário cumpria pena no Carandiru em São Paulo, Sérgio foi preso no Rio de Janeiro e Oldack Miranda, preso em Salvador foi levado para Recife. Era uma leoa. Nilmário escreveu: "mãe era assim, serena, aqueles olhinhos azuis comoventes, como todas as coragens de mães". Professora, a mãe leoa tornou-se ativista aos 60 anos. Quando queria descansar, Zezéu ia para Teófilo Otoni-MG)
Emiliano José
18
de fevereiro 2020
Escapando do
inferno
Dona
Nelly matutou matutou.
Filho
clandestino, condenado.
Melhor
seria cumprir a pena de seis meses e voltar à vida legal.
Lembrou-se
de colega de escola em Barbacena.
Era
agora general, podia ajudá-la.
Conversaram.
Acertou-se
que Oldack Miranda se apresentaria diretamente ao quartel do Exército, em Juiz
de Fora.
Não
passaria pelos interrogatórios do DOPS ou do DOI-CODI de Minas Gerais, onde
inevitavelmente seria torturado.
Em
maio de 1972, Miranda se apresenta de acordo com o combinado.
Passa
a cumprir os seis meses de pena na Penitenciária de Linhares, em Juíz Fora.
Uma
ação de alto risco.
Naquele
ano, repressão havia caído matando no Vale do Pindaré-Mirim, no Maranhão, de
onde ele viera.
Fizesse
a ligação, e Miranda ia comer o pão que o diabo amassou.
Saiu
da prisão, teve a experiência da "Tribuna da Bahia", chamado para o
"Jornal da Bahia", e antes que assumisse o novo emprego, outra
prisão.
Cai
numa operação sangrenta da repressão contra Ação Popular.
De
outubro de 1973 até fevereiro do ano seguinte, a ditadura mata sete dirigentes
da Organização, entre os quais Gildo Macedo Lacerda, preso junto com Miranda na
Bahia, e um dos desaparecidos políticos daqueles anos de terror.
Miranda
passa por torturas no Quartel do Barbalho e no DOI-CODI de Pernambuco, onde
matam Gildo e José Carlos da Mata Machado, um dos sete dirigentes de Ação
Popular, e colega de Miranda na Faculdade de Direito da Universidade Federal de
Minas Gerais, em Belo Horizonte.
A prisão
foi em 22 de outubro de 1973.
Saiu
cinco meses depois, março de 1974.
Começa
a trabalhar como auxiliar de escriturário na Continac Formulários Contínuos,
dirigida pelo primo Nilmário Freire e que prestava serviços ao Banco Econômico.
Extremamente
grato à solidariedade do primo, não aguentava aquela vida, não.
Num
dia de junho de 1974, lembra-se como se fosse hoje, vinha caminhando da agência
central do Banco Econômico, rua Lauro Müller, em direção ao Elevador Lacerda.
Destino:
"Jornal da Bahia", no Terminal da Barroquinha.
Na
esquina com a rua Portugal, depara com Antônio Jorge Moura:
-
Está indo pra onde, Oldack?
-
Pro "Jornal da Bahia". Acabo de encerrar uma carreira de bancário, de
três meses de experiência como auxiliar de escriturário e CR$ 420 cruzeiros de
salário. Não dá pra mim. Vou ao jornal falar com Gustavo Tapioca.
Num
rompante, Antônio Jorge disse:
-
Vou com você, também quero um lugar.
Fazia
Economia na UFBA e estagiava no Banco Econômico.
E
seguiram os dois, a conversar.
Antônio
Jorge era irmão de Mariluce Moura, jornalista, viúva de Gildo Macedo Lacerda.
Desprezaram
a rua Portugal, um vespeiro, tomaram a Santos Dumont, beiraram a calçada da
Capela de São Pedro em direção à Praça Cayru, onde estava o Mercado Modelo,
seus cheiros e sabores.
Saem
do Elevador Lacerda e passam rente à Cubana, sorveteria de dar água na boca,
até hoje no mesmo lugar.
Atravessam
a praça Thomé de Souza, descem a Ladeira da Praça, dobram lá embaixo à direita,
na Baixa dos Sapateiros, e chegam ao jornal, Terminal da Barroquinha...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
David Go Leal: Para a nossa
cultura e saber político, urge esquematizar as correntes e pensamentos que se
organizavam dentro do PC e em seguida do PT. Para mim seria uma fonte de saber.
As diversas leituras não me permitiram desenhar um quadro claro desta
importante forma de organização politica e frente de ações que reverberam e vão
revereberar por longo tempo.
Joaquim Lisboa Neto: Ler essas
crônicas é viajar pela Velha São Salvador, aqui fala um sertanejo que
andarilhou por aí nas madrugas
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(Com a filha Thaís)
Emiliano José
19
de fevereiro 2020
Transição
traumática
Oldack
Miranda foi muito bem acolhido por Gustavo Tapioca, diretor de Redação do
"Jornal da Bahia".
Foi
uma transição traumática a saída da "Tribuna da Bahia" até chegar ao
"Jornal da Bahia".
Césio
Oliveira, certamente combinado com Gustavo, o havia convidado em outubro de
1973.
No
meio do caminho, a prisão.
Só
agora, tentaria acertar os ponteiros com o jornal da Barroquinha.
Não
houve dificuldades.
Gustavo
e Césio compunham uma dupla afinada.
Inclusive
quanto à acolhida de ex-prisioneiros políticos.
Gustavo
havia sido militante de Ação Popular.
Césio,
do movimento estudantil, tendo sido presidente do grêmio da Escola Técnica
Federal.
Os
dois, com visão política e espírito solidário.
Miranda
teve carteira assinada em 26 de julho de 1974.
Salário
de CR$ 800 cruzeiros.
Em
março de 1975, ascende a repórter B.
Logo
depois, editor de Economia.
Em
seguida, editor da "Edição Especial de Segunda-Feira" - uma
experiência que colocava o jornal todos os dias nas bancas, sete dias na
semana.
Antônio
Jorge Moura, também acolhido, tornou-se um grande repórter.
Voltou
à "Tribuna da Bahia", onde estivera no mesmo período de Miranda.
Passou
pelo jornal "A Tarde", pelas sucursais do "Jornal do
Brasil" e "O Globo".
Assessorou
o Instituto Rômulo Almeida, sobre quem escreveu um livro.
Trabalhou
na assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual de Educação.
Foi
editor de Política do Correio da Bahia, jornal da família ACM.
Miranda
foi amigo de Antônio Jorge até o fim:
- Já
com posições políticas diferentes, antagônicas até, nunca rompemos a amizade,
até sua precoce morte aos 65 anos, em 4 de outubro de 2017.
Como
repórter, cobre em 1974 misteriosa ocorrência numa pequena cidade do
extremo--sul da Bahia, Ibirapuã...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Denilson Vasconcelos: Uma experiência
e tanto trabalhar com Oldack Miranda no JBa. Prezo muito sua amizade e seu
eterno ar de vô babão - páreo duro pra Zanetti. E de Antônio Jorge tenho boas
recordações, particularmente de seu espírito solidário, num momento em que
muita gente fingia olhar pro outro lado para não ver o que acontecia ao redor.
Marcelo Miranda: Muito bom rever
a história do irmão Oldack e companheiros !!!
Denilson Vasconcelos: Marcelo Miranda.
Faz um tempão que a gente não se vê, né! Um abraço
Mônica Bichara: Grandes
histórias reveladas nessa série do mestre Emiliano José. Vá juntando fotos
Oldack Miranda que sua série TB será editada no Pilha Pura com fotos e
comentários, como todas as anteriores
----------------------------------------
(Com Maria Alice e Thaís)
Emiliano José
20
de fevereiro 2020
Morte de cinco
crianças
Ibirapuã,
tem é tempo, é vítima do que o povo do Extremo-sul chama as três pragas: cana,
gado e eucalipto.
Atualmente,
mais gado, sobretudo gado.
Hoje
um grande laticínio do município emprega mais que a Prefeitura.
Claro,
com uma grande zona rural, conta com várias lavouras.
Pequeno
município.
Atualmente,
sua população aproxima-se de nove mil pessoas.
Formado
a partir da segunda metade do século XIX, emancipa-se de Caravelas somente em
1962.
Andei
por lá em anos recentes nas minhas andanças militantes, numa delas ao lado de
José Sérgio Gabrielli de Azevedo.
Sempre
muito bem acolhido por Beta, vereadora então, brava militante do PT.
Quem
quiser arribar para aqueles cantos, bom não ter pressa.
Necessário
cobrir mais de 800 quilômetros de estrada, Adolphinho me corrige se estiver
errado.
Adolphinho
me dirigia por toda a região.
Oldack
Miranda, nos seus primeiros passos no "Jornal da Bahia" recebe uma
pauta explosiva pela caixa dos peitos.
Em
Ibirapuã, numa única ruela, sem calçamento, morreram cinco crianças em poucos
dias.
Tinham
todas pouco mais de dez anos de idade.
Ditadura,
o jornal soube disso por vazamentos, comentários daqui e dali.
Tudo
era acobertado.
Boatos,
talvez.
Mas,
o jornal resolve conferir.
Miranda
só confirma a pauta quando encontra uma equipe de médicos da Secretaria de
Saúde do Estado.
As
crianças morreram envenenadas por agrotóxicos.
Descarte
de embalagens a céu aberto, o contato e a morte.
Vem
de longe a matança por agrotóxicos.
A
revista "Veja", cuja sucursal em Salvador era chefiada pelo
jornalista e professor Carlos Libório, comprou a reportagem e o assunto ganhou
repercussão nacional.
O
jornal deu manchete forte:
"Malation
mata cinco crianças".
O
Brasil atualmente é o maior consumidor mundial de agrotóxicos.
E
disparou sob o governo Bolsonaro a liberação de produtos proibidos em outros
países.
O
Malation...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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Emiliano José
21
de fevereiro 2020
Abrindo as portas
do inferno
Oldack
Miranda não imaginava certamente a que ponto chegaríamos quanto à liberação de
agrotóxicos no Brasil.
A
morte daquelas crianças em Ibirapuã era um trágico aviso.
No
governo Bolsonaro, os agrotóxicos explodiram.
Até
julho do ano passado, foram 290 liberações de venenos.
O
Ibama revelou a utilização de 539 mil toneladas de pesticidas no Brasil em
2017.
No
começo do governo do capitão reformado, segundo mês, o País chegava à
fantástica marca de 2152 agrotóxicos autorizados, muitos deles proibidos em
outros países, como o glifosato, proibido na França, produzido pela Monsanto,
hoje Bayer.
Hoje,
a morte vem aos poucos, nos nossos alimentos envenenados.
Está
certa a Larissa Bombardi, geógrafa, professora da USP, autora do Atlas
Geográfico do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia:
-
Metaforicamente, estamos abrindo as portas do inferno.
Há,
ela diz em entrevista publicada pelo "Diário do Centro do Mundo" em 1
de março de 2019, uma vulnerabilização da saúde humana e ambiental do Brasil em
função do estratosférico aumento da autorização de novos pesticidas.
Ainda
como repórter, Miranda, acompanhado pelo fotógrafo Vigota, foi pautado para
sentir e descrever o estado da chamada Estrada do Feijão, a BA-O52.
Pense
numa desgraceira.
A
estrada começava num entroncamento com a BR-116 - Rio-Bahia -, em Feira de
Santana, até chegar 459 quilômetros depois à BR-161.
Recorda-se
passando por Morro do Chapéu, Tapiramutá, Xique-Xique, Piritiba, Ipirá, Baixa
Grande e Irecê.
Lá
foram ele e Vigota e a Caravana Holiday.
De
Kombi, atravessaram aqueles sertões.
Sabem
o conforto de uma Kombi, não?
Macia,
macia...
Sei
não, só desconfio: o agravamento dos problemas de coluna de Miranda deve ter a
ver também com essa viagem.
Não
lembra do número, mas contou um a um os buracos, e algumas lembravam crateras,
Kombi tinha de desviar.
Conversou
com caminhoneiros, deu dedo de prosa com trabalhadores rurais, ouviu relatos de
testemunhas de acidentes.
Ainda
por cima, no longo trajeto, bateu um temporal dos diabos, raios e trovões de
assustar qualquer cristão, o sertão virando mar, a buraqueira crescendo mode
tanta água, Vigota fotografando, Miranda anotando, a Kombi resistindo,
semelhava jegue rompendo a caatinga...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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(Penitenciária de Linhares (MG), para presos políticos, onde Oldack ficou preso em 1972.
Foto do livro "Cova 312" da jornalista mineira Daniela Arbex. No mesmo corredor Nilmário Miranda, ministro dos Direitos Humanos de Lula, ficou preso por vários anos. Daniela desvendou um segredo guardado por 35 anos pelos militares: o assassinato do guerrilheiro de Caparaó, Milton Soares de Castro, que já cumpria pena em Linhares. Também é autora de "Holocausto brasileiro" que conta o sofrimento de 60 mil mortos no hospício de Barbacena.vendeu mais de 100 mil exemplares.)
Foto do livro "Cova 312" da jornalista mineira Daniela Arbex. No mesmo corredor Nilmário Miranda, ministro dos Direitos Humanos de Lula, ficou preso por vários anos. Daniela desvendou um segredo guardado por 35 anos pelos militares: o assassinato do guerrilheiro de Caparaó, Milton Soares de Castro, que já cumpria pena em Linhares. Também é autora de "Holocausto brasileiro" que conta o sofrimento de 60 mil mortos no hospício de Barbacena.vendeu mais de 100 mil exemplares.)
Emiliano José
22
de fevereiro 2020
Deu gorgulho na
Estrada do Feijão
Mal
arriou as malas, corpo estropiado da viagem, Oldack Miranda danou-se a escrever
sobre a Estrada do Feijão.
Era
batizada assim pelo marketing de ACM.
Irecê
havia se tornado um vigoroso produtor de feijão, e a publicidade aproveitou.
Era
último ano do primeiro governo de ACM, indicado por Garrastazu Médici, o mais
terrível dos generais-presidentes.
ACM
fora também indicado pelos militares como prefeito de Salvador anteriormente.
E
será novamente indicado governador, para um segundo mandato, entre 1979-1983.
Nele,
colava bem o rótulo de Brizola: filhote da ditadura.
Na
jornada, Miranda não encontrou muitos caminhões carregados de feijão.
O
grosso da safra seguia para Pernambuco.
Conversou
com Patinhas, naquele momento dirigindo a redação, e ele resolveu transformar a
reportagem em manchete de primeira página:
"Deu
gorgulho na Estrada do Feijão".
Histórica,
espirituosa manchete.
Patinhas
é João Santana Filho, conhecido não só como notável jornalista mas, também,
como grande publicitário voltado à comunicação política.
O
"Jornal da Bahia" viveu, entre 1971 e 1975, com ACM governando, sob
tenaz, odiosa perseguição.
Respirou
quando Roberto Santos assumiu.
Foi
ainda no ano de 1974 o julgamento de Miranda.
Dia
9 de outubro de 1974, ele ainda no "Jornal da Bahia"
Julgado
pelo Conselho Permanente de Justiça para o Exército, na Auditoria da 6ª
Circunscrição Judiciária Militar.
A
auditoria ocupava então um prédio histórico em São Joaquim, Água de Meninos
para os baianos, nome da antiga feira livre destruída por incêndio suspeito, um
pouco antes da Estação da Calçada.
O
advogado era Inácio Gomes, indicado por uma grande amiga da mãe de Miranda,
Isabel Santana, líder do Movimento Feminino pela Anistia na Bahia, secundada
por Amabília Almeida.
Inácio
Gomes foi advogado de muitos prisioneiros políticos.
Muitos
jornalistas do "Jornal da Bahia", presentes: Nilton Nascimento,
Mariana Soares,
Rêmulo
Pastore e Antônio Jorge Moura.
E o
editor da Edição Especial de Segunda-Feira, Fernando Pinto, protagonista de
uma cena hilariante.
Era
gordo, o Fernando Pinto.
Sentou-se
de modo desajeitado numa cadeira defeituosa e esparramou-se pelo chão.
Por
alguns minutos, quebrou o clima sisudo da instalação militar: foi um estrondo
da porra, os juízes militares se mexeram, todo mundo olhou pro Fernando Pinto estatelado no chão, logo ajudado a se recompor, agora com mais cuidado e em
cadeira sem defeito.
O
julgamento ocorreu sem surpresas...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Devanier Lopes: Maravilha
Jose Tavares: Tribuna da BA,
talvez o segundo jornal mais importante do estado, restou com duas folhas,
tamanha a perseguição comandada por ACM
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(Barbalho Oldack de Miranda visita cela em que ficou preso em 1973 no Forte do Barbalho)
Emiliano José
23
de fevereiro 2020
Tortura, sangue e
morte no Recife
O
julgamento de Oldack Miranda ocorreu sem surpresa.
Foi
absolvido por unanimidade.
Miranda
tinha essa expectativa.
Mas,
ditadura é ditadura: podia também ser condenado.
Essa
absolvição, de outubro de 1974, tinha uma explicação.
Não
vem assim de graça, não.
A
ditadura pretendia colocar uma pedra em cima desse processo.
Enterrá-lo,
pudesse.
Era
marcado pelo sangue.
Não
apenas sangue: por assassinatos covardes de dois revolucionários, Gildo Macedo
Lacerda e José Carlos Novaes da Mata Machado, ambos de Ação Popular, como
Miranda.
Gildo,
preso em Salvador junto com Miranda, ambos levados para Recife.
Mata
Machado, em São Paulo, e também levado para Recife.
Os
três, barbaramente torturados.
Gildo
e Mata Machado, não resistiram.
O
corpo de Mata Machado foi resgatado pela família.
O de
Gildo, nunca.
Assim,
um ano depois, melhor colocar um ponto final nisso.
Já
era governo Geisel, ditadura com a proposta de distensão lenta, gradual e
segura.
Em
1975 e 1976, mata o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho.
Distensão,
mas continuando a matar.
A
Certidão do Superior Tribunal Militar, solicitada pela advogada Ronilda Noblat
faz referência ao processo 01/74, instauração de Inquérito Policial Militar
01/73.
Denunciado
em 7/1/1974, interrogado em 25/1/1974, absolvido em 9/10/1974.
Tudo
a toque de caixa.
Como
convinha nesse caso.
Miranda
volta para o jornal com seus colegas de redação.
Passam
antes num boteco da Barroquinha, em frente ao jornal, guiados por Utamá
Sebastião, editor de Municípios, e exímio conhecedor dos bares e botequins da
velha Cidade da Bahia.
Consta
terem conseguido fechar bem suas páginas...
Chega
1975.
Miranda,
dividido entre o "Jornal da Bahia" e a sucursal do jornal de combate
"Movimento", chefiada administrativamente pelo advogado do Mosteiro
de São Bento, Adelmo Oliveira.
Voluntários,
ele e outros militantes...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Isabel Santos: Ainda bem.
#TorturaNuncaMais
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(Lembranças de Oldack: "No Forte do Barbalho, principal centro de tortura da Bahia durante a ditadura militar, ex-presos políticos e entidades de direitos humanos celebraram os 30 anos de Brasil democrático. Um dos piores danos que a ditadura provocou foi a perda de memória da população brasileira. Participei do evento e meu neto João Pedro, de 13 anos, fotografou a cela em que fiquei preso, assistiu a aula pública e a palestra sobre justiça de transição, que não ocorreu no Brasil, deixando impunes torturadores, assassinos e agentes do terrorismo de Estado").
Emiliano José
24
de fevereiro 2020
Imprensa
alternativa e EBC
É,
1975, nas lembranças de Oldack, foi um ano de muito trabalho.
Não
era simples dividir-se entre a dura rotina do "Jornal da Bahia" e as
tarefas do "Movimento".
Todos
os trabalhadores eram voluntários.
Dividiam
ele, José Carlos Zanetti e Helder Barbosa a rotina de toda semana ir buscar
"Movimento" no aeroporto "Dois de Julho"
Depois,
distribui-lo nas bancas e para os assinantes.
O
editor-chefe era o jornalista Raimundo Rodrigues Pereira.
Olhando
em retrospectiva, o mais importante jornalista da imprensa alternativa de todo
o período ditatorial.
Entre
os colunistas, o jornal contava com o deputado federal baiano Francisco Pinto,
principal liderança do Grupo Autêntico do MDB.
Jornal
alternativo, de esquerda, abertamente contra a ditadura militar.
Miranda
militou em "Movimento" até 1977, quando surge "Em Tempo",
dissidência de "Movimento".
Também
a sucursal de "Em Tempo" foi chefiada pelo advogado das invasões de
terras urbanas ociosas de Salvador, Adelmo Oliveira.
Ainda
em 1975, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia (Sinjorba) iniciou
um debate sobre a regulamentação da profissão.
As
redações estavam cheias de estagiários e profissionais considerados irregulares
- incluindo muitos ex-presos políticos.
A
luta sindical liderada pelo jornalista Anízio Félix nos obrigou a voltar pra
escola.
Fazer
vestibular e tudo.
Estudantes,
novamente.
Eu e
Oldack, entramos no mesmo ano na EBC: 1976.
Duro:
Miranda agora tinha de dividir-se entre "Jornal da Bahia",
"Movimento", depois "Em Tempo", e escola.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jose Alcino Alcino: A TVE não chega
no interior. Só da Globo. O melhor canal de comunicação do governo não chega à
grande parte da população.
Emiliano José: Chega em parte.
Está crescendo.
Denilson Vasconcelos: Todos fomos pra
faculdade. E foi muito bom conviver com gente mais nova, debates em sala de
aula, abrir a mente para novos conhecimentos...
Emiliano José: Denilson
Vasconcelos Absolutamente verdadeiro!
Isabel Santos: E assim, vocês
formaram uma dupla do barulho rsss, que deu (dá) o que falar na literatura
política. Bela amizade. Aplausos, também por terem a garra de enfrentar o
vestibular e vivenciar a EBC.
Emiliano José: Isabel Santos
eternos aprendizes
Isabel Santos: Assim também me
considero. "Só sei que nada sei", dizia Sócrates.
Emiliano José: Isabel Santos É
isso!
-------------------------------------------------------------
(Forte do Barbalho)
Emiliano José
Emiliano José
25
de fevereiro 2020
No culto dos
egunguns
Oldack
Miranda, em 1975, deu de cara com mil espíritos vagando na noite.
Deu
de cara com eguns, ou egunguns, espíritos dos antepassados.
Os
mesmos egunguns vistos por Kehinde, menina menina, passeando pelas ruas de
Uidá, na África, antes de dar com os costados no Brasil, escravizada, como
conta Ana Maria Gonçalves no seu excepcional "Um defeito de cor".
O
caso, conto como se deu.
Inventar
alguma coisa é atributo de quem conta.
Cês
já tiveram o privilégio de ler Manoel de Barros?
Se
não, corram.
Lembrei
dele: "Noventa por cento do que eu escrevo é invenção. Só dez por cento é
mentira"
Vou
tentar, no entanto, ser fiel, não obstante não seja idiota da objetividade.
Miranda
resolveu num daqueles finais de semana próprios pra curtir a vida, quando você
é chamado ao lazer, ao ócio, resolveu junto com uma renca de amigas e amigos
navegar na direção da Ilha de Itaparica.
Navegar
é preciso, viver não é preciso.
Povoado
de Ponta de Areia, praia de Amoreiras.
Ô
vidão!, como dizia Rêmulo Pastore, jornalista, amigo tirado de nós tão cedo
pelo destino ingrato.
Oldack
se refastelando.
O
velho calção de banho, cerveja que só a porra, gracias a la vida que me ha dado
tanto...
Chegada
a noite, sábado, a curiosidade animou a todos: iriam conhecer o santuário do
Culto aos Eguns.
Tinham
ouvido falar aqui, acolá, com ares de mistério, e o mistério sempre é atraente.
Não ficava
muito distante.
Coisa
de um quilômetro, logo ali, informou um pescador.
Meteram
as caras mato adentro - é, incluía passar por uma pequena mata.
Parecia
mais longe do que informara o pescador.
Mas,
não fosse assim, não seria conversa de pescador.
Chegaram,
e foram respeitosa e firmemente orientados: homens à esquerda, mulheres à
direita.
Os
atabaques soaram.
Uma
percussão perturbadora.
Parecia
do outro mundo, tão fascinante.
Miranda
viajando, nas nuvens.
Aqueles
atabaques não eram coisa de gente.
Parecia,
brinque não, parecia coisa do outro mundo.
De
fato, não podia ter perdido um espetáculo daquele.
Para
ele, um espetáculo.
Podia
até pedir perdão aos eguns e ao Alapini do Terreiro por sentir assim.
Mas,
era um espetáculo.
Extasiado,
vê o Egun surgir, belo belo, com suas roupas coloridas tecidas com folhas secas
de bananeira, dançando...
A
dança, envolvente, sedutora.
Os
corpos todos, sutilmente fosse, se mexiam.
Ao
lado dele, do Egun, um filho da Casa o acompanhava atentamente brandindo uma
vara branca.
Não
permitia...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Albany Camelo Sampaio Jr.: Emiliano,
excelente esse memorial sobre o mestre Oldack Miranda.
Julio Cezar Rocha: E haja
historia!!!!!!!!!!!
Joaquim Lisboa Neto: Viajo nos
escritos entremeados de toques musicais do companheiro Emiliano
Adilson Borges: Legal. Aí,
então...veja o próximo capítulo.
Emiliano José: Adilson Borges
Sempre. Novela é assim...
Mônica Bichara: Curiosa, sempre
tive a maior curiosidade em presenciar o Culto aos Eguns, sobretudo quando
conheci o Mestre Didi
Isabel Santos: Que poesia esse
texto de Emiliano. Estou aqui visualizando esse belo momento. Êxtase mesmo, né
Oldack Miranda? Nossa profissão é tudo de bom.
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Emiliano José
26
de fevereiro 2020
Cavalo de orixá
Fascinante,
a dança do Egun.
Um
Ojé com uma vara branca acompanhava-o atentamente.
Não
permitia a aproximação dele das pessoas sentadas nos bancos laterais.
Oldack
Miranda ouviu dele a explicação: Eguns estavam presentes.
Todos
eles queriam dançar.
É,
mas nem sempre se passa pelo culto aos Eguns impunemente.
A
pessoa chega inocente, começa a se mexer, e os Eguns podem chegar.
Aconteceu
com Angelina, da caravana de Miranda.
Entrou
em transe.
Na
visão leiga de Miranda e dos demais da turma dele, no transe, ela estava
passando muito mal.
Primeira
ideia foi sair dali.
Como?
Portas
fechadas com cadeados e correntes.
Não
era possível sair.
Miranda
conversa conversa, e convence os religiosos.
Um
Ojé com a vara branca, chamada por ele de Ixã, os conduzia pela noite
impressionantemente escura.
Quando
considerou estarem perto do destino deles, deixou-os seguir sozinhos.
Fez,
no entanto, com ar preocupado, uma advertência:
-
Andem rápido porque há mil Eguns soltos na noite.
O
pouco que faltava foi percorrido a toque de caixa, marcha acelerada.
Não
se sabe se os Eguns se intrometeram nos sonhos de Miranda e dos demais naquela
noite.
Dizer
de uma noite inesquecível é pouco.
Dela,
nunca mais se esqueceram.
Oldack
Miranda viu ali uma boa reportagem.
Não
fora pautada.
Mas,
caiu no colo dele.
Precisava,
no entanto, cercar o assunto.
Procurou
Mestre Didi - Deoscoredes Maximiliano dos Santos.
Ao
seu lado, sempre, sua companheira, estudiosa do culto aos ancestrais, Juana
Elbein dos Santos.
Queria
entender os fundamentos do culto.
Talvez
caibam duas ou três palavras sobre Mestre Didi, por sua notável importância na
religião dos orixás.
Filho
de Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora, Iyalorixá do Ilê Axé Opô
Afonjá.
Vinha
da tradição, ele.
Sua
trisavó, Marcelina da Silva, Obá Tossi, foi uma das fundadoras da primeira casa
de tradição nagô de candomblé na Bahia, o Ilê Axé Aira Intile, depois Ilê Iya
Nassô, a Casa Branca, nascida na Barroquinha, e cujo templo está hoje na
Avenida Vasco da Gama, em Salvador...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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(Comemoração dos 30 anos de formatura em jornalismo na EBC-UFBA)
Emiliano José
27
de fevereiro 2020
Mil eguns soltos
na noite
Mestre
Didi foi iniciado no culto aos orixás por Eugenia Anna dos Santos, Mãe Aninha,
fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá.
Dela,
recebeu o título de Assogbá, Supremo Sacerdote do Culto de Obaluaiyê.
Marcos
Theodoro Pimentel, Alapini do Terreiro do Barro Vermelho, na Ilha de Itaparica,
foi seu primeiro mestre no Culto aos Egunguns.
O
segundo, Arsênio Ferreira dos Santos, conhecido como Paizinho, Otun Alagbá do
Ilê Agboulá, sobrinho de Pimentel.
Foi
sagrado Alapini, Ipekun Ojé, Sumo Sacerdote do Culto aos Egunguns.
Deixou
um grande legado na literatura e nas artes plásticas, tudo voltado à
preservação da cultura africana na Bahia.
Entrevista
com Mestre Didi, já conhecendo um pouco dos fundamentos do culto aos Eguns,
Oldack Miranda escreveu a matéria.
João
Santana, então conhecido como Patinhas, editor, leu, releu, gostou, e achou o
título:
"Mil
Eguns soltos na noite".
Recuperava
a advertência dada a Miranda quando voltava pra casa depois do transe de
Angelina.
Um
belo saque.
A
lembrança dessa aventura e dessa matéria aflorou por conta de um encontro dele
com Moacir Ribeiro, em sua casa, em Monte Gordo, no Litoral Norte, isso ali por
2005.
Haviam
trabalhado juntos e se tornado amigos no "Jornal da Bahia" e no
"Bahia Hoje".
Eu o
conheci e firmei amizade acompanhando seu trabalho como editor de Polícia no
"Jornal da Bahia", nos anos 1970.
Conversa
vai, conversa vem, e subitamente Ribeiro se levanta, vai pra dentro da casa, e
volta com uma página amarelada, gasta pelo tempo, datada de 1975.
Era
a reportagem sobre os mil eguns soltos na noite.
Pediu,
quase rogou, lhe desse a folha emprestada.
Tiraria
uma cópia e devolveria o original.
Que
nada - Ribeiro não cedeu nem a pau.
Desconfiava
pudesse não voltar, a página perder-se pelos caminhos.
Único
jeito pra Miranda é desembarcar na Biblioteca Central dos Barris, procurar o
arquivo do "Jornal da Bahia", descobrir se a matéria sobreviveu, e
recuperá-la.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Carlos Pereira Neto Siuffo: Foi vc quem me
disse a frase, ali pelos inícios dos anos 1980, 'quem rouba livro é
amigo". Nunca esqueci.
Emiliano José: Carlos Pereira
Neto Siuffo Carlinhos, já perdi preciosidades assim. E como descobrir?
Mônica Bichara: Poxa, Moacyr
Ribeiro, manda uma foto dessa preciosidade aí pra a gente editar
Emiliano José: Mônica Bichara
Bem que podia, né? Comece a pedir fotos pra Oldack Miranda
Isabel Santos: Pois é. Deu bobeira,
Oldack Miranda kkkkkk Moacyr Ribeiro (querido Moa) foi mais esperto. Guardou a
preciosidade sobre nossos irmãos da religião de matriz africana. Papel
amarelado é coisa de 'jornalistadasantigas'. Você um deles. Corre atrás rs
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(Faculdade de Direito da UFMG, em 1967. Foto
encontrada no DOPS mineiro após redemocratização. Passeata contra a ditadura foi reprimida com violência em BH. A repressão gerou uma foto histórica, descoberta nos arquivos do DOPS. À direita, está o estudante Oldack de Miranda, sem camisa, pedras nas mãos, resistindo ao cerco. À esquerda, o irmão Nilmário Miranda. Quase 40 anos depois, a foto foi grafitada no Espaço José Carlos da Mata Machado, morto na tortura. A foto ilustrou o cartaz do Congresso de Justiça de Transição reproduzido pelo jornalista baiano Otto Filgueiras em seu livro "Revolucionários sem rosto - uma história da Ação Popular". Ele dedicou a obra aos seus colegas do Jornal da Bahia Oldack de Miranda, Emiliano José, José Carlos Prata e Antônio Jorge Moura)
Emiliano José
28
de fevereiro 2020
Coisa de doido
O
"Jornal da Bahia" é lembrado com entusiasmo por Oldack Miranda.
Tinha
história: fundado por um ex-comunista rompido com o stalinismo, surgiu
arrebanhando grandes intelectuais como João Ubaldo Ribeiro, Glauber Rocha, João
Carlos Teixeira Gomes, Paulo Gil Soares, Guido Guerra.
Enfrentou
odiosa perseguição de ACM.
Desenvolveu
a histórica campanha "Não deixe esta chama se apagar", resistindo à
perseguíção do déspota.
Com
Roberto Santos governador, respirou.
Levi
Vasconcelos, parte da história do jornal, em setembro do ano passado, registrou
o clima reinante à época:
"Na
juventude comunista, militante do time de Luís Carlos Prestes, João da Costa
Falcão deixou aquela vida de lado e virou grande empresário. Dono do Jornal da
Bahia, vendeu um banco, o Baiano da Produção, para bancar uma briga com ACM, em
plena ditadura militar.
Brigava
com ACM, apaziguava com a ditadura, mas abria as portas do JBa para empregar
ex-presos políticos egressos dos cárceres como Emíliano José, Oldack de
Miranda, José Carlos Prata, Dalton Godinho, José Carlos Zanetti e Denilson
Vasconcelos, encorajado pelo genro Gustavo Tapioca, também militante de
esquerda."
Não,
a nota de Levi não para aí.
Dá
ênfase à forma como João Falcão tocava o jornal.
Repetir
às vezes é necessário.
Guerra
total contra ACM, de um lado.
Nada
de melindrar os militares, de outro.
Não
dava pra brigar com os dois.
Caminhava
no fio da navalha.
Os
tempos eram duros.
Um
dia, é ainda nosso Levi contando, João Falcão convoca uma reunião de editores.
Que
será? - indagam-se todos.
#MemóriasJornalismoEmiliano
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(Recebendo o diploma de Sócio Honorário da Academia de Letras de
Teófilo Otoni (MG), em novembro de 2016)
Emiliano José
1 de
março 2020
A sublevação dos
mendigos
Marcelo
Simões é dos tais: de bem com a vida.
Nada
lhe tira o bom humor.
Pra
tirar sarro, daquiprali.
Ao
menos era assim nos anos 1970.
Até
hoje me penitencio de episódio de um longínquo carnaval, aqueles tempos.
Andava
pela Carlos Gomes, à altura do antigo "Diário de Notícias",
distraído, naqueles momentos de pouco movimento, quando todo mundo dá uma
pausa, à espera do próximo trio elétrico.
De
repente, alguém me pega pelo cinto, por trás.
Como,
não me perguntem: num golpe só botei o indigitado deitado à minha frente meus
pés já em movimento para arrebentar-lhe a cara.
Nunca
lutei judô, caratê, o que seja.
Capoeira,
sim, final dos anos 1970, com mestre Sena, na mesma Carlos Gomes, ajudado por
mestre Gilson.
Acho
tenha sido reação derivada do trauma do período da ditadura, algumas vezes
escapei depois de segurado pelo tira, e não admitia ninguém tentar me
imobilizar.
Marcelo
Simões, no chão, olhava pra mim assustado com minha reação.
Eu,
também.
Voltemos
ao baú de Oldack Miranda.
Decidida
a pauta, Simões incorporou o personagem, caminhou para a rua, um mendigo só,
todo maltrapilhado.
Viu
logo ali, nas proximidades da rua Chile, um bocado deles, pedindo esmola.
Carregava
uma caneca de alumínio grande.
Ali,
receberia as moedas e outros trocados.
Sentou,
sentiu olhares pouco amistosos dos companheiros de profissão.
Não
entendeu muito bem.
Logo,
iria compreender.
A
redação levou um susto danado quando viram entrar um mendigo esbaforido.
Simões,
olhos arregalados, medo.
A
chegada à nova atividade não fora tão pacífica.
Ponto
de esmola tem dono.
Forasteiro
não entra assim, não.
É
coisa organizada.
Não
tem sindicato, mas se põe ordem na casa.
Ninguém
se iluda com as aparências.
Sublevação
de mendigos contra ele.
-
Que é que você quer aqui?
Porrada.
Deu
polícia.
Um
bafafá de bom tamanho.
Não
quis mais repetir a aventura.
Simões,
mais tarde, foi tentar ganhar dinheiro como publicitário, escreveu livros,
buscou o mundo fora da Bahia.
Espalhou
seu talento por aí.
E
sua alegria.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Essa foi boa
hahaha grande pauta
Emiliano José: Mônica Bichara
Não cumprida...
Denilson Vasconcelos: No tempo que era
magro Tim Lopes fazia isso para jornais alternativos no Rio. Foi peão de obra,
mendigo... A televisão acabou escancarando sua imagem. E os tempos já eram
outros. Aí deu ruim.
Isabel Santos: kkkkk que massa.
Grande Marcelo Simões. Bom saque de Oldack Miranda, mas deixou nosso colega em
maus lençóis kkkkk
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Emiliano José
2 de
março 2020
Isso não tem preço
Oldack
Miranda mexe no baú.
Otto
Filgueiras, cuja partida recente para o reino dos encantados nos deixou
tristes, é parte de suas lembranças.
Dele,
também me recordo com saudade.
Foi
dos primeiros a me acolher na Bahia quando cheguei, em 1970.
Depois,
convivemos muito, como profissionais e militantes.
Miranda
recupera o lançamento em 2014 do primeiro volume de "Revolucionários sem
rosto - uma história de Ação Popular", editada pelo Instituto Caio Prado,
escrito por Filgueiras.
Fez
uma homenagem assim:
"Dedico
esse trabalho a todos os colegas jornalistas com os quais aprendi o ofício,
entre eles Vicente Alessi Filho, Oldack de Miranda, Emiliano José, José Carlos
Prata e Antônio Jorge Moura, pelos primeiros ensinamentos na profissão".
- É
uma coisa que não tem preço - diz Miranda.
Filgueiras
trabalhou no "Jornal da Bahia" e nas sucursais dos jornais "Movimento"
e "Em Tempo", na Bahia.
Em
São Paulo, na "Retratos do Brasil", "Revista do MST",
"Revista Globo Rural", "Revista Teoria e Debate" e "Gazeta
Mercantil".Em 1981, recebe o "Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e
Direitos Humanos" com a reportagem "Os 14 dias que abalaram a
Bahia", publicada pelo jornal "Movimento".
A
matéria trata do quebra-quebra de ônibus em Salvador contra o aumento do preço
das passagens.
Jadson
Oliveira é co-autor, também premiado.
Levou
o "Prêmio ABIC de Jornalismo" (1994/1995) com a reportagem "De
volta, com futuro", publicada na revista "Globo Rural".
E
publicou o livro "Chesf em alta tensão - a greve proibida", produzido
pelo Sindicato dos Eletricitários da Bahia, em 1983.
Na
iconografia de "Revolucionários sem rosto", Filgueiras inclui
fac-simile do cartaz do "Congresso Justiça de Transição - Por um Estado de
Direito", realizado entre 29 de maio e 1º de junho de 2012, na Faculdade
de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.
O
cartaz tinha por base uma foto dos irmãos Oldack de Miranda e Nilmário de
Miranda, enfrentando a polícia com pedras nas mãos, em 1968, quando a faculdade
foi ocupada pelos estudantes, num grande protesto contra a ditadura militar.
A
foto foi encontrada nos arquivos do DOPS mineiro e tornou-se ilustração da
carteira da UNE.
A
foto revela o espírito do tempo.
A
juventude de peito aberto, corpos expostos, sem camisa, as pedras lembrando a
funda de David contra Golias.
-
Isso não tem preço - repete Miranda.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Oldack Miranda,
separa essa foto e as q vc quiser pra ilustrar essas memórias. Pode ir me
mandando
Oldack Miranda: Mônica Bichara
mandando como, amiga?
Mônica Bichara: Oldack Miranda
por zap ou e-mail (moncabichara@gmail.com) pra postagem das memórias no Pilha
Pura, como as anteriores
Luiz Denis Graça Soares: Otto Filgueiras
tb editou o ALARME, boletim do Sinergia Bahia, logo após a retomada do sindicato
dos pelegos em 81. Pretendo digitalizar estes boletins neste 2020
Emiliano José: Luiz Denis Graça
Soares Ótimo, companheiro!
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(Chamada de capa da matéria de Oldack no Jornal da Bahia)
Emiliano José
3 de
março 2020
Terror nos
Alagados
Um
espectro continuava a assombrar João Falcão: o espectro da dívida.
Precisava
pagar 250 mil dólares ao Banco Econômico, parte de um empréstimo de 500 mil
dólares.
A
perseguíção de ACM cobrava seu preço.
De
cortar o coração: vendeu a histórica sede da Barroquinha para honrar o compromisso.
Antes,
uma questão o atormentou por dias: onde abrigar o jornal?
Pagava
a dívida, mas não queria fechar as portas.
Encontrou
a mais ampla solidariedade da "Tribuna da Bahia".
De
Joaci Góes e Walter Pinheiro.
Em
14 de outubro de 1981, o "Jornal da Bahia" seguiu para o prédio da
Rua Djalma Dutra.
Os
dois jornais passam a dividir o espaço.
Não
aguentou muito.
Em
dezembro de 1983, fecha negócio com dois jovens advogados.
O
jornal era agora de Carlos Villares Barral e Francisco Bastos.
Barral
e Chico Bastos convidam Oldack Miranda para ser o redator-chefe.
Foi
uma passagem meteórica.
Durou
54 dias.
Vamos
entender por quê.
Fevereiro
de 1984.
Governo
João Durval.
Um
agrupamento da Polícia Militar deflagra uma autêntica operação de guerra nos
Alagados - soldados entraram arrebentando pessoas e barracos, habitações
precárias equilibradas sobre palafitas enterradas no mar.
Um
terror.
Um
repórter da Editoria de Polícia chegou esbaforido, agitado à redação, todo
cheio de informações, fotos, entrevistas.
Miranda
ordenou: faça a matéria.
Manchete
do dia seguinte:
"Polícia
Militar aterroriza Alagados".
Crise,
diretoria se reúne, governo liga, um quiprocó da porra.
Miranda
defende a matéria.
Qualquer
jornalista sério o faria.
Além
de tudo, ele tinha um carinho especial por Alagados.
Conhecia
a área.
Algumas
vezes, danou-se pelas palafitas, bebeu cravinho e cerveja em tantas bodegas.
Fez
romaria por lá, nem uma nem duas, várias.
Para
tanto, contava sempre com a larga experiência de mestres-sala da boemia em
Salvador.
Do
maior deles, Jheová de Carvalho.
De
Rêmulo Pastore, sucessor já experimentado de Jheová, ô vidão.
De
Antônio Jorge, mais novato, mas já de boa performance na noite.
Eram
estes seus parceiros nas noitadas agradáveis de Alagados, tão pacíficas.
Lá
residiam...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Isabel Santos: Alagados está na
memória de muitos jornalistas que por ali passaram para fazer reportagens.
Vimos de perto, às vezes, com muito sofrimento e emoção, as dificuldades dos
maradores que se equilibravam de todas as maneiras naquelas palafitas. Mas
também não era difícil vivenciar o bom astral deles porque, assim, com garra e
bom humor, conseguiam ultrapassar as turbulências. Era a Esperança falando mais
alto.
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Emiliano José
4 de
março 2020
Guerra prossegue
nos Alagados
Alagados
foi um trágico retrato da concentração de renda num Brasil escravocrata,
profundamente desigual.
Eu
não tenho onde morar, é por isso que eu moro na areia...
Milhares
de pessoas de Salvador tomaram o mar de assalto.
Invadiram-no
a perder de vista na região onde é hoje o bairro do Uruguai.
Uma
arquitetura original.
Equilibrista.
Madeira.
Restos
de madeira.
Palafitas.
Trabalhadores.
Trabalhadoras.
Crianças
pra burro.
Miséria.
Uma
outra cidade.
Outro
mundo.
Com
seu comércio.
Seu
jeito de existir.
Suas
bodegas.
Seu
multifacetado pequeno comércio.
Pobre
se vira nos trinta.
Esse
mundo, Oldack Miranda conheceu.
Não
vira nenhuma razão para toda aquela truculência da PM.
Por
Isso, defendeu a manchete.
Quem
sabe, a notícia sobre a violência inibisse operações como aquela.
Que
nada.
Na
noite seguinte, sempre à noite, a PM caiu matando novamente em Alagados,
invadindo casebres, mulheres, crianças, famílias inteiras sendo acordadas sem
quê nem pra quê, apavoradas diante de tanto grito, fuzis, metralhadoras, no
meio de um cenário de guerra.
Miranda
tascou nova manchete:
Polícia
Militar volta a aterrorizar Alagados".
Demitido.
É
provável tenha havido uma pressão intensa do governo João Durval e Barral e
Chico Bastos não tenham tido peito para enfrentá-la.
E
não eram jornalistas.
Isso
talvez também contribuiu para que não compreendessem os deveres da profissão.
Miranda
conta:
- Na
última eleição que Emíliano disputou, por indicação do advogado, ex-preso
político Rui Patterson , fui à Associação de Moradores 1º de Maio articular
apoio ao candidato a deputado federal. Emocionado, vi as duas capas do
"Jornal da Bahia" pregadas na sala de reuniões. Mais de trinta anos
depois. Isso não tem preço.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Denilson Vasconcelos: Uruguai já
existia. Uma parte de Alagados, a maior, estava nele; outra, no Jardim Cruzeiro
e em Lobato; e mais uma entre Ribeira e Massaranduba.
Emiliano José: Denilson
Vasconcelos Isso
Mônica Bichara: Tem a foto dessas
capas, Oldack Miranda?
Emiliano José: Mônica, ele não
tem. Nem fotos dele como jornalista. Vamos ter que resolver Edição dele com
criatividade. Arquivo. Creio que há jeito. Ele está pensando.
Oldack Miranda: Minha gente,
depois de duas prisões na década de 1970 eu quase não aparecia, nem em fotos.
Achei que eu tinha me tornado uma pessoa tóxica, muitas pessoas foram presas
porque andavam comigo apenas. Estou pesquisando, mas é difícil.
Mônica Bichara: Imagino, mas
veja o q vc consegue. Será q o pessoal dessa associação não guardou?
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(Sessão especial da AL-BA pelos
50 anos da TV Aratu, com Suely Temporal, Neuzinha Menezes e Vanda Amorim )
Emiliano José
5 de
março 2020
Rômulo Almeida
Parece
coisa do destino.
Oldack
Miranda cultiva passagens meteóricas em sua vida profissional.
Cultiva,
nada.
Acontecem.
Em
1979, estava ele posto em sossego e aparece Chico Ribeiro Neto.
Não
era qualquer um.
Secretário
de Redação de "A Tarde".
Convida-o
para ser editor de Economia.
Era
maio.
Aceitou.
Miranda
não conhecia muito os meandros, os segredos do novo jornal.
Novo
para ele.
Do
centenário jornal.
Vamos
a um dos segredos.
Às
vezes, segredos, se não dominados, periga serem fatais.
Na
página diária de Economia, havia uma coluna chamada "Fatos e
Negócios".
Um
nome sugestivo.
Miranda
devia ter se colocado em guarda.
Procurar
saber sobre em torno de quais interesses, quais fatos e negócios alimentavam a
coluna.
Seguir
o dinheiro - velho conselho.
Nada.
No
seu raciocínio, estritamente profissional, como não tinha qualquer interesse em
publicar notas de promoção de empresas, resolveu colocar o espaço à disposição
da redação.
Democratizou
"Fatos e Negócios".
Entregavam
nota, ele publicava.
Deu
errado:
- O
jornal "A Tarde" era repartido em capitanias hereditárias. As
editorias e colunas eram privatizadas, com tolerância dos editores.
Dito
de outra forma, havia quem recebesse algum pelas notas.
Os
prejudicados sentiram seus feudos ameaçados, o dinheiro escasseando.
Reclamaram,
pressionaram, até que...
A
justificativa para a volta das capitanias hereditárias foi bem prosaica.
Jorge
Calmon, o redator-chefe, argumentou a existência do privilégio dado a Rômulo
Almeida na Editoria de Economia e no Caderno Econômico.
Era
um personagem detestado pelo governo estadual e pelo federal - pela ditadura.
Foi
o argumento.
Não
adiantava argumentar ser Rômulo Almeida a mais credenciada fonte da área
econômica de todo o País.
Admitido
em maio de 1979.
Posto
no olho da rua em dezembro de 1980.
Coisas
da vida.
Escolhas.
Delas,
nunca se arrependeu.
#MemóriasJornalismoEmiliano
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(Lançamento do livro do colega Chico Araújo sobre o Padioleiro Manoel, em 2019, com dona Maria de Lourdes e Manoel Alves de Oliveira)
Emiliano José
6 de
março 2020
Multidão estraga
festa de ACM
Em
março de 1981, Oldack Miranda é convidado para a assessoria de Comunicação da
EBAL, que gerenciava a rede estatal de supermercados da Cesta do Povo.
Walter
Baptista, presidente.
Nadya
Argolo, jornalista, com passagem anterior pelo "Jornal da Bahia",
ocupava o cargo de Relações Públicas.
Juntos,
organizam inaugurações de dezenas de unidades da Cesta do Povo Bahia afora.
De
1979 a 1983, ACM governava a Bahia.
Sem
voto, imposto pela ditadura.
A
Cesta do Povo era o carro-chefe do marketing governamental.
Ou
ao menos, uma das peças fundamentais.
As
inaugurações eram verdadeiros comícios, com direito a palanque e tudo.
Um
dia, ACM tirou da cartola a ideia de colocar um supermercado dentro de
Alagados.
Moderno,
muito bem equipado, máquinas registradoras de última geração.
Oferecer
ao povo pobre de Alagados, e bote pobre nisso, um supermercado dos melhores.
ACM
não era bobo.
Ordem
dada, ordem cumprida.
Walter
Baptista era bem mandado.
No
dia da festa, saía gente pelo ladrão, vinda das palafitas.
Todo
Alagados presente.
Suburbana
também.
Multidão.
Um
belo comício.
Como
queria ACM.
ACM,
entusiasmado.
Eufórico,
não podia ver povo.
Ao
falar, enfático, conclamou:
-
Venham, venham, é tudo de vocês!
O
povo levou a sério: invadiu o moderno supermercado, carregou tudo que via pela
frente, não havia como conter a multidão alegre, entusiasmada com a oferta do
governador.
Numa
investida como essa, aconteceu o inevitável: tudo foi ao chão, inclusive as modernas
máquinas registradoras.
Um
furacão.
Ao
final, o presidente Walter Baptista descansava no chão, sentado sobre uma das
máquinas registradoras, desalentado, sem ânimo para consolar a tristeza de toda
a equipe, cujo trabalho fora destruído em poucos minutos.
Quem
sabe, tenha sobrado uma lição: com multidão não se brinca.
E
talvez um consolo: por alguns poucos dias, matou-se a fome de um bocado de
gente.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Nelson Simões: Pense num
absurdo...
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Emiliano José
7 de
março 2020
De novo, no olho
da rua
Trabalhar
sob o jugo de ACM não era mole, não.
Não
apenas por ele.
Sim,
era de um autoritarismo incomparável.
Um
soba.
Mas,
havia o guardinha da esquina.
Mil
olhos vigiando.
Querendo
agradar o Chefe.
Talvez
pudesse emprestar de Marilena Chaui a expressão: servidão voluntária.
O
povo chamaria a espécie de forma menos elegante: o cordão dos puxa-sacos.
Um
bando de pusilânimes querendo mostrar serviço.
Às
vezes, a troco de nada.
Um
sorriso, talvez
Apenas
isso.
Garantir
um empreguinho de merda.
Coisas
pequenas.
Muitos
graciosamente exerciam o papel de dedo-duro.
Tinham
algum gozo nisso, à falta de outros.
Esses
pequenos monstros vêm à tona sobretudo em fases de transição, de crise.
Gramsci
disse Isso: é aquele momento em que o velho recusa-se a morrer,.o novo não tem
força pra despontar, e nesse intervalo surgem os monstros.
Revela-se
a face pior da sociedade.
O
sádico se revela.
A
ditadura estava por um fio.
Terminaria
em 1985.
Foi
num dia 13 o acontecido com Oldack Miranda.
13
de junho de 1983.
Walter
Baptista o chama.
Chamar
assim com alguma solenidade dava logo pra desconfiar.
Engatou
um veja bem, constrangido, e foi ao ponto.
Não
escondeu a verdade.
Recebera
um telefonema de uma senhora.
Carlista
de carteirinha.
Apaixonada,
doida pra prestar serviço.
Engenheira
aposentada.
Dona
Olga.
Proprietária
do apartamento alugado por Miranda, em Salvador.
Avenida
Centenário, 1.
Edifício
Aglo - Olga ao contrário.
Não
contou conversa: "esse rapaz trabalha pro governo ACM, mas fez campanha
aberta para Roberto Santos governador, Rômulo vice-governador, a chapa do
PMDB".
No
velho fusquinha 69, a prova do crime - adesivos da campanha.
A
senhora deu detalhes.
Walter
Baptista gostava de Miranda.
Mas,
tirou o dele da reta.
Como
arriscar?
E se
chega aos ouvidos de ACM?
Miranda
ia dizer o quê?
Negar,
não podia.
Foi
pra rua.
Pro
olho da rua.
Outra
vez...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Joaquim Lisboa Neto: No olho da rua
mas com a cabeça erguida, altaneiro. Dignidade invendável.
Angelica Rodrigues Oliveira: em tempos
sobrios, um salve aos Mirandas da vida, os imprescindíveis!
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Emiliano José
8 de
março 2020
Sabe nada,
inocente
Da
Cesta do Povo para o sindicato.
Entre
1984 e 1985, Oldack Miranda trabalha como Assessor de Imprensa do combativo
Sindicato dos Trabalhadores da indústria e Extração de Petróleo - STIEP.
Gestão
Milton Cecílio.
Como
grande parte dos jornalistas, trabalha dobrado.
Também
assessorava Mário Kertész no ano da luta pelas Diretas Já, na disputa interna
pela legenda do PMDB, vencida por Kertész.
Eleito
prefeito, ele o nomeia Assessor Especial.
Manoel
Castro entregou o cargo em 31 de dezembro de 1985.
O
ex-prefeito não tomou uma única providência para o carnaval.
E
faltavam apenas 29 dias para a festa.
A
bomba caiu no colo de Miranda.
Nomeado
Coordenador do Carnaval de Salvador, se virou nos trinta.
Passou
29 dias sem dormir em casa.
Uma
loucura.
Mas,
sentiu o gosto da vitória: o Carnaval saiu.
Na
Barra e em 22 bairros.
Trabalho
de louco.
Miranda
se recorda de um grupo carnavalesco vinculado ao PCdoB hostilizando-o
publicamente.
Uma
dirigente do grupo atirou uma cesta de lixo nele durante uma entrevista
coletiva.
Era
o preço a pagar.
Auxiliado
pelos funcionários municipais e pelo amigo Tinta Forte conseguiu dar conta do
recado.
Tinta
Forte era um negro retinto, quase dois metros de altura, bem-humorado,
despachado, mais tarde vereador, com enorme prestígio lá pelas bandas de São
Caetano.
E
sacava das manhas do carnaval.
Não
são poucas.
Miranda
não entendia porque as pessoas não se retiravam depois de tudo acertado.
Ficavam
paradas, a esperar serem chamadas.
Um
clima estranho.
Miranda
tinha de insistir: reunião encerrada.
Tinta
Forte explicou:
-
Estão esperando pra entregar a sua parte.
-
Como minha parte? - Miranda pergunta.
Tinta
Forte deve ter pensado "sabe nada, inocente", e explicou:
-
Entra carnaval, sai carnaval, e os dirigentes de bloco sempre entregavam um
tanto de dinheiro ao coordenador. Só você não recebeu...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Denilson Vasconcelos: Oldack
carnavalizando. Coisas da vida. Aprendizado e tanto.
Lucia Correia Lima: Bela denúncia
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Emiliano José
9 de
março 2020
Xerife dos preços
Logo
depois do carnaval, Oldack Miranda recebeu a estrela de xerife.
Explico.
Nomeado
por Mário Kertész Coordenador do Plano Cruzado em Salvador, fechava ou multava
supermercados resistentes ao congelamento de preços de Sarney.
Sempre
acompanhado de policiais e também fiscais da Fazenda.
Guarda
uma lembrança curiosa sobre a Coordenação do Carnaval.
Um
dia, ao chegar ao Comando da Polícia Militar, nos Aflitos, caminhando pelo
corredor com sua então inseparável pastinha preta, foi parado por um coronel:
-
Preciso de recursos para colocar os PMs no Campo Grande.
Não
andou dez metros, e outro coronel colou nele e cochichou:
-
Ele pediu dinheiro, não foi? Não dê nada não.
Uma
experiência diferente, um novo aprendizado.
Sendo
jornalista, estava sempre ao lado do poder municipal nas entrevistas.
E
era ele o entrevistado.
Waldir
Pires assume em 1987.
Miranda
passa a assessorar Pedral Sampaio, secretário de Transportes.
Correu
trecho: na Assembleia Legislativa, em momentos diversos, foi meu assessor, do
deputado João Almeida e do deputado Colbert Martins Filho.
Entre
1993 e 1994, a convite de Luiz Caetano, íntegra a Assessoria de Imprensa da
Prefeitura de Camaçari, na gestão de Humberto Ellery.
De
1995 a 2006, assessora os três mandatos do deputado federal Pedro Irujo, do
PMDB.
Registra:
durante o primeiro mandato de Lula, o Vasco Pedro Irujo votou com o governo em
tudo.
E aí
veio a experiência do jornal "Bahia Hoje".
De
agosto de 1995 a julho de 1997, assume a função de redator-chefe do jornal.
Era
empreendimento de Pedro Irujo, planejado e executado até ali pelo jornalista
Tasso Franco.
Acontece
que...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Devanier Lopes: E aí?
Emiliano José: Devanier Lopes
Vida que segue...
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(Com a filha
Thaís e o neto João Pedro)
Emiliano José
10
de março 2020
"Bahia
Hoje" debaixo de tempestade
O
"Bahia Hoje" foi uma iniciativa do empresário Pedro Irujo, planejado
e executado pelo jornalista Tasso Franco.
Oldack
Miranda é convidado para assumir como redator-chefe debaixo da tempestade de
uma greve por aumento salarial de 28 dias, liderada pelo Sindicato dos
Jornalistas da Bahia.
Assume
com a faca no pescoço.
Antes
de assumir, de modo a não confundir as coisas, tinha ido ao jornal uma única
vez, precisamente no coquetel de lançamento.
Para
levar o empreendimento adiante, jogou o jornal para a esquerda.
Luiz
Mott escrevia regularmente sobre a saga LGBT.
Zulu
Araújo, convidado por Miranda, revelou-se um grande articulista.
Arthur
Andrade, com sua coluna "Bahia com H", apimentava o jornal.
A
Editoria de Política corria solta.
Não
era pouco trabalho.
Revisava
todas as páginas, num jornal sem departamento de revisão de texto.
Fazia
o editorial.
Fechava
a primeira página.
Cravava
a manchete principal.
Registra:
isso não seria possível sem a participação do jornalista César Barrocas na
Secretaria.
E de
um dedicado corpo de editores.
Conta
mais.
No
primeiro dia de trabalho, chama o Editor de Arte, Kageiama, e dobra o salário
dele, dando-lhe liberdade de criação.
Ele
conseguiu segurar o chargista Cauh.
Miranda,
ele próprio, assinou reportagens.
Como
"Vinte e cinco anos da CESE" - Coordenadoria Ecumênica de Serviço.
Assinou
outra de página inteira, resolvendo pendenga antiga entre Pedro Irujo e Caetano
Veloso.
A
matéria era sobre um filho recém-nascido de Caetano.
Contava-se:
prepostos de Pedro Irujo picharam, na calada da noite, frases ofensivas ao
cantor no muro de sua residência em Ondina.
Seria
uma represália a críticas públicas de Caetano ao empresário.
Amigos
comuns disseram a Miranda do quanto Caetano gostara da matéria, a ponto de sair
comprando o jornal nas bancas de revista para presentear amigos.
Pedro
Irujo era personalidade contraditória...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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Emiliano José
11
de março 2020
Fim do "Bahia
Hoje"
Já
se disse: Oldack Miranda trabalhou uma dúzia de anos com "O Basco".
O
suficiente para conhecê-lo bem e considerá-lo uma personalidade contraditória.
Pedro
Irujo entrou para o PRN e liderou a aventura de Collor na Bahia em 1991 e 1992.
Passou
pelo PFL.
Chegou
ao PMDB, foi seu presidente regional.
Perdeu
o controle do partido para o rolo compressor de Geddel Vieira Lima e Michel
Temer.
Alardeava,
e isso também já se disse: durante o primeiro governo Lula, votou a favor de
todas as iniciativas governamentais na Câmara Federal.
De
Collor a Lula.
Em
2006 encerra sua carreira política.
Decidiu
não concorrer maís.
Era
dono da TV Itapoan.
Infelizmente,
como diz Miranda, decidiu vendê-la para o pastor-empresário, proprietário da
Igreja Universal, Edir Macedo.
Incluiu
o "Bahia Hoje" no negócio.
O
jornal fechou as portas.
Experiência
inovadora, de vida curta.
A
Miranda coube a tarefa de gerenciar os minutos finais:
-
Despedir uma redação de 63 profissionais foi a pior coisa que me aconteceu na
vida. A ordem era pagar tudo que a legislação ordenava, na Justiça do Trabalho.
Ninguém reclamou. A experiência do "Bahia Hoje" está para ser contada
pelo jornalista Tasso Franco. Eu peguei o barco andando.
Com
Jaques Wagner governador, Miranda é nomeado para a Assessoria da Presidência da
Agência de Fomento, Desenbahia, em janeiro de 2007.
Com
o governador Rui Costa, confirmado no cargo.
Vida
que segue.
#MemóriasJornalismoEmiliano
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(Com
Waldir Pires e o amigo Rui Barreto no lançamento da 17ª edição de
"Lamarca, o Capitão da Guerrilha", em 2015)
Emiliano José
12
de março 2020
Lamarca vive!
Dias
e dias de trabalho em minha casa no Alto do Saldanha, em Brotas, Salvador.
Um
ano ao menos de pesquisa.
Depois,
redação final.
Eu
dava o primeiro texto, Oldack Miranda complementava, Adilson Borges atento ao
bom português.
O
lançamento foi na Literarte, de Getúlio e Nildão, na Avenida Sete.
Meados
de 1980.
Gente
saindo pelo ladrão.
Miranda,
na etapa final, pegou seu velho Fusca, e desembestou na direção de Brotas de
Macaúbas.
Antes,
passamos na Capelinha de São Caetano e arrumamos alguns trocados com padre
Renzo Rossi para a gasolina.
Ele
e Deus ganharam estrada.
Ontem
mais que hoje, uma longa viagem.
Chegou
inteiro
O bravo
Fusca, também.
A
pauta era refazer o caminho de Zequinha e Lamarca desde a escapada deles do
refúgio da mata do Buriti Cristalino.
Mas,
ninguém controla os céus
Caiu
uma tempestade dos diabos.
O
sertão virou mar.
Chegaram
a Buriti Cristalino, ele e Olderico Campos Barreto, em cuja casa Miranda se
hospedou.
Foram
a pé.
O
Fusca não subia aquela serra.
Olderico
é um sobrevivente.
No
dia 28 de agosto de 1971, antes das seis da manhã, Fleury e seus homens caíram
matando no Buriti Cristalino.
Assassinaram
o irmão de Olderico e de Zequinha, Otoniel.
Mataram
o professor Luís Antônio Santa Barbara.
E
meteram uma bala na cara de Olderico, a mão direita estraçalhada por outro
tiro.
O
pai, o velho Zé Barreto, torturado por vários dias.
Massacre.
Miranda
reviveu no Buriti todo esse terror.
Mais
tarde, 17 de setembro, o assassinato de Lamarca e Zequinha.
Correram
aqueles sertões, os dois, depois de ouvirem os tiros no Buriti Cristalino.
Andaram
pelo Engenho do Pau D'Arco, Pé do Morro, Saco do Padre, Três Reses, Serra da
Conceição, Ibotirama, Carnaúba.
Lamarca,
já alquebrado, carregado nas costas por Zequinha.
Estavam
descansando numa quebrada, perto de Pintada, povoado perdido na caatinga,
município de Ipupiara.
Foram
mortos ali, covardemente.
Miranda
só conseguiu cobrir o Buriti Cristalino.
As
chuvas não o permitiram correr a região.
E
estragaram as fotos tiradas na precária máquina fotográfica carregada a
tiracolo.
Salvou
umas poucas.
Vírgula.
Rino
Marconi, com sua larga experiência, conseguiu recuperar algumas.
Providencial
ajuda.
Com
o material da reportagem de Miranda, era meter mãos a obra e colocar o livro na
rua.
Dezessete
edições, pelo menos dois filmes, 40 anos passados, podemos dizer:
-
Valeu a pena!
Iara,
Nilda, Santa Bárbara, Otoniel, Zequinha, Lamarca:
- Presentes!
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Antonio Silvany: Aniversário de
Olderico, hoje. Vida longa para ele!
Abraço
amigo.
Vera Barbosa: Encontrei
recentemente o Paulo Betti, com quem trabalhei na série "Os Maias",
ele veio a Lisboa com uma peça de teatro. Falamos sobre o seu livro, e o filme
Lamarca, onde ele foi o protagonista. Ele gostou imenso do livro e do filme...
Emiliano José tenho muito orgulho em ser sua irmã... Beijos
Emiliano
José: Vera Barbosa querida irmã, muita, muita saudade. Beijo carinhoso
Claudia Moreira de Carvalho: Um dos melhores
livros que já li na minha vida! Oldack Miranda. Emiliano José: como não amar⁉
Zora Motta: #LamarcaPresente
Marcos A B Neves: A luta continua.
Hoje o inimigo está travestido, más continua o mesmo!
Mônica Bichara: #LamarcaPresente
Fábio Rosa: Toda vez que
leio algo sobre essa passagem, fico angustiado. Parte da coragem do brasileiro
foi morta junto com Zequinha e Lamarca. Era o que queriam.
(Oldack de Miranda e Emiliano lançaram "Lamarca, o
capitão da guerrilha" na Literarte, em 1980. Registro da Tribuna da Bahia)
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(40 anos de formatura EBC)
(Com Kardé Mourão e Moacy Neves, diretora e presidente do Sinjorba)
(Com o neto João Pedro)
(Paulo Pimenta, deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul, foi o principal "influencer" na internet a apoiar Lula durante o período de prisão em Curitiba. Esteve em Salvador, na rádio Metrópole, acompanhando o ex-presidente Lula, antes da prisão. Mantém ativo o Canal da Resistência nas redes sociais)
Bem vindo Oldack! lacrou de novo comadre!
ResponderExcluirO mérito é todo do mestre Emiliano José e do protagonista Oldack
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