SIGA EM PAZ, MESTRE: "QUARENTENA" CORDEL DE MORAES MOREIRA


Com esse cordel recente, postado por ele na sua página do face, homenageamos nosso querido Moraes Moreira, mostrando que ele estava mais lúcido e conectado do que nunca com essa pandemia/pandemônio que tanto tem afetado nossa vida, nossa saúde mental e física. A exemplo de Riachão, lá se vai outro gênio baiano sem direito a uma despedida à altura. 



Do Blog do Marrom (do querido Osmar Marrom Martins)
"Noticias vindas do Rio de Janeiro informam que o cantor e compositor Moraes Moreira (72 anos, ele nasceu dia 8 de julho de 1947) morreu nesta segunda-feira em sua casa na capital carioca. A noticia foi confirmada pelo Blog através do também cantor e compositor Paulinho Boca de Cantor, amigo do artista e integrante dos novos Baianos. Emocionado Paulinho mal conseguia falar, apenas informou que ele morreu dormindo segundo relato de um irmão de Moraes.
Primeiro cantor de trio elétrico (que antes era apenas instrumental) o baiano Moraes Moreira é um dos artistas mais importantes da música popular brasileira. Desde os tempos em que fazia parte do grupo Novos Baianos, ao lado de  Baby, Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Galvão. Depois ele partiu para carreira-solo  e há poucos anos retomou a parceria com o grupo fazendo o show de reabertura da Concha Acústica,  depois percorrendo o Brasil. esse show resultou na gravação de um DVD.
Com os Novos Baianos no disco Acabou Chorare (1972, eleito pela Rolling Stones Brasil como um dos 100 melhores álbuns da história da música brasileira) ele imortalizou a música Preta Pretinha. Também é autor de sucessos como Pombo Correio, Lá vem o Brasil descendo a Laceira,  Bloco do Prazer, Vassourinha, Sintonia, Festa no Interior (também gravada por Gal Costa) entre outros."




QUARENTENA (Moraes Moreira)
Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida
Assombra-me a Pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo
Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito
De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não violência
Toda noite e todo dia
Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido
Até aceito a Policia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
Com tanta coisa inda cismo...
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia
As coisas já foram postas
Mas prevalecem os reles
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres
O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não Tem tempo, nem idade.

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