Falar
do professor Othon Jambeiro é difícil, a admiração pelo mestre me impede de
viajar muito. Principalmente quando meu papel aqui é apenas apresentar o relato
de outro mestre, o escritor, jornalista e sempre político Emiliano José. Olha a
responsabilidade.
A
princípio Emiliano pensou que a trajetória do colega, iniciada na "Folha
da Bahia", semanário de massa do PCB, entre 1962 e 1964. Carreira que passou
por várias redações e se consolidou como professor da Universidade Federal da
Bahia (da antiga EBC, onde fui sua aluna, à atual Facom), onde ainda ensina,
formando gerações de colegas.
Reencontrei
Othon em um dia especial, na Reitoria da UFBA, solenidade da Comissão Milton
Santos de Memória e Verdade da UFBA, que presidiu, ao lado do próprio Emiliano
José e de minha irmã Ilka Bichara. Momento de emoção. Belíssimo trabalho de
resgate da memória dos estragos causados pela Ditadura Militar nas vidas de
estudantes, professores e funcionários da universidade.
Mas,
como o autor aqui não manda em seus personagens, o protagonista desse capítulo
da série #MemóriasJornalismoEmiliano mudou o rumo da prosa e trouxe outras
memórias igualmente ricas para a história do jornalismo: Perseu e Cláudio
Abramo, Ariovaldo Matos e José Gorender.
Em
meio aos comentários postados por muitos colegas no face de Emiliano José, após
capítulos tão bem costurados, com sua veia literária de “quase noveleiro”, como
o batizamos, pesquei essas linhas do mestre Othon Jambeiro:
“Tive, ao lado de Ari,
outro grande e inesquecível mestre do jornalismo: José Gorender. Amigos
inseparáveis, completavam-se: se Ari era o grande editor, na acepção real do
termo, Gorender era um extraordinário redator. Sucinto, objetivo, frio se
necessário, ardente quando os fatos exigiam, era um cultor das palavras e dos
seus significados. Era capaz de resumir contextos complexos em poucas linhas e
de expandir situações simples em páginas. Ficamos presos juntos no Barbalho e
nos anos recentes, antes de seu falecimento, praticamente todas as semanas almoçamos
juntos, muitas vezes em companhia de Mauricio Naiberg, Joselito Abreu, Milton
Carvalho (Miltinho), Juracy Costa e outras grandes figuras baianas do século XX”.
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***************************
Emiliano José
24
de maio 2020
Othon Jambeiro I
É o
diabo.
O
diabo sempre atenta.
Quando
você menos espera, aparece.
Estou
aqui, seguindo meu caminho, tentando retomar minha trajetória, e ouço um
sussurro: e Othon Jambeiro?
-Verdade,
mas estava empenhado...
-
Besteira.
-
Vai deixar de lado um Mestre?
Concedo.
Volto
a mim depois.
Se o
demo não atentar novamente.
Creio
ter encontrado Othon pela primeira vez logo chegado à EBC, atual Facom,
maldosamente chamada Faconha.
Othon
era professor.
Fiz
o curso de Jornalismo entre 1976 e 1980.
Nesse
tempo, tive aula com ele.
-
Ué, vai falar de você ou de Othon?
O
diabo me interpela, meio raivoso.
-
Calma.
-
Falo dele já...
Comecei
a conhecer o Mestre.
Depois,
em momentos variados, nossos caminhos se cruzaram.
Na
militância e na Universidade, ambos professores da Facom, onde ele continua até
hoje.
Lembro:
ele vice-reitor da UFBA, me estimulando a prosseguir com o Doutorado, eu
prestes a desistir, ali por 1998, 1999.
Dessa
conversa, saí disposto a seguir adiante.
Concluí
o Doutorado, sob a orientação de outro Mestre, Albino Canelas Rubim
Já
foi personagem de livro meu por conta de prisão em 1964.
Conhecia
pouco sua trajetória jornalística.
Eu o
tinha como um acadêmico.
E
ele vem de longe no mundo do jornalismo.
Começa
na "Folha da Bahia", semanário de massa do PCB, repórter entre 1962 e
1964.
Nesses
anos, participa também da elaboração de outros pequenos jornais do PCB, de
periodicidade irregular, junto com Aurélio Velame, Humberto Vieira e Alberto,
do qual não lembra sobrenome. Será Alberto Vita? A ver.
Bem,
a "Folha da Bahia" é fechada pela ditadura em 1964.
Ditadura
é ditadura.
Othon
persiste: é o editor do jornal dos estudantes da Faculdade de Filosofia, ele
aluno de Jornalismo.
Janeiro
de 1967, diploma na mão, torna-se repórter em "A Tarde".
Primeiro,
na Reportagem Geral.
Em
março, ascende à condição de setorista: encarregado da cobertura do Palácio do
Governo, àquele tempo funcionando no Palácio Rio Branco.
Cobria
também Fazenda, Agricultura, Viação e Obras Públicas, Departamento e
Administração Geral, principais secretarias e órgãos do Estado.
Em
abril, passa a acumular tudo isso com a editoria de Economia...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Emiliano José: Mônica Bichara
Jaciara Santos Joana D'arck Othon Jambeiro Oldack Miranda Jorginho Ramos Joana
Vitória Joana Lopo Carmela Talento Ernesto Marques Ernesto Falcón Ernesto
Carvalho Adilson Borges Alberto Freitas José Carlos Teixeira José Fernandes
José Mamede José Ricardo Matos Jose Jesus Barreto Ludmilla Duarte Adelyne
Lacerda Einar Lima Margareth Cunha Lemos Gorette Brandão Nice Melo Clarissa
Amaral
Clarissa Amaral: Emiliano José
esse é um mestre muito querido, querido demais, meu orientador no mestrado e no
doutorado.
Jose Jesus Barreto: Trabalhou na
Tribuna da Bahia, começo dos anos 70. Foi secretário geral da redação, se não
me engano. Lembro-me bem dele. Elegante, educado, respeitado.
Emiliano José: Jose Jesus
Barreto Isso. Vamos chegar lá, Barretinho.
Fred Matos: Eu tinha 11 anos
a meio caminho dos 12 quando a Folha da Bahia, cuja redação funcionava em uma
sala do Edifício Themis, na praça da Sé, foi invadida e depredada. Um dia, em
abril de 64, meu pai estava preso no 19 BC, peguei a chave e fui lá com o meu
irmão Jorge Luis Matos. Estava tudo destruído, máquinas de escrever no chão,
arquivos revirados, o sofá rasgado. Criança que era, eu resolvi que iríamos
fazer o jornal, eu e o meu irmão. Primeiro passo seria levantar dinheiro. Saí
de lá para um bar/restaurante que funcionava no Belvedere da Sé. O dono era um
negro gordo e muito simpático, amigo de Ari, cujo nome, lamentavelmente, eu não
me lembro. Falei com ele que nós faríamos o jornal. Ele nos deu sorvete, algum
dinheiro e nos aconselhou ir pra casa. Queria tanto me lembrar o nome dele.
Emiliano José: Fred Matos Bem,
Fred, já provoquei você e Jorge Luis Matos. Estou vendo que há um rico
manancial, juntando vocês e Ariovaldo Matos. Mãos à obra.
Carlos Pereira Neto Siuffo: Grande Othon,
Carmela Talento: Continuo
acompanhando cada capítulo dessa história do jornalismo da Bahia tao bem
contada por Emiliano José
Mônica Bichara: Justa homenagem.
Só p me dar trabalho com a sua colcha de retalho kkkkk
Emiliano José: Mônica Bichara
Desculpe. É o diabo atentando...
Mônica Bichara: Emiliano José
kkkkkkkkkk
Fred Burgos: Othon, Emiliano,
Florisvaldo, Ruy Espinheira, Sérgio Mattos, Nadja, Setaro, Aloísio, Albino...
Era um prazer aprender!
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Emiliano José
25
de maio 2020
Othon Jambeiro II
Ainda
março de 1967, e Jorge Hage assume a Superintendência da Federação das
Indústrias da Bahia.
Inovador,
reestrutura a entidade, cria uma coordenação de comunicação e convida Ary
Guimarães para chefiá-la.
Guimarães
era redator encarregado da página editorial e da primeira página de "A
Tarde".
Não
era pouca coisa.
Convida
Florisvaldo Mattos e Othon Jambeiro para compor sua equipe.
Lembrança
de Othon:
-
Fizemos um grande trabalho lá, capitaneado por um boletim diário para a
imprensa e uma revista mensal, cobrindo todos os setores industriais baianos,
além de Sesi e Senai.
Maio
do mesmo ano, e Juracy Costa convida Othon para ser correspondente especial da
"Folha de S. Paulo", voltado exclusivamente para matérias econômicas.
Tempo,
não tinha mais.
No
entanto, aceita.
Tratava-se
de produzir matéria semanal, de profundidade, analítica, baseada em dados e em
entrevistas com industriais e homens de negócio da Bahia, além de autoridades
governamentais.
Ia
se virando nos trinta.
Foi
quando agosto chegou.
Diz
o povo: é mês do desgosto.
Desentende-se
com Cruz Rios, secretário de Redação de "A Tarde".
Não
dava pra continuar.
Pede
o boné.
Foi
trabalhar no "IC-Shopping News", semanário de negócios, dirigido por
Maurício Naiberg, Ariovaldo Matos e José Gorender, os três de tradição
comunista, não sei o grau de ligação orgânica deles ao PCB àquele momento.
Othon
sempre foi da mesma tradição.
Ariovaldo
Matos e José Gorender haviam dirigido o jornal do PCB, "Folha da
Bahia", onde Othon começara a trajetória jornalística.
Acumulava
então "Folha de S. Paulo", Federação das Indústrias e
"IC-Shopping News"
Trabalho
pra burro.
Em
novembro, sempre 1967, ano movimentado, Othon resolve chutar o pau da barraca.
E se
mandar para a Europa.
Pensava
na França, Alemanha Oriental ou União Soviética.
Vendeu
tudo que tinha, tudinho...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Ludmilla Duarte: E escolheu qual
país??????? Que suspense, professor Emiliano José!!!! 😣
Emiliano José: Ludmilla Duarte
Tenha calma... Tudo a seu tempo . Ele nem pegou o avião ainda.
Fer Nandinha: Ludmilla Duarte
kkkkkk
Mônica Bichara: Ele gosta de um
suspense, nosso noveleiro
Emiliano José: Mônica Bichara A
vida é assim... Não vem tudo de vez... Paciência...
Fred Matos: O IC me traz
boas, mas pesadas lembranças. Durante alguns meses eu e Jorge fazíamos a
distribuição do jornal na região do Campo Grande, Politeama, Garcia e Canela.
Morávamos na época na rua Visconde de São Lourenço, caminhávamos até o Relógio
de São Pedro, onde o IC funcionava, recebíamos trocentos e não sei mais quantos
exemplares nas mãos de Gominho (que era como chamávamos o tio Mauricio Naiberg)
e voltávamos entregando os jornais de casa em casa. Foi durante alguns meses o
nosso programa dominical.
Emiliano José: Fred Matos Vamos
passo a passo cumprindo a pauta, não Fred? Metam mãos à obra. Ariovaldo e vocês
merecem. Aguardando.
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Emiliano José
26
de maio 2020
Othon Jambeiro III
-
Vou-me embora - decidiu.
Não
sei se imaginou uma Pasárgada.
Mas,
decidiu arribar.
Para
a Europa.
França?
Alemanha
Oriental?
União
Soviética?
A
ver.
Chegando
no continente europeu, decidiria.
Ele
e a mulher, Marúsia.
Othon
Jambeiro procurou primeiro o presidente do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais da Bahia, Roberto Pelegrino.
Se
surgir a dúvida devido ao sobrenome, esclareço logo: é o pai do deputado de
muitos mandatos, Nelson Pelegrino.
Dele
conseguiu uma carta de apresentação que lhe daria bom trânsito.
Desembarcam
em Paris.
Era
uma, né?
Danou-se
a fazer contatos.
Bate
numa porta, bate noutra.
Boas
conversas.
Mas,
chances de ficar, nenhuma.
Arrumam
as malas.
Destino:
Berlim Oriental.
Terra
comunista.
A
carta de Pelegrino foi muito útil: foram hóspedes do Sindicato de Jornalistas
durante seis dias.
Também
na Alemanha não encontrou porto para permanência mais longa.
Indagou
sobre a possibilidade de ir para Moscou.
Negativo:
sem uma recomendação expressa de algum dirigente do PCB, não era aconselhável.
Ainda
bateu numa porta de grande prestígio: apartamento de Prestes, então residindo
em Berlim Oriental.
Quem
sabe?
Encontrou
mulher e filhos.
Prestes,
em Moscou, convocado para uma reunião.
Pasárgada,
distante.
A
Europa não lhe sorriu.
Não
lhe deu guarida.
Retornou:
Lisboa, via Berlim Ocidental, Frankfurt, Zurique, Paris, Salvador Bahia.
Partiu
em novembro de 1967.
Voltou
no final de fevereiro de 1968.
Seu
sonho europeu não durou três meses.
É
então convidado...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Emiliano José: Ludmilla Duarte.
Tentando satisfazer sua curiosidade...
José Fernandes: Othon é um dos
professores mais bem preparados do jornalismo baiano. Uma honra ter sido seu
aluno.
Emiliano José: José Fernandes
Honra de todos nós.
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Emiliano José
27
de maio 2020
Othon Jambeiro IV
Chegado
de Pasárgada, da Europa onde não encontrou acolhida, Othon Jambeiro aceita
convite para ser assessor do reitor da UFBA, Roberto Santos.
Jorge
Hage, chefe de gabinete, o convidou.
Era
fevereiro de 1968.
Em
13 de dezembro desaba o AI-5 sobre o País.
Golpe
dentro do golpe.
A
ditadura ia mostrar dentes mais afiados.
Fevereiro
de 1969, e ele novamente arruma as malas.
Estava
ameaçado de prisão na Bahia.
Outra
vez.
Roberto
Santos, solidário, sempre um gentleman, faz contatos na pauliceia acadêmica.
Consegue
a promessa de matrícula a Othon no mestrado em Ciências Sociais na USP.
De
acréscimo, uma bolsa de estudos.
Tudo
muito bem, tudo muito certo.
Matrícula
saiu logo.
Mas
a bolsa, ah, demorando, demorando...
Perseu
Abramo, amigo desde os tempos passados na Bahia, era editor de Educação na
Folha de S. Paulo.
Procura
ajudá-lo.
O
tio, notável jornalista, Cláudio Abramo, era secretario-geral do jornal -
correspondia ao atual redator-chefe.
Havia
assumido em 1967.
Cabem
duas ou três palavras.
Sobre
ele há um livro essencial, não obstante nem de longe faça justiça à sua
grandeza jornalística, intelectual e política.
Já
falei desse livro no decorrer dessa série.
Não
custa insistir, pela importância do personagem.
Organizado
pelo filho Cláudio Weber Abramo, "A regra do jogo" consegue recuperar
parte da trajetória e do pensamento de Cláudio Abramo.
Nele,
os interessados encontrarão a tese abramiana da inexistência da ética jornalística
- a ética do jornalista é a ética do cidadão, dirá.
Ficou
célebre a tese:
-
Sou jornalista, mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis,
cadeiras, e minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista -
não tenho duas.
O
jornalismo e a ética do marceneiro - figurou como subtítulo do livro, editado
pela Companhia das Letras, de 1988.
Perseu
procura o tio.
Dá
algumas voltas, fala da história de Othon, repressão, você sabe, os comunistas
são perseguidos, o sinal está fechado pra nós, não haverá uma chance de...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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(Oleone Coelho Fontes, Mauro Coelho e Othon Jambeiro)
Emiliano José
28
de maio 2020
Othon Jambeiro V
É,
ia contar da conversa de Perseu Abramo com o tio Cláudio Abramo.
Mas,
o diabo atenta.
- E
não diz nada sobre o Perseu, aquele comunista? - disse tentando disfarçar um
sorrisinho irônico.
O
diabo às vezes tem razão.
Você
pode ceder.
Ou
não.
Cedo.
Escassas
linhas em torno de Perseu.
A
família é toda de esquerda, boa linhagem: Fúlvio Abramo, Lívio Abramo, Lélia
Abramo.
O
diabo dá outro sorrisinho daqueles.
-
Boa...?
-
Excelente - respondo irritado.
Perseu
moldou-se num convívio culto, ouvindo discussões do tio com Mário Pedrosa e
Lívio Xavier, seis anos mais novo que Cláudio, nascido em 1923, ele, em 1929.
Em
1960, no "Estadão", ganha o "Prêmio Esso de Jornalismo:
organizou e dirigiu a cobertura da inauguração de Brasília.
Em
1968, torna-se Mestre em Ciências Humanas pela UFBA.
Podia
orgulhar-se: primeira defesa de uma dissertação em Ciências Humanas da UFBA - o
reitor João Carlos Salles me deu essa informação, revelando "quase
certeza".
Durante
toda a vida, conciliou atividade jornalística e militância política.
Sempre
há narizes torcidos para essa conciliação.
Esteve
com o PT desde o início.
O PT
o homenageou: a mais fecunda, produtiva fundação de estudos políticos e
teóricos de um partido leva o seu nome.
Promove,
ao longo da vida, um entendimento tácito entre as gerações passadas e as
atuais, à Walter Benjamin, como diria Marco Aurélio Garcia.
Ao
vasculhar o passado, como jornalista, firmou sempre o compromisso de resgatar a
história dos vencidos, de modo pudesse servir de ensinamento às lutas de hoje.
Estava
na "Folha de S. Paulo" naquele abril de 1969.
-
Pode parar? - o diabo me alerta.
Falasse,
mas não tanto, me reprova.
Se
quiserem, leiam então "Um trabalhador da notícia", mais de 350
páginas com textos dele, editado pela Editora Fundação Perseu Abramo -
recomenda, diabo, por velho, é lido.
- Se
aprume, volte ao leito - diabo é sujeito tinhoso.
Às
vezes, está certo.
Atendo.
Perseu
procura o tio, secretário-geral da "Folha de S. Paulo", então.
Revela
a amizade com Othon Jambeiro, fala da linhagem, a mesma, comunista, ex-preso,
desempregado, vindo da Bahia, precisa de um trabalho para sobreviver.
Cláudio
Abramo, ouvindo atentamente.
Logo,
a resposta:
-
Olhe, Perseu. Você conhece bem a redação. Minha cota de comunistas já foi
largamente ultrapassada. Não vai dar. Infelizmente.
Para
sorte de...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Esse
"diabinho" de Emiliano atenta, ainda bem, ´porque a gente fica
sabendo é coisa.....é história..
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(Lançamento de livro - 2001)
Emiliano José
29
de maio 2020
Othon Jambeiro VI
Othon
Jambeiro respirou: a bolsa do Mestrado em Ciências Sociais da USP saiu.
Havia
ficado muito preocupado quando as portas da "Folha de S. Paulo" se
fecharam.
Danou-se
a estudar.
No
final de 1970, é convidado para integrar a equipe voltada à criação do
telejornalismo da TV Cultura de São Paulo.
Indicado
por Gabriel Cohn, a quem conhecera via Perseu Abramo, amigo de todas as horas.
Trabalha
como repórter.
Todos
participavam da construção da pauta, os repórteres do cumprimento, e a edição
das matérias era também responsabilidade coletiva.
Uma
experiência extraordinária, na avaliação de Othon.
A
equipe era coordenada por um mestre: Fernando Pacheco Jordão.
Ele
havia passado oito anos na BBC de Londres.
Trouxe
essa experiência para criar um telejornalismo inovador, não obstante o clima de
terror vívido pelo País sob Médici.
Em
1974, demitido.
Um
dos mais notáveis jornalistas brasileiros, corajoso, escreveu "Dossiê
Herzog - Prisão, Tortura e Morte no Brasil", desmontando a farsa da
ditadura sobre a morte de Vladimir Herzog.
Othon,
a contragosto, só ficou até o fim de março de 1971 na TV Cultura.
Nasce
a primeira filha.
Ele
e a mulher atarefados no limite.
Os
dois fazendo Mestrado.
Sem
dinheiro para contratar uma babá.
Prazo
apertado para a conclusão das dissertações.
Apertar
o cinto, acelerar a redação, concluir o Mestrado.
Concluídos
os mestrados, ele, Marúsia e a filha voltam para Salvador.
Vida
de cigano.
Desempregado.
Setembro
de 1971.
Milton
Cayres de Brito, veterano comunista, era Editor Geral da "Tribuna da
Bahia", e sogro então de Othon.
Convida-o
para ser Subeditor Geral.
Topa
- ué, como não toparia?
Vida
de cigano: em fevereiro de 1972, a UFBA o chama para assumir o cargo de
professor de Jornalismo.
Havia
sido aprovado em concurso realizado no ano anterior.
Concomitantemente,
....
#MemóriasJornalismoEmiliano
--------------------------------------------------
(Assessor de imprensa da UFBA)
Emiliano José
30
de maio 2020
Othon Jambeiro VII
Quis
o acaso estivesse eu escrevendo sobre ele.
Hoje
Othon Jambeiro está aniversariando.
Dia
de celebrar.
Cantar
parabéns.
Abraçá-lo.
À
distância, como convém nesses tempos.
Sônia
providencia o bolo e as velas.
Contava:
assumiu-se professor em 1972, fevereiro.
Imaginem:
quase meio século formando gerações.
Está
na Facom até hoje.
Assume
e é convidado para ser assessor de imprensa do reitor da UFBA, Lafayette Pondé.
Acumula
as duas funções até 1976, ao fim do mandato de Pondé.
Concentra-se
na Facom, ainda Escola de Biblioteconomia e Comunicação (EBC).
Ministra
várias disciplinas da graduação, principalmente Prática Jornalística,
encarregada da publicação do jornal do curso.
Foi
nesse ano, 1976, meu ingresso na EBC.
Tardio
ingresso.
Estava
já com 30 anos.
Por
quatro anos estive preso - a explicação para a entrada tardia na Universidade.
Tive
o privilégio de ser aluno de Othon.
Já
era profissional, chegando no período da EBC a chefe de reportagem.
Em
1982, além de ensinar, desenvolve duas outras atividades jornalísticas.
Cria
a Agência de Notícias de Ciência e Tecnologia (Ciência Press), vinculada ao
curso de Jornalismo.
A
agência editava boletins semanais sobre as pesquisas realizadas na UFBA,
enviados aos veículos de comunicação locais e nacionais.
Essa
periodicidade foi observada rigorosamente enquanto Othon foi coordenador, entre
1982 e 1986.
Não
bastasse, Othon era, ainda, editor-chefe de um jornal quinzenal da cidade de
Senhor do Bonfim, criado em um sistema de sociedade civil sem fins lucrativos.
Era
o "Nossa Gente", onde permaneceu entre 1982 e 1984, sem qualquer
remuneração.
O
ano de 1982 me marca: faço concurso para ser professor da EBC.
Não
lembro toda a banca.
Florisvaldo
Matos e Rui Espinheira compunham-na, creio.
Ari
Guimarães também?
Creio.
Passei.
Em
1983, passei a dar aulas na Facom, digo, EBC.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Raquel Nery: De 76, ano de
seu ingresso na graduação, para 82, ano de seu ingresso como professor, são
apenas 6 anos. Que façanha!
Emiliano José: Raquel Nery Quem
sabe, a Universidade fosse mais flexível à época.
Raquel Nery: Duvido
Patrícia Greco: Um homem que
marcou sua geração
Emiliano José: Patrícia Greco
Se for Othon, que marca.
-----------------------------------------
(Presidente da Empresa Gráfica da Bahia - EGBA no Governo Waldir Pires)
Emiliano José
31
de maio 2020
Othon Jambeiro
VIII
Leitor
é bicho curioso.
Pode
querer saber a razão de Othon Jambeiro se descambar a quase 400 quilômetros de
Salvador para editar um jornal sem qualquer remuneração.
Aí
tem, o leitor pensa.
Tem.
Era
uma espécie de volta às origens.
Nasceu
nos idos de 1942 em Pindobaçu, então distrito de Campo Formoso, próximo a
Senhor do Bonfim.
Conheceu
a política em casa.
O
pai, Martinho Barbosa da Silva, foi o primeiro prefeito de Pindobaçu, logo
deixada a condição de distrito, em 1950.
Então,
Senhor do Bonfim, cidade grande, era referência antiga.
Umbigo
enterrado na região.
Ninguém
esquece.
Está
explicada a decisão de Othon de aceitar ser o editor-chefe do quinzenal
"Nossa Gente".
Não
vou mergulhar na história da militância política dele, salvo de modo marginal.
Conto-a
no capítulo "Vivo ou morto!', no "Galeria F : Lembranças do Mar
Cinzento", volume I.
É
uma rica história.
O
leitor mais curioso pode ir atrás.
A
partir de 1987, Othon dedica-se exclusivamente ao ensino e à pesquisa sobre a
economia política da comunicação.
O
doutorado em Londres, entre 1991 e 1995, teve a economia política da
comunicação como objeto.
Não
retornou mais à atividade jornalística estrito senso depois de 24 anos
mergulhado nela.
Mas,
enganam-se aqueles que o querem ver apenas como um acadêmico.
Jornalismo
nele é vocação.
-
Daí porque continuo me considerando um jornalista. Professor, sem dúvida.
Pesquisador, sem dúvida. Mas, sempre jornalista.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Henrique Sousa: Grande professor
Othon.
Wellington José: Você é excelente
Emiliano, envolve o leitor até o final, olhe que ele nem percebe que é o final.
Aguarda o próximo capítulo...
Emiliano José: Wellington José
Leitor amigo exagera. Sua leitura me honra.
Emiliano José: Miguel Cotrim
Aurelio Miguel
------------------------------------------
(Professores Fábio Velame, Paulo Miguez (vice-reitor), João Carlos Salles (reitor), Suzana Barbosa, Othon Jambeiro e Thierry Lobão)
Emiliano José
1 de
junho 2020
Othon Jambeiro IX
Falamos
da amizade entre Othon Jambeiro e Perseu Abramo.
Lembramos,
e prometemos confirmar, ter Perseu feito o mestrado em Ciências Humanas na
UFBA.
A
informação fora de João Carlos Salles, atual reitor da UFBA, querido amigo.
Ele
próprio, modo a garantir palavra, matar a cobra e mostrar a cobra morta, mandou-me
a dissertação inteira, "apresentada à Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da UFBA como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em
Ciências Humanas, sob orientação do professor Antônio Luiz Machado Neto".
Ano
de 1968.
Versava
sobre "Aspectos estruturais do trabalho na Bahia".
Leitura
panorâmica indica sólida base teórica marxista ao tratar do tema.
Não
sei se foi a primeira dissertação de mestrado em Ciências Humanas da UFBA.
O
reitor tem impressão seja.
A
ver.
O
diabo atenta.
Ele,
de novo.
Havia
firmado posição de não abordar prisão, história relativa à repressão contra
Othon em 1964.
Como
falo no inferno no livro indicado, onde detalhei essa história, sou cutucado.
- Se
citou minha casa, fale.
Cedo,
outra vez.
Quartel
de Amaralina.
Vários
presos políticos.
Sabem
da notícia: general Taurino de Resende, chefe da Comissão Geral de Inquéritos,
ordena ao general Ernesto Geisel, a realização de uma geral nos presídios
brasileiros.
Havia
muitas denúncias de maus-tratos Brasil afora, e a ditadura ainda pretendia dar
alguma impressão de respeito aos direitos humanos, de fachada fosse.
AI-5
virá depois.
Os
presos preparam-se para a visita.
Sabiam
notícias por um transistor presenteado por um cabo.
Cadeia
tem dessas coisas: solidariedade surge de onde você menos espera.
Cabo
presenteou, mas advertiu:
-
Bico, porque senão sobe pras cabeceiras, graduado sabe, e se graduado sabe é
cana.
Geisel
não deveria sair de Amaralina sem conhecer a história de arbítrio e violências
desde a eclosão do golpe na Bahia.
Othon,
então...
#MemóriasJornalismoEmiliano
-------------------------------------------------
(Entrega de Relatório da Comissão da Verdade, em 2014, à reitora Dora Leal Rosa)
Emiliano José
2 de
junho 2020
Othon Jambeiro X
Tinham
de encontrar um jeito de chamar a atenção do ilustre visitante.
Era
um dos maiorais da ditadura.
Maioral
a ponto de mais tarde vir a ser presidente da República, o quarto ditador a
partir de 1964: Castello Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto
Geisel, com uma Junta Militar pelo meio.
Naquele
momento, Geisel era chefe da Casa Militar de Castello Branco.
Othon
Jambeiro pensou: pra chamar atenção, tem de ser alguma coisa forte.
Algo
espetacular.
Deu
o estalo: a "Divina Comédia", Dante Alighieri.
A
frase à porta do inferno: Lasciate ogni speranza voi che entrate.
O
próprio Othon escreveu-a na cartolina em letras garrafais.
Algo
como "deixem fora toda esperança os que aqui entrarem", numa tradução
livre e precária.
Perfeita
para a situação.
O
cartaz, afixado no fundo da cela, bem visível para quem chegasse à frente da
cela.
Impossível
não enxergar.
Era
a maneira de os presos políticos expressarem a revolta contra o fato de terem
sido sequestrados e estarem incomunicáveis.
A
cela não era grande: dois metros e meio por dois.
O
cartaz seria visto.
Geisel
chegou com pompa e circunstância: acompanhado de vários oficiais e do
comandante da 6ª Região Militar, general Mendes Pereira.
Geisel
depara com o cartaz e, severo, pergunta:
-
Quem colocou isso aí?
- Eu
- respondeu Othon.
-
Por quê?
Othon,
sem meios termos, detalhou a situação dos prisioneiros políticos.
Denunciou
tudo.
Geisel
o ouviu atentamente e antes de qualquer outro comentário, perguntou, para
surpreso dos presos, descrentes fosse homem culto:
-
Isso não é Dante Alighieri?
- É
- respondeu Othon.
-
Vejo que há algum intelectual aqui - disse Geisel.
O
poeta Camilo de Jesus Lima adiantou-se e...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Cristiano Ribeiro: 👏👏👏👏
Vera Barbosa: Gostei
imenso.... Parabéns!!!
Emiliano José: Vera Barbosa
Beijo, querida irmã
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(Com turma de formandos da UFBA)
Emiliano José
3 de
junho 2020
Othon Jambeiro XI
Poeta
é da ousadia.
Inda
mais nascido em Caetité, terra de tantos educadores, intelectuais e poetas.
Inda
mais se sobrinho-neto de Plínio de Lima, colega de Castro Alves na Faculdade de
Direito de Recife, ousado abolicionista.
Quando
é preso em 1964, Camilo de Jesus Lima já era senhor de obra literária de monta,
do romance à poesia.
Tinha
a quem puxar, né?
E
cultivava a herança histórica de uma cidade-educadora.
Já
ultrapassara a casa dos 50 anos, nascido em 1912.
Comunista.
E
jornalista.
Quando
os esbirros da ditadura o prendem em Macarani, no Sudoeste da Bahia, era redator-chefe
de "O Jornal de Conquista".
Morrerá
atropelado em Itapetinga, em 1975.
Estava
junto com os demais presos políticos do Quartel de Amaralina quando da visita
de Geisel.
Quando
o general disse haver algum intelectual
entre
os presos, adiantou-se:
- General,
intelectuais somos todos os que aqui estamos. E intelectuais a serviço do povo,
dedicados à libertação do Brasil e à liberdade de todos os brasileiros,
intelectuais lutando por uma causa justa.
Havia
vários repórteres presentes.
Os
fotógrafos, ao perceberem o movimento de Camilo de Jesus Lima tomaram posição
de combate.
Foram
desestimulados não tão educadamente por oficiais a mando de Manelão, como era
chamado o general Mendes Pereira, comandante da 6ª Região Militar.
Geisel
certamente se impressionou.
Deve
ter pensado: comunista é bicho ousado.
O
cartaz à porta do inferno, a fala de Othon, a ousadia de Camilo.
Chegou
a dar explicações sobre sua missão, saber a situação dos presos, coibir
violências e árbitrios.
Prometeu
examinar tudo com atenção.
Caso
tivessem razão, fosse verdadeira a afirmação deles sobre a existência da
concessão de um habeas corpus pelo Superior Tribunal Militar para a libertação
deles, seriam soltos nos dias seguintes.
Era
agosto de 1964.
No
dia 10 de outubro, a ordem do STM foi cumprida, eles foram libertados, Othon
Jambeiro inclusive.
Essa
história é bem mais ampla.
Já
disse: podem encontrá-la no primeiro volume do "Galeria F : Lembranças do
Mar Cinzento".
Boa
leitura.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Lucia Correia Lima: Que história
linda com Geisel. Eu o fotografei com exclusividade pois me escondi imagina no
aeroporto militar
Emiliano José: Lucia Correia
Lima Proeza, Lúcia
Lucia Correia Lima: Emiliano José
para Tribuna que publicou ele embarcando. Acho que foi nestes mesmos duas da
vossa forte história
Emiliano José: Lucia Correia
Lima 1964
Lucia Correia Lima: Emiliano José.
não então. Acho que a foto foi em 76 por ai. Ele já era presidente. Foi na Base
Naval.
--------------------------------------------
(Ariovaldo Matos entrevistando Jorge Amado)
Emiliano José
4 de
junho 2020
Othon Jambeiro XII
Ao
escrever sobre Othon Jambeiro, deparo com outro dos grandes do nosso
jornalismo.
Ariovaldo
Matos não foi apenas jornalista.,
Comunista,
esteve sempre ligado às lutas de seu tempo.
O
jornalismo, no entanto, era sua febre.
Dele,
nunca se afastou.
E só
deparei com ele agora por conta das reflexões de Othon envolvendo-o.
Claro,
Ariovaldo é conhecido.
Dele,
ouvira falar muito.
Pelo
seu livro sobre a invasão do Corta-Braço, do bairro do Pero Vaz/Liberdade.
Pela
participação em "O Momento", jornal do PCB.
Pela
prisão em 1964.
Por
contos, peças teatrais.
E
pela militância no PCB.
Tenho
conversado com seus filhos, Fred de modo especial.
Interessado
em sua história.
Quem
sabe, reúna material para escrever sobre ele nessa série.
Não
será agora.
Aqui,
revelo o olhar de Othon sobre ele.
Olhar
de admiração, respeito, reverência.
Pego
uma carona.
Reúno
dois grandes.
Foram
os filhos a me fazer conhecer um texto de Othon sobre Ariovaldo.
Publicado
numa coletânea de contos dele, organizada por Guido Guerra, com quem
compartilhei vida jornalística, um dos nossos grandes.
"A
Ostra Azul" - de 1999.
"Ari,
um jornalista", título do texto de Othon.
Se
entitulasse "Ao mestre, com carinho" também estaria certo, tal o
apreço revelado a quem tanto o ensinou.
Othon
parte de uma reflexão existencial.
Na
passagem pela vida, temos modelos de comportamento.
Na
infância e adolescência, o pai, algum tio ou irmão mais velho, amigo
bem-sucedido com as garotas ou bons de bola.
Na
juventude, há uma natural e progressiva reformulação de referências.
Outros
atores sobem ao palco.
Intelectuais,
artistas, professores passam a conviver com pelo menos parte dos modelos
anteriores no nosso imaginário.
Esses
modelos com o tempo se esvaem em nossas mentes, deixando alguma marca em nossas
vidas.
Usados
no que convém, são depois relegados ao esquecimento.
São
apeados do Olimpo, banalizados.
Há
exceções, no entanto.
Os
resistentes.
Insistem
em morar em nosso espírito.
Não
sucumbem à tempestade inconsciente, redutora de tanta gente a personagens
desimportantes, restos imprestáveis.
São
os modelos verdadeiros, consistentes.
Não
são redutíveis a partes.
Guardam
uma integridade capaz de resistir a qualquer desmonte.
Exibem
uma articulação moral...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jorginho Ramos: Com a devida
vênia do mestre Florisvaldo Mattos, jornalista e poeta - ambos os exercícios
praticados com excelência - posto aqui um poema que ele dedicou a Ariovaldo
Matos, publicado à página 223 de "Antologia Poética e Inéditos"
(Egba. 2017). Flori o teve como um mestre e guia, na pioneira redação do
"Jornal da Bahia", lá pelo final dos anos 50, na ilustre companhia de
Glauber Rocha, João Ubaldo Ribeiro, João Carlos Teixeira Gomes (Joca)...
Fred Matos: Eu amo esse
soneto e não apenas por ser dedicado ao meu pai, mas porque é muito bem
conseguido. Aproveito para agradecer a Florisvaldo Mattos. Sempre que o leio,
me emociona muitíssimo.
Jose Alcino Alcino: Jornalista
podem, também, virar história. Boa ou ruim.
Nelson Varón Cadena: A ABI possui cópia
de documentos sobre a devassa na casa e prisão de Ariovaldo. Serão expostos ao
público no novo Museu da Imprensa e Liberdade de Expressão com inauguração
prevista em agosto próximo.
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(Ariovaldo Matos)
Emiliano José
5 de
junho 2020
Othon Jambeiro
XIII
Os
sobreviventes, os resistentes no nosso imaginário, exibem uma articulação
moral, psicológica, profissional, cultural, social, política, ideológica capaz
de torná-los seres integrais, indivisíveis, unos.
Othon
Jambeiro tem certeza: Ariovaldo Matos era um desses.
Se
tomado como modelo, vinha por inteiro.
Importa
pouco se quem o admira prefira o político.
Ou o
escritor.
Ou o
teatrólogo.
Importa
pouco porque logo o admirador conclui: o comportamento político, os livros e
contos, as peças teatrais carregavam todos a mesma compreensão da vida, da
sociedade, dos homens.
A
expressão do teatrólogo estava na política.
A
expressão do escritor, nas peças teatrais.
E a
política se esparramava por tudo, ora como um riacho, às vezes como um
Amazonas, nas entrelinhas, nas linhas.
-
Ari foi um dos mais intensos modelos de comportamento que passaram na minha
vida.
Essa
admiração foi crescendo ao longo da vida, até tornar-se uma serena, inafastável
presença, inspiração.
Tudo
começou na redação do 'Folha da Bahia", antes de 1964.
Ele,
iniciando-se profissionalmente.
Num
jornal sob hegemonia do PCB.
Ari,
redator-chefe.
Uma
vocação inegável e consolidada para o jornalismo.
- Um
editor na acepção plena do termo, um líder intelectual, um formador de
profissionais.
Ser
editor não é para qualquer um.
Ele
era um deles, dos mais completos.
Corrigia
os erros dos seus comandados usando ora a crítica franca, dura, ora a lógica
implacável da relação entre os fatos, ancorada em seus densos referenciais
políticos, econômicos, sociais e culturais.
O
fato não vinha separado de seu contexto.
Dominante,
impunha-se pelo saber e pelo pensar.
Era,
em primeiro lugar, um jornalista.
Um
chefe de redação...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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(Ariovaldo Matos na redação do jornal O Momento- foto tirada da pagina 3 dos anexos da dissertação de Sônia Serra)
Emiliano José
Emiliano José
6 de
junho 2020
Othon Jambeiro XIV
Othon
Jambeiro define Ariovaldo Matos.
Em
primeiro lugar, um jornalista.
Em
segundo, um chefe.
Capaz
de decidir.
De
dar a última palavra, quando necessário.
Que
assumia ser ponto final na cadeia de comando do jornal.
No
"Folha da Bahia", era um misto de redator-chefe, copidesque, chefe de
reportagem.
Havia
vários profissionais de alto nível sob o comando dele.
Ele
os dirigia com tranquilidade e firmeza.
Repórter,
a rigor, a rigor, apenas um: o próprio Othon.
Jornal
sob hegemonia do PCB, recursos escassos, único repórter.
Dura
e rica experiência para Othon.
Mas,
Ari não dava moleza.
Estimulava
o jovem repórter a acompanhar a composição, a revisão, a montagem e a impressão
na gráfica.
Quer
ser jornalista?
Tem
de compreender o conjunto da obra.
Dura
e rica experiência.
Uma
espécie de secretário gráfico capenga.
Poder
decisório, nenhum.
Mas,
Ari batia pé: o verdadeiro jornalista tinha de entender como o jornal era
feito, compreender todo o processo produtivo: da reportagem à distribuição.
Quando
mais tarde entrou para o curso de Jornalismo, fui compreender melhor o quanto
ele tinha razão.
Os
mestres, a gente às vezes só vai reconhecer mais tarde, com as lições do tempo,
senhor da razão.
Foi
assim com Ari.
Othon
ia aceitando, ele esticando a corda, trabalho duro.
Formando
o jornalista, sabendo o que fazia.
Mais
tarde, poderá dizer: a gente sabe a quem chama de mestre.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jorginho Ramos: Eis uma nota que
saiu (a contragosto dele, naturalmente...) na coluna social do "Jornal da
Bahia" em 1960. Ariovaldo Matos estava completando 36 anos e era o Redator
Chefe do "Jornal da Bahia".
Emiliano José: Jorginho Ramos
Obrigado, Jorginho
Edson Valadares: Muito bom...visão
completa de todo o processo, profissional com olhar estratégico.
Aquele
que enxerga a floresta e não só a árvore.
👏👏👏👏
Joaquim Lisboa Neto: No Posseiro
diagramador não jogava solto
Eu
dando pitacos
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Emiliano José
7 de
junho 2020
Othon Jambeiro XV
A
"Folha da Bahia" é fechada pelo Exército em 1964.
Ditadura
é ditadura.
Othon
Jambeiro é preso.
Ariovaldo
Matos, também.
Ligados
ao PCB, não ficariam nas ruas.
Othon
só virá a reencontrar-se com Ari em 1967.
Por
pouco tempo.
Passou
três meses como secretário de Redação do IC Shopping News.
Ari,
redator--chefe.
Ainda
cheguei a alcançar o IC Shopping News funcionando.
Foi
uma escola também.
Denilson
Vasconcelos, meu cunhado, creio, passou por lá.
Funcionava
então na rua em frente ao Colégio Central, se não estiver enganado.
Othon
aperfeiçoou os conhecimentos em diagramação, composição, montagem.
Exatamente
aqueles cujos rudimentos havia adquirido no "Folha da Bahia" antes de
64.
Além
de secretário de Redação, Othon também escrevia pequenas notas.
Num
dos turnos, trabalhava como correspondente da Folha de S. Paulo.
Othon
reconhece ter convivido com vários bons profissionais vida afora.
Ter
sido aluno de bons professores no Curso de Jornalismo da UFBA.
Deles,
recolheu muitos ensinamentos para o comportamento na vida privada e no
exercício profissional.
Ariovaldo
Matos, no entanto, o marcou de modo definitivo.
Pudesse
selecionar, ele indicaria duas razões para tanto ao olhar para o passado dessa
convivência.
A
primeira: pela clareza e objetividade no tratamento dos assuntos.
Ari
buscava a essência dos fatos para fundamentar suas análises.
A
segunda: a convicção com que exercia o jornalismo.
Enquanto
profissional, era jornalista.
E
só.
Isso
lhe bastava.
Tudo
o mais em sua vida, decorreu daí: ser jornalista.
Sua
herança intelectual emerge do jornalismo, exercido não apaixonadamente, mas
politicamente, no amplo sentido de que esta atividade profissional, assim como
a dos políticos, molda a vida em sociedade.
Ao
finalizar a trajetória de Othon, registro: o encontro com Ariovaldo Matos fez
dele também um Mestre.
Dos
grandes do nosso jornalismo.
Um
grande professor.
Jornalista.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Denilson Vasconcelos: Sim, Emiliano,
tive o prazer de trabalhar no IC ao lado de Gustavo Falcon. Até brincávamos que
aquele era o nosso jornal alternativo, pois tocávamos pautas ousadas. A grana
era curta, mas a satisfação profissional era grande. Após algum tempo, saímos
de perto do Central e fomos lá pro Acupe.
Emiliano José: Denilson
Vasconcelos Boa contribuição, meu velho.
Fred Matos: Eu me lembro do
IC em um prédio no Relógio de São Pedro.
Carmem Lula De Farias: Lembro do IC no
Acupe. Fui pedir apoio pra um projeto do Jornalzinho da Ala Jovem de Jequié.
Fred Matos: Talvez tenha
tido muitos endereços, Carmem.
Jorginho Ramos: Quando o
aprendiz atinge a dimensão do mestre !
Emiliano José: Jorginho Ramos
Perfeito, Jorginho.
Othon Jambeiro: Jorginho Ramos
Tive, ao lado de Ari, outro grande e inesquecível mestre do jornalismo: José
Gorender. Amigos inseparáveis, completavam-se: se Ari era o grande editor, na
acepção real do termo, Gorender era um extraordinário redator. Sucinto,
objetivo, frio se necessário, ardente quando os fatos exigiam, era um cultor
das palavras e dos seus significados. Era capaz de resumir contextos complexos
em poucas linhas e de expandir situações simples em páginas. Ficamos presos
juntos no Barbalho e nos anos recentes, antes de seu falecimento, praticamente
todas as semanas almoçamos juntos, muitas vezes em companhia de Mauricio
Naiberg, Joselito Abreu, Milton Carvalho (Miltinho), Juracy Costa e outras grandes
figuras baianas do século XX.
Mônica Bichara: Aê Emiliano
José, encerrando esse capítulo com chave de ouro, com esse acréscimo do
protagonista Othon Jambeiro
-----------------------------------
(Comissão da Verdade)
Emiliano José
8 de
junho 2020
Othon Jambeiro XVI
É, você
vai escrevendo, e lá vem coisa.
É a
história.
São
histórias.
Othon
Jambeiro faz questão de não deixar de lado outra grande referência em sua
trajetória.
Insiste
em prestar um "Tributo a José Gorender", título de artigo escrito por
ele em "A Tarde" de 20 de março de 2002, data de sua morte.
Merecido
tributo.
Nome
de batismo José Gregório Gorender.
Conhecido
como José Gorender.
Para
os mais íntimos e velhos amigos, Iúca.
Nomes
de guerra, inúmeros.
Frutos
de longa militância no PCB.
Sairá
do partido em 1958.
Os
crimes de Stalin, uma traição ao humanismo cultivado por ele.
Jornalista
da velha cepa, um dos últimos profissionais de consistente formação autodidata.
Daqueles
argutos observadores da alma humana, herdeiros de uma tradição jornalística
universalista.
Exercer
a profissão tentando sempre compreender e expressar o mundo a partir dos
princípios básicos da vida em sociedade.
Afinal,
aí não são palavras de Othon, são minhas, era de formação comunista, pensava o
mundo sempre em sua totalidade, e isso está também de alguma forma no texto de
"A Tarde".
Naquele
tempo, e já faz muito tempo, o bom profissional se formava na redação.
Não
se está dizendo ser bom ou ruim.
Era
assim.
O
foca começava a ralar na reportagem de polícia.
É,
meu irmão, minha irmã, era convivendo, tratando diariamente com o sangue, a
bala, o roubo, com os trágicos resultados dessa sociedade tão desigual, racista
desde sempre, com as mazelas todas dela, é, vinha disso tudo o aprendizado do
jornalismo, espécie de rito de passagem.
À
cobertura política, econômica, aos salões do poder, à variedade de assuntos da
reportagem geral, chegava-se aos poucos.
Era
necessário curtir o couro, saber lidar com os assuntos crus, sangue no asfalto,
faca, tiro da cobertura policial.
Suportasse
esse mundo, estava pronto.
Apto
a outras tarefas.
Gorender
era desse tempo.
Era
um universalista.
Metódico.
Uma
capacidade fantástica de escrever sobre qualquer assunto, com espantosa
convicção.
Cultivava
um estilo...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Luiz Lamego Lamego: IUCA PRESENTE
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Emiliano José
9 de
junho 2020
Othon Jambeiro
XVII
José
Gorender cultivava um estilo simples.
Linguagem
seca.
Talvez,
e a especulação é minha, não de Othon Jambeiro, buscasse inspiração em Graciliano
Ramos.
De
passagem, digo: todo jornalista devia ler "Vidas Secas".
Ler,
reler, passar a vida com o livro ao lado.
Gorender
seguia os passos do mestre Graciliano Ramos, muito embora não possa assegurar o
tivesse lido.
Dificilmente
não o fez.
Com
Gorender, a linguagem era polida, limpa.
Adjetivos,
só os imprescindíveis, onde pudessem contribuir para expressar a verdade.
Frases
curtas.
Conteúdo
preciso.
Curioso:
produziu muito, assinou pouco.
Centenas
de artigos, discursos, relatórios escritos para jornais, revistas,
empresários,. políticos.
Era
reclamado por muita gente, e o fazia sempre com muita esponsabilidade
profissional.
Nas
redações onde trabalhou era o editorialista ou o redator quase sempre anônimo.
O
que expressava a opinião do jornal ou burilava os textos dos repórteres.
Assinou
uma coluna de cinema no "Jornal da Bahia".
Mas,
usava pseudônimo.
Fosse
qual fosse a situação, no entanto, exercia sempre o papel de guardião do estilo
profissional.
Mestre.
Nele,
um vasto acervo da cultura jornalística, cuja continuidade fazia questão de
assegurar.
Repassava
essa cultura aos novos jornalistas, cuidando de adaptá-la aos novos tempos,
como diz Othon em seu artigo para o jornal "A Tarde".
Era
o principal redator do "Folha da Bahia", Ariovaldo Matos redator-chefe,
onde Othon iniciou vida jornalística.
Othon,
bom repórter, lembra da rotina diária dele.
Sentava-se
à esquerda de Ariovaldo Matos.
Todo
dia, repetia o mesmo gesto antes de iniciar o trabalho: tirava relógio e
aliança, e cuidadosamente guardava-os na gaveta.
Vá
lá se saber por quê.
Manias.
Quem
não as têm?
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Joana D'arck: Tinha cá minhas
manias também. Agora com o covid19 ganhei mais uma. Virei a louca do sabão e da
lavagem de mãos.🙃
Emiliano José: Joana D'arck
Muita gente...
Fred Matos: Gorender era
rapidíssimo na datilografia. Eu acho que era essa a razão de tirar o relógio e
a aliança. Para não atrapalhar.
Sérgio Gorender: A leitura destes
ótimos textos seus sobre jornalismo e falando sobre meu pai trazem muitas
saudades! Obrigado Emiliano! Abraços!
Fred Matos: Bom te rever,
Serginho. Mandei um pedido de amizade. Grande abraço.
Sérgio Gorender: Confirmado Fred!
Falei com Zé de quando terminar a quarentena marcarmos um encontro das
famílias. Grande abraço!
Fred Matos: Eu estou morando
em um sítio nas montanhas ferríferas de Minas Gerais, mas nos veremos se surgir
uma oportunidade de ir a Salvador.
Luiz Lamego Lamego: Outra mania de
Ze Gorender era um tablete de chocolate na gaveta que consumia aos poucoS
enquanto metralhava sua máquina de escrever.Saudades do meu amigo IUCA.
Fred Matos: Lembro-me disso
também
------------------------------------------
Emiliano José
10
de junho 2020
Othon Jambeiro
XVIII
Tirava
o relógio, a aliança.
Guardava-os
na gaveta.
Era
essa rotina de José Gorender logo ao sentar-se.
Isso
é contado por Othon Jambeiro.
Daí
em diante, escrever.
O
texto saía límpido, cristalino, direto, racional.
E aí
Othon situa uma diferença entre os dois: Ariovaldo Matos e José Gorender, as
duas figuras centrais do jornal "Folha da Bahia".
Diferença
gritante - acentua.
Ari,
impulsivo, emocional, faro jornalístico muito acima da média, capacidade rara
de compreender o fato, suas causas e consequências.
Gorender,
o analista rigoroso.
Reprimia
a emoção, media cuidadosamente o alcance das palavras.
Delimitava
precisamente o objetivo a ser atingido por seu texto.
Visava
a eficácia no seu trabalho.
Infenso
à vaidade.
Um,
talento impulsionado pela emoção - Ari.
O
outro, talento balizado pela razão - Gorender.
Completavam-se.
Othon,
22 anos, repórter, tinha seus textos corrigidos e refinados por Gorender.
Qual
velho mestre, e era mestre, chamava Othon, discutia as razões das mudanças
feitas, explicava o porquê de cada uma delas.
Aconselhava:
-
Leia mais jornal.
Completava:
- A
melhor maneira de aprender a escrever para jornal é ler bons jornais.
O
mestre foi ensinando.
O
texto de jornal é uma construção coletiva, hierarquizada.
O
trabalho de todos é imprescindível.
Todos
dependem de todos.
Ninguém
é bom pelo lugar ocupado, mas por fazer bem a sua parte, qualquer seja,
somando-se ao todo.
Um
privilégio ter convivido com um mestre com tal sabedoria.
Dois:
Gorender e Ari.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jose Jesus Barreto: com o advento de
novas tecnologias e plataformas, o trabalho jornalístico teria se tornado uma
tarefa menos coletiva ? e daí um jornalismo com menos rigor e menor
credibilidade?
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Emiliano José
11
de junho 2020
Othon Jambeiro XIX
As
diferenças entre os dois, José Gorender e Ariovaldo Matos, apontadas com
propriedade por Othon Jambeiro, nunca abalaram a profunda amizade a uni-los.
Eram
elementos de enriquecimento, estímulos para a convivência.
Às
vezes, discutiam, as visões diferentes vinham à tona.
José
Carlos Teixeira me contou uma dessas discussões.
Peço
licença a Othon para inclui-la aqui.
Convivemos
bastante, Teixeirinha e eu, no dia a dia jornalístico.
É
amigo querido.
Passava
pelo IC Shopping News um dia.
Entregar
uma correspondência.
Aguardava
ser atendido.
Bem
ao lado da mesa de Ari e Gorender.
De
repente, assiste a uma discussão entre os dois.
Gorender
passava a caneta num texto curto de
Ariovaldo,
uma nota.
Copidescava.
Só
ele mesmo pra meter a mão em texto de Ari.
Começou
a controvérsia.
O
motivo: um Pinto.
Pinto
Calçudo.
-
Ari, ninguém irá saber quem é esse tal de Pinto Calçudo.
Argumentava,
como de seu feitio: é preciso informar o leitor, dar mais detalhes sobre quem é
esse Pinto Calçudo.
- É
uma nota curta, Gorender. Não há espaço pra isso.
E
defendia-se: além do mais, o importante é a citação, não o autor.
De
repente, Ari volta-se para Teixeirinha, atento à conversa, em pé, ao lado da
mesa ocupada por ambos:
-
Você sabe quem é Pinto Calçudo?
Teixeirinha
não esperava.
Surpreendido,
cauteloso, responde interrogando, espécie de defesa inconsciente para a
hipótese bastante provável de cometer um erro:
-
Não é um personagem de Oswald de Andrade?
Ari
abriu-se num sorriso vitorioso, e dirigiu-se a Gorender:
-
Está vendo? Todo mundo sabe quem é Pinto Calçudo.
Gorender
não se deu por vencido.
Virou-se
para Teixeirinha e perguntou...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: E vamos de
memórias..,viajando nessas lembranças
Emiliano José: Mônica Bichara
logo logo terminamos...
Mônica Bichara: Emiliano José
sem pressa, está super interessante
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Emiliano José
12
de junho 2020
Othon Jambeiro XX
Ontem,
contávamos a controvérsia sobre o Pinto.
Pinto
Calçudo.
Fizemos
uma pausa no relato de Othon Jambeiro sobre José Gorender.
Logo
logo retornamos.
Discussão
entre Ariovaldo Matos e José Gorender.
O
copy, Gorender, insistia: a nota de Ari devia conter uma explicação sobre o
personagem.
O
leitor não tinha obrigação de conhecê-lo.
José
Carlos Teixeira, provocado por Ari, responde ser um personagem de Oswald de
Andrade.
Deixou
Ari exultante.
Sorridente,
dirige-se a Gorender:
- Tá
vendo aí! Pra quê render mais? Deixa a nota como está. Pinto Calçudo é
conhecido.
Teixeirinha
no meio dos dois mestres.
Gorender
volta-se pra ele e pergunta:
-
Você faz o que na vida?
-
Sou jornalista - responde, todo cheio de si, orgulhoso por participar da
conversa dos dois, consagrados profissionais.
Gorender
volta-se para Ari, também rindo:
-
Não vale. O jovem é jornalista, tem a obrigação de saber. Não é leitor comum.
A
conversa ia render.
Teixeirinha
aproveitou uma brecha, entregou o envelope trazido em mãos, recebeu a
correspondência que viera buscar, despediu-se e saiu falando baixinho:
-
Preciso reler Oswald de Andrade.
Tantos
anos passados, quatro décadas talvez, e não se recorda qual a citação atribuída
a Pinto Calçudo por Oswald de Andrade naquele caso, capaz de render discussão
tão intensa.
Teixeirinha
pensa.
Tinha
voltado a ler Oswald de Andrade.
Com
algum zelo.
Podia
arriscar.
Busca
uma, do livro "Serafim Ponte Grande":
-
Para defender a liberdade de pensamento, eu iria às barricadas.
Talvez
esta.
Quer
algo mais atual?
#MemóriasJornalismoEmiliano
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Emiliano José
13
de junho 2020
Othon Jambeiro XXI
Foi
o coronel Marino Freire Dantas, chefe da 2ª Seção da VI Região Militar, quem
deu voz de prisão a Othon Jambeiro.
Era
o dia 4 de abril de 1964.
Melhor
ser preso pelo Exército.
Não
fosse, poderia cair nas garras do capitão Etiene, da PM, um destemperado
caçador de comunistas naquele momento.
A
leitora, leitor, não se animem: não vou contar saga da prisão de Othon.
Quiserem
saber, e garanto valer a pena, mergulhem na leitura do "Galeria F :
Lembranças do Mar Cinzento", volume um.
Está
tudo lá.
Conto
isso agora apenas como um gancho.
A
voz de prisão foi dada no Quartel-General da VI Região Militar.
De
lá, Othon é mandado para o Quartel do Barbalho.
Lá,
já havia vários presos.
Muitos:
dezenove numa única cela, espaço onde caberiam no máximo dez pessoas.
O
advogado Walter Filizola.
Ascendino
da Silva Bina.
Muitos
operários da Petrobras.
E
José Gorender.
Reencontravam-se,
ele e Othon.
Os
dois passaram a jogar xadrez diariamente.
Gorender,
impassível diante de uma situação absurda, plena de maus tratos: 19 dias sem
banho, sem escovar os dentes, usando uma lata de querosene como latrina, a cela
frequentemente inundada pela chuva, imagine o pandemônio, agravado pelo fato do
acotovelamento de 19 pessoas.
Ele,
vindo da tradição comunista, parecia um monge budista.
Falava
pouco - o silêncio é de ouro.
E
falava baixo - falar alto incomoda as pessoas.
Com sua
autoridade, recomendava as mesmas atitudes a todos.
Tornava
a convivência mais saudável.
Vivi
as agruras de uma cela do Barbalho, em 1970.
Era
metódico, o Gorender: demorou uma semana para comer uma barra de chocolate.
Degustava
gostosa e demoradamente cada pedacinho daquela barra, uma preciosidade.
Uma
semana.
Era
parcimonioso, espartano, econômico com todas as merendas recebidas de
familiares e amigos, talvez por judeu e pobre.
Não
economizava críticas a Ascendino da Silva Bina, presidente do Sindicato dos
Ferroviários de Ilhéus, pela voracidade com que devorava todos os mimos
alimentícios recebidos, e ao próprio Othon, também glutão...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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14
de junho 2020
Othon Jambeiro
XXII
Othon
Jambeiro lembra-se de quando sua mulher, Sônia Serra, também professora da
Facom, fazia a dissertação de Mestrado sobre o jornal "O Momento".
Esses
dias, Sônia me mandou os originais de seu trabalho.
Preciosidade.
Publicação
do PCB, existiu de 1945 a 1957.
Nos
seus mais de 12 anos de existência, foram publicados 55 números como semanário
e aproximadamente 2700 como jornal diário, um acervo a que Sônia teve acesso.
O
PCB tinha uma imprensa.
Jornais
por todo o País.
O
trabalho de Sônia mergulha na experiência de "O Momento", iniciativa
do comunista João Falcão, impulsionada pelo partido.
Mais
tarde, em 1958, Falcão funda o "Jornal da Bahia", já fora do PCB.
Obviamente
uma publicação partidária, com um jornalismo voltado à defesa das posições do
PCB, "O Momento".
Duramente
perseguido durante toda sua existência, empastelado mais de uma vez.
Othon
recorda-se de Sônia procurando José Gorender para depoimentos sobre o jornal.
Ele
começou a trabalhar no jornal em setembro de 1947.
Saiu
quando a experiência teve fim, dez anos depois.
Foi
articulista.
Redator-chefe.
E
durante algum tempo substituiu Aristeu Nogueira como diretor.
Viveu
intensamente aquela experiência.
Aceitou
de bom grado dar depoimentos.
Longos,
vários.
Precisos.
Fonte
essencial de Sônia.
Em
homenagem ao seu incontestável saber autodidata, o professor Ubiratan Castro,
orientador da dissertação na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
convidou-o para compor a comissão examinadora.
Uma
justa homenagem.
O
saber intelectual não requer necessariamente o título acadêmico.
Gorender,
prova disso.
Compareceu...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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15
de junho 2020
Othon Jambeiro
XXIII
José
Gorender aceitou o convite do professor Ubiratan Castro para compor a banca
examinadora da dissertação de Sônia Serra sobre o jornal "O Momento".
Othon
Jambeiro revela: Gorender compareceu notoriamente comovido, grato pelo convite.
Participou
com finura e civilidade da arguição da mestranda.
Era
uma homenagem.
Sônia
e Othon tinham consciência disso.
Não
uma homenagem gratuita.
Convidado
pelas credenciais.
As
da história.
As
da participação direta no jornal.
E
pela capacidade de sistematização, saber, erudição até.
Foi
distinguido entre tantas outras figuras, também de grande valor.
Alguns,
também eruditos.
Sônia
recolheu depoimento de João Falcão.
Diretor
da revista "Seiva", surgida em pleno Estado Novo, foi fundador de
"O Momento" e seu diretor até o início de 1947, quando o PCB o envia
para o Rio de Janeiro, confiando-lhe a segurança pessoal de Luiz Carlos
Prestes, mergulhado na clandestinidade. Autor de muitos livros.
Ouviu
Almir Matos.
Compôs
a equipe do jornal desde o início. Alçado a secretário em outubro de 1945,
redator-chefe em 1946, substitui João Falcão como diretor até o final de 1951.
Em 1952, cai na clandestinidade, e passa a atuar no "Voz Operária",
publicação principal do PCB.
Aristeu
Nogueira, outro a dar depoimento.
Em
maio de 1947, estreava no jornal. Era o proprietário legal e seu gerente. Dá
uma pausa, retorna em 1952 e acumula durante algum tempo as funções de diretor
e gerente.
Jacob
Gorender também enriqueceu o trabalho de Sônia.
Redator-chefe
da revista "Seiva", ingressa no jornal em 1945, logo após retornar da
Itália, onde serviu na Força Expedicionária Brasileira (FEB), combatendo o
nazifascismo. Aparece no expediente como redator-chefe em outubro de 1945, logo
depois secretário. Em outubro de 1946, segue pro Sul para trabalhar no
"Voz Operária", e logo vai para a clandestinidade quando a
ilegalidade do PCB é declarada. Vai se notabilizar como um dos maiores
intelectuais brasileiros.
Como
se vê, foram muitos os depoimentos, e de personalidades políticas fundamentais
da história, a evidenciar o significado do convite a José Gorender para compor
a banca examinadora de Sônia Serra.
Há
outros...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Carlos Pereira Neto Siuffo: Emiliano, essa
tese foi publicada?
Emiliano José: Carlos Pereira
Neto Siuffo Infelizmente, não. E Sônia não parece disposta a fazê-lo. Coisas da
academia.
Emiliano José: Carlos Pereira
Neto Siuffo Seria de muita utilidade.
Carlos Pereira Neto Siuffo: Emiliano José
Pena, mas o acesso é possível?
Carlos Pereira Neto Siuffo: Milton Pinheiro
Emiliano José: Carlos Pereira
Neto Siuffo Meu velho, ela me mandou por e-mail. Já havia pedido durante
comemoração dos 40 anos de formatura de nossa turma. Agora, me mandou. Sou
antigo: imprimi. Está me servindo lateralmente para a pequena série sobre
Othon. Talvez, quem sabe você dando uma palavra com ela, consiga. Vale a pena.
Carlos Pereira Neto Siuffo: Emiliano José
Ok, tenho alguns camaradas que pesquisam o PCB, certamente eles procurarão. Ela
é filha do Milton Caires, não é?
Emiliano José: Carlos Pereira
Neto Siuffo Penso que não. Sem certeza, acho ser Marusia, primeira mulher de
Othon.
Carlos Pereira Neto Siuffo: Marcelo Marcelo
Da Silva Lins, Maíza Ferreira,
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16
de junho 2020
Othon Jambeiro
XXIV
É a
história do fio de Ariadne: você vai puxando puxando e a história crescendo
crescendo.
Sem
fim, se você não toma cuidado.
Meu
protagonista é Othon Jambeiro, vocês sabem.
Ele
é o estimulador desse encompridamento.
Tudo
isso por conta da relação de amizade dele com Ariovaldo Matos e José Gorender,
dois de seus mestres no Jornalismo.
Ninguém
é um ser solitário.
Por
isso, a gente vai contando, e as visões se clareando, lembrei agora de Vandré:
prepare seu coração pras coisas que eu vou contar...
Sônia
Serra ouviu muita gente para chegar ao formato final de sua dissertação sobre o
jornal "O Momento", do PCB.
Ariovaldo
Matos, amigo e companheiro de militância e profissão de José Gorender, um deles
Trabalhou
no jornal na fase inicial, cobriu esportes num primeiro momento, depois avançou
como repórter para várias outras áreas, tornou-se redator. Chegou a secretário
de Redação e ao final da publicação era seu redator-chefe.
Gozado,
convivi com Misael Peixoto na minha fase inicial da "Tribuna da
Bahia", 1974. Sentava à sua mesa de diagramação, fazia seu trabalho em
silêncio, nada conheci de sua história.
Aquele
silêncio impunha respeito, quanto mais para focas, como eu.
Sônia
o ouviu.
Começou
em 1953 como repórter de "O Momento", e logo ascendeu à condição de
secretário de Redação. Mais tarde, designado para a secretaria da Oficina,
ficou até o fim do jornal.
De
Jafé Borges, Sônia recolhe a informação de que a maior participação dele ocorre
na fase do declínio, após o empastelamento de 1953. Chega a ocupar a secretaria
de Redação. Em julho de 1957, rompe com o PCB e afasta-se do jornal.
Luís
Henrique Dias Tavares começou sua vida jornalística logo no segundo número do
jornal, como revisor. Repórter, redator, permanece no jornal até julho de 1952.
Afasta-se não por rompimento com o PCB, mas "por circunstâncias da
vida". Continuou durante algum tempo a colaborar com o jornal,
especialmente na área da Cultura. Tornou-se um dos maiores historiadores da
Bahia.
O
PCB foi uma escola de jornalismo país afora. Por isso, faço questão de lembrar
esses nomes ouvidos por Sônia.
São
parte da história do jornalismo brasileiro.
Ouviu
alguns outros...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Jose Jesus Barreto: Misael , figura
querida, um mestre formador de muitos profissionais de diagramação na Bahia.
Emiliano José: Jose Jesus
Barreto a gente vai mergulhando na história, e conhecendo
Joana D'arck: Vai puxando esse
fio de histórias que tá bom
Emiliano José: Joana D'arck É o
texto a me levar, mando nele não, os personagens me tomam pelas mãos e lá vou
eu...
Mônica Bichara: Vai simbora, tá
muito bom o rumo dessa prosa
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17
de junho 2020
Othon Jambeiro XXV
Foi
um garimpo, o trabalho de Sônia Serra.
Já
disse a ela: a dissertação merece publicação.
Carlos
Pereira Neto Siuffo esses dias me perguntou sobre o estudo, e eu não tinha
jeito de indicar onde encontrá-lo.
Carlinhos,
assim o chamávamos nas nossas jornadas militantes em Salvador, creio o quisesse
por conta de seu interesse na história do PCB, e "O Momento" é parte
dela.
A
mim, chegou-me devido à minha insistência.
Numa
comemoração dos quarenta anos de formatura - é isso, Jorginho Ramos? - pedi.
Ela
não negou, mas...
Esses
dias, conversando com Othon Jambeiro por telefone, aproveitei a carona, e pedi
pra falar com ela.
Insisti.
Horas
depois, chegou por e-mail.
Está
aqui, impressa.
Antigo,
não creio em arquivo virtual.
Conservadorismo.
Agradeço
muito a distinção.
Houve
outros depoimentos.
Carlos
Anibal Brandão Correia integrou a equipe inicial de "O Momento",
depois de ter colaborado com a revista "Seiva". Até meados de 1946,
repórter. Desentende-se com Mário Alves, e rompe com o PCB "por
divergência não de princípio mas de estratégia". Eleito deputado estadual
pelo PTB nas eleições de janeiro de 1947, continuou próximo do jornal.
José
Olímpio da Rocha Neto entra para o jornal em 1948. Não estava cumprindo tarefa
partidária, não era do PCB. Fez de "O Momento" sua escola: queria
aprender a profissão e obter o registro. Cobria polícia e fazia coluna social.
Saiu para consolidar a profissionalização. Convivi com ele na "Tribuna da
Bahia".
Dá
destaque a Maurício Naiberg, operário, judeu e comunista. De longe, eu o via na
minha fase inicial do "Jornal da Bahia", ele sempre em funções
dirigentes, ali na segunda metade dos anos 1970. Começou em "O
Momento" no final de 1951. Era Augusto Gomes, nome de clandestino. No Rio
de Janeiro, a militância no PCB havia lhe rendido várias prisões e torturas.
Foi destacado para o trabalho de finanças, um dos responsáveis pela sobrevivência
do diário.
Há
ainda os depoimentos de Antonio Lobo e Jandir Reis, indispensáveis
linotipistas.
Garimpo,
cuidadoso garimpo, o de Sônia.
Desvenda
a trajetória dos dois mestres de Othon, Ariovaldo Matos e José Gorender, e
sobretudo a extraordinária história de "O Momento".
Vamos
esperar a publicação.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Denilson Vasconcelos: 👏👏
Jorginho Ramos: É preciso que
venha à luz esse trabalho de muita irrelevância pois resgata uma parte da
história do jornalismo e da imprensa da Bahia.
Emiliano José: Jorginho Ramos
Jorginho, corretor lhe deu um drible... Ou não?
Jorginho Ramos: Emiliano José
...referi-me à necessidade de publicação do trabalho de Sônia Serra .
Emiliano José: Jorginho Ramos
falou de "muita irrelevância"...
Sérgio Gorender: Maurício Naiberg
era Gominho para os amigos. Fomos vizinhos por muitos anos na Av. Paulo VI, na
época era Rua do Colégio Militar. Em um conjunto de 5 casa morávamos em uma
esquina, Ari na outra, e Gominho na casa do meio.
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18
de junho 2020
Othon Jambeiro
XXVI
Toda
semana o grupo de velhos amigos dava um jeito de almoçar juntos.
Othon
Jambeiro lembra de alguns deles, não apenas de José Gorender: Maurício Naiberg,
Miltinho, Zelito Abreu, Walter Lessa, Octacílio Fonseca, Zezito Contreiras e
Juracy Costa.
Havia
outros jornalistas nesse almoço semanal.
Era
um encontro de velhos companheiros.
Pra
jogar conversa fora, a melhor conversa sempre.
Descontraído.
Revisitavam
o passado.
Discutiam
o presente.
Nada
pré pautado.
Nada
a resolver.
Celebração
da amizade.
Nenhum
interesse intermediando as falas.
Troca
de informações, de ideias, de opiniões.
Às
vezes, inevitáveis comentários sobre o passado.
Saudades
animam a vida.
Não
faltavam histórias hilariantes.
O
meio jornalístico é pródigo.
No
dia 15 de março de 2002, Gorender morreu.
Deixou
uma lacuna incapaz de ser preenchida.
Othon
sintetiza:
- O
judeu pobre que se transformou num dos melhores jornalistas de sua geração, que
se recusou a ir para os jornais do Rio e São Paulo, nas tantas vezes em que o
convidaram, foi um jornalista e um homem do seu tempo. E só. E nada mais quis
ser.
Desses
mestres, José Gorender e Ariovaldo Matos, Othon Jambeiro jamais esquecerá.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Frederico Füllgraf: Beleza de
Memória! Abracao meu amigo Emiliano José. Oxalá a vida nos brinde logo uma mesa
com deliciosa conversa.
Emiliano José: Frederico
Füllgraf Vai brindar
Carlos Pereira Neto Siuffo: Grande
histórias.Emiliano, de vc ouvi a frase: "quem rouba livros é amigo".
Emprestei para Othom os livros Memórias de Cárcere, quando estava passando o
filme, ele me devolveu. Nem sempre o amigo rouba o livro. Eu roubei um seu
sobre dialética, de Pavel Kopnin.
Emiliano José: Carlos Pereira
Neto Siuffo Está em ótimas mãos. Se tiver portador, vendo os dois volumes da
biografia do Waldir, e leva de brinde "A última clandestina em
Paris", quinto volume do Galeria F. Pegar ou largar. Abração.
Carlos Pereira Neto Siuffo: Quando terminar
a pandemia, eu vou a Salvador, lhe procuro, dou um forte abraço e compro os
livros. Um abração. Pode reservar.
Emiliano José: Reservado. E
leva um de brinde
Roberto Varjão: Emiliano, um
ELEFANTE das #memóriasdojornalismo
Grato,
querido mestre!
Sérgio Gorender: Meu pai adorava
estes almoços! Chegava em casa feliz. Após sua morte fui convidado a participar
de um! Acho que como homenagem
*******************************
(Com turma de formandos de jornalismo da Facom, com os também professores Albino Rubim e Helô Sampaio)
(Os irmãos Jambeiro)
(Com a jornalista Rosane Santana)
Só tenho elogios para fazer ao professor Othon Jambeiro, meu grande mestre. Amei sua trajetória, tão lindamente narrada, como sempre, pelo mestre/escritor/poeta/querido colega Emiliano José. Reproduzo abaixo, oque postei no link do Pilha Pura, no Facebook.
ResponderExcluir"Que linda e rica trajetória do eterno querido professor Othon Jambeiro. Pena que não pude acompanhar os capítulos para degustar e comentar diariamente os textos do nosso escritor/poeta Emiliano José. Como estou entrando pouquíssimo no Face, olho geralmente, postagens em que estou marcada ou que vão para notificações. Mas, assim que vi a postagem marcada pela editora Mônica Bicharao (parabéns, de novo), parei tudo para ler, sem interrupção, a história desse meu inesquecível mestre, por quem tenho eterna gratidão. pelo grande aprendizado que me proporcionou, como professor, no curso na EBC, e orientador nas atividades que realizei como bolsista de trabalho (que ele me conseguiu, na Ufba), por meio da qual ingressei no mercado de trabalho, ainda como estagiária, em projeto de pesquisa e na Assessoria de Imprensa da Reitoria. Conhecendo mais ainda a sua trajetória, aumenta, sem nenhuma demagogia, a minha admiração e respeito por ele, uma pessoa serena, gentil, educada, respeitosa..., um profissional ético, competente, de uma seriedade ímpar, que trabalha, cria, inova... sem buscar os holofotes.
Parabéns, Othon Jambeiro. Você merece essa homenagem por sua exemplar história, que enriquece o nosso Jornalismo. Um beijo e um fortíssimo abraço. Também para a querida Sônia.❤️❤️"
Nosso Pilha tá cada dia mais importante, mais compenetrado com a chegada de tanta gente brilhante. Feliz ideia essa de Mônica de postar aqui essas memórias de Emiliano, sempre tão ricas em detalhes e narradas de forma tão envolvente sobre trajetória de colegas e mestres do jornalismo. Essa essa de Othon Jambeiro tá uma viagem e tanto!
ResponderExcluirAí,aí Emiliano... você conseguiu uma editora da porra para as suas memórias, viu! Aliás, você foi muito feliz e honesto quando disse " que se fez minha editora" , porque foi bem assim. Depois da primeira edição de seus textos aqui no Pilha, Mônica Bichara só faz se superar. Dando show comadre!
ResponderExcluirAiai digo eu, adorando essa missão e esse título de "minha editora". Imagine a responsabilidade de meter meu bedelho entre 2 mestres ...muita ousadia. Que bom que você gostou, Jô
ExcluirAmei meu irmão é tudo isto e muito mais é meu Anjo protetor
ResponderExcluirQue bom, é maravilhoso viver cercado por anjos. Parabéns pelo irmão, grande figura, excelente jornalista e um professor inesquecível que vem formando gerações de colegas
ExcluirBelo registro da grande figura humana que é Othon Jambeiro, para além de sua brilhante trajetória intelectual. Mestre amado e admirado por muitas gerações de alunos que formou e ainda forma na Universidade Federal da Bahia.
ResponderExcluir