#MemóriasJornalismoEmiliano – Aécio Pamponet e a sentença do SNI: jornalismo só o esportivo


(Na varanda da Fazenda Gajarau, onde curte a aposentadoria cuidando das plantas e flores e se dedicando ao sonho do Museu de Arte Popular)
 

O capítulo é curto, como curta foi a passagem de Aécio Pamponet pelo jornalismo. Mas não menos interessante. Afinal, trata-se de mais um “perigoso comunista” perseguido pela ditadura militar a encontrar guarida na Tribuna da Bahia, depois de três prisões, todas em 1968: na volta do Congresso da UNE, em Ibiúna; por liderar a greve de ocupação da Escola de Sociologia; e no AI-5.

(Pescada do face do amigo Luiz Cayres Tunes: "Esse Congresso da UNE  foi em 1968, na clandestinidade, e você estudava na Faculdade de Filosofia da UFBA e eu era presidente do diretório acadêmico")
 

Ser jornalista era uma saída. "Mas só pode escrever sobre futebol", sentenciou o SNI. Difícil acreditar, mas a pura verdade. Que jeito? Aceitou e se apaixonou. Sorte do jornalismo esportivo. Tanto pela equipe que passou a integrar, chefiada por Antônio Matos, considerada uma das melhores de todos os tempos do jornalismo esportivo baiano, quanto pela liberdade encontrada na Tribuna da Bahia.

(Com a companheira Selma de Paula) 

Tantos anos depois e com experiências que vão de ex-prefeito de Macajuba a sociólogo, poeta e cronista, Aécio Pamponet passa a quarentena do novo coronavírus se dedicando a outra paixão, as flores. Sobretudo orquídeas, que consegue cultivar em plena caatinga, na “roça”, a Fazenda Garajau, entre os municípios de Ruy Barbosa e Macajuba.

 

Aposentado, está se dedicando também à implantação de um Museu de Arte Popular na fazenda, em companhia da mulher Selma de Paula.

(Fazenda Garajau)

No final do ano passado Pamponet lançou em Salvador o livro “Retalhos”, uma autobiografia onde conta os sonhos e ilusões com a militância política na ditadura militar; os afetos e dores da vida pessoal; e contos. A passagem pelo jornalismo esportivo também está registrada.


Durante o lançamento do livro Aécio Pamponet deu entrevista a Mário Kertész na Rádio Metrópole onde reconheceu que, apesar das prisões e da perseguição política durante o regime militar, que lhe tirou a liberdade e o direito a empregos, não chegou a sofrer muito como tantos outros torturados, mortos e desaparecidos. E defendeu: “A ditadura é uma coisa repulsiva aqui ou em qualquer lugar. Ser democrata é ser humano".

(Entrevista a Mários Kertész, na Metrópole, no lançamento do livro Retalhos)
 

Sobre Emiliano José, relembra: “A primeira vez que soube dele foi através de pixações em muros e paredes da cidade: ‘Liberdade para Emiliano!’ Logo concluí que se tratava de um dos ‘nossos’... Tempos depois o encontrei já jornalista da Tribuna, nas manifestações contra o regime militar, nas campanhas pela Anistia Geral Ampla e Irrestrita e das Diretas Já. Nunca tínhamos sido próximos, mas já conhecia a sua história, o seu valor e a sua capacidade de luta. Depois fizemos parte da segunda gestão Mário Kertész na Prefeitura de Salvador e pude constatar sua seriedade e competência. Meu respeito e admiração por ele só cresceram e permanecem cada dia mais inabaláveis. Nada que venha de Emiliano pode ser relegado, seja como simples cidadão, político de convicções inabaláveis, jornalista e escritor consagrados”.

(Entrevista com Mário Kertész)
 

A série #MemóriasJornalismoEmiliano, na sua opinião, “é mais uma demonstração da sua sensibilidade histórica, sua integridade e seu valor intelectual”. E complementa: “Ah se tivéssemos uma meia dúzia de Emilianos nesses tempos de falsidades e de mediocridades!...”. Apesar de termos muitos amigos em comum, não conheci Aécio Pamponet pessoalmente. Mas já concordo com ele. Além de amar orquídeas e o Bahêa

 

(Paixão pelo Bahia - a bandeira na varanda da fazenda)

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(Com a mãe, Dona Letícia, e o primeiro filho, Lucas, na época da Tribuna da Bahia) 

Emiliano José

23 de agosto 2019

Refúgio no jornalismo esportivo

 

Quem reavivou Aécio Pamponet em minha memória foi José Barreto de Jesus em depoimento recente.

- Era o nosso Che!

Gostava dele pelo líder estudantil e pelo torcedor do Bahia.

Informa ter votado nele para a presidência do Diretório de Ciências Sociais, que cursava.

Único em quem votou no movimento estudantil.

Confessa: mais pela figura humana do que por ser militante de AP.

Define-o: carismático, leve, a fala clara, firme, tomando as assembleias estudantis nas mãos.

E tinha mais uma característica a agradá-lo: não queria tocar fogo no mundo.

Não obstante, muito firme: liderou sem titubear a ocupação da escola, por meses.

Ficava no belo prédio onde funciona hoje parte do Ministério Público Estadual, no bairro de Nazaré, em frente à Academia Baiana de Letras.

Na ocupação, estudantada acampada 24 horas dentro da escola, Pamponet negociou com a diretoria, com reitoria, o escambau.

E encarou a polícia quando ela chegou toda aparatosa invadindo a escola, um parnavuê dos diabos, gente saltando os muros dos fundos escapando pela Ladeira da Fonte, e ele ali peitando sem se assustar com fuzis e metralhadoras, que polícia tem um medo arretado de estudante.

Foi o representante da escola no Congresso da UNE em Ibiúna, São Paulo, quando é preso ao lado de mais de 800 estudantes, junto com Zé Dirceu, Luís Travassos e Wladimir Palmeira.

O Che de Barreto quis ser jornalista.

Mas, marcado pela repressão, enfrentou uma insólita determinação da ditadura: podia, mas só como jornalista esportivo.

O SNI acreditava que a atuação daquele comunista perigoso na área de esportes não oferecia perigo.

Isso o levou à notável equipe de Antônio Matos na Tribuna da Bahia... #MemóriaJornalismoEmiliano

 

COMENTÁRIOS

 

Denilson Vasconcelos: Jurema Valença Sarno Carlos Marie Helene Russi

Vocês são desse período de Aécio, nos tempos do jornalzinho Filó & Sofia. E das prisões no malfadado congresso em Ibiúna.

Emiliano José: Denilson Vasconcelos Esperando seu copião, inclusive aquela história da demissão

Denilson Vasconcelos: Emiliano José Não se avexe. Deixe eu retornar e ver os recortes guardados em casa. Para ilustrar (matar a cobra, mostrar o pau e a cobra morta).

Emiliano José: Denilson Vasconcelos Ok

Marie Helene Russi: Denilson Vasconcelos pois é. Juntos em Ibiúna, no ônibus da volta. No final Carlo e eu fomos expulsos da faculdade... começo da clandestinidade e de uma vida nova. Pois é. Reencontrei Aécio sempre uma doçura no feice. Adoro seu amor pela Chapada que visitei finalmente em 2016. Passadejando. Merci.

Antonio Silvany: Aécio é uma grande referência. A diferença é que Che adorava uma guerra e Aécio prega a paz!

Emiliano José: Antonio Silvany Não deixava de ser terno, o Che.

Antonio Silvany: Com certeza Emiliano José e Aécio, firme em suas decisões.

Graça Azevedo: Fui colega de turma de Aécio. Uma pessoa maravilhosa.

Jose Guimaraes: Bons tempos, na Tribuna, Ubaldo reunindo a redação para dar aula de Filosofia, Ruy Espinheira copidescando...

Iracema Braga: Aécio meu amigo. Aprendi muito com ele. Eu era uma analfabeta política.

Aécio Pamponet Sampaio: Iracema Braga, minha querida amiga, vc nunca foi analfabeta política. Saudades!

Olívia Soares: Aécio Pamponet Sampaio faz parte do meu universo afetivo.

Aécio Pamponet Sampaio: Olívia Soares, vc, Vítor e Margarida são especiais!

Antonio Silvany: Olívia e Aécio têm história pra contar. Qual dos dois lançará primeiro, o best- seller?

Olívia Soares: Antonio Silvany Aécio Pamponet Sampaio

Aécio Pamponet Sampaio: Antonio Silvany, Olivia tem histórias para 10 volumes! Kkkk

Olívia Soares: Aécio Pamponet Sampaio, rindo alto. Estou carecendo sorrir. Antonio Silvany 

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(Lançamento do livro Retalhos em Salvador, em novembro de 2019)

Emiliano José

24 de agosto de 2019

Fazendo do limão, limonada

 

Que é estranho, lá isso é.

Ditadura e parecenças são sempre estranhas.

Não parece insólito o SNI sair dos seus cuidados e sentenciar, é, uso a palavra sentenciar: "se quiser ser jornalista só pode escrever sobre futebol"?

Pois é, a vida naquele momento não oferecia muitas escolhas a Aécio Pamponet.

Enfrentara três prisões.

Todas em 1968.

A da greve de ocupação.

A do Congresso de Ibiúna.

E a da varredura do pós-AI-5.

Carimbado.

A repressão o acompanharia passo a passo.

Que jornalismo, que nada!

Acaso queira trabalhar na área, contente-se com futebol.

Recém-saído da prisão, proibido de estudar por três anos, de trabalhar no setor público, Pamponet não viu saída senão render-se.

Pensou: vamos fazer do limão uma limonada.

Gostava de futebol.

Torcia pelo Bahia.

Que mal vá?

E embarcou na Academia de Antônio Matos, a melhor equipe de jornalismo esportivo já vista em jornal impresso na Bahia.

Matos lançou em 2018 "Heróis de 59: a história do primeiro título brasileiro conquistado pelo Esporte Clube Bahia", a lembrar a torcedores do Bahia e de outros times todo seu talento e capacidade de pesquisa.

É mestre na área - serenidade e competência numa só pessoa, na definição de Pamponet.

Chegado à equipe chefiada por Matos, de que já falamos muito nessa série, impressionou-se com o jornalismo esportivo sério produzido por ela: de grande qualidade, transcendia aquele amontoado de lugares-comuns dos boleiros da época.

Ali teve as mais ricas experiências de sua breve experiência jornalística.

E não era apenas o jornalismo esportivo a impressioná-lo.

A Tribuna da Bahia o maravilhou: texto leve, informal, quase lúdico, e desenvolvendo-se no período mais

sanguinário da ditadura.

A linguagem havia de preservar a crítica velada e a ironia ferina, sem cutucar o leão com vara curta.

A TB conseguia.

-Reuniu intelectuais e uma geração de jovens irrequietos, formada num contexto histórico político-cultural crítico e participativo contra o golpe de 64.

Pamponet considera ter a TB conseguido manter seus interesses empresariais sem ser subalterna.

Lembrança eterna daqueles tempos.

#MemóriasJornalismoEmiliano 

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(Aécio e Selma)






(Café da manhã com o escritor Francisco Dantas, em sua Fazenda Lajes Velha, Arauá - Sergipe)
(Almoço em família)

(Fazenda Garajau)
(Fazenda Garajau)
(Fazenda Garajau)
(Com a filha Clarissa)
(Os filhos Lucas e Clarissa) 

(Os netos Lucas e Gabriella admirando o pôr do sol na caatinga)

(Com o neto João Vitor em Foz do Iguaçu) 

(Fazenda Garajau)
(Fazenda Garajau)
(Orquídeas na Fazenda Garajau)

(Com o artista pernambucano Fernandes Rodrigues, na Fenearte, Recife) 
(Selma, Aécio e o neto Lucas na São Silvestre)
(Com a neta Gabriela)
(Com o irmão-pai Luiz e o amigo Everaldo Macedo, vereador em Macajuba)
(O pai Lauro, dono de uma prole de 26 filhos)
(Com Reinaldo, Luiz e Vera, três dos 23 irmãos vivos) 
(Tietando o ídolo Caetano Veloso)

(Com o neto-postiço João Dórea, filho de Juraci Dórea)
(Com os sobrinhos Maira, Marcos e a pequena Liz, na noite de lançamento do livro Retalhos)
(Victor e Viviane, os professores de Pilates, no lançamento de Retalhos)













Comentários

  1. Essa jornalista Mônica Bichara, arrasa mesmo.

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    1. Bom ter vc aqui, Manuh. Essa série do professor, jornalista e escritor Emiliano José está contando atualmente a trajetória de sua professora Cleidiana. Em breve ela tb estará aqui. Acompanhe. Eu tb já tive essa honra, o meu capítulo está aqui no Pilha. Só pesquisar. Bjs

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  2. Das coisas boas da vida: tomar um cafezinho quente numa das varandas do Garajau, ouvindo as histórias de Aécio! Parabéns pela matéria Mônica Bichara!

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    1. Obrigada Larissa, imagino que deve ser muito bom mesmo. Só lembrando que o mérito é todo do autor, Emiliano José, dei só uma editada. Valeu pela visita ao blog

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  3. Que maravilha, Aécio Pamponet Sampaio também na maravilhosa série #MemoriasJornalismoEmiliano. Respeito muito essa figura séria, ética, gentil..., que conheci sob a energia das festas de São João, em Macajuba, junto com a minha família e amigos. Momentos inesquecíveis. Foi bom saber sobre esse seu momento no Jornalismo baiano, viu, amigo? O parabenizo com muita alegria. Também concordo com você sobre o o que disse sobre nosso querido Emiliano José: “Ah se tivéssemos uma meia dúzia de Emilianos nesses tempos de falsidades e de mediocridades!...”. Pura verdade.

    Aproveitando o depoimento de Larissa, parabenizo, mais uma vez, amiga/irmã/'cumade' Monica Bichara pelas edições da série no Pilha. Sempre show de bola.Bjos

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  4. Comentário para Pamponet enviado pelo jornalista Antôno Matos, citado nos textos da série de Emiliano: "Mônica, você e Emiliano estão dando um 'banho de bola', com estas matérias sobre jornalistas que passaram pela 'Tribuna'. Diga ao 'velho' Pampona, que foi ele quem engrandeceu, com seu talento, comprometimento e seriedade, aquela editoria de Esportes, que tive - apesar de ser o mais novo da turma, com apenas 22 anos - o prazer e a honra de comandar".

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