O capítulo é curto, como curta foi a passagem de Aécio Pamponet pelo jornalismo. Mas não menos interessante. Afinal, trata-se de mais um “perigoso comunista” perseguido pela ditadura militar a encontrar guarida na Tribuna da Bahia, depois de três prisões, todas em 1968: na volta do Congresso da UNE, em Ibiúna; por liderar a greve de ocupação da Escola de Sociologia; e no AI-5.
Ser jornalista era
uma saída. "Mas só pode escrever sobre futebol", sentenciou o SNI. Difícil
acreditar, mas a pura verdade. Que jeito? Aceitou e se apaixonou. Sorte do jornalismo esportivo. Tanto pela
equipe que passou a integrar, chefiada por Antônio Matos, considerada uma das
melhores de todos os tempos do jornalismo esportivo baiano, quanto pela
liberdade encontrada na Tribuna da Bahia.
Tantos anos depois
e com experiências que vão de ex-prefeito de Macajuba a sociólogo, poeta e
cronista, Aécio Pamponet passa a quarentena do novo coronavírus se dedicando a
outra paixão, as flores. Sobretudo orquídeas, que consegue cultivar em plena
caatinga, na “roça”, a Fazenda Garajau, entre os municípios de Ruy
Barbosa e Macajuba.
Aposentado, está
se dedicando também à implantação de um Museu de Arte Popular na fazenda, em companhia
da mulher Selma de Paula.
No final do ano
passado Pamponet lançou em Salvador o livro “Retalhos”, uma autobiografia onde
conta os sonhos e ilusões com a militância política na ditadura militar; os
afetos e dores da vida pessoal; e contos. A passagem pelo jornalismo esportivo
também está registrada.
Durante o
lançamento do livro Aécio Pamponet deu entrevista a Mário Kertész na Rádio
Metrópole onde reconheceu que, apesar das prisões e da perseguição política
durante o regime militar, que lhe tirou a liberdade e o direito a empregos, não
chegou a sofrer muito como tantos outros torturados, mortos e desaparecidos. E
defendeu: “A ditadura é uma coisa repulsiva aqui ou em qualquer lugar. Ser
democrata é ser humano".
Sobre Emiliano
José, relembra: “A primeira vez que soube dele foi através de pixações em muros
e paredes da cidade: ‘Liberdade para Emiliano!’ Logo concluí que se tratava de
um dos ‘nossos’... Tempos depois o encontrei já jornalista da Tribuna, nas manifestações
contra o regime militar, nas campanhas pela Anistia Geral Ampla e Irrestrita e
das Diretas Já. Nunca tínhamos sido próximos, mas já conhecia a sua história, o
seu valor e a sua capacidade de luta. Depois fizemos parte da segunda gestão
Mário Kertész na Prefeitura de Salvador e pude constatar sua seriedade e
competência. Meu respeito e admiração por ele só cresceram e permanecem cada
dia mais inabaláveis. Nada que venha de Emiliano pode ser relegado, seja como
simples cidadão, político de convicções inabaláveis, jornalista e escritor
consagrados”.
A série #MemóriasJornalismoEmiliano,
na sua opinião, “é mais uma demonstração da sua sensibilidade histórica, sua
integridade e seu valor intelectual”. E complementa: “Ah se tivéssemos uma meia
dúzia de Emilianos nesses tempos de falsidades e de mediocridades!...”. Apesar
de termos muitos amigos em comum, não conheci Aécio Pamponet pessoalmente. Mas
já concordo com ele. Além de amar orquídeas e o Bahêa
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(
Emiliano José
23
de agosto 2019
Refúgio no
jornalismo esportivo
Quem
reavivou Aécio Pamponet em minha memória foi José Barreto de Jesus em
depoimento recente.
-
Era o nosso Che!
Gostava
dele pelo líder estudantil e pelo torcedor do Bahia.
Informa
ter votado nele para a presidência do Diretório de Ciências Sociais, que
cursava.
Único
em quem votou no movimento estudantil.
Confessa:
mais pela figura humana do que por ser militante de AP.
Define-o:
carismático, leve, a fala clara, firme, tomando as assembleias estudantis nas
mãos.
E
tinha mais uma característica a agradá-lo: não queria tocar fogo no mundo.
Não
obstante, muito firme: liderou sem titubear a ocupação da escola, por meses.
Ficava
no belo prédio onde funciona hoje parte do Ministério Público Estadual, no
bairro de Nazaré, em frente à Academia Baiana de Letras.
Na
ocupação, estudantada acampada 24 horas dentro da escola, Pamponet negociou com
a diretoria, com reitoria, o escambau.
E
encarou a polícia quando ela chegou toda aparatosa invadindo a escola, um
parnavuê dos diabos, gente saltando os muros dos fundos escapando pela Ladeira
da Fonte, e ele ali peitando sem se assustar com fuzis e metralhadoras, que
polícia tem um medo arretado de estudante.
Foi
o representante da escola no Congresso da UNE em Ibiúna, São Paulo, quando é
preso ao lado de mais de 800 estudantes, junto com Zé Dirceu, Luís Travassos e
Wladimir Palmeira.
O
Che de Barreto quis ser jornalista.
Mas,
marcado pela repressão, enfrentou uma insólita determinação da ditadura: podia,
mas só como jornalista esportivo.
O
SNI acreditava que a atuação daquele comunista perigoso na área de esportes não
oferecia perigo.
Isso
o levou à notável equipe de Antônio Matos na Tribuna da Bahia... #MemóriaJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Denilson Vasconcelos: Jurema Valença Sarno Carlos Marie Helene Russi
Vocês
são desse período de Aécio, nos tempos do jornalzinho Filó & Sofia. E das
prisões no malfadado congresso em Ibiúna.
Emiliano José: Denilson
Vasconcelos Esperando seu copião, inclusive aquela história da demissão
Denilson Vasconcelos: Emiliano José
Não se avexe. Deixe eu retornar e ver os recortes guardados em casa. Para
ilustrar (matar a cobra, mostrar o pau e a cobra morta).
Emiliano José: Denilson Vasconcelos
Ok
Marie Helene Russi: Denilson
Vasconcelos pois é. Juntos em Ibiúna, no ônibus da volta. No final Carlo e eu
fomos expulsos da faculdade... começo da clandestinidade e de uma vida nova.
Pois é. Reencontrei Aécio sempre uma doçura no feice. Adoro seu amor pela
Chapada que visitei finalmente em 2016. Passadejando. Merci.
Antonio Silvany: Aécio é uma
grande referência. A diferença é que Che adorava uma guerra e Aécio prega a
paz!
Emiliano José: Antonio Silvany Não
deixava de ser terno, o Che.
Antonio Silvany: Com certeza
Emiliano José e Aécio, firme em suas decisões.
Graça Azevedo: Fui colega de
turma de Aécio. Uma pessoa maravilhosa.
Jose Guimaraes: Bons tempos, na
Tribuna, Ubaldo reunindo a redação para dar aula de Filosofia, Ruy Espinheira
copidescando...
Iracema Braga: Aécio meu amigo.
Aprendi muito com ele. Eu era uma analfabeta política.
Aécio Pamponet Sampaio: Iracema Braga,
minha querida amiga, vc nunca foi analfabeta política. Saudades!
Olívia Soares: Aécio Pamponet
Sampaio faz parte do meu universo afetivo.
Aécio Pamponet Sampaio: Olívia Soares,
vc, Vítor e Margarida são especiais!
Antonio Silvany: Olívia e Aécio
têm história pra contar. Qual dos dois lançará primeiro, o best- seller?
Olívia Soares: Antonio Silvany Aécio
Pamponet Sampaio
Aécio Pamponet Sampaio: Antonio Silvany,
Olivia tem histórias para 10 volumes! Kkkk
Olívia Soares: Aécio Pamponet Sampaio, rindo alto. Estou carecendo sorrir. Antonio Silvany
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Emiliano José
24
de agosto de 2019
Fazendo do limão,
limonada
Que
é estranho, lá isso é.
Ditadura
e parecenças são sempre estranhas.
Não
parece insólito o SNI sair dos seus cuidados e sentenciar, é, uso a palavra
sentenciar: "se quiser ser jornalista só pode escrever sobre
futebol"?
Pois
é, a vida naquele momento não oferecia muitas escolhas a Aécio Pamponet.
Enfrentara
três prisões.
Todas
em 1968.
A da
greve de ocupação.
A do
Congresso de Ibiúna.
E a
da varredura do pós-AI-5.
Carimbado.
A
repressão o acompanharia passo a passo.
Que
jornalismo, que nada!
Acaso
queira trabalhar na área, contente-se com futebol.
Recém-saído
da prisão, proibido de estudar por três anos, de trabalhar no setor público,
Pamponet não viu saída senão render-se.
Pensou:
vamos fazer do limão uma limonada.
Gostava
de futebol.
Torcia
pelo Bahia.
Que
mal vá?
E
embarcou na Academia de Antônio Matos, a melhor equipe de jornalismo esportivo
já vista em jornal impresso na Bahia.
Matos
lançou em 2018 "Heróis de 59: a história do primeiro título brasileiro
conquistado pelo Esporte Clube Bahia", a lembrar a torcedores do Bahia e
de outros times todo seu talento e capacidade de pesquisa.
É
mestre na área - serenidade e competência numa só pessoa, na definição de
Pamponet.
Chegado
à equipe chefiada por Matos, de que já falamos muito nessa série,
impressionou-se com o jornalismo esportivo sério produzido por ela: de grande
qualidade, transcendia aquele amontoado de lugares-comuns dos boleiros da
época.
Ali
teve as mais ricas experiências de sua breve experiência jornalística.
E
não era apenas o jornalismo esportivo a impressioná-lo.
A
Tribuna da Bahia o maravilhou: texto leve, informal, quase lúdico, e
desenvolvendo-se no período mais
sanguinário
da ditadura.
A
linguagem havia de preservar a crítica velada e a ironia ferina, sem cutucar o
leão com vara curta.
A TB
conseguia.
-Reuniu
intelectuais e uma geração de jovens irrequietos, formada num contexto
histórico político-cultural crítico e participativo contra o golpe de 64.
Pamponet
considera ter a TB conseguido manter seus interesses empresariais sem ser
subalterna.
Lembrança
eterna daqueles tempos.
#MemóriasJornalismoEmiliano
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(Aécio e Selma)
(
(Fazenda Garajau)
(Orquídeas na Fazenda Garajau)
(Com o irmão-pai Luiz e o amigo Everaldo Macedo, vereador em Macajuba)
(Com o neto-postiço João Dórea, filho de Juraci Dórea)(Com os sobrinhos Maira, Marcos e a pequena Liz, na noite de lançamento do livro Retalhos)(Victor e Viviane, os professores de Pilates, no lançamento de Retalhos)
Essa jornalista Mônica Bichara, arrasa mesmo.
ResponderExcluirBom ter vc aqui, Manuh. Essa série do professor, jornalista e escritor Emiliano José está contando atualmente a trajetória de sua professora Cleidiana. Em breve ela tb estará aqui. Acompanhe. Eu tb já tive essa honra, o meu capítulo está aqui no Pilha. Só pesquisar. Bjs
ExcluirDas coisas boas da vida: tomar um cafezinho quente numa das varandas do Garajau, ouvindo as histórias de Aécio! Parabéns pela matéria Mônica Bichara!
ResponderExcluirObrigada Larissa, imagino que deve ser muito bom mesmo. Só lembrando que o mérito é todo do autor, Emiliano José, dei só uma editada. Valeu pela visita ao blog
ExcluirQue maravilha, Aécio Pamponet Sampaio também na maravilhosa série #MemoriasJornalismoEmiliano. Respeito muito essa figura séria, ética, gentil..., que conheci sob a energia das festas de São João, em Macajuba, junto com a minha família e amigos. Momentos inesquecíveis. Foi bom saber sobre esse seu momento no Jornalismo baiano, viu, amigo? O parabenizo com muita alegria. Também concordo com você sobre o o que disse sobre nosso querido Emiliano José: “Ah se tivéssemos uma meia dúzia de Emilianos nesses tempos de falsidades e de mediocridades!...”. Pura verdade.
ResponderExcluirAproveitando o depoimento de Larissa, parabenizo, mais uma vez, amiga/irmã/'cumade' Monica Bichara pelas edições da série no Pilha. Sempre show de bola.Bjos
Comentário para Pamponet enviado pelo jornalista Antôno Matos, citado nos textos da série de Emiliano: "Mônica, você e Emiliano estão dando um 'banho de bola', com estas matérias sobre jornalistas que passaram pela 'Tribuna'. Diga ao 'velho' Pampona, que foi ele quem engrandeceu, com seu talento, comprometimento e seriedade, aquela editoria de Esportes, que tive - apesar de ser o mais novo da turma, com apenas 22 anos - o prazer e a honra de comandar".
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