#MemóriasJornalismoEmiliano – José Carlos Menezes: Um coringa na Tribuna

 


Publicitário, consultor em marketing político e eleitoral. Assim José Carlos Menezes é mais conhecido hoje em dia. Mas foi no jornalismo, o chamado primo pobre, que ele iniciou carreira. Os tempos eram de ditadura militar e ele, estudante de sociologia, conhecedor da língua espanhola, foi escolhido para editor do noticiário internacional, já que os telegramas da Associated Press chegavam em espanhol.

 

Nos artigos desta série Emiliano José conta que, para Menezes, a Tribuna revolucionou o jornalismo baiano. Por dois motivos: foi o primeiro jornal a rodar em off-set; e inovou tanto na linguagem quanto na abordagem dos conteúdos, eliminando vícios e jargões.

 

Uma característica daquela fase “dos bons e velhos tempos da TB”, como ele relembra, foi não se limitar a “pentear” os telegramas. Para quem não é do ramo, “pentear” era apenas corrigir erros. Mas para um jornal com uma redação politizada, como era o caso, cheia de “comunistas”, os textos eram reescritos e interpretados de acordo com as notícias. Segundo Emiliano, procurando sempre um ângulo favorável aos "guerrilheiros comunistas", aos movimentos libertários da América Latina.

 

Claro que sabiam que não poderiam esticar muito a corda. Nunca é demais lembrar, era ditadura militar. E as agências internacionais, a exemplo da AP, seguiam à risca a ideologia da Guerra Fria. Como hoje representam os interesses neoliberais.

 

Como diz Emiliano, na Tribuna prevalecia “a visão apimentada, progressista dos jovens jornalistas”. Na definição de Menezes, a redação era "um mix de militantes contra a ditadura, hippies, cachaceiros de primeira, intelectuais, escritores, artistas plásticos, mistura das mais interessantes".

 

E em meio a esse mix José Carlos Menezes se tornou uma espécie de coringa, assumindo as editorias de Geral e Internacional (dividindo com Seo Leite /Fernando Alvarez Rodriguez), além da pauta, chefia de reportagem e 2ª secretaria de redação. Entre os companheiros da época, lembra ainda de Otto Freitas, Césio Oliveira e João Santana (Patinhas).

 

No jornalismo Menezes passou também pelas redações de A Tarde e Zero Hora (RGS), até ser atraído, em 1986, pela publicidade. Atuou na Comunicação em governos estaduais e municipais, campanhas políticas e agências de publicidade, com experiência considerada pioneira em gestão governamental. Participou de campanhas presidencial e legislativa em Angola, onde também realizou trabalhos para a ONU. 

(Campanha eleitoral em Angola, 1992)

É coordenador da CMSI – Comunicação e Marketing Soluções Integradas, editor do Blog do Mena e colunista do Camaçari Agora.

 

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Emiliano José

9 de julho de 2019

João Falcão e o Jornal da Bahia

 

Menezes, de quem falei ontem, no depoimento dado a mim, considera que a “Tribuna da Bahia”, nascida em 21 de outubro de 1969, foi uma sucessora do “Diário de Notícias”.

Pra mim, uma tese nova.

Sustentei sempre que a “Tribuna” sucedia ao “Jornal da Bahia”, surgido no final dos anos 50, uma sacudidela de renovação no jornalismo baiano, sobretudo pelas posições adotadas, bastante diferentes de “A Tarde”, jornal de tradição conservadora.

Nascia da iniciativa de um ex-comunista, João Falcão.

Precursor das relações do PCB com a Internacional Comunista - por delegação do partido, esteve na Argentina reunido com o Bureau Sul-americana da IC.

Segurança de Prestes.

Motorista de Marighella.

Editor-chefe de A Seiva, revista surgida ousadamente em plena ditadura do Estado Novo.

Um dos fundadores de O Momento, jornal do PCB na Bahia.

Dirigente regional do partido.

Talentoso, corajoso, ousado.

E jornalista.

Rompeu com o PCB na esteira da hecatombe do Relatório Kruschev, lido no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, no início de 1956, onde se revelaram os crimes de Stálin.

Inquieto, cheio de ideais, prepara-se para colocar outro jornal na rua, agrupando muita gente boa, muitos intelectuais de esquerda, inclusive vários ex-comunistas.

No dia 21 de setembro de 1958, nascia o Jornal da Bahia.

Não se pode dizer, porque não era, um jornal comunista.

Também era impossível negar fosse uma publicação marcada pela inspiração da esquerda, considerando-se a trajetória de seu condottiere.

Um jornal progressista, a contrapor-se ao conservadorismo de A Tarde.

Minha visão, até aqui, é que a “Tribuna”, pouco mais de uma década depois, viria a ser a sucessora do “Jornal da Bahia”,  no sentido de uma novidade gráfica e de renovação de ideias.

Menezes, com sua provocação, me leva a pensar.

Conhecia pouco a história do “Diário de Notícias”.

Vou atrás.

#MemóriasJornalismoEmiliano

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Emiliano José

10 de julho de 2019

A primeira em off-set

 

Menezes andou colocando tempero no debate sobre a história do jornalismo baiano do século XX até os dias atuais.

Devo comentar à frente algumas de suas férteis provocações.

Por enquanto, voltemos à “Tribuna”, à visão dele sobre o jornal.

O conhecimento é hoje muito mais uma coisa do comum, da comunhão, da troca, do que fruto do brilhantismo ou esforço individual.

Assim, estou nessa série, conhecendo muito do jornalismo baiano num intercâmbio permanente com camaradas.

Menezes considera que a “Tribuna” revolucionou o jornalismo baiano porque foi o primeiro jornal a rodar em off-set, o mais moderno sistema de impressão da época, e porque inovou na linguagem e na abordagem dos conteúdos, eliminando os vícios e jargões daquele tempo.

A cobertura nacional e internacional trazia incômodos ao regime, ainda que na maioria das vezes de forma indireta, que com ditadura não se brinca.

A Internacional, por cobrir assuntos desagradáveis ao regime militar, como a Guerra do Vietnã ou lutas de libertação, de um ângulo sempre favorável aos "guerrilheiros comunistas", ou aos movimentos libertários da América Latina.

A Nacional, por seu noticiário amplo.

Não escondia o que a Oposição fazia.

E na Economia deixava evidente que as coisas não iam tão bem como se dizia.

O material chegado das agências nacionais e internacionais à redação não eram apenas “penteados”.

Eram reescritos.

Com a visão apimentada, progressista dos jovens jornalistas.

Uma redação extremamente diversificada.

Militantes de esquerda, maluquinhos hippies, artistas, gente de direita.

Todo mundo com formação cultural de nível superior.

Muitas mulheres, algumas em funções que fugiam aos padrões da época, como repórter de polícia, até então função reservada apenas a cabra macho bem macho.

Menezes foi escolhido por ser estudante de Sociologia e por conhecer a língua espanhola.

Os telegramas da Associated Press chegavam em espanhol.

Na fase inicial, seus colegas mais próximos eram Fernando Alvarez e Zoroastro Sant'Anna, chefe da editoria Internacional.

Fernando Alvarez - Seo Leite -, que eu ainda alcancei na TB logo ao chegar, e Zoroastro Sant'Anna serão atraídos pela publicidade, o que também ocorrerá com Menezes.

Os salários eram melhores.

#MemóriasJornalismoEmiliano

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Emiliano José

11 de julho de 2019 ·

José Sérgio Gabrielli, o Cavalão

 

Com a experiência adquirida, José Carlos Menezes foi se tornando uma espécie de coringa: por várias vezes esteve à frente da Editoria Geral.

Foi editor internacional, pauteiro/chefe de reportagem.

Em muitas ocasiões, recebi pautas diretamente das mãos dele.

Lembra da convivência na redação com Cavalão, editor de Economia.

Era chamado assim por ser "muito grande e desastrado".

Volta e meia, Cavalão era preso, incorrigível militante político de AP.

A redação se acostumou a isso, nem se assustava mais.

Numa delas, condenado.

Foi meu companheiro de Galeria F, na Penitenciária "Lemos Brito", por alguns meses, entre 1971 e 1972.

E amigo e camarada de toda a vida, do início de 1970 até os dias atuais.

Cavalão será mais tarde presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli de Azevedo.

Como secretário de Redação, na lembrança de Menezes, "um jovem talento chamado Césio Oliveira".

Fomos contemporâneos no Jornal da Bahia e no Estadão.

Menezes tem toda razão quanto ao talento dele, um texto redondo, criativo.

Solidário com os companheiros, nenhuma arrogância.

Dele, havia tratado em livros meus sobre a luta estudantil na Bahia, final dos anos 60.

Foi presidente do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal.

Tinha uma técnica especial: fumava muito e ao lado da máquina de escrever, o cigarro aceso em posição vertical.

Como conseguia, não me perguntem: o cigarro ia queimando e as cinzas não caíam.

Eu, assombrado.

Aquilo era coisa de mágico.

O cigarro estava ali à minha frente, de pé, cinza pura, um simulacro, e ele teclando...

Meninos, meninas, isso eu vi.

Na Sucursal do Estadão, edifício Martins Catharino, nas cercanias da rua Chile.

Menezes recorda-se ainda de Cláudio Fonseca, que conhecerei mais tarde no PCB, e dos irmãos Osvaldo Gomes e Sérgio Gomes.

Os dois ocuparão cargos de chefia no jornal.

Sérgio Gomes era redator-chefe quando cheguei.

#MemóriasJornalismoEmiliano

 

COMENTÁRIOS

 

Paulo Paranhos: Lembranças da hora camarada Emiliano convivi com o Menezes e o Césio nos tempos de marketing político e com o cavalão nas barracas da praça Castro Alves nos bons carnavais da década de 90

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Emiliano José

12 de julho de 2019

Escola de Quadros

 

Com a morte de Quintino de Carvalho, primeiro redator-chefe da TB, o grande inspirador jornalístico do projeto, assume Milton Caires de Brito, lembra Menezes.

De Quintino de Carvalho, falaremos bastante à frente.

Milton Caires de Brito nasceu em Paramirim, no sertão baiano.

Em 1915.

Comunista, desde cedo.

Abro parêntese.

Cidade hoje governada pelo poeta Gilberto Brito, tem tradição comunista.

Lembro de ter escrito artigo sobre um deles, tem tempo isso, na TB: doutor Aurélio Justiniano Rocha, que nasceu um pouco antes de Milton Caires, iniciozinho do século XX.

Brito me contou: menino, acompanhava uma procissão, e testemunhou os dois conversando animadamente.

Certamente, nada a ver com a fé cristã, mas com a utopia comunista.

Lá naquelas lonjuras, doutor Aurélio organizou célula comunista antes de meados do século passado.

E montou uma Escola de Quadros para formar militantes.

Parece fantasia, mas não é.

Não tem tempo, passei por lá visitei um dos velhos comunistas da terra, devia de ser discípulo de Aurélio e de Milton Caires, Ernesto Araújo, hoje aos 90, atualmente vivendo em Salvador, como me revelou o prefeito Gilberto Brito.

Revelava-se plenamente convicto de suas ideias comunistas.

Coisa de louco nesse país tão visceralmente anticomunista.

Fecho o parênteses.

E apresento Milton Caires: já em 1935, milita na Juventude Comunista do PCB, conclui Medicina em 1940, participa da II Conferência Nacional do PCB, em 1943, pleno Estado Novo, eleito membro da Executiva do partido, eleito deputado federal na Constituinte de 1946 pelo mesmo PCB, no Estado de São Paulo, onde será também eleito deputado estadual pelo mesmo partido em 1947, e prefere renunciar ao mandato de federal para assumir o posto na Assembleia Legislativa paulista.

Em São Paulo, é editor do jornal Hoje, vinculado ao PCB.

Cassado como os demais parlamentares do PCB alcançados pela ofensiva anticomunista de Dutra, clandestino, refugia-se nos sertões de Paramirim, onde trabalha como médico durante algum tempo.

Ressurge para a vida legal em 1958, aproximando-se do Jornal da Bahia, recém-fundado.

Com o golpe de 1964, afasta-se do jornalismo.

Voltará mais tarde: redator-chefe da TB de 21 de dezembro de 1971 a 19 de abril de 1974.

#MemóriasJornalismoEmiliano

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Emiliano José

13 de julho de 2019 

Milton Caires redator-chefe

 

Menezes considera que o novo redator-chefe, Milton Caires de Brito, não entendia muito de jornal e que talvez por isso deixava as coisas "correrem meio soltas".

Bem, Menezes é testemunha daquele tempo.

Não se há de contraditá-lo.

Ele estava lá.

Não se desconheça, no entanto, fosse Milton Caires um entusiasta do jornalismo.

E jornalista atuante, não obstante dirigente comunista.

Ou talvez por ser comunista.

Vejamos.

Ajudou a impulsionar o jornal "O Momento", jornal do PCB na Bahia surgido nos anos 40.

Foi dirigente do jornal Hoje, em São Paulo, também publicação vinculada ao PCB.

Colaborou com a revista Continental, anteriormente.

A publicação funcionava como porta-voz da Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP), núcleo de reestruturação do PCB, no início dos anos 40.

Esteve ligado à fundação do Jornal da Bahia, onde trabalhou a partir de 1958.

Pode surgir a argumentação de que a experiência dele foi, sobretudo, na imprensa comunista, como se isso o desacreditasse.

Besteira.

Essa imprensa era uma extraordinária escola, até porque constituída de publicações feitas sob precárias condições, obrigando todos a desenvolverem múltiplas atividades.

Dela, saíram quadros jornalísticos da maior importância.

E quando foi chamado à TB, dava aulas de Publicidade e Relações Públicas na Escola de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal da Bahia, que englobava o ensino de Biblioteconomia e Jornalismo, em departamentos distintos.

Não foi, sem razão, portanto, que Milton Caires foi convidado à chefia de redação da TB.

Tinha estrada.

E não era pequena.

#MemóriasJornalismoEmiliano

 

COMENTÁRIOS

 

Ana Vieira: Fui aluna dele no curso de Jornalismo. Bom professor

Jorginho Ramos: Meu professor!

Emiliano José: Dois importantes testemunhos

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Emiliano José

14 de julho 2019 

A jóia da Coroa...

 

A TB surgiu em tempo de mudança.

Diria: o mundo sempre gira, a história não para.

Menezes recorda, acentua: "estávamos saindo do mundo açucarado e certinho dos anos 50".

Guerra Fria, no auge.

Guerra do Vietnã: "onde um bando de esquisitos colocava em xeque a maior potência do planeta".

E vai derrotá-la.

Usava cavanhaque.

Ganhou o apelido de Ho Chi Minh.

Não sei se ficou orgulhoso, não revelou.

Na América Latina, Cuba, Guevara, guerrilhas.

No Brasil, Marighella, Lamarca, símbolos da luta armada.

O primeiro, assassinado logo depois da criação do jornal.

O segundo, em 1971.

Cresciam figuras como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.

Movimento feminista, Tropicalismo, Teatro Oficina, tudo sob fogo cruzado da ditadura.

Foi nesse caldeirão revolucionário de tantos matizes que emergiu a TB e sua redação, "mix de militantes contra a ditadura, hippies, cachaceiros de primeira , intelectuais, escritores, artistas plásticos, mistura das mais interessantes".

Um episódio curioso, contado por Menezes, vale a pena ser lembrado.

Elmano Castro, primeiro dono, costumava jogar cartas com seus amigos no Hotel da Barra, um de seus empreendimentos.

Várias noites, após boas talagadas de uísque, pegava seus amigos com as gravatas já folgadas, adentrava a redação para mostrar o que considerava a jóia da coroa da redação: era o teletipo da Associated Press, aquela máquina preta grande ...

#MemóriasJornalismoEmiliano

 

COMENTÁRIOS

 

Roberto Casais: Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia: marcos do jornalismo baiano.

Emiliano José: Roberto Casais Abraço. Honrado pela leitura.

Roberto Casais: Emiliano José, agradeço a lembrança de uma Bahia importante.

Emiliano José: Roberto Casais Tento. E seguirei adiante. Na linha Confesso que vivi. Abraço.

Roberto Casais: Salve Pablo Neruda!

Rodrigo Tardio: Roberto Casais Grande Roberto

Ernesto Marques: Luis Guilherme Pontes Tavares

Luis Guilherme Pontes Tavares: Ernesto Marques Iniciativa exemplar do jornalista, professor e amigo Emiliano José.

Emiliano José: Luis Guilherme Pontes Tavares Honrado pelas companhias.

Lucia Correia Lima: Quem é Meneses? Não li o texto em que ele foi introduzido

Emiliano José: José Carlos Menezes.

Lucia Correia Lima: Emiliano José ele escreveu livro sobre Tba?

Emiliano José: Lucia Correia Lima Não. Pedi um depoimento, e ele o fez. Como Barreto. E outros.

Lucia Correia Lima: Emiliano José ótimo. O TBa teve gente de vanguarda 

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Emiliano José

15 de julho de 2019

A rotativa e a gravata

 

Elmano Castro gostava de cartas.

E gostava, é de lei, de um bom uísque. Era depois das cartas, e já estimulado pelo álcool, o momento mágico de levar os amigos à TB.

Não foram poucas as noites.

E seu orgulho, dos grandes, era o teletipo da Associated Press.

Máquina preta, grande, nem bonita podia ser considerada.

Depende.

Pra ele, linda.

A jeringonça estremecia toda ao movimento de suas teclas despejando rolos e mais rolos de papel com o noticiário internacional.

Entrava na redação com sua trupe, uns mais ou menos inteiros, outros menos, dava um tapa na jóia, e orgulhoso dizia:

-Diretamente de Nova Iorque pra minha casa!

Verdade: a antena captadora ficava na residência dele.

E tascava, olhando para os companheiros de carta e uísque:

-Mostra aí, menino, mostra a eles como funciona tudo isso.

O menino então pacientemente, didaticamente explicava àqueles senhores de gravatas folgadas, roupas em desalinho, alguns com os paletós nos braços, que uísque não é fácil, explicava todo o processo para orgulho do dono, que depois marchava em direção às máquinas de composição IBM, outra das modernas tecnologias da TB.

O menino era Menezes, que reflete:

-Elmano era um tipo curioso e merecia um estudo. A rigor, deixou nas mãos de Quintino fazer o que quisesse do jornal. Se ele tinha interesses outros, relacionados às suas demais atividades empresariais e/ou políticas, isso nunca ficou explícito - pelo menos durante a gestão Quintino de Carvalho. Só foi acontecer após a sua morte, quando Joaci Góes tomou a frente do empreendimento e notinhas e coberturas começaram a aparecer ditadas pelos seus interesses empresariais e políticos, principalmente os relacionados à sua construtora. No tempo de Elmano, se algo desse tipo aconteceu, era muitíssimo discreto.

Escapou de morrer esmagado pela impressora de seu jornal.

Quem conta é Menezes também.

Numa madrugada, mostrava a moderna rotativa a seus amigos de carta e uísque, aproximou-se demasiadamente da máquina, e a gravata ficou presa em uma das roldanas.

Tentou ainda segurar a gravata, inutilmente.

Salvo por um triz: um dos operários, chefe da oficina, atento, acionou o botão de emergência, parando o maquinário a tempo.

Perdeu a gravata.

#MemóriasJornalismoEmiliano

 

COMENTÁRIOS

 

Lucia Correia Lima: Vc vai publicar tudo junto?

Emiliano José: Lucia Correia Lima Espero. Quando terminar a série. Ainda demora. É muita estrada. Beijo

Lucia Correia Lima: Emiliano José beijo

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Emiliano José

16 de julho de 2019 

Máquina e ideologia

 

Elmano Castro tinha razão em ter tanto carinho com suas máquinas.

Sobretudo, com o teletipo despejando notícias sem parar.

A Associated Press trazia o mundo até a redação, que mexia e remexia com tudo aquilo e levava até o leitor.

As notícias internacionais não eram apenas "penteadas" no caso da TB.

Pela editoria Internacional passaram Menezes, Gabrielli, Hamilton Celestino, ao menos que me lembre, até 1974/75.

Davam tratamento cuidadoso, interpretavam até onde podiam tudo que chegava.

Até onde podiam - insista-se porque os tempos eram duros.

Em 1973, TB rodando a todo vapor, matam e desaparecem com Gildo Macedo Lacerda e prendem Mariluce Moura, jornalista baiana, grávida de Tessa.

Em 1975, matam Vladimir Herzog em São Paulo.

Viver é arriscoso.

Era mais naqueles tempos.

Por isso, ajeitar os telegramas despejados pelo teletipo era coisa pra gente com conhecimento e talento.

Não "pentear" apenas, não se reduzir às vírgulas, aos dois pontos, ao ponto e vírgula.

Contextualizar, avançar, mas sempre com cuidado.

Esticar demais a corda, arriscado.

Assim, agiam os editores de Internacional da TB.

Reflito: agências internacionais não são distribuidoras neutras de notícias.

Tem tempo agem segundo uma ideologia, uma concepção de mundo.

Se hoje distribuem material segundo uma alma neoliberal, àquele tempo não só escreviam sob a ótica do capitalismo, como, também, seguiam à risca a ideologia da Guerra Fria, ideologias inseparáveis então.

Penso no quanto há de construção cultural na atuação dessas agências.

No quanto elas contribuem para uma interpretação do mundo, para a elaboração de uma visão sobre a realidade.

A máquina a suscitar tanto entusiasmo em Elmano não era apenas uma máquina.

Era o mecanismo para difundir uma ideologia, como até hoje.

Sorte houvesse editores na TB capazes de remediar, ao menos remediar, o estrago feito por elas.

#MemóriasJornalismoEmiliano

 

COMENTÁRIOS

 

Roberto Casais: Viver era (ou agora é) um pouco arriscoso. Vide o Jornal da Bahia.

Hoje comparando ao muito antes, parece um tempo mal reciclado: Brecht tem razão. Forte abraço!

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(Com o filho Uirá, a nora Isadora, o neto Gabriel, a filha Júlia e a esposa Elaine)

(Com a mulher Elaine e a filha Júlia)





Comentários

  1. Adorei Emiliano e Mônica. Grandes lembranças. Bons tempos

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    1. Que bom que gostou, dei apenas um toque para valorizar ainda mais essa rica memória do jornalismo baiano rebuscada por Emiliano. Tem razão, grandes lembranças

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