#MemóriasJornalismoEmiliano – Um meteoro chamado HAF passou pela TB

 

(HAF e Caetano - Foto Amâncio Chiodi.)

De outubro de 1972 ao início de 1973, um personagem passou pela redação da Tribuna da Bahia como um meteoro e, apesar do pouquíssimo tempo, influenciou radicalmente o jornal. Hamilton Almeida Filho, HAF para os amigos, era o “cão de calçolão” do jornalismo brasileiro na época, como define Emiliano José nessas memórias. Trazia na bagagem, digo no currículo, experiências de fazer inveja a qualquer um e alguns prêmios Esso. Os colegas que acompanhavam sua carreira (é sempre bom lembrar que não existia rede social) custaram a acreditar que era ele materializado ali na redação, com seu inconfundível estilo ripongo. Durango, pedindo uma vaga. Claro que rolou, o currículo e a fama eram irresistíveis. 

(Legenda de Lúcia Correia Lima: Caetano foto Walter Firmo em alusão à foto de Pixinguinha. Ganhamos, com esta revista mensal, PRÊMIO ESSO DE CONTRIBUIÇÃO À IMPRENSA, em 71 ou 72, logo depois do Esso da REALIDADE da Abril )

Depois de uma experiência riquíssima do ponto de vista profissional, mas não financeiramente, com a revista O Bondinho, que HAF, Sérgio de Souza e Narciso Kalil, vindos da importante revista Realidade, compraram do Grupo Pão de Açúcar (era distribuída gratuitamente), surgiu a decisão de trocar São Paulo por Salvador. Veio de trem com a mulher, a querida fotógrafa Lúcia Correia Lima, que conheceu quando trabalhavam na Realidade. “Chegamos aqui duríssimos”, confessa ela, que era praticamente uma adolescente. Irmã do também fotógrafo Agliberto Lima e cunhada do jornalista Marcos Palácios, foi fácil chegar à Tribuna.

(A fotógrafa Lúcia Correia Lima, aos 18 anos de idade, ex-mulher de HAF) 

“HAF era inquieto, muito alegre, solidário, muito criativo, tinha uma história fantástica de vida. Ele nasceu num circo, o pai era o dono e a mãe bailarina. Mas foi criado pelo tenente Antero, um militar de esquerda, um dos revoltosos da Revolta dos Tenentes, era macrobiótico e viveu 102 anos, passando um tempo exilado no México. Ele deu uma formação muito boa a HAF”, conta Lúcia, que viveu com ele por 4 anos. 

Já estabelecidos na capital baiana foram morar num sótão na Ladeira do Passo, no Pelourinho, quando ninguém queria morar lá por causa da fama de prostituição. A casa era frequentada por Gilberto Gil, Caetano, virou um centro de jornalistas, artistas, intelectuais. Eram chamados de “hippies ricos”, pois viviam em comunidade para dividir o aluguel, ter mais conforto e se proteger da repressão. É bom não esquecer que a ditadura militar não perdoava jornalistas, intelectuais, pensantes. 

É ainda Lúcia quem relembra: “Em uma das casas em que moramos, escrevemos em todas as paredes da cozinha. Foi matéria em uma revista de alta circulação. Mesmo na ditadura éramos felizes.  Enfim, éramos uma vanguarda intelectual e no comportamento”.



E, gargalhando, conta um episódio da época: “Tínhamos carros grandes, porque morava muita gente, e trabalhávamos muito, ganhávamos bem porque era a fase do chamado Milagre Brasileiro. Saímos para comprar bons vinhos num mercado. Eu e Ricardo ficamos no carro a Hamilton e Myltainho entraram no mercado. De repente chegou uma patrulha do Exército, cercaram o nosso carro com muitas armas, achando que éramos terroristas. Quando os dois voltaram, cheios de garrafas de vinhos, nos deixaram em paz”. Agora ela ri, mas na hora foi teeeeeeenso. 

Não o conheci, mas a amiga Lúcia me socorreu nessa missão de apresentar HAF.  Conheci Lúcia no início da carreira, quando estagiei fazendo uma pesquisa eleitoral para a Globo/Isto É. Antes de pisar em qualquer redação de jornal tive o prazer de conhecer a sucursal de O Globo, onde além dela conheci Linalva, Raimundo Mazzei, Zezé e João Santana (Patinhas). Valeu, querida!   

A trajetória de HAF foi contada também no livro "HAF na TB - A passagem de Hamilton Almeida Filho na Tribuna da Bahia entre 1972 e 1973", lançado em 2009 pelo jornalista Luís Guilherme Pontes Tavares.

 

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Foto: Lúcia Correia Lima)

Emiliano José

25 de agosto 2019

Um cometa

 

Césio Oliveira debruçado sobre matéria a ser editada para dia seguinte.

Abruptamente, entra na sala da secretaria um nervoso, agitado Hamilton Celestino:

- Sabe quem está aí, na sala do arquivo?

Não, Césio não sabia.

- Nada mais, nada menos que Hamilton Almeida Filho, o lendário HAF.

A sala onde Césio trabalhava era separada da do arquivo por uma divisória de madeira com um pequeno buraco em forma de meia-lua por onde passavam fotos e textos para edição.

Ele era um dos secretários de redação.

Levantou-se, olhou pelo buraco.

Viu um sujeito magro, moreno, olhos semicerrados, avermelhados, uma enorme cabeleira negra despenteada, vestido à moda hippie, despojado.

- Temos que segurar o Hamilton aqui - reagiu Césio.

Os dois, Césio e Hamilton, bateram à porta de Milton Cayres de Brito, o redator-chefe.

Deitaram falação: HAF era o cão de calçolão, um dos maiores jornalistas brasileiros, baita repórter, bom editor, texto magnífico, o diabo a quatro.

Queria emprego.

Como perdê-lo?

Oportunidade rara para a TB.

O velho comunista concordou.

Aquisição e tanto.

Enriqueceu muito uma redação já talentosa.

A presença dele foi uma sacudidela.

Deu mais ânimo, mais qualidade e projeção a boa equipe da TB.

Era outubro de 1972.

Chegava junto com a mulher, fotógrafa Lúcia Correia Lima, irmã do fotógrafo Agliberto Lima, com quem trabalhei no Estadão.

Com Lúcia, também trabalhei.

HAF foi admitido como redator-C, para trabalhar no arquivo, pesquisando e redigindo.

Essa chegada está registrada no livro "HAF na TB - A passagem de Hamilton Almeida Filho na Tribuna da Bahia entre 1972 e 1973", de Luís Guilherme Pontes Tavares", onde há também breves traços biográficos sobre ele.

HAF trazia na bagagem um respeitável currículo: Prêmio Esso de Trabalho Esportivo com a reportagem "Interior, futebol por dentro", publicada no "Estadão", dele e de Tão Gomes Pinto.

Em 1971, recebe o Prêmio Esso novamente, em duas categorias, por conta da edição especial sobre a Amazônia, da revista "Realidade".

No mesmo ano, recebe medalha de bronze, junto com a equipe de "Bondinho" - Prêmio Esso na categoria "melhor contribuição à imprensa".

Iniciou carreira jornalística com precoces 15 anos, no jornal "A Noite", no Rio de Janeiro.

Passou depois pelo "Jornal do Brasil", pela sucursal da revista "O Cruzeiro" em São Paulo, pelo "Estadão", pela "Realidade".

Por todo esse currículo, é que Gustavo Falcon o considerou um cometa que passou pela terra, "que iluminou breve e profundamente os códigos de comunicação, tirando a imprensa do marasmo". #MemóriasEmilianoJornalismo

COMENTÁRIO

Sérgio Buarque de Gusmão: HAF...companheiro de jornalismo e de república...Me deu o único apelido que pegou um pouquinho......

Emiliano José: Sérgio Buarque de Gusmão  Qual?

Sérgio Buarque de Gusmão: Emiliano José      Hahaha...

Lucia Correia Lima: Na verdade... Te mando. Haf só foi descoberto depois que Tito pediu seu currículo, estava humildemente sendo testado para a equipe da pesquisa do arquivo.

Lucia Correia Lima: Foi Marcos Palacios, chegamos de trem de SP duros depois do fim do Bondinho e bombas nas bancas que vendia o jornal de Raimundo

Denilson Vasconcelos: Anos depois, também passou pelo Movimento. Junto com Myltainho Severiano. Para arejar a sisudez local. Meteoricamente.

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(Narciso Kallily abraçando HAF e o amigo Mylton Severiano ao fundo - Arquivo de família)

Emiliano José

26 de agosto 2019 

O anjo exterminador

 

Talvez Césio Oliveira tenha razão quanto a Hamilton Almeida Filho: guardava semelhança com o anjo de "Teorema", de Pasolini.

Pudesse, viraria tudo de cabeça para baixo, criativamente.

Sua breve passagem pela Tribuna da Bahia não foi em vão.

Mexeu com muitas cabeças.

Faço, no entanto, um salto.

Surpreendo HAF em 1979, longa estrada percorrida desde os 15 anos, desde 1961 já jornalista, mais maduro, ou não, a palavra maduro aqui pode ter um tom conservador, avaliando a situação da imprensa brasileira.

Uma dura avaliação crítica.

Prometo voltar à TB.

Em depoimento a Paolo Marconi, de 22 de maio de 1979, publicado no livro "A censura política na imprensa brasileira - 1968-1978", lembra que a primeira censura no pós-1945 foi praticada pelo jornalista Carlos Lacerda quando governador.

Em 1961, Lacerda invadiu "Última Hora", "Correio da Manhã", "A Noite", entre outros jornais do Rio de Janeiro por ocasião da renúncia de Jânio Quadros.

Com isso, HAF queria dizer que a ditadura militar só viera institucionalizar o controle da informação, de forma férrea.

Já existia.

Na avaliação dele, entre 1964 e 1979, quanto à censura, primeiro foi no tranco, na força, e isso foi até 1975 - faço a ressalva de que isso se dá no pós-AI-5, após 1968.

A partir de 1975, outra fase, a ditadura "descobriu que tinha o controle econômico de toda a imprensa e que não precisava mais censurá-la".

Quem primeiro sofreu censura, no período mais duro, "foram os donos, foram eles quem primeiro fugiram com a responsabilidade jornalística".

Os empresários capitularam.

Com isso, a censura ganhou foros antes nunca vistos.

Os patrões concordaram com a censura.

Não havia neles nenhum sentido de rebeldia - essa a ácida visão de HAF.

"Os empresários se submeteram, foram manipulados, e hoje são controlados por meio de verbas".

A imprensa alternativa foi uma reação a essa covardia dos empresários.

Mostrou ser possível reagir, a custos muito baixos, fazendo outro tipo de jornalismo, de resistência, e baseado em fatos.

O controle da informação no Brasil sob a ditadura foi feito "de maneira fascista", diz, sem subterfúgios.

Realizado por militares incapazes de compreender o que acontecia ao redor, no mundo.

Na economia, modelo americano.

No controle da informação, "são tão fascistas como os hitleristas ou os fascistas italianos".

É duro com os jornalistas, ao menos com os que ocuparam cargos de chefias nas grandes empresas.

"Galgaram aos cargos de chefia da imprensa brasileira em massa, nos últimos 15 anos, as pessoas mais servis e menos criativas, os mais capachos e mais medíocres jornalistas que poderiam existir". 

#MemóriasJornalismoEmiliano


COMENTÁRIOS 


Paulo Paranhos: Resultado desta brilhante análise

A manipulação das massas pelos meios de comunicação e com a televisão de forma mais intensa pós 70 e agora com a internet

A salvação que hoje com a internet o jornalismo alternativo está mais livre da tortura e da prisão até agora

Joaquim Lisboa Neto: HAF não é aquele que foi correspondente na guerra do Vietnã?

Emiliano José: Joaquim Lisboa Neto Não.

Joaquim Lisboa Neto: Emiliano José ou terá sido José Hamilton Ribeiro?

Emiliano José: Aquele, José Hamilton Ribeiro

Joaquim Lisboa Neto: Me lembro de uma capa do Ex- com ele 

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(HAF com o escritor João Antônio e o jornalista Paulo Patarra - Arquivo de família)

Emiliano José

28 de agosto 2019  

A cultura enfrentando a barbárie

 

Ainda tentando decifrar o Anjo Exterminador, o grande HAF.

Eu não me encontro com ele.

Cheguei em 1974 à Tribuna.

HAF já havia batido asas.

Já se disse: o jornal acolherá positivamente pessoas de diversas extrações políticas e ideológicas, de diferentes visões de mundo.

Eu e alguns companheiros compúnhamos uma esquerda mais dura, mais ou menos esquemática ainda, não obstante em processo de mudanças com relação ao processo político, no meu caso aproximação acelerada e continuada de Gramsci, a quem conhecera na prisão.

Havia o que chamaria de outra esquerda, e prefiro situá-la à esquerda hoje, sem ceder à tentação de localizá-la simplesmente no terreno do "desbunde".

Eram os da "contracultura", de que a cultura hippie era uma expressão, de que Woodstock foi um grito de alcance mundial.

Tinham uma clara visão e prática anticapitalistas, a seu modo.

A Revolução não vinha das armas.

Vinha da cultura, mais Sartre do que Lênin, uma visão existencial.

HAF, penso, vinha dessa última linhagem.

Em sua trajetória, em suas pelejas jornalísticas, juntou armas com alguns companheiros de extração marxista, próximos ou militantes de AP, como Sérgio de Souza, editor de alguns de meus livros, notável jornalista, e Narciso Kalili.

Sérgio de Souza foi um dos editores de Realidade.

Trabalhei com ele no "Jornal da Bahia, em 1978, quando desembarcou na Bahia como redator-chefe, tendo Narciso Kalili como seu braço direito.

Vamos encontrar um HAF em plena forma, a tempestade, no "Bondinho".

Bernardo Kucinski fala desse momento em seu "Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da Imprensa Alternativa", quando ele fora entrevistar Gil e Caetano, recém-retornados de Londres:

"Hamilton foi ao encontro dos baianos e trouxe para a redação toda uma nova filosofia de vida, a proposta do transbunde, da liberação total".

Para o leitor, dirá Kucinski, naquele momento estava havendo uma ruptura cultural.

Como explica Narciso Kalili, entrevistado por Kucinski:

"A redação foi viver em comuna, numa casa no bairro da Lapa, como uma grande família, onde praticavam o amor livre, tomavam muito ácido, William Reich e a nova filosofia de Roberto Freire, procuravam a vida integral, discutiam muito e trabalhavam muito".

Narciso Kalili considera: tudo era reflexo do momento, a necessidade da liberação pessoal e coletiva, liberação da droga, liberação sexual, LSD, maconha, a porra toda:

"A ideia de que era preciso viver isso. Foi ao mesmo tempo alienação e inserção. Isso, numa época pesada, em que cada momento era um momento de conquista. As pessoas viveram isso e muitas piraram, viajaram..."

Era dessa cultura, o HAF...

#MemóriasJornalismoEmiliano

 

COMENTÁRIOS

 

Lucia Correia Lima: Oh Deus! Ainda bem que vivo! Na casa da Lapa apenas morávamos eu Haf o Miltaynho e Ricardo filho de Kalili. NÃO EXISTIA AMOR LIVRE NEM "MUITO" ÁCIDO. NAAAAAAAAO!! A ÚNICA moleta CONSTANTE ERA MACONHA. POR DEUS !

FANTASIAS SEM NENHUM CONHECIMENTO. APENAS DIVIDÍAMOS CONTAS E TRABALHOS MUITO TRABALHO

Lucia Correia Lima: Tivemos uma outra comunidade com 11 adultos e 11 criança (5 de Sergio) na imensa casa de Paulo Prado. Com vidas normais normais e maconha para alguns. Serjão sempre no vinho ou conhaque

Lucia Correia Lima: O LSD era muito esporádico. Acredite

Emiliano José: Lucia Correia Lima Ótimo. O Serjão era amigo muito querido.

Emiliano José: Lucia Correia Lima É entrevista do Kalili, a quem também conheci.

Emiliano José: Ótimo que você esteja aqui. Percebe por que pedi que escrevesse ?

Lucia Correia Lima: Emiliano José estou com MUITAS DEMANDAS E GRIPE FORTE. DENTE CANAL SEM $ ETC

Emiliano José: Lucia Correia Lima Melhore

Emiliano José: Lucia Correia Lima Acredito. Um careta não tem o que opinar

Emiliano José: Perceba que meu texto é de admiração

Lucia Correia Lima: Emiliano José mandei email ontem

Lucia Correia Lima: Emiliano José sim sim me referir ao dito por outro

Lucia Correia Lima: Emiliano José falei do Kucinski

Lucia Correia Lima: Emiliano José né. Pelo menos não deve fantasiar. Nunca ninguém testemunhou nada disto. Eu, como uma pessoa livre das relações conservadoras, quando as mulheres chegavam para seduzir Haf, ia ao cinema, pois ninguém é dono de ninguém. Por isto ele sempre quis voltar comigo, mesmo ja estando vivendo com escritora famosa. Kua kk

Lucia Correia Lima: Emiliano José sim claro. Nunca de condenação.

Lucia Correia Lima: Emiliano José apenas fatos. Pois esta era a máxima q Haf repetia FATOS. Ele dizia: nosso compromisso é com a notícia!

Sérgio Buarque de Gusmão: Mais um furo, ou melhor, furada, do Kucinski...Eu vivi na república da Rua Humberto I e só agora estou sabendo do amor-livre...Que decepção...

Lucia Correia Lima: Sérgio Buarque de Gusmão pois é. Né? Kucinski um careta de carteirinha fantasiou. Maconha sim. Nada mais! Poxa vida. A gente trabalhava como doido. Tivemos nossa cozinha como uma linda matéria para revista de comportamento, pois era poesia e filosofia e fotografias nas paredes.

Emiliano José: Lucia Correia Lima Calma, meus companheiros. O depoimento é de Narciso Kalili. Só ler o livro. E mais: o careta aqui é a favor da liberação das drogas, quaisquer. Só gosto é de vinho. Quanto ao amor livre, que livre seja. Toda forma de amor vale a pena. Sinceramente, com erros ou sem erros, ninguém foi ofendido. Tivesse acontecido tudo, nada demais teria havido, ninguém teria sido diminuído. Ainda bem que existem vocês para os reparos. Beijos

Sérgio Buarque de Gusmão: Emiliano José,. O que importa é seu registro da passagem do Hamiltinho pela Tribuna. Ele era, de fato, um furacão criativo, tinha uma relação carnal com a notícia - e tal qualidade não dependia de sua visão do mundo, aliás, sempre de orientação democrática. Paz e amor!

Emiliano José: Sérgio Buarque de Gusmão Abração, Sérgio.

Lucia Correia Lima: Emiliano José correto e conheço seu ser íntegro. Porém infelizmente infelizmente NÃO tivemos a capacidade de praticarmos "amor livre"

Lucia Correia Lima: Sérgio Buarque de Gusmão eu também fico triste por não termos tido esta capacidade.

Lucia Correia Lima: Emiliano José o "turco" era mais das noitadas de trabalho. Ou pizza no fim dele.

Luis Guilherme Pontes Tavares: Sérgio Buarque de Gusmão Ernesto Marques Acrescento ao depoimento do nosso Emiliano José o lembrete de que em 2009 publiquei o livro abaixo, com o qual pretendi, com depoimentos de contemporâneos, recontar o que foi a inesquecível, valiosa passagem do jornalista Hamilton Almeida Filho na agora cinquentenária Tribuna da Bahia. A propósito da comunidade paulista, creio que o jornalista Jary Cardoso poderia oferecer algum acréscimo histórico pois, salvo engano, residiu ali também.

Emiliano José: Caro Luis Guilherme, tenho usado o seu livro. É um belo trabalho. Não é biografia, você o diz. Tenho exemplar, com dedicatória. Parabéns.

Luis Guilherme Pontes Tavares: Emiliano José Com amor, sempre.

Sérgio Buarque de Gusmão: Luis Guilherme Pontes Tavares Obrigado, meu caro. Tenho interesse no livro. Pesquisei na Estante e não achei. Onde poderia encomendar?

Lucia Correia Lima: oi Sérgio a foto da capa é minha. Por isto tenho alguns. Em Salvador. Se num conseguir te mando. Combinamos.

Sérgio Buarque de Gusmão: Lucia Correia Lima Obrigado, Patuca.

Lucia Correia Lima: Ernesto Marques o livrinho de Luis não mostra a grandeza da passagem do Haf pela Tba.

Ernesto Marques: Lucia Correia Lima e tem algum outro?

Lucia Correia Lima: Ernesto Marques uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa... 

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(HAF de óculos com Narciso Kalil e Mylton Severiano - Myltainho)

Emiliano José

29 de agosto 2019

HAF x ACM

 

Como disse, não conheci HAF.

A grandeza dele, no entanto, vai me tomando.

Ocupando espaço.

Suscitando discussões.

Luis Guilherme Pontes Tavares escreveu livro sobre a passagem dele pela Tribuna, já falei, de que tenho me valido, além de depoimentos de contemporâneos dele no jornalismo baiano.

Gustavo Falcon, contemporâneo e admirador dele, conta entrevista que fizeram com ACM para o jornal "Opinião".

Fala do encontro, não da entrevista publicada.

Os dois andaram do Santo Antônio Além do Carmo, onde HAF morava, até o Palácio da Aclamação, onde o governador os esperava.

Uma senhora paletada.

HAF carregava um surrado gravador cassete, e estava embalado: fumara um "charo" inteirinho antes de partir para a empreitada.

Gustavo assuntando diante daquele mestre tão ousado quanto imprevisível:

olhos injetados pelo fumo, cabelos enormes amarrados como rabo de cavalo, calça boca de sino, e uma camisa a revelar a barriga, lá estava ele frente a frente com o astuto ACM, que muito à vontade, palitava os dentes após o almoço.

Não, não imaginem qualquer desconforto do governador diante dos dois alternativos.

Nenhuma resistência.

Falou com desenvoltura da vitalidade da economia, da força do turismo, da grandeza da cultura afro-brasileira.

HAF ia pra cima: descaracterização da cultura, o ímpeto destrutivo do turismo...

Luta de esgrima.

Gustavo hoje, olhando de longe, reflete: ACM, informado como era, curiosíssimo, só concedeu a entrevista para estar frente a frente com HAF.

Podendo ficar na Bahia, HAF tinha de ser encarado para o bem ou para o mal.

Mas, HAF ficou pouco tempo.

No território alternativo de nossa imprensa, HAF é, na leitura de Gustavo, um contraponto ao trabalho de Samuel Wainer, que com seu "Última Hora", no campo do adversário, confrontou corajosamente os barões da grande mídia.

"Fora da institucionalidade da grande imprensa, HAF representa um dos mais expressivos nomes do jornalismo brasileiro, inovando nos temas, nos enfoques, nas linguagens, nos projetos editoriais, na forma e no conteúdo das publicações que dirigiu junto a nomes inesquecíveis como Paulo Patarra, Sérgio de Souza, Narciso Kalili, Mylton Severiano da Silva, Alex Solnik entre tantos".

Com estes, compartilhou projetos.

Com seu exemplo, marcou o que Gustavo chama de "linha evolutiva do jornalismo brasileiro", que se distingue da evolução linear e formal da maioria da imprensa empresarial.

Havia nele uma percepção aguda do potencial do jornalismo, que nele sempre foi extremamente criativo.

Na passagem pela Tribuna, rápida, sua capacidade criativa, sua disciplina de trabalho, se revelou de modo especial, na realização do "Caderno sobre o Vietnã"...

#MemóriasJornalismoEmiliano 


COMENTÁRIOS


Lucia Correia Lima: Perfeito. Perdão a chatice Haf sempre foi absolutamente magro. Nunca teve barriga. Risos

Emiliano José: Estou seguindo seu conselho, Lúcia: ouvindo Gustavo. É dele a observação. Enxergou de outro modo. E há magros com barriga. . E realmente isso não tem importância nenhuma.

Lucia Correia Lima: Emiliano José verdade. Mas a imagem de meu primeiro grande 💘. Risos

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(Capa do livro de Luís Guilherme Pontes Tavares)

Emiliano José

30 de agosto 2019

HAF e o Vietnã

 

Os EUA enfrentavam sua pior guerra.

A mais desmoralizante.

Os vietcongs punham o Império de joelhos.

Coisa de louco.

Ninguém podia imaginar.

Acabaram sendo forçados a assinar um acordo para o fim da guerra e a restauração da paz no Vietnã.

Eu começava a cumprir meu terceiro ano de prisão.

No jornal de meio ofício escrito à mão por mim, distribuído todo final de tarde, noticiei em escassas linhas a assinatura daquele acordo, em 27 de janeiro de 1973, em Paris.

A guerra, não obstante, só terminará de fato em 1975.

Hamilton Almeida Filho, antes da assinatura, teve o insigth e mergulhou na realização de um Caderno Especial sobre o Vietnã.

Era sem dúvida um ato político, especialmente num País assolado por uma ditadura que prendia, matava, desaparecia com pessoas, sob a batuta do ditador Garrastazu Médici.

Ato político que a TB topou.

Sem isso, não aconteceria.

Sob a direção obsessiva de HAF, um grupo de jornalistas, diagramadores, editores de fotografia e arte passou duas semanas levantando dados, editando textos, legendando fotos, trabalhando com fotocompositores, fotoliteiros, diagramadores e estagiários para levar o caderno às ruas.

Poucas horas depois da assinatura do acordo na capital francesa, a TB saía com o Caderno Didático sobre a Paz no Vietnã.

Dia 28 de janeiro de 1973.

Era o "primeiro" caderno didático.

Essa história de "caderno didático" talvez fosse uma vacina diante da censura.

Seis páginas em policromia, muita foto, desenhos, uma tira de quadrinhos do norte-americano Jules Feiffer, como informa Luis Guilherme em seu livro.

Mas, sobretudo, uma peça política - insista-se.

O esmero na edição revelava o artista.

Certamente, HAF não separava conteúdo e forma.

Não queria um panfleto.

Mas, era peça de resistência, como diz Gustavo Falcon, que participou do projeto.

A inquietação do artista tinha rumo.

Certamente, a ditadura não gostou.

Mas, tratava-se afinal de um simples caderno didático.

Explosivo que fosse.

Baseado em episódio histórico de além-mar...

Gustavo retirou preciosa lição daquela empreitada:

"A técnica apurada e o cuidado editorial nunca estão livres de um posicionamento o mais independente possível, o que naquelas circunstâncias dos anos 70 significava ser não apenas a favor da paz, mas também contra a invasão e o genocídio norte-americano".

O Caderno do Vietnã deixou a marca definitiva de HAF na TB, uma passagem meteórica, entre outubro de 1972 e o início de 1973, jamais esquecida.

#MemóriasJornalismoEmiliano

 

COMENTÁRIOS

Lucia Correia Lima: Excelente. Hamilton nunca se rendeu a cargos dinheiro poder

Lucia Correia Lima: Saudade muita

Emiliano José: Beijo

Conceição Benevides Freuler: Sua memória é invejável!

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COMENTÁRIO

Contribuição de Carlos Caramez:

Hamilton Almeida Filho ou Haf, como era chamado pelos amigos mais chegados, nasceu em 20 de janeiro de 1946 e começou a trabalhar aos 16 anos. Foi um jornalista nato, repórter ágil com faro sem igual para descolar grandes furos jornalísticos. Um agitador político e cultural, apaixonado pela profissão e dono de um texto investigativo, sempre certeiro e impecável. Entre as redações por onde passou estão: "Jornal do Brasil", "Revista O Cruzeiro", “Revista Realidade", onde ganhou o Prêmio Esso, em 1971, com uma reportagem sobre a Amazônia. Fez parte do grupo de jornalistas que transformou a "Revista Realidade", em uma das publicações mais importantes do Brasil, nos anos 70. Ajudou a fundar o Jornal da Tarde (SP) e a revista Placar. Foi preso no Teatro Oficina, de Zé Celso. Fundou dois tablóides alternativos independentes: " EX - Jornal de texto, foto, quadrinho e imprensa ", que surgiu em novembro de 1973, e o "Bondinho", um caleidoscópio cultural e politico. As duas publicações marcaram época na imprensa brasileira. Fazem parte da história do nosso jornalismo.  Hamilton também foi editor de TV, em vários canais, sempre inovando e procurando novos espaços e formatos para fazer jornalismo.

A reportagem especial "A Sangue Quente", escrita por ele, com o apoio da redação, com a cobertura completa da morte do jornalista Wladimir Herzog, publicada no jornal EX, em 1975, vendeu mais de 5O mil exemplares. Um sucesso de tiragem para aqueles tempos de ditadura e censura. Em 1978, a reportagem foi lançada sob a forma de livro, com apresentação de Mino Carta.

Hamilton Almeida Filho morreu de aids, aos 47 anos, em 18 de novembro de 1993. Deixou um legado exemplar de competência e criatividade. Uma referência de coragem e caráter. Um amigo inesquecível.

Dedico este post para Jari Cardoso, que também andou pelo Bondinho.





Comentários

  1. Nosso jornalismo é cheio de grandes histórias e profissionais. Adorei ver essa. Emiliano fazendo belíssimo trabalho, acho que dá para vários volumes. E o nosso Pilha registrando isso tudo é muito bom, especialmente com essa nossa editora retada de boa. Blz comadre!

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    1. hahahaha sou só um apoio a Emiliano, nosso mais novo imortal da Academia de Letras da Bahia. Essa história de HAF, que não conheci, é super interessante

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  2. E um grande abraço em você, Mônica! Querida colega. Adorei a Pilha Pura! Bj

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