(HAF e Caetano - Foto Amâncio Chiodi.)
De
outubro de 1972 ao início de 1973, um personagem passou pela redação da Tribuna
da Bahia como um meteoro e, apesar do pouquíssimo tempo, influenciou
radicalmente o jornal. Hamilton Almeida Filho, HAF para os amigos, era o “cão
de calçolão” do jornalismo brasileiro na época, como define Emiliano José
nessas memórias. Trazia na bagagem, digo no currículo, experiências de fazer
inveja a qualquer um e alguns prêmios Esso. Os colegas que acompanhavam sua
carreira (é sempre bom lembrar que não existia rede social) custaram a
acreditar que era ele materializado ali na redação, com seu inconfundível
estilo ripongo. Durango, pedindo uma vaga. Claro que rolou, o currículo e a
fama eram irresistíveis.
(Legenda de Lúcia Correia Lima: Caetano foto Walter Firmo em alusão à foto de Pixinguinha. Ganhamos, com esta revista mensal, PRÊMIO ESSO DE CONTRIBUIÇÃO À IMPRENSA, em 71 ou 72, logo depois do Esso da REALIDADE da Abril )
Depois de uma experiência riquíssima do ponto de vista profissional, mas não financeiramente, com a revista O Bondinho, que HAF, Sérgio de Souza e Narciso Kalil, vindos da importante revista Realidade, compraram do Grupo Pão de Açúcar (era distribuída gratuitamente), surgiu a decisão de trocar São Paulo por Salvador. Veio de trem com a mulher, a querida fotógrafa Lúcia Correia Lima, que conheceu quando trabalhavam na Realidade. “Chegamos aqui duríssimos”, confessa ela, que era praticamente uma adolescente. Irmã do também fotógrafo Agliberto Lima e cunhada do jornalista Marcos Palácios, foi fácil chegar à Tribuna.
“HAF
era inquieto, muito alegre, solidário, muito criativo, tinha uma história
fantástica de vida. Ele nasceu num circo, o pai era o dono e a mãe bailarina.
Mas foi criado pelo tenente Antero, um militar de esquerda, um dos revoltosos
da Revolta dos Tenentes, era macrobiótico e viveu 102 anos, passando um tempo
exilado no México. Ele deu uma formação muito boa a HAF”, conta Lúcia, que
viveu com ele por 4 anos.
Já
estabelecidos na capital baiana foram morar num sótão na Ladeira do Passo, no
Pelourinho, quando ninguém queria morar lá por causa da fama de prostituição. A
casa era frequentada por Gilberto Gil, Caetano, virou um centro de jornalistas,
artistas, intelectuais. Eram chamados de “hippies ricos”, pois viviam em
comunidade para dividir o aluguel, ter mais conforto e se proteger da
repressão. É bom não esquecer que a ditadura militar não perdoava jornalistas,
intelectuais, pensantes.
É ainda Lúcia quem relembra: “Em uma das casas em que moramos, escrevemos em todas as paredes da cozinha. Foi matéria em uma revista de alta circulação. Mesmo na ditadura éramos felizes. Enfim, éramos uma vanguarda intelectual e no comportamento”.
E,
gargalhando, conta um episódio da época: “Tínhamos carros grandes, porque
morava muita gente, e trabalhávamos muito, ganhávamos bem porque era a fase do
chamado Milagre Brasileiro. Saímos para comprar bons vinhos num mercado. Eu e
Ricardo ficamos no carro a Hamilton e Myltainho entraram no mercado. De repente
chegou uma patrulha do Exército, cercaram o nosso carro com muitas armas,
achando que éramos terroristas. Quando os dois voltaram, cheios de garrafas de
vinhos, nos deixaram em paz”. Agora ela ri, mas na hora foi teeeeeeenso.
Não
o conheci, mas a amiga Lúcia me socorreu nessa missão de apresentar HAF. Conheci Lúcia no início da carreira, quando
estagiei fazendo uma pesquisa eleitoral para a Globo/Isto É. Antes de pisar em qualquer
redação de jornal tive o prazer de conhecer a sucursal de O Globo, onde além
dela conheci Linalva, Raimundo Mazzei, Zezé e João Santana (Patinhas). Valeu,
querida!
A
trajetória de HAF foi contada também no livro "HAF na TB - A passagem de
Hamilton Almeida Filho na Tribuna da Bahia entre 1972 e 1973", lançado em
2009 pelo jornalista Luís Guilherme Pontes Tavares.
********************************
Foto: Lúcia Correia Lima)
Emiliano José
25 de agosto 2019
Um
cometa
Césio Oliveira
debruçado sobre matéria a ser editada para dia seguinte.
Abruptamente,
entra na sala da secretaria um nervoso, agitado Hamilton Celestino:
- Sabe quem está
aí, na sala do arquivo?
Não, Césio não
sabia.
- Nada mais, nada
menos que Hamilton Almeida Filho, o lendário HAF.
A sala onde Césio
trabalhava era separada da do arquivo por uma divisória de madeira com um
pequeno buraco em forma de meia-lua por onde passavam fotos e textos para
edição.
Ele era um dos
secretários de redação.
Levantou-se, olhou
pelo buraco.
Viu um sujeito
magro, moreno, olhos semicerrados, avermelhados, uma enorme cabeleira negra despenteada, vestido à moda hippie,
despojado.
- Temos que segurar o Hamilton aqui - reagiu Césio.
Os dois, Césio e Hamilton, bateram à porta de Milton
Cayres de Brito, o redator-chefe.
Deitaram falação: HAF era o cão de calçolão, um dos
maiores jornalistas brasileiros, baita repórter, bom editor, texto
magnífico, o diabo a quatro.
Queria emprego.
Como perdê-lo?
Oportunidade rara
para a TB.
O velho comunista
concordou.
Aquisição e tanto.
Enriqueceu muito
uma redação já talentosa.
A presença dele
foi uma sacudidela.
Deu mais ânimo,
mais qualidade e projeção a boa equipe da TB.
Chegava junto com a mulher, fotógrafa Lúcia Correia
Lima, irmã do fotógrafo Agliberto Lima, com quem trabalhei no Estadão.
Com Lúcia, também
trabalhei.
HAF foi admitido
como redator-C, para trabalhar no arquivo, pesquisando e redigindo.
Essa chegada está
registrada no livro "HAF na TB - A passagem de
Hamilton Almeida Filho na Tribuna da Bahia entre 1972 e 1973", de Luís
Guilherme Pontes Tavares", onde há também breves traços biográficos
sobre ele.
HAF trazia na
bagagem um respeitável currículo: Prêmio Esso de Trabalho Esportivo com a
reportagem "Interior, futebol por dentro", publicada no
"Estadão", dele e de Tão Gomes Pinto.
Em 1971, recebe o
Prêmio Esso novamente, em duas categorias, por conta da edição especial sobre a
Amazônia, da revista "Realidade".
No mesmo ano,
recebe medalha de bronze, junto com a equipe de "Bondinho" - Prêmio
Esso na categoria "melhor contribuição à imprensa".
Iniciou carreira
jornalística com precoces 15 anos, no jornal "A Noite", no Rio de
Janeiro.
Passou depois pelo
"Jornal do Brasil", pela sucursal da revista "O Cruzeiro"
em São Paulo, pelo "Estadão", pela "Realidade".
Por todo esse currículo, é que Gustavo Falcon o considerou um cometa que passou pela terra, "que iluminou breve e profundamente os códigos de comunicação, tirando a imprensa do marasmo". #MemóriasEmilianoJornalismo
COMENTÁRIO
Sérgio Buarque de
Gusmão:
HAF...companheiro de jornalismo e de república...Me deu o único apelido que
pegou um pouquinho......
Emiliano José: Sérgio Buarque
de Gusmão Qual?
Sérgio Buarque de
Gusmão:
Emiliano José Hahaha...
Lucia Correia Lima: Na verdade... Te
mando. Haf só foi descoberto depois que Tito pediu seu currículo, estava
humildemente sendo testado para a equipe da pesquisa do arquivo.
Lucia Correia Lima: Foi Marcos
Palacios, chegamos de trem de SP duros depois do fim do Bondinho e bombas nas
bancas que vendia o jornal de Raimundo
Denilson
Vasconcelos:
Anos depois, também passou pelo Movimento. Junto com Myltainho Severiano. Para
arejar a sisudez local. Meteoricamente.
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Emiliano José
26 de agosto
2019
O
anjo exterminador
Talvez Césio
Oliveira tenha razão quanto a Hamilton Almeida Filho: guardava semelhança com o
anjo de "Teorema", de Pasolini.
Pudesse, viraria
tudo de cabeça para baixo, criativamente.
Sua breve passagem
pela Tribuna da Bahia não foi em vão.
Mexeu com muitas
cabeças.
Faço, no entanto,
um salto.
Surpreendo HAF em
1979, longa estrada percorrida desde os 15 anos, desde 1961 já jornalista, mais
maduro, ou não, a palavra maduro aqui pode ter um tom conservador, avaliando a
situação da imprensa brasileira.
Uma dura avaliação
crítica.
Prometo voltar à
TB.
Em depoimento a
Paolo Marconi, de 22 de maio de 1979, publicado no livro "A censura
política na imprensa brasileira - 1968-1978", lembra que a primeira
censura no pós-1945 foi praticada pelo jornalista Carlos Lacerda quando
governador.
Em 1961, Lacerda
invadiu "Última Hora", "Correio da Manhã", "A
Noite", entre outros jornais do Rio de Janeiro por ocasião da renúncia de
Jânio Quadros.
Com isso, HAF
queria dizer que a ditadura militar só viera institucionalizar o controle da
informação, de forma férrea.
Já existia.
Na avaliação dele,
entre 1964 e 1979, quanto à censura, primeiro foi no tranco, na força, e isso
foi até 1975 - faço a ressalva de que isso se dá no pós-AI-5, após 1968.
A partir de 1975,
outra fase, a ditadura "descobriu que tinha o controle econômico de toda a
imprensa e que não precisava mais censurá-la".
Quem primeiro
sofreu censura, no período mais duro, "foram os donos, foram eles quem
primeiro fugiram com a responsabilidade jornalística".
Os empresários
capitularam.
Com isso, a
censura ganhou foros antes nunca vistos.
Os patrões
concordaram com a censura.
Não havia neles
nenhum sentido de rebeldia - essa a ácida visão de HAF.
"Os
empresários se submeteram, foram manipulados, e hoje são controlados por meio
de verbas".
A imprensa
alternativa foi uma reação a essa covardia dos empresários.
Mostrou ser
possível reagir, a custos muito baixos, fazendo outro tipo de jornalismo, de
resistência, e baseado em fatos.
O controle da
informação no Brasil sob a ditadura foi feito "de maneira fascista",
diz, sem subterfúgios.
Realizado por
militares incapazes de compreender o que acontecia ao redor, no mundo.
Na economia,
modelo americano.
No controle da
informação, "são tão fascistas como os hitleristas ou os fascistas
italianos".
É duro com os
jornalistas, ao menos com os que ocuparam cargos de chefias nas grandes
empresas.
"Galgaram aos cargos de chefia da imprensa brasileira em massa, nos últimos 15 anos, as pessoas mais servis e menos criativas, os mais capachos e mais medíocres jornalistas que poderiam existir".
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Paulo Paranhos: Resultado desta
brilhante análise
A manipulação das
massas pelos meios de comunicação e com a televisão de forma mais intensa pós
70 e agora com a internet
A salvação que
hoje com a internet o jornalismo alternativo está mais livre da tortura e da
prisão até agora
Joaquim Lisboa
Neto:
HAF não é aquele que foi correspondente na guerra do Vietnã?
Emiliano José: Joaquim Lisboa
Neto Não.
Joaquim Lisboa
Neto:
Emiliano José ou terá sido José Hamilton Ribeiro?
Emiliano José: Aquele, José
Hamilton Ribeiro
Joaquim Lisboa
Neto:
Me lembro de uma capa do Ex- com ele
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Emiliano José
28 de agosto 2019
A
cultura enfrentando a barbárie
Ainda tentando
decifrar o Anjo Exterminador, o grande HAF.
Eu não me encontro
com ele.
Cheguei em 1974 à
Tribuna.
HAF já havia
batido asas.
Já se disse: o
jornal acolherá positivamente pessoas de diversas extrações políticas e
ideológicas, de diferentes visões de mundo.
Eu e alguns
companheiros compúnhamos uma esquerda mais dura, mais ou menos esquemática
ainda, não obstante em processo de mudanças com relação ao processo político,
no meu caso aproximação acelerada e continuada de Gramsci, a quem conhecera na
prisão.
Havia o que
chamaria de outra esquerda, e prefiro situá-la à esquerda hoje, sem ceder à
tentação de localizá-la simplesmente no terreno do "desbunde".
Eram os da
"contracultura", de que a cultura hippie era uma expressão, de que
Woodstock foi um grito de alcance mundial.
Tinham uma clara
visão e prática anticapitalistas, a seu modo.
A Revolução não
vinha das armas.
Vinha da cultura,
mais Sartre do que Lênin, uma visão existencial.
HAF, penso, vinha
dessa última linhagem.
Em sua trajetória,
em suas pelejas jornalísticas, juntou armas com alguns companheiros de extração
marxista, próximos ou militantes de AP, como Sérgio de Souza, editor de alguns
de meus livros, notável jornalista, e Narciso Kalili.
Sérgio de Souza
foi um dos editores de Realidade.
Trabalhei com ele
no "Jornal da Bahia, em 1978, quando desembarcou na Bahia como
redator-chefe, tendo Narciso Kalili como seu braço direito.
Vamos encontrar um
HAF em plena forma, a tempestade, no "Bondinho".
Bernardo Kucinski
fala desse momento em seu "Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da
Imprensa Alternativa", quando ele fora entrevistar Gil e Caetano,
recém-retornados de Londres:
"Hamilton foi
ao encontro dos baianos e trouxe para a redação toda uma nova filosofia de
vida, a proposta do transbunde, da liberação total".
Para o leitor,
dirá Kucinski, naquele momento estava havendo uma ruptura cultural.
Como explica
Narciso Kalili, entrevistado por Kucinski:
"A redação
foi viver em comuna, numa casa no bairro da Lapa, como uma grande família, onde
praticavam o amor livre, tomavam muito ácido, William Reich e a nova filosofia
de Roberto Freire, procuravam a vida integral, discutiam muito e trabalhavam
muito".
Narciso Kalili
considera: tudo era reflexo do momento, a necessidade da liberação pessoal e
coletiva, liberação da droga, liberação sexual, LSD, maconha, a porra toda:
"A ideia de
que era preciso viver isso. Foi ao mesmo tempo alienação e inserção. Isso, numa
época pesada, em que cada momento era um momento de conquista. As pessoas
viveram isso e muitas piraram, viajaram..."
Era dessa cultura,
o HAF...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Lucia Correia Lima: Oh Deus! Ainda
bem que vivo! Na casa da Lapa apenas morávamos eu Haf o Miltaynho e Ricardo
filho de Kalili. NÃO EXISTIA AMOR LIVRE NEM "MUITO" ÁCIDO.
NAAAAAAAAO!! A ÚNICA moleta CONSTANTE ERA MACONHA. POR DEUS !
FANTASIAS SEM
NENHUM CONHECIMENTO. APENAS DIVIDÍAMOS CONTAS E TRABALHOS MUITO TRABALHO
Lucia Correia Lima: Tivemos uma outra
comunidade com 11 adultos e 11 criança (5 de Sergio) na imensa casa de Paulo
Prado. Com vidas normais normais e maconha para alguns. Serjão sempre no vinho
ou conhaque
Lucia Correia Lima: O LSD era muito
esporádico. Acredite
Emiliano José:
Lucia Correia Lima Ótimo. O Serjão era amigo muito querido.
Emiliano José: Lucia Correia
Lima É entrevista do Kalili, a quem também conheci.
Emiliano José: Ótimo que você
esteja aqui. Percebe por que pedi que escrevesse ?
Lucia Correia Lima: Emiliano José
estou com MUITAS DEMANDAS E GRIPE FORTE. DENTE CANAL SEM $ ETC
Emiliano José: Lucia Correia
Lima Melhore
Emiliano José: Lucia Correia
Lima Acredito. Um careta não tem o que opinar
Emiliano José: Perceba que meu
texto é de admiração
Lucia Correia Lima: Emiliano José
mandei email ontem
Lucia Correia Lima: Emiliano José
sim sim me referir ao dito por outro
Lucia Correia Lima: Emiliano José
falei do Kucinski
Lucia Correia Lima: Emiliano José
né. Pelo menos não deve fantasiar. Nunca ninguém testemunhou nada disto. Eu,
como uma pessoa livre das relações conservadoras, quando as mulheres chegavam
para seduzir Haf, ia ao cinema, pois ninguém é dono de ninguém. Por isto ele
sempre quis voltar comigo, mesmo ja estando vivendo com escritora famosa. Kua
kk
Lucia Correia Lima: Emiliano José
sim claro. Nunca de condenação.
Lucia Correia Lima: Emiliano José
apenas fatos. Pois esta era a máxima q Haf repetia FATOS. Ele dizia: nosso
compromisso é com a notícia!
Sérgio Buarque de
Gusmão:
Mais um furo, ou melhor, furada, do Kucinski...Eu vivi na república da Rua
Humberto I e só agora estou sabendo do amor-livre...Que decepção...
Lucia Correia Lima: Sérgio Buarque
de Gusmão pois é. Né? Kucinski um careta de carteirinha fantasiou. Maconha sim.
Nada mais! Poxa vida. A gente trabalhava como doido. Tivemos nossa cozinha como
uma linda matéria para revista de comportamento, pois era poesia e filosofia e
fotografias nas paredes.
Emiliano José: Lucia Correia
Lima Calma, meus companheiros. O depoimento é de Narciso Kalili. Só ler o
livro. E mais: o careta aqui é a favor da liberação das drogas, quaisquer. Só
gosto é de vinho. Quanto ao amor livre, que livre seja. Toda forma de amor vale
a pena. Sinceramente, com erros ou sem erros, ninguém foi ofendido. Tivesse
acontecido tudo, nada demais teria havido, ninguém teria sido diminuído. Ainda
bem que existem vocês para os reparos. Beijos
Sérgio Buarque de
Gusmão:
Emiliano José,. O que importa é seu registro da passagem do Hamiltinho pela
Tribuna. Ele era, de fato, um furacão criativo, tinha uma relação carnal com a
notícia - e tal qualidade não dependia de sua visão do mundo, aliás, sempre de
orientação democrática. Paz e amor!
Emiliano José: Sérgio Buarque
de Gusmão Abração, Sérgio.
Lucia Correia Lima: Emiliano José
correto e conheço seu ser íntegro. Porém infelizmente infelizmente NÃO tivemos
a capacidade de praticarmos "amor livre"
Lucia Correia Lima: Sérgio Buarque
de Gusmão eu também fico triste por não termos tido esta capacidade.
Lucia Correia Lima: Emiliano José o
"turco" era mais das noitadas de trabalho. Ou pizza no fim dele.
Luis Guilherme
Pontes Tavares:
Sérgio Buarque de Gusmão Ernesto Marques Acrescento ao depoimento do nosso
Emiliano José o lembrete de que em 2009 publiquei o
livro abaixo, com o qual pretendi, com depoimentos de contemporâneos,
recontar o que foi a inesquecível, valiosa passagem do jornalista Hamilton
Almeida Filho na agora cinquentenária Tribuna da Bahia. A propósito da
comunidade paulista, creio que o jornalista Jary Cardoso poderia oferecer algum
acréscimo histórico pois, salvo engano, residiu ali também.
Emiliano José: Caro Luis
Guilherme, tenho usado o seu livro. É um belo trabalho. Não é biografia, você o
diz. Tenho exemplar, com dedicatória. Parabéns.
Luis Guilherme
Pontes Tavares:
Emiliano José Com amor, sempre.
Sérgio Buarque de
Gusmão:
Luis Guilherme Pontes Tavares Obrigado, meu caro. Tenho interesse no livro.
Pesquisei na Estante e não achei. Onde poderia encomendar?
Lucia Correia Lima: oi Sérgio a foto
da capa é minha. Por isto tenho alguns. Em Salvador. Se num conseguir te mando.
Combinamos.
Sérgio Buarque de
Gusmão:
Lucia Correia Lima Obrigado, Patuca.
Lucia Correia Lima: Ernesto Marques
o livrinho de Luis não mostra a grandeza da passagem do Haf pela Tba.
Ernesto Marques: Lucia Correia
Lima e tem algum outro?
Lucia Correia Lima: Ernesto Marques
uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa...
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Emiliano José
29 de agosto 2019
HAF
x ACM
Como disse, não
conheci HAF.
A grandeza dele,
no entanto, vai me tomando.
Ocupando espaço.
Suscitando
discussões.
Luis Guilherme
Pontes Tavares escreveu livro sobre a passagem dele pela Tribuna, já falei, de
que tenho me valido, além de depoimentos de contemporâneos dele no jornalismo
baiano.
Gustavo Falcon,
contemporâneo e admirador dele, conta entrevista que fizeram com ACM para o
jornal "Opinião".
Fala do encontro,
não da entrevista publicada.
Os dois andaram do
Santo Antônio Além do Carmo, onde HAF morava, até o Palácio da Aclamação, onde
o governador os esperava.
Uma senhora
paletada.
HAF carregava um
surrado gravador cassete, e estava embalado: fumara um "charo"
inteirinho antes de partir para a empreitada.
Gustavo assuntando
diante daquele mestre tão ousado quanto imprevisível:
olhos injetados
pelo fumo, cabelos enormes amarrados como rabo de cavalo, calça boca de sino, e
uma camisa a revelar a barriga, lá estava ele frente a frente com o astuto ACM,
que muito à vontade, palitava os dentes após o almoço.
Não, não imaginem
qualquer desconforto do governador diante dos dois alternativos.
Nenhuma
resistência.
Falou com
desenvoltura da vitalidade da economia, da força do turismo, da grandeza da
cultura afro-brasileira.
HAF ia pra cima:
descaracterização da cultura, o ímpeto destrutivo do turismo...
Luta de esgrima.
Gustavo hoje,
olhando de longe, reflete: ACM, informado como era, curiosíssimo, só concedeu a
entrevista para estar frente a frente com HAF.
Podendo ficar na
Bahia, HAF tinha de ser encarado para o bem ou para o mal.
Mas, HAF ficou
pouco tempo.
No território
alternativo de nossa imprensa, HAF é, na leitura de Gustavo, um contraponto ao
trabalho de Samuel Wainer, que com seu "Última Hora", no campo do
adversário, confrontou corajosamente os barões da grande mídia.
"Fora da
institucionalidade da grande imprensa, HAF representa um dos mais expressivos
nomes do jornalismo brasileiro, inovando nos temas, nos enfoques, nas linguagens,
nos projetos editoriais, na forma e no conteúdo das publicações que dirigiu
junto a nomes inesquecíveis como Paulo Patarra, Sérgio de Souza, Narciso
Kalili, Mylton Severiano da Silva, Alex Solnik entre tantos".
Com estes,
compartilhou projetos.
Com seu exemplo,
marcou o que Gustavo chama de "linha evolutiva do jornalismo
brasileiro", que se distingue da evolução linear e formal da maioria da
imprensa empresarial.
Havia nele uma
percepção aguda do potencial do jornalismo, que nele sempre foi extremamente
criativo.
Na passagem pela
Tribuna, rápida, sua capacidade criativa, sua disciplina de trabalho, se
revelou de modo especial, na realização do "Caderno sobre o Vietnã"...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Lucia Correia Lima: Perfeito. Perdão a chatice Haf sempre foi absolutamente magro. Nunca teve barriga. Risos
Emiliano José: Estou seguindo
seu conselho, Lúcia: ouvindo Gustavo. É dele a observação. Enxergou de outro
modo. E há magros com barriga. . E realmente isso não tem importância nenhuma.
Lucia Correia Lima: Emiliano José
verdade. Mas a imagem de meu primeiro grande 💘. Risos
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(Capa do livro de Luís Guilherme Pontes Tavares)
Emiliano José
30 de agosto 2019
HAF
e o Vietnã
Os EUA enfrentavam
sua pior guerra.
A mais
desmoralizante.
Os vietcongs
punham o Império de joelhos.
Coisa de louco.
Ninguém podia
imaginar.
Acabaram sendo
forçados a assinar um acordo para o fim da guerra e a restauração da paz no
Vietnã.
Eu começava a
cumprir meu terceiro ano de prisão.
No jornal de meio
ofício escrito à mão por mim, distribuído todo final de tarde, noticiei em
escassas linhas a assinatura daquele acordo, em 27 de janeiro de 1973, em
Paris.
A guerra, não
obstante, só terminará de fato em 1975.
Hamilton Almeida
Filho, antes da assinatura, teve o insigth e mergulhou na realização de um
Caderno Especial sobre o Vietnã.
Era sem dúvida um
ato político, especialmente num País assolado por uma ditadura que prendia,
matava, desaparecia com pessoas, sob a batuta do ditador Garrastazu Médici.
Ato político que a
TB topou.
Sem isso, não
aconteceria.
Sob a direção
obsessiva de HAF, um grupo de jornalistas, diagramadores, editores de
fotografia e arte passou duas semanas levantando dados, editando textos,
legendando fotos, trabalhando com fotocompositores, fotoliteiros, diagramadores
e estagiários para levar o caderno às ruas.
Poucas horas
depois da assinatura do acordo na capital francesa, a TB saía com o Caderno
Didático sobre a Paz no Vietnã.
Dia 28 de janeiro
de 1973.
Era o
"primeiro" caderno didático.
Essa história de
"caderno didático" talvez fosse uma vacina diante da censura.
Seis páginas em policromia,
muita foto, desenhos, uma tira de quadrinhos do norte-americano Jules Feiffer,
como informa Luis Guilherme em seu livro.
Mas, sobretudo,
uma peça política - insista-se.
O esmero na edição
revelava o artista.
Certamente, HAF
não separava conteúdo e forma.
Não queria um
panfleto.
Mas, era peça de
resistência, como diz Gustavo Falcon, que participou do projeto.
A inquietação do
artista tinha rumo.
Certamente, a
ditadura não gostou.
Mas, tratava-se
afinal de um simples caderno didático.
Explosivo que
fosse.
Baseado em
episódio histórico de além-mar...
Gustavo retirou
preciosa lição daquela empreitada:
"A técnica
apurada e o cuidado editorial nunca estão livres de um posicionamento o mais
independente possível, o que naquelas circunstâncias dos anos 70 significava
ser não apenas a favor da paz, mas também contra a invasão e o genocídio
norte-americano".
O
Caderno do Vietnã deixou a marca definitiva de HAF na TB, uma passagem
meteórica, entre outubro de 1972 e o início de 1973, jamais
esquecida.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Lucia Correia Lima: Excelente.
Hamilton nunca se rendeu a cargos dinheiro poder
Lucia Correia Lima: Saudade muita
Emiliano José: Beijo
Conceição
Benevides Freuler:
Sua memória é invejável!
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COMENTÁRIO
Contribuição de Carlos Caramez:
Hamilton Almeida
Filho ou Haf, como era chamado pelos amigos mais chegados, nasceu em 20 de
janeiro de 1946 e começou a trabalhar aos 16 anos. Foi um jornalista nato,
repórter ágil com faro sem igual para descolar grandes furos jornalísticos. Um
agitador político e cultural, apaixonado pela profissão e dono de um texto
investigativo, sempre certeiro e impecável. Entre as redações por onde passou
estão: "Jornal do Brasil", "Revista O Cruzeiro", “Revista
Realidade", onde ganhou o Prêmio Esso, em 1971, com uma reportagem sobre a
Amazônia. Fez parte do grupo de jornalistas que transformou a "Revista
Realidade", em uma das publicações mais importantes do Brasil, nos anos
70. Ajudou a fundar o Jornal da Tarde (SP) e a revista Placar. Foi preso no
Teatro Oficina, de Zé Celso. Fundou dois tablóides alternativos independentes:
" EX - Jornal de texto, foto, quadrinho e imprensa ", que surgiu em novembro
de 1973, e o "Bondinho", um caleidoscópio cultural e politico. As
duas publicações marcaram época na imprensa brasileira. Fazem parte da história
do nosso jornalismo. Hamilton também foi
editor de TV, em vários canais, sempre inovando e procurando novos espaços e
formatos para fazer jornalismo.
A reportagem
especial "A Sangue Quente", escrita por ele, com o apoio da redação,
com a cobertura completa da morte do jornalista Wladimir Herzog, publicada no
jornal EX, em 1975, vendeu mais de 5O mil exemplares. Um sucesso de tiragem
para aqueles tempos de ditadura e censura. Em 1978, a reportagem foi lançada
sob a forma de livro, com apresentação de Mino Carta.
Hamilton Almeida
Filho morreu de aids, aos 47 anos, em 18 de novembro de 1993. Deixou um legado
exemplar de competência e criatividade. Uma referência de coragem e caráter. Um
amigo inesquecível.
Dedico este post
para Jari Cardoso, que também andou
pelo Bondinho.
Nosso jornalismo é cheio de grandes histórias e profissionais. Adorei ver essa. Emiliano fazendo belíssimo trabalho, acho que dá para vários volumes. E o nosso Pilha registrando isso tudo é muito bom, especialmente com essa nossa editora retada de boa. Blz comadre!
ResponderExcluirhahahaha sou só um apoio a Emiliano, nosso mais novo imortal da Academia de Letras da Bahia. Essa história de HAF, que não conheci, é super interessante
ExcluirE um grande abraço em você, Mônica! Querida colega. Adorei a Pilha Pura! Bj
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