Confesso que estou impactada com o novo livro de Emiliano José, O cão morde a noite. Tinha visto uns textos que o compõe, acompanhando suas publicações no Facebook. Mas ainda assim a obra pronta, com uma capa belíssima e esse poético título, me provocou de tudo um pouco dos sentimentos: revirei o estômago de horror com as descrições das crueldades cometidas nos porões da ditadura, me surpreendi conhecendo as peripécias de sua infância na roça, em São Paulo, e ri com as trapalhadas da Polícia Federal na sua sôfrega caça às bruxas.
Quase não contive o choro de revolta lendo os detalhes de atrocidades cometidas contra jovens idealistas, mas depois me senti aliviada ao constatar que muitos deles resistiram bravamente durante a tortura e conseguiram seguir a vida, sem contudo se tornarem pessoas amargas. É o caso do próprio Emiliano, pessoa de grande gentileza, generosidade e leveza, como demonstra na vida e no próprio texto. E também de outros como José Sérgio Gabrielle e Jorge Almeida (Macarrão) que também conheço pessoalmente. Este último foi meu professor na pós-graduação de Marketing Político, na Universidade Católica de Salvador. Foi para Macarrão também que dei o meu primeiro voto, quando concorreu à prefeitura de Salvador.
Novo imortal da ALB, Emiliano José arrasou nesta sua última obra. O livro autobiográfico, no qual relata a dura experiência de quem vivenciou e sofreu na carne a repressão militar, é sem dúvida uma grande obra dentre outros quinze títulos autoria de Emiliano - entre eles Lamarca, o capitão da guerrilha. O colega jornalista Carlos Navarro desconfia que é a melhor. De minha parte só digo que deu vontade de não parar a leitura até o fim, como também de ler aos poucos para não acabar logo e me atentar aos detalhes.
Apesar da dureza dos acontecimentos, é divertido o vai e volta da memória do autor, sempre pedindo licença ao leitor ou avisando sobre os atropelos da própria memória e da “entidade” do texto, que baixa e se manifesta quando quer.
Falei aqui das minhas impressões pessoais de simples leitora e apaixonada por histórias políticas. Como colega e amiga de Emiliano, só aumentou o meu orgulho de conhecer muito mais essa grande figura através desse livro, assim como outras conhecidas, como as que citei acima. O mesmo orgulho que senti quando a presidente Dilma Roussef deixou o senador José Agripino (DEM-RN) no chão respondendo sobre o quão difícil é mentir sob tortura, ou não falar nada para não entregar e deixar morrer os companheiros de luta. Isso é para os fortes (e) solidários. Mas é comovente também a grandeza de Emiliano ao não condenar os que sob tortura monstruosa entregaram companheiros, alguns deles de tão atormentados pela dor sequer lembravam depois o que falaram ou se falaram algo.
Agora uns spoiler
Excelente leitura, também tenho tido calafrios com o terror rememorando pelo mestre Emiliano. E pensar que muita gente ainda defende a volta da ditadura é de doer
ResponderExcluirSão desinformados ou são psicopatas os que defendem a ditadura. Infelizmente esses tipos são em grande número ainda em nosso país.
ResponderExcluirEstou ansiosa para começar a ler, imaginando, Jô, o quanto tbem irei me emocionar. Não tenho dúvida sobre isso. Legal, o seu relato, viu? Emiliano se supera a cada texto, a cada obra. Que cara, esse, que amigo, que colega, que profissional, que escritor/poeta, enfim, que ser humano. Só aplausos! Beijos����
ResponderExcluirEntão, vou acrescentar lá no texto uns trechos que me tocaram.
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