(Conquista do bicampeonato de futsal feminino pelo time de Mirandela, 2018)
*** Texto:
Edson Santos da Silva
José Hamilton de Jesus Santos
Jardel Jesus Santos Rodrigues
Edição: Claudia Correia
O futebol é uma das paixões do povo Kiriri,
no Território Indígena Kiriri, município de Banzaê, no sertão da Bahia. Nos domingos à tarde, sob o sol forte, muitos indígenas
se deslocam de suas comunidades para o campo de terra batida na aldeia Araçás,
para torcer pelos times locais no III Campeonato Indígena do Araçás, iniciado
em outubro de 2021 e organizado por Thiago dos Santos e Reginaldo Conceição de
Andrade, moradores da aldeia Araçás
Banzaê tem por
origem uma aldeia Kiriri que pertencia ao território administrado pelo
município de Ribeira do Pombal, até ser desmembrado pela lei estadual 4.845 de
24/02/1989 e a sede ser elevada à categoria de cidade.
Os técnicos Edson Santos da Silva e José Hamilton de
Jesus Santos treinam semanalmente os times de crianças (5 a 12 anos), juvenil
(12 aos 17 anos) e o time adulto feminino de futebol e futsal, somando 70
indígenas.
Paixão
antiga
A história do esporte no território indígena
remete à década de 1960, quando os Kiriri de Mirandela viviam na aldeia do Saco
dos Morcegos e seu território tradicional estava invadido por posseiros,
conforme relatos de Edson Silva, 44 anos, atual técnico das categorias de base
masculina e feminina.
Os Kiriri mais idosos lembram que os jogos de
futebol aconteciam nos campos de areia, com os jogadores descalços e sem nenhum
equipamento individual de treino ou proteção. Eles se deslocavam por longas
distâncias entre as comunidades da Lagoa Grande, Cacimba Seca, Baixa da
Cangalha e Canta Galo para jogar o futebol com os parentes. O técnico Edson
Silva recorda, na sua juventude, dos adultos sentados em círculos em torno do
rádio para ouvirem a transmissão da Copa do Mundo de Futebol de 1986.
O futebol e o futsal ganharam força na aldeia de Mirandela nos anos 2000, influenciados pela retomada do território e por incentivo do professor Celso de Jesus Santos, que ampliou e divulgou as duas modalidades esportivas na comunidade. Em 2004, Edson Silva foi convidado para treinar, de modo voluntário, o time masculino e feminino e, desde 2008, conta com apoio do auxiliar técnico José Hamilton Santos.
(Time mirim da aldeia Mirandela, 2016. Foto - Fabrícia Santos Almeida)Batalha
fora de campo
Apesar da mobilização que o futsal e o
futebol provocam entre os Kiriri de todas as idades, as dificuldades prejudicam
a prática esportiva. “Não temos material
para fazer a base do futsal e do futebol, falta estrutura para fazer o treinamento.
A gente faz o básico, baseado na marcação de varas e pedaços de tijolos”,
afirmou Edson Silva. Atualmente, o técnico só possui duas bolas para realizar
os treinamentos, insuficiente para realizar os exercícios de modo adequado.
Muitos dos
que treinam não dispõem de equipamentos básicos, como chuteira, caneleira, meião,
o que pode causar lesões e desmotivação.
“Eles se arriscam a jogar descalços, mas isso não é o adequado, às vezes
levam um pisão, desmente um dedo”, disse o treinador.
O trabalho com os jogadores Kiriri não possui
apoio financeiro de pessoas físicas ou jurídicas, nem do poder público. As
condições de treinamento estão longe das ideais por falta de equipamentos
individuais, bolas, rede para o gol, cones, cal para fazer a marcação do campo,
entre outros. Por não terem patrocinadores, os times juvenis e o time adulto
feminino de futebol e futsal têm dificuldades de participar de campeonatos nas
cidades da região. O que motiva os jovens a continuarem treinando é a
possibilidade de participar dos campeonatos e de eventualmente serem vistos por
um “olheiro” que proporcione oportunidade de iniciar carreira. A paixão pelo
esporte motiva os técnicos a não desistir.
Para conhecer e apoiar o projeto esportivo dos
Kiriri os interessados podem manter contato com os técnicos pelo telefone (75)
99863-0911 e através do email : hamiltonkiriri@gmail.com.
Fotos: Divulgação
Comentários
Postar um comentário