"Stella Maris: a linda luta dos moradores" - por Emiliano José

Cimento NÃO, protestaram moradores no piso ainda fresco da "requalificação" da prefeitura

Emiliano José

14 de agosto de 2023

Stella Maris: a destruição (I)

O mundo das grandes e médias cidades enfrenta a presença do capital, especialmente do capital imobiliário.

Nesse momento, em Salvador a região de Stella Maris parece ser a bola da vez.

O capital está chegando, com toda voracidade, e sem quaisquer considerações.

Se algumas torres já haviam se apresentado, a anunciar o fim de um tempo, agora tudo corre numa velocidade estonteante.

Atropelando.

O bairro fora até aqui um local agradável, de beira mar, onde tanta gente buscou tranquilidade.

E encontrou.

Isso acabou.

Ao menos se prevalecerem os projetos para aquela região da cidade, apoiados e pensados pela prefeitura de Salvador.

A pouco mais de um século, J. J. Seabra iniciou uma reforma na Cidade Alta, ancorada nas reivindicações burguesas por uma cidade fundada no progresso e na modernidade.

Tais termos, como sabemos, sempre escondem, ou revelam, os apetites do capital.

Tratava-se, na verdade, de enxotar os pobres, os maltrapilhos do centro de Salvador, expulsá-los daquelas áreas onde o progresso chegasse.

Era o urbanismo demolidor de Seabra,

A população pobre foi empurrada para áreas distantes, e a elas se prometeram conjuntos homogêneos de casas proletárias, higiênicas, promessas nunca cumpridas.

Abria-se o caminho para o capital imobiliário, pretendendo alcançar a Barra, chegando até ao Rio Vermelho.

Passado um século, etapa concluída, incluídos aí os casarões da Vitória mais recentemente, devidamente postos ao chão, tradição atropelada, era a vez da burguesia moderna.

Assim, de uma maneira ou de outra, com Stella Maris nos dias atuais.

Os moradores, as moradoras, aqueles e aquelas com consciência de direitos, estão se movimentando e apontando os graves danos ambientais e urbanísticos para toda a região.

Amanhã, às 9hs, na Casa da Música, na Lagoa de Abaeté, fazem manifestação contra a chamada Linha Branca, um dos insanos projetos da Prefeitura, a passar por cima das dunas - ainda vamos falar dessa iniciativa.

No caso, é próprio recuperar o conceito de urbanismo demolidor.

Cai como uma luva.

O trator vai passando por cima de tudo, e não se trata de metáfora.

Não há zelo com o meio ambiente, com dunas, com nada.

Urbanismo demolidor.

O trem avassalador do capital não leva nada em consideração.

#destruiçãodeStellaMaris

COMENTÁRIOS 

Mônica Bichara: Verdade, Emiliano. É assustador o q eles chamam de progresso: prédios de até 18 andares na beira da praia; pista desnecessária sobre dunas e nascentes; uma "desqualificação" da orla que troca o natural, até áreas preservadas, por concreto, concreto e mais concreto, indiferente à desorientação da fauna local (iguanas, corujas buraqueiras, lagartos, sabiás da praia, tartaruguinhas marinhas...). Belo texto, mestre

Kátia Marinho: NA BEIRA DA PRAIA MESMO....EM CIMA DA AREIA....O SOL, IMPEDIDO DE CHEGAR A AREIA APOS 11 HORAS, VAI MUDAR A COMPOSIÇÃO DA AREIA DANIFICAR TUDO QUE PODERIA VIVER ALI....E ATÉ LEVAR A ÁGUA AVANÇAR A CADA DIA.....A VEGETAÇÃO NATIVA JA FOI DESTRUIDA POR TRATORES...ADEUS OVOS DE TARTARUGA, ADEUS OVOS DE CORUJAS, ADEUS CORUJAS, ADEUS IGUANAS, CALANGOS E TODOS OS ANIMAIS QUE MUITAS VEZES NEM SABEMOS DA EXISTÊNCIA MAS QUE SÃO NECESSÁRIOS A NOSSA VIDA !!!!

Mônica Bichara: exatamente, um crime ambiental atrás do outro, com a convivência da prefeitura, do Inema e Unidunas, que deveriam zelar pelo meio ambiente, pelas áreas de preservação

Isabel Perez: O capitalismo é isso mesmo: demolidor! Baseia-se no crescimento destrutivo, como diria André Gorz. Destrói tudo para poder lucrar sobre os escombros....

Emiliano José: ou como diria Walter Benjamin

Bob Fernandes: E o Ministério público? Os caras, seja a grotesca Moura Dubeux, sejam filhos ou filhotes de OAS, Odebrechet jantando a cidade e candidatos à expulsão e MP assistindo? Claro que à exceção dos ora no alvo. Não há como impedir? A torcida do Bahêaaaaa já botou 5 mil nas ruas pra protestar e pro estupro da cidade não dá pra juntar 500 na porta da casa de quem autoriza, seja quem for? Isso tá na contramão dos debates e mudanças das cidades mais avançadas do mundo. Isso pra fortuna de meia dúzia e... nada? É muita valentia física e muita covardia e lassidão moral!

Mônica Bichara: Bob Fernandes, exato querido, é inacreditável a noção desse povo sobre progresso. Dia 24 estaremos no MPE cobrando q a comunidade seja ouvida sobre a tal da Linha Branca, q tem parecer técnico contrário do Inema. Indiferente, a prefeitura já iniciou a obra

Fátima Salmito Tubagi: Bob Fernandes gosto de ver vc falando! Vcs todos!

Joana D'arck: A sanha da Prefeitura pelo concreto desfigurou as principais avenidas da cidade em nome de um modelo de transporte ultrapassado, o VLT, e agora se estende até a praia, permitindo que o capital destrua um resto de natureza. Tanto gosto pelo cimento (em detrimento de vidas animais, da flora e do lazer dos banhistas) tem algum interesse, que não é o da população, mas de poucos. Acorda, cidade!

Katia Marinho: com certeza, ACIMENTO NETO E SEU SEGUIDOR, estão tendo lucro certo com essa adoração pelo cimento

Mônica Bichara: Eles acham que turista viaja pra ver cimento, quadras, praças cafonas........em detrimento da fauna e da flora nativas

Rui Patterson: A desculpa é ótima: ninguém vai ao Abaeté por falta de segurança. Criam o problema com a solução já ensaiada.

Mônica Bichara: exatamente, aqui fecham ruas e liberam inúmeros prédios para justificar a necessidade da pista sobre área de preservação. Sem contar que esse projeto vai alterar totalmente o perfil da região, predominantemente horizontal e tranquila

Isabel Santos: Essa situação me causa grande indignação. Precisamos, realmente, querido Emiliano, bradar fortemente contra esses projetos insanos, que ferem as comunidades diretamente envolvidas, a sociedade como um todo. A Ecologia/Mãe Natureza tbém não merecem tal absurdo. A Prefeitura está totalmente cega ao priorizar o capital em detrimento do verde, do humano🙁😡.

Dora Alvim: Sou moradora de Stella Maris e estou indignada com a destruição da natureza que a prefeitura está fazendo em Stella Maris e com a liberação de construções sem seguir a legislação. A comunidade não é ouvida

Miguel Cal: Stella hj eu vivo, cheguei como adolescente, amo essa natureza que querem destruir. Enquanto viver vou resistir

Ledna Costa: Infelizmente as ações da Prefeitura para alcançar objetivos alheios a maioria dos moradores são constantes, realizando reuniões praticamente "privadas" para expor seus projetos de destruição da natureza do entorno de Stella Maris, Praias do Flamengo, Itapuã em pró de uma urbanização, composta de concreto, onde estão empregados valores exorbitantes. Entendo que os esclarecimentos sobre os desmandos são ofuscados pelas promessas de "progresso", que na verdade se transmutam em uma "destruição" . Avante !!

Albenísio Fonseca: Prefeitura de Salvador libera verticalização e converte Stella Maris e Pedra do Sal em inusitados infernos. O impacto ambiental em Stella Maris e Pedra do Sal tem inúmeras faces e decorrências, passíveis de reflexos, inclusive, no sistema lacustre do Abaeté. Afora toda repercussão na fauna e flora, levará a uma total desaceleração e engarrafamentos no já intenso trânsito nas vias desses bairros. Em Pedra do Sal, além das quatro torres em fase final de conclusão, há duas novas obras de prédios sendo iniciadas. Não disponho da projeção de quantas famílias ou pessoas ocuparão essas edificações. Mas é possível supor uma média de 1,5 carros por apartamento, considerando que muitos terão dois automóveis. O impacto noturno - com as luzes dos apartamentos acesas, também terá grave efeito nocivo. O inadmissível é constatar o quanto todos esses licenciamentos sejam, como se diria de um paradoxo estonteante, benesses concedidas a construtoras e incorporadoras pela Prefeitura de Salvador e que, como equivocada política pública, não se restringem a essas localidades. Certo é que a Cidade da Bahia segue, em ritmo acelerado, a tendência de converter-se em um inusitado inferno.

Mônica Bichara: isso mesmo, os interesses são muitos e as benesses maiores ainda

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Emiliano José

15 de agosto de 2023

Stella Maris: a destruição (II)

Quando no Brasil as pessoas se levantam em defesa do seu lugar, dos costumes, da cultura, há aqueles a acusá-las de apegadas ao passado, conservadoras, incapazes de perceberem o progresso. Desconfiem desse progressismo.

Percebam: por detrás de tais vozes está, não me canso de dizer, a voracidade do capital, a capacidade dele de destruir coisas belas, incessantemente, tentar, na sanha destrutiva, na visão de que tudo que é sólido desmancha no ar, apagar o passado, sepultar a memória do povo, feita de coisas simples e belas.

O que é o progresso na visão dos agentes do capital?

Lembro-me aqui do Angelus Novus, quadro de Paul Klee, de pouco mais de um século atrás. Dele se valerá Walter Benjamin para discutir a história.

O quadro representa um anjo querendo afastar-se de algo encarado por ele fixamente. Olhos escancarados, boca dilatada, asas abertas. O anjo da história, dirá Benjamin, deve ter esse aspecto.

O rosto dele está dirigido para o passado. Benjamin dirá: onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína, e dispersa toda essa ruína a nossos pés.

O anjo gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que não pode mais fechá-las.

Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu.

A palavra final de Benjamin, ao analisar aquele desenho a nanquim, giz pastel e aquarela sobre papel, atualmente parte da coleção do Museu de Israel, em Jerusalém:

- Essa tempestade é o que chamamos progresso.

A tempestade do capital amontoa incessantemente ruínas sobre ruínas. As cidades hoje se movimentam na lógica permanente da destruição. A chamada obsolescência dos edifícios é impressionante. Querem exemplos?  Hotéis de Salvador, ainda na flor da idade, alguns renomados, vão ao chão para dar lugar a enormes torres. Amanhã, elas darão lugar a outras torres e assim sucessivamente.

Alguns poderão me dizer eu esteja teorizando desnecessariamente. Como a exigir: se quer falar de Stella Maris, não perca tempo com bobagens.

Não, não é bobagem. É tentativa de compreender como tratam nossas cidades. Falei da abertura de avenidas por Seabra há mais de um século, a prenunciar os dias de hoje, a preparar terreno para a atualidade. Sem querer considerar outras situações de Salvador, lembro apenas o processo chamado de gentrificação do centro da capital. Quem quiser passe pela tradicional Baixa dos Sapateiros para verificar tal processo.

Volto, no entanto, a Stella Maris. Serão conservadores aquelas mulheres, aqueles homens, aquelas crianças a defender o bairro da profunda agressão de que está sendo vítima?

Não.

Agem na linha de grandes, históricas cidades do mundo, ciosas da manutenção da cultura, da tradição. Firenze, ou Florença para aportuguesar, conserva com zelo e rigor sua arquitetura há séculos, só para dar um exemplo.

Aquela região praieira, de habitações predominantemente horizontais, característica de Stella, está acabando velozmente. Várias torres já foram erguidas. E há anúncios de tantos outras, já autorizadas.

Catástrofes em andamento.

Já com stand de vendas, cerca de arame instalada na restinga da praia, na Alameda Guaratuba: anuncia uma aberração – 8 torres com até 18 andares, oito apartamentos por andar, e, ao que se informa, sem licença ambiental, nem estudo de impacto de vizinhança.

O capital podia ser mais cuidadoso, mas isso é pedir o impossível, é da natureza dele ser dessa maneira: ir amontoando ruína sobre ruína, instalando o caos, a ele importando apenas o lucro decorrente dos empreendimentos.

A chamada requalificação da Orla, a atingir Stella, está muito mais para desqualificação. Já dizimou reservas de restinga, as últimas de Salvador. Já acabou com coqueirais, afetou drasticamente a fauna da região. No lugar de tudo isso, concreto. Uma visão desumanizadora, incapaz de perceber as singularidades de uma região, de respeitar o modo da população de Stella de conviver com a natureza, com o mar, com a praia, com a fauna e a flora.

#destruiçãodeStellaMaris   

COMENTÁRIOS 

Juliette Robichez: Perfeito, a especulação imobiliária é cega e desumana. Salvador não terá mais charme ao perder seu patrimônio histórico-cultural e natural e sobretudo sofrerá mais inundações, temperaturas altas, além de se tornar muito feia.

Mônica Bichara: cega, desumana e conta com a cumplicidade dos poderes públicos. E de muitos moradores que aceitam o discurso de "progresso"

Antonio Pastori: Para se explicar a violência passa e se assenta na especulação imobiliária. A gentrificação passa pela verticalizarão das moradias… praças viram telas de solidão

Albenísio Fonseca: 


Mônica Bichara: O perfil do bairro está mudando de forma acelerada, sem ouvir a comunidade, sem um pingo de sensibilidade. Não foi esse bairro igual aos outros q escolhemos pra morar, pra criar nossos filhos e netos

Graça Góes: Perfeito 

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Emiliano José

16 de agosto de 2023

Stella Maris: as máquinas estão chegando - destruição (III)

É assim: você ainda dorme, ou quase dorme, naquele momento da manhã quando de longe ouve as ondas do mar a sussurrar nos ouvidos, o lusco-fusco entre o sono e o ininterrupto e suave som das ondas, e aquele instante único de prazer é interrompido por barulho estridente de máquinas.

Você salta da cama assustado, tropeça no gato, e vai olhar.

As máquinas estão chegando. 

Tem sido assim ultimamente em Stella Maris, antes pensado por tantos como um lugar aprazível, bom de se viver.

Não só por beira mar, mas pela convivência com a vizinhança, bairro de casas, onde é possível pedir um café, um arroz, feijão na vizinha ao lado - logo logo lhe devolvo.

Essa comunidade está no fim.

As máquinas estão chegando.

São barulhentas.

E impiedosas.

Culpadas de nada.

Porque culpados são os homens da prefeitura de Salvador, sempre a destruir coisas belas, a inundar a capital da Bahia de cimento por tudo quanto é canto.

Talvez, para justificar, eles, os homens da prefeitura, repitam, e aí com propriedade, o dito de um assessor de Clinton, James Carville Jr.:

- É a economia, estúpido.

Poderiam, e quem sabe o façam, completar:

- É o capital imobiliário, estúpido.

Essa diretriz, a entrega dessa maravilhosa cidade aos insaciáveis apetites do capital imobiliário, feita pela prefeitura, pode explicar, sem justificar porque impossível, porque foi fechada o trecho da rua Berbert de Castro na orla de Ipitanga sem qualquer necessidade.

Fechou-se para dar lugar à chamada Linha Branca, a um custo, segundo os moradores organizados, de R$ 9 milhões, ligando a praia do Flamengo a Lauro de Freitas.

E grave: tal Linha Branca passa por cima de área de proteção, por cima das dunas, autorização dada, de acordo com os moradores, pelo Parque das Dunas.

A obra foi iniciada apesar de parecer contrário do Inema e de inquérito aberto no Ministério Público de modo a garantir aos moradores do bairro, sobretudo do Loteamento Marisol, afetado diretamente, o direito de serem ouvidos.

Os moradores denunciam a existência de vários decretos de desapropriação, sem qualquer explicação, sem qualquer justificativa sobre a utilidade pública desse investimento.

A comunidade não está satisfeita com o Inema também, a quem atribuem uma atitude complacente com tais crimes ambientais.

Há um Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental do Abaeté (APA do Abaeté).

Em reunião realizada recentemente, os moradores enviaram ofício, em nome do Conselho Gestor, à OSCIP Unidunas, com sérios questionamentos, entre os quais saber qual o interesse da Unidunas em ceder áreas de proteção permanente, tentar conhecer qual a utilidade pública disso. E perguntar por que a Unidunas nunca assumiu a cadeira no Conselho Gestor da APA do Abaeté.

#destruiçãodestellamaris 

COMENTÁRIOS 

Milton Pinheiro: Absurdo

Mônica Bichara: O belo texto do escritor ajuda a amenizar um quadro triste que se anuncia na cidade, o cimento imperando nas praias, os paredões de prédios escurecendo e aquecendo o bairro, sombreando as praias....Mas vamos à luta, queremos respostas: da prefeitura, do Inema, da Unidunas, do MP-BA...No Rio Vermelho a cena se repete, com ameaça de espigão na Praia do Buracão.

Isabel Perez: "Da força da grana que ergue e destrói coisas belas".....como bem disse Caetano.....

Mônica Bichara: exatamente, amiga. A frase que melhor descreve

Isadora Browne Ribeiro: Não podemos deixar de gritar, meu amigo, mas veja só como, desde a primeira gestão acimentinho, a cidade vem sucumbindo sob cimento, pedra, asfalto e especulação imobiliária. Tão triste!!!!

Clarice Bagrichevsky: Como denunciantes ao MP da barbárie em tela, desde que lemos o decreto de desapropriação no Diário Oficial do Município em 2022, evento até então desconhecido dos moradores do Marisol, a Associação Stella4Praias tem a informar: os últimos parágrafos deste texto III estão errados. Embora a Stella4Praias seja do Conselho Gestor da APA, não foi consultada e não foi signatária desse ofício, enviado para o endereço errado. A Unidunas não tem nada a ver com a Via Branca e a desapropriação é de uma única área, não de várias. Os moradores do Marisol não fazem parte do Conselho Gestor. O parecer do INEMA não foi contrário à obra, apenas corrigiu o zoneamento na poligonal que está em vigência.

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Emiliano José

17 de agosto de 2023

Stella Maris: cimento, máquinas, e iguanas em fuga (IV)

A iguana cultivava a mania inocente de subir no coqueiro, livre, leve e solta.

Feliz.

Como fosse casa dela.

De repente, ouviu barulho de máquinas.

Aquilo não era bom sinal.

Não se incomodara com aquele xis em vermelho.

Juntou as coisas.

Deu meia volta.

De lá de cima, resolveu descer rapidamente.

Pareciam sinais de más intenções.

Parecia, não.

Queriam mesmo derrubar o coqueiro.

Ganhou outros territórios antes da chegada das mortíferas máquinas.

Soube: a movimentação dos moradores de Stella Maris salvou aquele coqueiro.

Não sei se a iguana voltou a subir.

Talvez não.

Gato escaldado tem medo de água fria.

Iguana também.

Os pacíficos habitantes de Stella Maris, acostumados a tranquilas caminhadas nas manhãs, viram-se atormentados pelo cimento.

Era andar pelos antigos caminhos e deparar com cimento.

Ninguém sabe a razão da obsessão da prefeitura por cimento.

O chamado BRT é um monstrengo de cimento e viaduto.

E para facilitar a vida do capital imobiliário, resolveu meter cimento por tudo quanto é lado no antes bucólico bairro de Stella Maris, assediado agora por uma torre atrás da outra, e promessa de tantas outras.

Já se viu: foi marcando com um xis as árvores condenadas, os coqueiros a serem derrubados.

Lembrou tempos ancestrais, quando o xix em vermelho localizava inimigos.

A natureza, para a prefeitura de Salvador, é temível inimiga.

Não fossem as vigílias dos moradores, e a situação seria bem pior.

Eles resolveram acampar em frente à Servidão 10 da Praia do Flamengo, nas proximidades da Escola Sul-americana, a área mais preservada, com grandes maciços de restinga, habitat de muitas iguanas e tantas outras espécies.

Nesse lugar, no mês de julho, foram vigílias diárias, incluindo os sábados.

Com isso, pretendiam evitar a retirada dos coqueiros.

Garantir a preservação das moitas, evitando a passagem das máquinas, do impiedoso trator.

Tais jornadas extraíram da prefeitura o compromisso da preservação daquela área.

O compromisso de não tirar o coqueiro das iguanas.

As trilhas deveriam ser abertas a facão.

Biólogos acompanhariam a abertura delas, de modo a preservar o máximo possível da natureza.

Dessa forma, evitaram uma aberração.

Apenas naquela área.

No restante, prossegue o desastre.

#destruiçãodeStellaMaris  

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Apesar dos esforços, Emiliano, conseguimos muito pouco. Eles botaram mais cimento do que o previsto e ainda chegaram ao cúmulo de botar um tapume com uma iguana grafitada, uma obra de arte muito bonita, mas para tirarem onda de amantes da natureza. Frequentadores deram o recado e marcaram no cimento fresco CIMENTO NÃO. Uma reação a tanta destruição

Mônica Bichara: Pra prefeitura de Salvador isso é "requalificação"

Gutemberg Armando Diniz Guerra: cimento não!!!

Mônica Bichara: A iguana deles 

Mônica Bichara: Uma das iguanas verdadeiras, que batizamos de Esperança, no coqueiro marcado para morrer. Uma das poucas conquistas da resistência, mas que nos emocionou 

Katia Marinho: as iguanas não sumiram...foram retiradas e possivelmente estão mortas, só não se tem as provas

Mônica Bichara: me recuso a pensar nisso

Katia Marinho: por isso que estão cimentando e a gente não tá quebrando....vcs se recusam a enxergar a realidade..

Mônica Bichara: ué! Cada um luta com as armas q acredita...teve gente q foi lá e riscou no cimento

Katia Marinho: achei ótimo....embora pouco

Isabel Perez: Como sempre, os acordos com essa prefeitura são feitos de promessas vãs e ameaças verdadeiras. Não foi diferente desta vez. Ameaçaram processar os moradores que insistissem na vigília e prometeram não ferir mortalmente a servidão 10 com cimento e tratores. Tudo mentira!

Mônica Bichara: É a linguagem que eles entendem: cimento, ameaça, trator, arrogância.... É lamentável ver o resultado da DESQUALIFICAÇÃO

Miriam Ribeiro: são os “sócios” do cimento!!!!!! Lastimável 🤦‍♀️

Mônica Bichara: verdade, prima. Lamentável

Ludimilla Teixeira: A gente fica se perguntando, a prefeitura ganha o que tacando cimento na praia? Absurdo!!!

Mônica Bichara: é o que me pergunto todos os dias: que requalificação é essa em um dos lugares mais lindos do mundo?

Mônica Bichara: O que precisava requalificar aqui?


Carmela Talento
: é a indústria do cimento mandando na cidade !

Mônica Bichara: pois é, Carmelinha, é a desqualificação de Salvador

Katia Marinho: Ludimilla, PERCENTUAL SOBRE O CIMENTO COMPRADO....DINHEIRO. SÓ ISSO QUE ESSES TRASTES OBJETIVAM !!

Mônica Bichara: Vigília para evitar a chegada dos tratores 

Mônica Bichara: Vigília diária na resistência pela Servidão 10. Teve até pequinique 👇


Dora Alvim: Precisamos barrar a prefeitura! Antes que acabem de vez com a cidade

Mônica Bichara: Antes que eles "requalifiquem" Salvador, pela ótica do cimento e da grana

Sally Inkpin: Estou totalmente revoltada com a situação em Servidão 10. A restinga, areia e o barulho das ondas e dos ventos estão interrompidos, destruídos pela marcha dos tratores e do concreto. Enquanto o resto do mundo reconhece a importância da preservação e da convivência com os seres naturais da biodiversidade, a prefeitura de Salvador só investe em especulação imobiliária e a destruição dos poucos ambientes naturais que ainda restava em Salvador.

Mônica Bichara: Sally Inkpin o q era lindo, e eles não cuidavam, agora estão transformando em mais do mesmo

Mônica Bitencourt: Não conseguimos aprender nada com tantos massacres com cimento em outras cidades do país. É muito triste conviver com mais uma destruição da natureza...

Reinhard Lackinger: Meninos amarelos com menos de 40 anos e vida, não compreendem que uma árvore precisa de uns 40 anos para crescer e ficar adulta. Um bonsai então, nada entende de nada.

Ponciano de Carvalho Jr.: Muito ruim. Salvem as Iguanas.

Mônica Bichara: Espero, de verdade, q elas ainda estejam por lá, entocadas no alto dos coqueiros

Miguel Cal: Estamos vivendo mudanças desastrosas que a priori sabemos suas consequências, ameaçadoras bombas com destruição da natureza e das relações sociais e humanas. Artefato suicida esse que com assustadora indiferença confeccionado dia a por artífices que ainda se intitulam apenas homo sapiens (sábios) quando na verdade estão no campo de unicamente homo demens (insensatos), sem contudo entrarmos na armadilha dessa falsa dicotomia, sejamos sapiens-demens e que prevaleça a saberia, o amor para cuidar da natureza e sempre querendo o bem comum da humanidade.

Com isso quero afirmar que estamos do lado certo da história, contra a destruição do que nos resta da natureza e dos seres que dela vivem, no combate a destruição predatória do capital imobiliária e seus aliados.

Essa luta não será em vão, nos farão cada vez mais solidári@s, mais respeitados e reconhecidos pelos amigos, entes e especial nossos filhos.

Quando se acredita não há perdas e que as recordações sigam energizando e emergindo. Recordação é palavra derivada do latim RECORDARE" que na sua etimologia significa "voltar a passar pelo coração". É no coração onde as emoções fazem morada e tomados por elas que devemos manter a esperança, reconhecendo que nem tudo está perdido e que um mundo melhor pode e deve ser possível, com mais vida e menos cimento. Um gde abraço a todos, minha pouca presença se deve a circunstâncias de cunho pessoal e familiar, nada de não estar junto ou mesmo negar a louvável e sadia luta.

Mônica Bichara: Belo texto, verdadeiro. Estamos fazendo nossa parte, eles que assumam a (ir)responsabilidade deles com o futuro, que carreguem o peso da insensibilidade, das ameaças ...

Liam Inkpin: Parabéns a todos pela mobilização. Vou compartilhar.

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Emiliano José

18 de agosto de 2023

Stella Maris: a simbologia da fuga das iguanas (V)

A natureza, a fauna e a flora são partes essenciais da existência humana.

A natureza ensina o ser humano.

Ou deveria ensinar.

Parece que nem tanto.

O capital, quando chegou, e eu o dataria desde a acumulação primitiva, desde o capital comercial, a partir dos anos 1500, deixou de levar a natureza em consideração.

Destruição - o capitalismo é isso.

Estou falando nisso, e pensando nas iguanas de Stella Maris.

Talvez elas sejam o símbolo mais evidente do processo de destruição do bairro, da preparação para a chegada do capital imobiliário ao bairro, acabando com um estilo de vida, com a convivência com a natureza.

Ouço apelos tristes, diria desesperados, de alguns moradores, ao perceberem a chegada das máquinas a destruir tudo, as máquinas e demais ferramentas.

O verde, o verde de Lorca, verde que te quero verde, verdes ventos, verdes ramas, provoca comichões no prefeito Bruno Reis.

Não quer verde, abomina Lorca.

Facões e tratores vão eliminando o verde.

E por verdes, as iguanas passaram a ser perseguidas.

Elas percorrem, transitam em regiões tropicais da América Central, América do Sul e Caribe.

Têm hábitos arbícolas, vivem em árvores.

Chegam a até 180 centímetros de comprimento.

Quando jovens, cometem o pecado de exibir uma coloração verde intensa - para a prefeitura, pecado.

Quando maiores, apresentam listras escuras ao longo do corpo.

Não fazem mal a ninguém: são totalmente herbívoras.

Alimentam-se de folhas, flores e frutos das árvores.

Desconfio: as iguanas devem ter realizado uma assembleia e decidiram sumir no mundo.

Buscar outras paragens.

Aqui não dá mais pra nós.

Os moradores de Stella Maris não enxergaram nenhuma mais.

Isso desde a fuga de uma delas de um coqueiro marcado para morrer.

Por que iriam esperar as máquinas?

Por que aguardar os homens com as ferramentas, doidos para eliminar o verde, mato e iguanas. 

Ganharam o mundo, não se sabe pra onde.

As iguanas e outros bichos.

Os moradores seguem resistindo.

Sabem das dificuldades, mas não querem se aliar a esse tipo de progresso.   

Se o capital imobiliário se tornar vitorioso, não contou com eles.

#destruiçãodestellamaris 

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Sinceramente prefiro ainda acreditar que elas estão bem espertas, escondidas no topo dos coqueiros, sobretudo no que se transformou em símbolo da nossa resistência, o marcado com X para morrer. Mas ele resistirá e elas voltarão, estão aguardando as máquinas e os homens que a movimentam saírem de cena


Emiliano José: Estão reaparecendo..

Mônica Bichara: infelizmente ainda não, essas fotos foram feitas durante as vigílias. 

Augusto Vasconcelos: Verdade Emiliano José. Temos que seguir firmes na resistência. Na Câmara tenho buscado fazer o bom combate para evitar a destruição.

Mônica Bichara: Obrigada Augusto, precisamos mesmo da ajuda dos q têm coragem de lutar contra os poderosos da política do cimento, do concreto, do mercado imobiliário. Muitos só dizem amém

Emiliano José: Augusto Vasconcelos, acompanho

Isabel Perez: Em tempos tão sombrios, em que já se sabe onde essa ganância por lucros vai nos levar, os capatazes do sistema persistem no seu instinto de escorpião. Sabem que, se picarem o animal que lhes transporta pelo rio, vão morrer afogados...mesmo assim instilam seu veneno naqueles que lhes permitem viver....sem pensar no dia de amanhã, nem nas gerações futuras...

Mônica Bichara: A analogia do escorpião é perfeita para essa gestão. Deprimente

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Emiliano José

19 de agosto de 2023

Stella Maris: irresponsabilidade da prefeitura de Salvador (VI)

Quando você pensa na cor branca, só lhe vem à mente paz.

Não no caso de Stella Maris.

A chamada Linha branca virou tormento para os moradores.

É uma linha a pretender ligar Salvador a Lauro de Freitas.

Partindo da praia do Flamengo até chegar ao município vizinho.

Custará Cr$ 9 milhões.

Apesar da existência de um inquérito do Ministério Público, ainda inconcluso.

Apesar de a área cortada pela nova estrada ser rica em corpos hídricos.

Os moradores de toda aquela região, não apenas os de Stella Maris, tem convicção de que a obra vai afetar o Parque do Abaeté.

Os moradores da região não desistem.

No dia 24 deste mês, às 14,30hs, havia audiência no Ministério Público, em Nazaré.

Para tratar da Linha Branca.

A reunião será com a promotora Cristina Seixas e o Inema.

O Conselho Gestor da APA do Abaeté, cuja jurisdição abrange todo o parque de dunas.

Parque do Abaeté e Parque das Dunas é uma APA só, cortadas pelas avenidas Mãe Stella e Alamedas da Praia, e isso originou a divisão em dois parques municipais.

É uma luta cruel, a evocar a batalha de David contra Golias.

Fim do sol na praia.

Fim da ventilação para a população.

Já teriam sido autorizados pela prefeitura de Salvador, encostados à praia, cerca já colocada na restinga de Stella, oito prédios de 15 a 18 andares, e pensem, oito apartamentos por andar.

O impacto da presença de tais prédios, de uma nova população, toda ela com automóveis, será enorme, e nada disso foi calculado.

Autorize-se e ponto final.

Uma cidade do porte de Salvador não pode ser administrada dessa maneira.

Com tal grau de irresponsabilidade.

A considerar apenas e tão somente os interesses do capital imobiliário.

#destruiçãodestellamaris

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Pois é, Emiliano, a área é de preservação e uma obra desse porte teria, necessariamente, que ser precedida de estudo de impacto e ouvir a comunidade. É inadmissível que a prefeitura não leve em conta o inquérito que tramita no MP com vários questionamentos

Maria Helena Franca Das Neves: A área de preservação deve ser um espaço de respeito à natureza, ao meio ambiente. Os gestores públicos devem ser os primeiros a respeitar e manter a preservação. Como são os primeiros a depredarem cabe a nós COMUNIDADE impormos a manutenção da preservação, afinal os gestores dependem do nosso voto. VAMOS À LUTA.

Katia Marinho: Levando em conta que as ruas do Loteamento Marisol, onde a tal "LINHA BRANCA " vai atravessar é um local com ruas estreitas casas e condomínios e nem todos tem estacionamento interno para carros. Inclusive uma área que ainda não foi definida se pertence a Lauro de Freitas ou Salvador, IPTU dos moradores são cobrados e estão sendo processados pelos dois municípios

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Emiliano José

20 de agosto de 2023

Stella Maris: cidades, capitalismo e

desigualdade social como maior herança (VII)

 

Ao referir-me ao cerco ao bairro de Stella Maris, penso na reflexão de Ermínia Maricato, "É a questão urbana, estúpido!".

Publicado no Le Monde Diplomatique, edição 73, em 1 de agosto de 2013.

Vamos a uma parte da análise dela.

As cidades, ela diz, são o principal local da reprodução da força de trabalho.

Boas condições de vida dependem frequentemente de políticas públicas urbanas - transporte, moradia, saneamento, educação, saúde, lazer, iluminação pública, coleta de lixo, segurança.

Ou seja, a cidade não fornece apenas o lugar, o suporte ou o chão para a reprodução da força de trabalho.

As características das cidades e até mesmo a forma como se realizam fazem a diferença.

Agora, a cidade não é apenas reprodução da força de trabalho.

Ela é um produto, um grande negócio.

Uma mercadoria, eu diria.

Especialmente para os capitais que embolsam, como diz Maricato, com sua produção e exploração, lucros, juros e rendas.

No interior das cidades, dá-se uma disputa feroz, uma acesa e sempre presente luta de classes, entre aqueles que querem dela melhores condições de vida e aqueles que, sem maiores considerações ético-sociais, visam apenas extrair ganhos.

A cidade constitui um grande patrimônio construído histórica e socialmente - não foi assim, ao longo dos séculos, com Salvador?

A apropriação da cidade, no entanto, é desigual, e o nome do negócio é renda imobiliária ou localização.

As cidades brasileiras carregam uma herança pesada.

A desigualdade social, talvez a maior delas.

E se quisermos falar em herança, não custa lembrar a da escravidão, só encerrada no final do século XIX depois de uma brava luta de abolicionistas, de pessoas escravizadas e livres.

Infelizmente, depois dessa extraordinária vitória, as políticas de Estado não criaram terreno para dar sequência à incorporação de negras e negros à sociedade de maneira integral, luta que segue até os dias atuais, e aqui se trata de considerações minhas, não propriamente de Maricato.

É de uma cidade, pensada de modo amplo, na esteira da contribuição de Maricato, que é necessário falar ao tratarmos de Stella Maris.

Uma cidade a reclamar políticas urbanas muito mais amplas, capazes de compreender as áreas periféricas mais pobres, áreas residenciais horizontais de camadas médias, proteção dos centros históricos tradicionais, capazes de evitar a chamada gentrificação e de conter o apetite voraz do capital imobiliário, a desfigurar tudo, e a pretender colocar tudo sob a ótica dele.

Isso reclama administração democrática, com o olhar voltado para o bem comum, e não para atender interesses do capital.

E a prefeitura de Salvador está longe disso.

#destruiçãodestellamaris  

COMENTÁRIOS 

Mônica Bichara: Uma mercadoria, excelente definição. O que menos importa é a qualidade de vida, e sim os interesses envolvidos dos que podem mais. E justamente para conhecer o nosso território, hoje (20) participamos da Caminhada Patrimonial "Em defesa do Abaité", foi a oitava edição, promovida pelo Fórum Permanente de Itapuã. Durante os 6km de trilha sentimos, mais do que nunca, como tudo isso aqui é um único ecossistema e é assim que deve ser tratado. Essa foi a segunda que participei, experiência maravilhosa

Mônica Bichara: Pensem num programa fantástico, com direito a banho de lagoa  


Emiliano José: Maravilha

Lila Muritiba: É o Abaeté do lado de lá. Exuberante e sempre surpreendente!

Mônica Bichara: Exatamente, o ecossistema é um só e deve ser visto como um todo

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Emiliano José

21 de agosto de 2023

Stella Maris: a resistência amparada

em saberes mágicos (VIII)

 

De manhã, e ganharam caminhos.

Todas, todos certos sobre a necessidade de conhecer para defender. Dia 20 de agosto de 2023.

Uma caminhada colorida.

Sem combinar, as pessoas vestiram-se alegremente.

Mais de seis quilômetros pelo Parque das Dunas, obviamente ameaçado.

Por aproximações sucessivas, o capital imobiliário vai fazendo o cerco.

Foi a oitava edição da Caminhada Patrimonial "Em defesa do Abaité", promovida desde 2022 pelo Fórum Permanente de Itapuã.

A curadoria é da pesquisadora Clara Domingas, em parceria com o Instituto de Permacultura da Bahia e apoio de diversos coletivos e entidades de Salvador e Região Metropolitana, incluindo o Coletivo Stella Maris. 

À sombra de um frondoso jamelão, beirando a Lagoa de Nanã, uma aula, o que for aula deve ser chamada como tal, do geógrafo baiano Rafael Sanzio Araújo dos Anjos, professor titular da UNB - é, teve esse luxo na caminhada.

Mostrou a força do povo quando se junta por um objetivo comum.

Tudo isso está em matéria de Mônica Bichara, publicado no blog Pilha Pura, publicada hoje.

No texto, ela volta a bater na tecla: Stella Maris parece ser a bola da vez do mercado imobiliário.

O capital imobiliário na voragem insaciável dele contaria com a ajuda escancarada da prefeitura de Salvador, com o auxílio de um PDDU aprovado a toque de caixa, cujo liberou geral desconhece até os antigos gabaritos de restrição para a borda marinha.

Agora, o céu é o limite.

Mônica, na matéria, aponta três frentes de luta na área ambiental, impossíveis de serem dissociadas do conjunto da Área de Proteção Ambiental: a verticalização do bairro, a chamada requalificação da orla e a chamada Linha Branca.

Na caminhada, fez-se uma homenagem a Mãe Bernadete, assassinada no dia 17 de agosto, no quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho.

Morreu, como disse Marcelle do Vale, por defender "um modelo de civilização que o poder econômico aniquila".

A caminhada contou com a presença alegre das crianças.

Elas, talvez, foram as mais beneficiadas pela natureza naquele domingo.

Treparam tantas vezes nas árvores e também surfaram nas dunas, contando com a presença do instrutor de sandboard Rangel Souza.

Os adultos também puderam desfrutar das águas, banhando-se alegremente.

Ficou o recado: Salvador não pode virar um paredão à beira mar.

#destruiçãodestellamaris

COMENTÁRIOS 

Katia Marinho: Precisamos de mais gente na próxima...lugar lindo, pessoas de boa energia...vamos divulgar...o baHiano precisa conhecer esse paraíso encantado e lutar para que ele seja eterno..

Mônica Bichara: já ansiosa tb pela 9ª edição da Caminhada Patrimonial

Miguel Cal: Resgatar a história é um dever e isso cabe a quem viveu e vive e mais de quem ama. O amor cuida e defende

Juliette Robichez: Obrigada por expressar de maneira tão poética o sofrimento que a prefeitura provoca em nós ao cimentar nossas praias e dunas

Mônica Bichara: verdade, o sentimento é de desolação. Mas apoios como esse de Emiliano nos dão força para manter a mobilização, tentando preservar o que é mais belo na nossa região

Isabel Perez: Mais uma caminhada maravilhosa pelas dunas do Abaeté, a segunda este ano: alegre, participativa, plural, educativa, respeitosa. Não somente de gritos de guerra vive uma luta. A luta se faz também com momentos simbólicos e afetivos como nossas caminhadas. Conhecer para preservar!

Mônica Bichara: foi bom demais, nem a gente ali pertinho sabia das maravilhas que se escondem naquelas dunas. E só conhecendo teremos mais convicção para lutar

Mônica Bichara: 

Foto de Alê Okan 

Mônica Bichara: A criançada, principalmente, se esbaldou surfando nas dunas. Um espetáculo à parte, que reuniu famílias inteiras 

Mônica Bichara: Olha Maína e Katia, ele se divertiu

Katia Marinho: e vai nas próximas. ele agora que fazer aula...vou marcar...será presente de aniversário. Sandra Thompson veja Gael.....

Mônica Bichara: Além de não deixar qualquer vestígio de lixo, ainda catamos os que encontramos 


Katia Marinho: e haja lixo

Isabel Santos: 👏👏👏👏 Não pode, não, Emiliano. O caminho é esse, mobilização e luta incansável contra o capital devastador.

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Emiliano José

22 de agosto de 2023

Stella Maris: a linda luta dos moradores (final)

Não se sabe o destino de Stella Maris.

Os moradores não descansam.

Não desistem.

Fazem de tudo um pouco para evitar a transformação do bairro, na verdade toda aquela região, num gigantesco paredão, a modificar a vida de todos, a destruir tanta coisa bonita, a inundar a área de milhares de automóveis, aumentar a poluição, modificar o meio ambiente.

E o capital imobiliário parece não ligar para leis.

Vai seguindo em frente, mesmo quando decisões judiciais mandam parar.

O capital imobiliário, vírgula.

A prefeitura, a representá-lo fielmente.

Em reunião recente na Casa da Música, os moradores fizeram constar em ata: ações da prefeitura, como a do chamado Monte Santo nas dunas do Abaeté, ou a Linha Branca ou requalificação da orla no trecho do Parque das Dunas, descumprem a liminar do juiz Carlos D'Ávila Teixeira, emitida em abril deste ano.

Com a decisão, o juiz manda a prefeitura suspender qualquer intervenção de reurbanização nas áreas do Parque do Abaeté e Parque das Dunas até a conclusão do inquérito que obrigou a

derrubada de todas as barracas de praia de Salvador.

Eu torço pelos moradores.

Espero não ver a destruição de lugar tão belo como Stella Maris.

#destruiçãodestellamaris 

COMENTÁRIOS 

Mônica Bichara: É o que esperamos, Emiliano. Nesta terça (22) tivemos audiência com a comandante da COPPA, a Companhia Ambiental da PM, a major Érica Patrícia, relatando todos os problemas ambientais que temos na região, da tentativa de construção de prédios de 18 andares na beira da praia à construção da Linha Branca em área de preservação do Parque das Dunas, "desqualificação" da orla pela prefeitura com substituição da vegetação nativa por concreto, ignorando o prejuízo à fauna local......... Um encontro superprodutivo, que nos abriu portas para muitas parcerias com foco na educação e preservação ambiental. Valeu, querido, por essa série tão linda sobre nosso movimento

Mônica Bichara: Com a major Érica e as parceiras de luta Isabel Perez, do Coletivo Stella Maris, e Anne Cristina, do Ações Stella-Flamengo, na sede da COPPA 


Katia Guimaraes de Mello: Lugar que escolhemos, pra morar. Por ter ainda uma qualidade de vida. Muita destruição já aconteceu. Crimes ambientais cometidos. O que queremos hoje, é que isso tenha um freio. Essa devastação tem que parar, está afetando nossa saúde, mexendo com toda nossa identidade local.

Mônica Bichara: tristeza acompanhar a destruição de um bairro lindo, a título de "requalificação", "progresso"

Juliette Robichez: Caro Emiliano José, obrigada por abraçar nossa luta que é a de todos os soteropolitanos, baianos, brasileiros, amantes de Salvador. Neste mundo caótico, entre fogos e inundações, é indispensável preservar nossa natureza - e beleza - e lutar contra a especulação imobiliária incentivada pelas autoridades públicas inescrupulosas, como a “prefs”, com a conivência do INEMA.

Katia Marinho: Pois é Emiliano José, vá entender o que seja a vida...cada dia entendo menos...o homem "se acha" mas, ao meu entender, somos o mais limitado dos seres existentes....o sentimento do ter, de mostrar que pode, essa vontade de concorrer, ganhar...limita o amor que seria o nosso bem maior....não creio que nada vá mudar pois não dará tempo....temos os dias contados...estamos destruindo a nossa casa....não creio que haja retrocesso....o mundo precisaria de um basta.....aí só se a espécie humana fosse dizimada...mas vamos tentando....é a esperança que nos resta ...é o amor que alguns ainda possuem

Mônica Bichara: Katia, o homem e seus interesses. Mas temos esperança

Katia Marinho: é só o que nos resta..

Isabel Perez: Como a esperança é a última que morre, sigo com Paulo Freire, "esperançando" (lutando) e não apenas esperando que as coisas melhorem. Vamos pra cima, que há muita luta pela frente!

Katia Marinho: Isabel, até a esperança de seguir lutando, é esperança

Miguel Cal: Stella vai resistir, quem aqui vive se orgulha e luta. Muitos que chegaram faz anos viram esse território se desenvolver com respeito e cuidando da natureza, no dia a dia contemplando o azul desse belo mar arrodeado de areia branca com o sol mais belo desse mundo tão desigual, mas enquanto há vida a esperança se faz presente e somos vida


Comentários

  1. Maravilha de luta contra essa capitalismo que não respeita o humano e a Ecologia/ Mãe Natureza. É preciso insistir, persistir..., não desanimar até o final, mesmo que ele não seja o esperado. Mas é preciso acreditar na vitória do bem contra o mal. Parabéns, mais uma vez a todos os envolvidos nessa mobilização, que inclui pessoas moradoras de outras áreas da cidade. Afinal, Salvador é uma só, somos todos e todas soteropolitanos. Ninguém deve soltar a mão de ninguém, seja nas lutas envolvendo questões sobre o meio ambiente como desigualdades socioeconomicas, racismo, violência de gênero...Beijo, amiga/colega/comadre Mônica, e parabéns especial pela sua intensa presença. Avante, gente!

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  2. E um beijão para o querido mestre Emiliano José, que tão poeticamente escreve sobre tudo aquilo que lhe toca a alma, que não deixa passar batido as injustiças. Ah, se muitos tivessem o seu olhar. Por certo, nosso mundo não estaria enfrentando tantas vicissitudes. Viva você, amigo. Beijão

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  3. Verdade, Isabel. Emiliano conseguiu traduzir de forma poética e literária nossa resistência à destruição da nossa natureza

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