Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais








No terceiro e último dia da III Marcha das Mulheres Indígenas: Mulheres

Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais, cerca de 3 mil

mulheres indígenas ocuparam, na manhã de quarta-feira (13), as ruas de

Brasília até a Esplanada dos Ministérios.

Participaram do ato as ministras dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e da

Mulher, Cida Gonçalves, a coordenadora executiva da Articulação Nacional

das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade- Anmiga Braulina

Baniwa, além de parlamentares como as deputadas federais Célia Xakriabá

(PSOL-MG) e Érica Kokay (PT-DF) e a presidenta da Fundação Nacional dos

Povos Indígenas -Funai Joênia Wapichana. 

Grupos de lideranças, caciques,

jovens, servidores da Defensoria Pública da União-DPU e representantes de

entidades indígenas e indigenistas marcaram presença no ato. Centenas de

etnias foram representadas em delegações de todos os estados, como os

Guarani, Xerente, Kayapó, Ticuna, Karajá, Gavião, Pataxó, Kiriri, Kraô,

Guajajara, Xavante, Pataxó Hã Hã Hãe, Tuxá e Kainkang.


“Há dois anos estávamos aqui e o Congresso Nacional recebeu as mulheres

com bala de borracha e spray de pimenta. Abra as portas porque agora nós

temos a bancada do cocar, o Congresso Nacional está atrasado, Brasil atrasou

demais. O nosso Ministério dos Povos Indígenas que demorou duzentos anos

para ter a primeira mulher indígena, mas, nós sempre sustentamos os mistérios

da terra”, discursou Célia Xakriabá durante o trajeto da marcha, próximo ao

Congresso Nacional. 

Ela denunciou a atuação de parlamentares que

distribuem tratores em suas bases eleitorais e que votam a favor do Marco

Temporal (PL 490) e contra os direitos indígenas.


A Presidenta da Funai, Joênia Wapichana, destacou a importância de dar

sustentação ao órgão e a nova política indigenista do governo federal através

da participação ativa das comunidades indígenas, que reivindicam direitos

territoriais e políticas públicas. Chamou atenção para o fortalecimento da

organização das mulheres indígenas e a responsabilidade de todas para exigir

a preservação dos biomas, a demarcação das terras e o acesso às políticas

públicas.

Um dois eixos debatidos durante as plenárias da marcha foi a

representatividade política das mulheres indígenas, tema retomado nos

discursos durante o percurso nas ruas, no carro de som. “Nossa marcha tem

de voltar para casa com esse pacto entre nós para nas próximas eleições

termos mulheres indígenas parlamentares, nos nossos estados para termos

mais deputadas federais aqui no Congresso Nacional”, afirmou a ministra Sônia

Guajajara.

Nádia Tupinambá, liderança baiana, denunciou o descaso do governo federal

anterior com as demandas dos povos indígenas, como a crise sanitária que

abate os Yanomammi, atendidos recentemente pelo MPI. “Espero que esse

momento além de ser um marco, a gente possa conseguir políticas públicas,

atenção, saúde indígena específica, garantir nossas parteiras, rezadeiras,

nossos rituais nos momentos de cura, isso sim é ancestralidade. As mulheres

indígenas sofrem violência e nem são contadas”, declarou.

Violências

Nas faixas, cartazes, palavras de ordem e discursos das lideranças as

denúncias sobre as diversas formas de violência contra as mulheres indígenas

predominaram.

A luta contra o marco temporal, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal

Federal – STF, a imediata demarcação das terras indígenas, a expulsão de

invasores e garimpeiros dos territórios indígenas, mais investimentos para a

educação e saúde indígenas e a apuração dos crimes de estupro e feminicídios

foram algumas das demandas expressas nos depoimentos durante a marcha.


A Ministra Sônia Guajajara lembrou durante o ato da pressão sofrida pela

deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), por parte de parlamentares no Congresso,

pedindo a cassação de seu mandato. Na segunda-feira (11) a deputada

protocolou o Projeto de Lei 4381/2023 que combate a violência contra as

mulheres indígenas como as agressões de ordem física, psicológica,

patrimonial, moral e política. O PL prevê um atendimento especializado às

vítimas e uma rede de apoio multidisciplinar, além de medidas protetivas.


Durante as Mesas de debates realizadas na terça-feira (12), foram

apresentadas denúncias de violência sexual contra adolescentes e mulheres

indígenas, principalmente em áreas no Norte do pais, ocupadas ilegalmente

por garimpeiros, além de racismo nas escolas, contaminação por produtos

agrotóxicos e falta de investimento na saúde da mulher indígena para

assistência pré-natal, com respeito às tradições culturais de cada povo.

Para encerrar a programação, o documento final da marcha contendo

reivindicações foi entregue aos ministros e parlamentares que foram no

Complexo Cultural da Funarte, onde foi instalado o acampamento das

mulheres. 

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