Jaciara Santos: O gigante acordou!

(Foto: Paulino José dos Santos)

Texto: Jaciara Santos

O dia começou enfezado. Tempo fechado, nuvens prenunciando chuva. E chegou mesmo a chover. Por volta das 9h30, a ameaça se concretizou: inicialmente fininha, a chuva engrossou. Espreme daqui, aperta dali, alguns buscam abrigo sob toldos e sombreiros de vendedores ambulantes que começam a ocupar os espaços em frente ao Morro do Cristo, na Barra. Mas ninguém arreda pé. Desistir? Nem pensar. O povo continua chegando. Jovens, idosos, crianças. De ônibus, motocicletas, carro próprio, veículos de aplicativo. A pé. Salvador foi às ruas. 

Batedores da Superintendência de Trânsito passam de vez em quando, abrindo caminho para corredores remanescentes. Sim, neste mesmo 21 de setembro, o trecho entre o Morro do Cristo e o Farol da Barra – trincheira escolhida pra dizer NÃO ao arbítrio - fazia parte da Maratona de Salvador. Essa sobreposição atrasou o início da manifestação que, marcada para começar às 9h, só deslanchou mesmo pertinho das 11h.

Espontaneidade é, talvez, a palavra que melhor define o espírito do protesto deste domingo. Nem dá para esta ou aquela entidade tentar capitalizar o êxito do movimento. O gigante acordou! A indignação falou mais alto. Salvador (a Bahia, aliás), foi para a rua dizer não aos ataques à nossa democracia e às desavergonhadas tentativas de legitimar a bandidagem no Parlamento.

Luz no fim do túnel


Dava para ter mais artistas além dos icônicos Daniela Mercury e Wagner Moura? Sim. Daria. Mas, de verdade, não fizeram falta. Ela e ele preencheram qualquer possível lacuna de integrantes da classe artística que preferem cantar em cima do muro. Divando de cima do trio, La Mercury puxou o coro: “Sem anistia!”. De frente e sem medo, o ídolo, baiano de Salvador, constatou: “Aqui a extrema-direita não se cria, não.” No meio do caminho, Baco Exu se juntou a eles, além de Lan Lanh, Nanda Costa e o Cortejo Afro.



Reproduzindo a indignação dos manifestantes, vários parlamentares se revezaram em pronunciamentos contundentes. Representantes de coletivos, entidades sindicais e de classe se uniram. Os discursos podem até variar, mas o tom é uníssono: não aceitamos anistia para golpistas nem blindagem para bandido. E o domingo que começou enfezado, chuvoso, terminou ensolarado de esperança. O gigante que parecia adormecido acordou. E, como nos versos do nosso hino maior, “o sol da liberdade em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria neste instante”. Há luz no final do túnel. Golpistas e bandidos não passarão.



Foto: Murilo Bereta

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