“Se Deus cantasse, seria com a voz do Milton”, comentou certa vez Elis Regina, logo ela, a dona da voz e do coração de Bituca, como está registrado no livro Travessia – A vida de Milton Nascimento, uma das leituras mais emocionantes que fiz, graças à minha amiga oculta, cinéfila e especialista em música, amante sobretudo da música que vem das serras mineiras.
O livro é mais interessante ainda porque registra a vida de Milton com riqueza de detalhes revelados por ele próprio e por mais 70 entrevistados que a autora, Maria Dolores, então concluinte do curso de Jornalismo, procurou ouvir pessoalmente, dentre os quais Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, a turma do Clube da Esquina, Nana e Danilo Caymmi, Wayne Shorter, Herbie Hancok e dezenas de moradores do município mineiro de Três Pontas, onde Bituca foi criado e cresceu com esse apelido. Além das entrevistas, ela se baseou em inúmeras pesquisas feitas em jornais e revistas.
O texto é romanceado, solto e livre. A história de vida de Bituca é rica de acontecimentos e fatos surpreendentes e emocionantes, que prenderiam a atenção mesmo de quem não conhece o artista. Mas o grande lance desse livro, o mais delicioso de tudo é para quem curte a música de Milton, porque é uma oportunidade de conhecer como cada uma das suas obras foi concebida, em que circunstâncias e pressões, ou não; as improvisadas e a evolução não só dele, mas de seus parceiros de composição de melodias e letras (Travessia, maior sucesso que venceu o II Festival Internacional da Canção e lançou Milton no mercado tem uma história singular, a começar pelo título inspirado no livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa).
Fascinante também é que no decorrer da trajetória de Milton, do processo de produção de cada obra dele, a gente, que acompanhou os sucessos, vai relembrando também a nossa história, de como cada uma das canções marcou as nossas vidas।
O livro remonta ainda o processo que deu origem ao Clube da Esquina que “era visto apenas como um grupo de amigos que fez algumas músicas, um estilo mineiro de compor, ou o inverso: um movimento artístico engajado, o que também não era verdade”. Para Márcio Borges, letrista de “Os sonhos não envelhecem”, que idealizou a criação do Museu Vivo do Clube da Esquina, “era uma história que ia muito além disso”.
Taí a dica. Li e gostei. Amei. Valeu amiga oculta.
Para Borega, Araka, Chef, Bina, Mayra (onde ela estiver) e a minha amiga oculta
Êta Jô, vc está tão empolgada que deu até vontade de lê. Muito bom texto. Bjs.
ResponderExcluirIsso mesmo Simoa, empolgadíssima. Aliás, eu tinha resistência para ler biografias, mas isso acabou depois que li a de Tim Maia, que você não gostou (rsrs) e agora essa de Milton. A de Plínio Marcos eu acabei desistindo na metade do livro, não pela história do cara, mas pelo texto, que achei chato, cheio de citações, ao contrário desse de Bituca, de Maria Dolores, uma garota escritora talentosa e ousada.
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