#MemóriasJornalismoEmiliano – Ana Maria Vieira – Jornalista que é jornalista não desiste nunca!



Quantas encarnações tiver, como diz Emiliano José, Ana Maria Vieira vai querer voltar jornalista. Até a netinha Mariana já sabe que “jornalista não desiste nunca’, de tanto ouvir histórias da avó. Conheci Ana logo quando iniciei na carreira, eu no Jornal da Bahia, e pouco tempo depois tive a sorte de trabalhar com ela na assessoria da Saeb (Secretaria de Administração). Chefinha querida. E aqui ela abre o coração e o baú pra relembrar fatos marcantes da carreira, coberturas inesquecíveis, o corre-corre pra dar conta de quatro turnos (redação, assessoria, sala de aula e filhos), emoção à flor da pele, tudo isso traduzido pela veia literária do mestre Emiliano na série 
#MemóriasJornalismoEmiliano
   
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Emiliano José
13 de março 2020
Repórter PPC

Sempre digo: a gente vai passando, as pessoas nos olhando.
Não conhecemos suas impressões.
Se boas.
Se ruins.
Melhor assim, talvez.
Convivemos em meio ao teatro da vida.
E a vida segue.
Só agora, mais de quatro décadas passadas, estou conhecendo Ana Maria.
Conhecendo um pouco mais.
Não me recordava houvesse algum dia dito, por exemplo:
- Jornalista tem que ser PPC.
Mas disse.
O que eu queria dizer com isso?
Ana Maria Vieira traduz, me revelando, ou fazendo a leitura de minha atuação como chefe:
- Emiliiano nos fazia reescrever o lead quantas vezes fossem necessárias, mas também cobrava qualidade na apuração.
E eu lembro disso, nada!
Diz de minha paciência, seria marca muito forte em mim.
Nunca me considerei paciente, mas, quem sabe, na condição de Chefe de Reportagem tenha sido.
Dava lições rápidas:
- Na sua ótica, repórter tinha de estar pronto
para qualquer cobertura.
Aumento da demanda de passagens para o interior no período de São João.
Do preço do quiabo em setembro.
Carência de transportes urbanos.
Problemas de saúde, educação, saneamento.
Saber lidar com atracação de navio e parto de onça.
E eu hoje tanto tempo passado intrigado com o tal jornalista PPC:
- Emíliano repetia: repórter tem que ser PPC.
Mas qual o significado disso:
- Pique para apurar e escrever. Rapidez.
- Tem que ter peso, sinônimo de conhecimento, informação.
- E choque - precisa estar preparado para enfrentar as adversidades.
- Então, repórter PPC é de pique, peso e choque!
Isso, diz Ana, era muito importante nos tempos antecedentes ao mundo digital... #MemóriasJornalismoEmiliano
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(Formatura em jornalismo pela UFBA)

Emiliano José
14 de março 2020
Josué de Castro x Ferreira de Castro

No jornalismo, cuidado na apuração é essencial.
Apurar com zelo o acontecimento.
Cercá-lo.
Aguçar o princípio da desconfiança.
Será verdade a palavra da fonte?
Mais: tomar cuidado com os nomes das fontes.
Ana Maria Vieira aprendeu Isso no "Jornal da Bahia".
Aprendizado útil para a vida toda.
Mais tarde, em "A Tarde", testemunhou a demissão de alguns colegas por trocarem o nome da fonte.
Jorge Calmon, redator-chefe de "A Tarde por muito tempo, não perdoava um erro desses.
Ela se recorda de uma troca imperdoável.
A matéria era sobre Josué de Castro, autor de "Geografia da Fome" entre tantos livros a tratar da fome no Brasil e no mundo.
Sabe-se lá por que, o repórter substituiu o pernambucano por um português, o grande romancista Ferreira de Castro, autor de ''A curva da estrada" e tantos outros.
Demitido.
Sem apelação.
No "Jornal da Bahia" havia muitas feras do jornalismo - relembra Ana Maria.
Muitos partiram cedo.
Dailton Mascarenhas e Jânio Lopo foram para o reino dos encantados ainda novos.
Dois grandes jornalistas.
Recorda-se de Arnaldo, Dalton, Fagundes...
Tanta gente boa, diz, deixando escapar um suspiro nostálgico.
A equipe feminina era notável - as lembranças ainda são do "Jornal da Bahia":
- Lúcia Cerqueira, que já nos deixou. Um dos melhores textos do jornalismo baiano. Embora o de Jaciara Santos seja o melhor dos melhores. Lembro muito do jeito calmo de Linalva Maria, repórter de muita coragem. Também partiu cedo.
Sacar a importância do repórter fotográfico foi outro ganho no "Jornal da Bahia".
- Aprendi muito com Anízio Carvalho, Vigota, Renato Almeida, entre tantos.
Não se esquece da união da equipe, do compartilhamento.
Os mais experientes ensinavam aos mais novos.
Não havia clima de disputa.
Finais de tarde, alguns iam à padaria, compravam pão, queijo e presunto.
Os sanduíches-bisnaga eram divididos na mão grande, nada de faca.
Quando chovia, ah quando chovia...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Graça Azevedo: Minha sócia Jaciara Santos broca!
Jaciara Santos: Graça Azevedo vocês... Sei não!♥️♥️♥️♥️
Graça Azevedo: Jaciara Santos 😘😘😘
Mônica Bichara: A melhor, melhor das melhores
Graça Azevedo: Mônica Bichara Eu só sei que tirei a sorte grande quando fizemos a sociedade!
Jaciara Santos: Graça Azevedo você...
Graça Azevedo: Jaciara Santos Ôxi! Duas jornalistas do quilate de Mônica Bichara e de vosmicê, vou querer mais o quê? Com direito a rima!
Mônica Bichara: Graça Azevedo já tem direito a diploma de jornalista
Graça Azevedo: Mônica Bichara Muito ocupada com a nossa editora! Não fosse isso ia fazer o curso!
Albenísio Fonseca: "Mate o homem, mas não mude o nome", costumava repetir Paixão Barbosa, na Redação de A Tarde.
Emiliano José: Albenísio Fonseca Paixão é um dos grandes!
Eremildes Ferreira: Leia essa matéria Almeida Hugo Victor... cita seu pai...
Victor Hugo Almeida: Eremildes Ferreira eu sinto que o pouco da visão analítica e mente construtiva em relação a percepção ampla do comportamento humano, puxei dele. Tenho muito a agradecer pela herança cultural que ele e a senhora me proporcionaram através dos genes. ❤🙏
Eremildes Ferreira: Victor Hugo Almeida Seu pai Renato Almeida era muito bom no que fazia...sem contar que tinha uma facilidade incrível pra escrever e falar... isso você herdou dele...
Mônica Bichara: Eremildes Ferreira comentei ontem e meu comentário sumiu. Qdo li lembrei logo dele, meu querido amigo Renato
Eremildes Ferreira: Mônica Bichara Você tinha um carinho muito grande por ele... como ele também por você...
Mônica Bichara: Eremildes Ferreira não tenho dúvidas, querida 
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Emiliano José
15 de março 2020
Confesso que vivi

Ana Maria Vieira mergulha nas lembranças do "Jornal da Bahia".
Repórteres, chefes.
Fala de Anísio Félix.
Não era tão paciente como ela gostaria.
Em compensação, vibrava com o trabalho dos repórteres e focas.
Viveu com ele uma experiência nunca esquecida.
Era uma tarde modorrenta na redação da Barroquinha.
13 de abril de 1977.
Ela, menos de um mês no jornal, ainda inexperiente.
No plantão.
Cunha irrompe lá do fundo da redação aos berros.
José Lopes da Cunha era o redator-chefe.
Os berros eram dirigidos a Anísio:
- O governador Roberto Santos vai dar coletiva agora sobre o fechamento do Congresso. Você não tem repórter na casa?
Anísio disse a Cunha, enquanto sacudia as cinzas de seu inseparável Continental sem filtro:
- Deixe comigo!
Olhou pra Ana.
Não precisava dizer nada.
Tremeu um tiquinho assim, mas gostou do desafio.
Jornalismo tem disso: os dias nunca são iguais.
Está tudo calmo, e de repente, alvoroço.
Ao chegar no Palácio da Aclamação, outro frio na barriga: povoado de feras do jornalismo, vários repórteres das sucursais.
Lembra bem do grande Raimundo Mazzei, de "O Globo".
Cumpriu a tarefa.
Foi uma cobertura histórica para ela.
Para um jornalista mais experiente, aquela podia ser uma matéria corriqueira.
Para Ana Maria, uma coisa nova, desafiadora, a abrir as portas para o conhecimento da realidade política.
O general Geisel, quarto ditador desde o golpe de 1964, baixava o denominado "Pacote de abril".
Com ele, fechava momentaneamente o Congresso Nacional, vontade confessada do atual presidente, cabe lembrar.
Mantinha eleições indiretas para presidente da República.
E instituía a figura do senador biônico, entre outras medidas.
Era o medo da repetição do resultado da eleição de 1974, quando o MDB deu um banho.
Ditadura é ditadura.
O governador deu as explicações, ela registrou.
Até hoje, Ana Maria é agradecida pela chance dada por Anísio.
Já se disse, mas insisto: Anísio era um grande companheiro, e foi importante líder dos jornalistas sob a ditadura.
O Continental sem filtro pode ter sido fator essencial para sua partida precoce.
Mas, e daí?
Viveu a vida.
Desfrutou dela.
Todo ano viajava à Europa.
Poderia, como Neruda, exclamar:
- Confesso que vivi!
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Ana Vieira: Muito interessante o trabalho de resgate que o jornalista, escritor e político Emiliano José vem fazendo a partir de relatos de jornalistas .
Mônica Bichara: Acompanhando as memórias de Ana Vieira, amiga querida, e relembrando as minhas. Eitcha que o Jornal da Bahia foi uma escola maravilhosa para todos nós, grandes lembranças 
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(Começando no JBa. Pegava Fabio na escola, nos Barris, levava em casa e volta para o jornal à tarde para bater o texto. Muita canseira!) 

Emiliano José
16 de março 2020
Chutando o pau da barraca

Chuva era um desassossego.
Era chover e a Barroquinha virava mar.
Entrar pela porta da frente do "Jornal da Bahia", impossível.
A alternativa era chegar pela porta dos fundos.
A entrada principal, reservada para quando Deus desse bom tempo.
Ana Maria Vieira pisou na lama e na água já como foca, condição iniciada depois da conclusão do curso de Jornalismo, na Escola de Biblioteconomia e Comunicação (EBC).
Na EBC, aprendeu muito.
Assimilou valores ensinados pelos mestres.
Assentou pilares teóricos, a lhe valerem por toda a vida.
Mas faltava a prática.
Não fora feito ainda o indispensável casamento entre teoria e prática.
Chegar a isso, a ser foca, demorou um pouco.
Ana Maria concluiu o curso na EBC, e na semana seguinte se casou.
Trabalhava numa grande empresa.
Tinha um bom salário.
Como largar?
Era da área de Mercadologia.
Escrevia argumentos para os vendedores das Páginas Amarelas.
Avaliava critérios econômicos das habitações para distribuição dos produtos.
Cresceu na empresa.
Nova, nova ocupou cargo de chefia.
Ascensão interrompida pelo adoecimento do primogênito Fábio, cujo primeiro aniversário foi comemorado no hospital.
Chutou o pau da barraca.
Largou tudo para cuidar do filho.
Que mãe sou eu?
A única renda agora seria a de professora da rede estadual, onde dava aulas à noite.
Há decisões capazes de mudar inteiramente o curso de uma vida.
Esta, uma delas.
Dez meses depois, Ana Maria decidiu voltar a trabalhar.
Agora, mergulhar no Jornalismo.
Nada de Mercadologia mais.
Virada.
Falou com Miguel Reis, colega de turma na EBC, e foi apresentada a José Lopes da Cunha, redator-chefe do "Jornal da Bahia", onde Reis trabalhava.
A legislação de então permitia um ano de estágio mesmo para os graduados em Jornalismo.
Começou assim - repórter estagiária a caminho da profissionalização.
Remuneração: salário mínimo.
Muito pouco se comparado com seu último salário.
Encarou.
E jamais se arrependeu...
#MemóriasJornalismoEmiliano

Ana Vieira: Mary Miranda de Oliveira, João Camilo Cunha, Jussara Miranda Melo, Dilma Almeida, Vitor Hugo Soares
João Camilo Cunha: Ana Vieira uma das coisas que senti depois que deixei de ler habitualmente no jornal A TARDE, foi deixar de ler as belas crônicas de Vitor Hugo Soares.
Vitor Hugo Soares: Grato, Camilo. Muito obrigado. Uma honra para mim tê-lo como leitor.
João Camilo Cunha: Ana Vieira. Lhe conheci nos idos de 1972 na Editora de Guias LTB, aliás só LTB, minha grande escola, onde aprendi ser profissional. E olhe que tinha trabalhado antes em duas multinacionais.
A LTB foi minha grande escola.
Voltando a você (desculpa, mas vou ter de tocar no assunto), recordo aquele dezembro, não recordo o ano, quando fui testemunha do seu casamento em Paulo Afonso.
Saímos da empresa, nos afastamos, mas sempre em contato, você no jornal A Tarde, eu em Camaçari, onde voltei em 2017 a trabalhar pela terceira vez. Já trabalhei em Camaçari quase 20 anos. Mas não esqueço a LTB. O escritório da Rua dos Algibebes, edifício OS GONÇALVES. O prédio da Avenida Presidente Wilson e o da Visconde de Inhaúma, no centro do Rio, onde estive algumas vezes; já em São Paulo, onde fui inúmeras vezes, o prédio da Avenida Liberdade, 956; o da Rua Cincinato Braga; o da Avenida Paulista.
Dos mais de dois anos que passei em Fortaleza.
É como se a LTB fosse um vírus, que inoculou no sangue e a gente não esquece.
Obrigado pelo belo texto de Emiliano José.
Um abraço todos e todas que trabalharam nesta grande empresa, mencionados ou não acima.
Sempre que vou a São Paulo e passo na Liberdade e na Paulista, me lembro dela.
João Camilo Cunha: Tenho dois livros de Emiliano José.
Ana Vieira: João Camilo Cunha você levou a biografia de Waldir Pires que ele escreveu? são dois volumes.
Emiliano José: João Camilo Cunha Honrado por tê-lo como leitor. Abraço
João Camilo Cunha: Ana Vieira não. o livro sobre a morte de Lamarca e outro meio uma biografia, que conta passagens da vida dele.  
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Emiliano José
17 de março 2020
Perdendo o sono

Os primeiros dias do trabalho na reportagem são emocionantes.
Às vezes, dolorosos.
É uma espécie de descoberta do mundo.
O jornalismo lhe apresenta o mundo.
Em branco e preto.
Um dia, Ana Maria Vieira, no "Jornal da Bahia", teve como tarefa acompanhar o veterano repórter Francisco Fagundes de Oliveira Filho.
Ia para uma espécie de treinamento.
Foca sofre.
Seguiu no carro ela, Fagundes e o fotógrafo.
No caminho, soube a pauta.
Prefeitura ia derrubar os barracos de uma invasão no IAPI.
Invasão era o nome dado à ocupação de terras pelos deserdados da sorte.
Duro assistir bate-paus botando abaixo as precárias habitações de pau a pique as mulheres e crianças chorando résteas de esperança destroçadas.
Demais para uma foca.
Chega em casa à noite e quase se culpa pelo seu conforto, seu teto.
Sim, qual o crime daquela gente?
Estava lutando pelo direito de morar.
Jantou com.a família e não demorou muito tempo para ir para a cama.
Fora um dia cansativo.
Dormir mesmo, demorou pra burro.
Era fechar os olhos, e as imagens da violência apareciam nítidas.
Barraco por barraco num desenho lógico iam ao chão.
Sem piedade.
Generosa, afirma tenha eu sido decisivo para o aprendizado e crescimento dela:
- Além de discutir o enfoque da matéria, pedia para reescrever com seu jeito leve e educado de ser. "Você sabe apurar", me dizia. "Isso é muito importante, mas vamos colocar sal no texto". Ele me ensinou que é preciso passar emoção.
Eu era Chefe de Reportagem.
Teixeirinha - José Carlos Teixeira - Subchefe e pauteiro.
Pauta do Dois de Julho.
Ela conta minha recomendação...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Lucia Correia Lima: Vou te mandar . o que escrevo ficou longo vou resumir
Emiliano José: Lucia Correia Lima Ótimo
Mônica Bichara: Aninha, querida, vai juntando fotos para nossa edição no PilhaPura. Estou acompanhando com emoção suas lembranças
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Emiliano José
18 de março 2020
Um grande amor

Não, não me recordo.
Ana Maria Vieira revela tê-la chamado e dado orientação para a cobertura do Dois de Julho.
Cubra o não-oficial, preste atenção nos acontecimentos fora da programação oficial.
Essa teria sido minha orientação.
Ela não datou, mas creio seja o Dois de Julho do ano da graça de 1977.
Quase 43 anos passados, hein Ana?
Em 2 de julho de 1823, concluiu-se a independência do Brasil, com a vitória contra as tropas portuguesas em terras baianas.
Ela seguiu a orientação.
Cunha, redator-chefe, não gostou.
Pediu a Oldack Miranda, responsável pela edição naquele dia, pra dar uma olhada no texto.
Miranda perguntou se a matéria havia sido escrita por ela:
- Sim - respondeu, um pouco temerosa.
Que será, que será?
Miranda leu a matéria, passou a caneta como costumamos dizer, e depois, no seu conhecido estilo, comentou com ela:
- Veja que tirei suas sutilezas de elefante.
É um aprendizado duro, o de jornalista.
O principiante sofre.
Vem um chefe diz uma coisa.
Logo depois, outro muda tudo.
Só com o tempo você vai firmando um jeito, encontrando seu estilo.
E aí pode brigar por suas sutilezas, até as de elefante, se for o caso.
Alegra-me não estivesse sozinho na orientação de passar emoção ao texto jornalístico.
Frederico Simões também insistia nisso.
Tasso Franco, da mesma forma.
Ana Maria recorda-se dos dois com muito carinho.
No "Jornal da Bahia", passou pouco mais de um ano.
Uma experiência inesquecível.
Pediu demissão.
O salário em "A Tarde" era o triplo do pago pelo "Jornal da Bahia", e ela havia sido convidada a mudar de casa.
Frederico Simões assustou-a:
- Você vai para "A Tarde"?
- Vou - Ana Maria respondeu.
Ele olhou fundo nos olhos dela e perguntou:
- Você sabe o que é "A Tarde"?
Nada mais disse.
Uma pergunta intrigante.
Nunca compreendeu o sentido mais profundo dela.
Apesar do susto, foi.
Era uma tarde de sexta-feira.
Último dia no "Jornal da Bahia".
Acompanhou Alba Regina numa reportagem.
Registra: nunca mais a viu depois da arribação dela para Ilhéus.
Ao sair, deixou uma despedida no mural.
Chorou
Chorou muito.
Estava deixando o Dadau Biia, como dizia seu filho aprendendo a falar.
Era o fim de um grande amor.
#MemóriasJornalismoEmiliano 
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Emiliano José
19 de março 2020
Sofrendo na chuva

Pensando no amor.

Um se vai.
Surge o novo.
Foi assim pra Ana Maria.
Chorou com o término da experiência do "Jornal da Bahia".
Sentiu muito.
Foi experiência de pouco mais de um ano.
Jamais esquecida.
O fim de um amor pode ser um sossego.
Outros, mesmo finalizados, só deixam saudades.
Caso do "Jornal da Bahia" para ela.
"A Tarde", o novo amor, foi uma vida: 25 anos, três meses, dezenove dias.
Tempo que só a porra.
Zoraide Vilas Boas foi a alma boa a indicá-la.
A vaga aberta era para a Editoria de Turismo.
Ana Maria explicou: dava aulas à noite, não tinha condições de viajar.
Quase um impasse.
Jorge Calmon, o redator-chefe, encontrou uma solução.
Josemário Luna para o Turismo.
Ela, para a Editoria de Cidade.
Claro, fosse para Turismo, e teria as delícias de conhecer terras alheias.
Cidade, no entanto, é uma experiência indispensável a qualquer repórter.
Já havia passado pela Geral no "Jornal da Bahia".
Englobava Cidade.
Mas fora uma experiência rápida, e maior parte como foca.
A Editoria de Cidade dá ao repórter uma visão ampliada da realidade.
Educação, saúde, urbanismo, trânsito - tanta coisa.
Você toca, apalpa as coisas do mundo, nem sempre belas.
As chuvas de Salvador faziam-na sofrer.
Revelavam a desigualdade social profunda da cidade, a carência de políticas públicas de habitação, saneamento, a existência de uma grande população vivendo em condições precárias, precaríssimas.
A cada chuva intensa, mortos, feridos, desabrigados.
Mães sofrendo com filhos mortos.
As casas deslizando das encostas como se fossem de papel.
De papelão eram, às vezes.
As encostas da cidade.
Homens chorando feito meninos diante dos corpos de filhos, parentes.
A tragédia social exposta.
Nossa histórica desigualdade, a dura herança escravocrata, não enfrentada.
As chuvas, o desabamento das casas, mexiam muito com suas emoções.
E a expunha a perigos.
Numa dessas coberturas sobre a chuva, já voltando para a redação, junto com Beretinha, repórter fotográfico, nas mãos um material gelado, nenhuma novidade, ouve pelo rádio do carro...
#MemóriasJornalismoEmiliano 
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Emiliano José
20 de março 2020
Esquiando na lama, crianças mortas

Esquiar.
Ana Maria Vieira até pensou um dia.
Sair da beira da praia.
Não nos Alpes suíços, um delírio.
Aqui pelo Sul do Continente mesmo.
Sonhava.
Esquiou um dia.
Na lama.
Saíram ela, o motorista e Beretinha.
Lourival Custódio dos Anjos era conhecido como Beretinha.
Fotógrafo.
Chuva.
Salvador encharcada.
Correram trecho.
Água caindo.
Insistente.
Rodam, rodam, Beretinha fotografando tentando capturar situações interessantes para a matéria.
Ana Maria, anotando.
Jornalista é um bicho curioso.
Sofre diante da tragédia.
Sofre.
Mas, fica incomodado quando tem de voltar para a redação com matéria fria.
Era o caso aquele dia.
Os três, silenciosos, depois das andanças, voltavam para a redação.
Ana Maria, convicta de ter à mão matéria gelada.
Súbito, ouvem notícia pelo rádio.
Muro desaba e mata uma família.
Alto da Favela, Federação.
Meia volta.
Muita lama pra vencer.
Ela se amparando em Beretinha.
Esquiaram até chegar ao local da tragédia.
Não dava para caminhar.
Iam deslizando.
Beretinha foi a salvação de Ana Maria.
Os corpos misturados aos escombros.
Ana Maria teve de segurar as lágrimas.
Nó na garganta.
Duro, duro saber: a mãe das crianças mortas sobreviveu.
Estava no Pronto-Socorro do Canela.
Imagine quando despertasse e se visse sem os filhos, sem marido, sozinha no mundo, a vida destroçada.
Ana Maria anotando e pensando: a inexistência de políticas habitacionais mata.
A miséria mata.
Chegou ao jornal ao final da tarde, coberta de lama, arrasada.
Recebeu os parabéns de Chico Ribeiro Neto, Chefe de Reportagem de "A Tarde" então.
Sentou, escreveu.
O nó na garganta, ali.
Quase não dorme naquela noite...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Ana Vieira: Chico Ribeiro NetoNeto.Voce lembra?
Chico Ribeiro Neto: Ana Vieira Lembro, sim, emocionante. No jornal da Bahia cobri a derrubada do Marotinho. Muito triste também
Mônica Bichara: Nossa! Não tem cobertura mais dolorosa 
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Emiliano José
21 de março 2020
Chico Ribeiro Neto

Compreendo a lembrança carinhosa de Ana Maria Vieira.
Francisco Ribeiro Neto é um honrado e competente jornalista.
De história longeva.
Vida intensa.
Muito discreto, história pouco conhecida.
Desde jovem, envolvido com as melhores causas da humanidade.
Desde cedo, da cultura.
Da arte.
Devo contar?
Do pouco chegado a mim, me atrevo.
Desde 1964 atuava no Grupo de Teatro do Colégio Central, antro de comunistas e subversivos de toda espécie.
Foi naquele ano, fatídico ano, o do terrível golpe, a encenação da peça "Do Tamanho de um Defunto", de Millôr Fernandes, sob a direção de Haroldo Cardoso.
Ele, já atuando.
Com tantos outros: Emanueli Marimpietri, José Cordeiro Filho, Ângelo Oliva, José Nogueira Neto, Marie Hélène Russi, Jurema Augusta Ribeiro Valença, Nemésio Garcia, Ruth de Brito Lemos, Orlando Lacerda e Mário Galrão.
Muitos estarão envolvidos na luta política aberta contra a ditadura.
O grupo teatral era em si mesmo uma clara expressão de luta contra a ditadura.
A cultura nunca se ausenta da luta pela liberdade.
Em maio de 1966, o diretor do Central, Walter Reuter, decidiu proibir a peça "Aventuras e Desventuras de um estudante".
Ateou fogo em mato seco.
A moçada do Central declarou-se em greve.
Não aceitou a suspensão dos sete colegas do Gateb, como era chamado o grupo de teatro.
Reuter os chamava de subversivos e marxistas.
Os sete subverso-marxistas eram Carlos Sarno, Jurema Augusta Ribeiro Valença, Ruth de Brito Lemos, Alexandrina Luz Conceição, Zoroastro Pena Santana, Nemésio Garcia e o nosso Francisco Ribeiro Neto.
A peça era da autoria de Carlos Sarno, mais tarde meu companheiro de prisão.
Nemésio Garcia, também conviverá comigo na Galeria F.
Jurema Valença cumprirá pena no Forte de Santo Antônio Além do Carmo.
O Gateb botou fogo na cidade.
Os estudantes não deixaram por menos.
Ditadura é ditadura.
O Grupo dos Sete foi expulso.
E todos proibidos de estudar em escola pública.
Quiserem, há mais detalhes no primeiro volume do "Galeria F : Lembranças do Mar Cinzento", de 2000.
Chico Ribeiro Neto buscou caminhos no jornalismo, onde cresceu e formou gerações, redações afora.
Ana Maria me fez lembrar dele, grande amigo e companheiro, exemplo de profissional e de cidadão.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Ana Vieira: Justo e verdadeiro o reconhecimento do grande jornalista,escritor e político Emiliano José a vc, Chico Ribeiro Neto..Na minha longa caminhada em A Tarde, Chico foi muito importante. Sensibilidade, competência, integridade e seriedade no jornalismo. No convívio pessoal, humor refinado (marca forte de quem foi batizado com o nome de Francisco.) Quando surgia uma pauta que não estava planejada, ele me dizia "vá você que é puta velha! E acrescentava;: "no Jornalismo, é claro". Grande figura. Não há como deletar do meu HD tanta coisa boa que aprendi com vc, Chico. Meu tio, como muitos carinhosamente o chamavam.
Ângela Barreto: Ana Vieira Boa recordação, Ana. Muitas lembranças do chefe Chico, meu tio, magro😂😂😂bj
Angela Guimaraes: Que tempo bom! Tivemos uma escola de jornalismo fantástica em A Tarde. E "meu tio" foi um grande mestre.
Chico Ribeiro Neto: Ana Vieira abração, Ana, grande repórter de grande sensibilidade
Chico Ribeiro Neto: Ana Vieira Ana, grato por suas palavras, você sempre foi repórter de grande sensibilidade, beijo
Ana Vieira: Chico Ribeiro Neto obrigada, Chico! Emiliano José revelou tantos fatos lindos de sua vida, Chico, que eu não conhecia. Por isso, saí marcando meus contatos que conviveram com vc em A Tarde. E as reações deixaram-me muito feliz. Porque, como diz o professor Edvaldo Brito, gratidão é um sentimento nobre! Boa quarentena!
Ana Vieira: Angela Guimaraes, Angela Ângela Barreto,Sônia Sonia Maria Araujo,Rosane Santana,Azimozete Santana, João Antonio Saturnino Bezerra, Gildo Lima Lima, Alex Ferraz, Cláudia Oliveira, Lídice Oliveira, Alberto Oliveira, Alberto Freitas, Waldir Cidelia Argolo, Nubia Mendonça,
Azimozete Santana: Ana Vieira toda vez que me lembro do Chico eu começo a rir. Pessoa maravilhosa. Carinhoso, culto, sincero, educado, gentil e divertido. Ah como foi bom trabalhar no A TARDE e ter Chico Ribeiro Neto como colega, amigo e conselheiro. Criatura você é uma pessoa incrível!.
Ana Vieira: Antônio Antonio Carlos Santana, Angélica Angelica Ferraz de Menezes, Bebê Bene Simões,, Paixão Barbosa, Eliézer Suzana Varjão, Eliézer Eliezer Varjão,, Indaiá Magalhães,
Ana Vieira: Tony Kraus Klanchgen, Celeste Aida, Menandro Ramos, Cleidiana Ramos,
Ana Vieira: Chico Ribeiro Neto
Rosane Santana 😍😍😍
Angelica Ferraz de Menezes: Aprendi muito com Chico. Ele tem lugar cativo nas minhas gratas lembranças do exercício da profissão. Assim como têm Ana Maria, o amigo Paixão Barbosa, Isabel Santos, Graça Filadelfo e tantos outros que penso sempre com carinho ao me lembrar como era bom o convívio no dia a dia da redação de A TARDE.
Chico Ribeiro Neto: Angelica Ferraz de Menezes Valeu, Angelica, ficamos grato por isso
Ana Vieira: Tati Lima, Elisandro Lima,
Elisandro Lima: Meu Tio. Fantástico, Meu Tio. Figuraça e de um coração enorme. Pelo menos a cada uma vez no mês me liga ou ligo para contar uma piada.....rsrsrsr
Chico Ribeiro Neto: Elisandro Lima Ficamos gratos pela boa lembrança, abraços
Chico Ribeiro Neto: Receba
Cleidiana Ramos: Meu tio, Chico Ribeiro Neto..saudades dos plantões em que ele exercia à larga seu bom humor: lembrando fantasmas que poderiam chegar para reuniões de pauta; o convite para ir à cerca que chamava Lemos de Brito porque era só o que nos separava das delícias oferecidas pelos ambulantes do ponto de ônibus; da quadrinha que escreveu para nosso primeiro Carnaval do Papão..lembranças boas desses chefes dos bons tempos atardianos que ainda alcancei. Beijo, Chico.
Elisandro Lima: Chico Ribeiro Neto, lá ele!
Chico Ribeiro Neto: Cleidiana Ramos Beijo, Cleidiana, bons tempos, fazíamos jornal c alegria. Beijo
Cláudia Oliveira: Chico é um exemplo de profissional refinado, cuja sensibilidade, simplicidade e elegância no trato com as pessoas o agigantam como líder e ser humano. De tão bom, que inspirou o filho Mateus a seguir seus passos. Saudades de todos os colegas do A TARDE, com quem aprendi imensamente. Beijo no coração de vocês!
Chico Ribeiro Neto: Cláudia Oliveira Grato, um beijo
Gorette Brandão: Merecida homenagem. Sou muita grata a Chico pelo acolhimento generoso em minha chegada ao jornal A Tarde, na fase “frio na barriga” do início na profissão. Um jornalista conhecedor do seu ofício e grande ser humano. Figura porreta mesmo!
Chico Ribeiro Neto: Gorette Brandão oi, Gorette, um beijo, saudades daquela Redação
Chico Ribeiro Neto: Emiliano, gratidão por suas palavras e tamo junto nessa luta por um Brasil mais justo, abração
Emiliano José: Chico Ribeiro Neto Não há o que agradecer, Chico. Da missa, não contei nem metade. Juntos, sempre, por esse Brasil. Abração.
Ana Vieira: Francisco Muniz,Marcos Venancio Machado,
Marcos Venancio Machado: Chico é um dos jornalistas mais íntegros que conheci nessa estrada. Salve, Meu Tio 🥰🥰
Ana Vieira: Marcos Venancio Machado D'accord
Chico Ribeiro Neto: Marcos Venancio Machado Abraços, Marcos Venâncio, a estrada valeu
Marcos Venancio Machado: Valeu sim, Meu Tio!
Ana Vieira: Nize César, Stelinha Carvalho,Rui Ruy Carvalho,
Nize César: Chico Ribeiro Neto, "meu tío" um grande jornalista e competente secretario de redação, da minha época em A Tarde, um ser humano de quilater, tem meu eterno amor e carinho. Me deu a primeira bruxinha da minha coleção é a menor da foto, todos os dias lembro de VC, receba meu abraço carinhoso.💜😘😘
Chico Ribeiro Neto: Nize César valeu, eterna ciganinha, beijo
Francisco Muniz: Chico Ribeiro Neto, pelo que se percebe, foi importante para várias gerações de jornalistas. Hoje lamento não termos em comum mais que o nome e a profissão, pois não demorei muito na Redação de A Tarde. Meu abraço, Xará.
Ana Vieira: Francisco Muniz os dois são muito inteligentes, sérios, mas de humor refinadíssimo kk Fiquei sem babá com o meu filho caçula bem pequeno. Escrevia a matéria em casa. Depois levava ao jornal. Chico dizia que eu trabalhava entre a lauda e o leite rsrs. Boas lembranças!!kk
Jorginho Ramos: Chico Ribeiro Neto é referência para várias geraçõesde jornalistas.
Chico Ribeiro Neto: Jorginho Ramos Jorginho, abraços, acho q fizemos certo, abraços
Mônica Bichara: Gente, agora realmente passou um filme em minha cabeça. Nem sei se ele lembra disso, mas conheci Chico Ribeiro Neto antes de entrar pro jornalismo. Minha irmã Ilka Bichara tinha feito teatro no grupo do Severino Vieira e não sei como foi parar em um grupo que ensaiava uma peça de Chico, no ICBA. Um dia fui com ela e quando dei por mim estava ensaiando também, fazendo laboratório, morta de vergonha....Nunca chegamos a encenar nada kkkkkk nem lembro os nomes dos outros "atores". Depois reencontrei como colega, grande e querida figura, bela homenagem de Emiliano José e Ana Vieira 
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Emiliano José
22 de março 2020
Enfiando o pé no mangue

Lama.
Ana Maria Vieira desconfia ser a lama seu obscuro objeto de desejo.
Pauta sobre marisqueiras.
Discutia com o Chefe sobre o carro.
Varjão insistia em negar.
Precisava do carro pra chegar às proximidades do manguezal.
- Ah, você faz a matéria numa feira, conversa com as marisqueiras, e tudo de resolve.
Ana Maria, batendo pé.
Não ia sem carro.
Varjão cedeu: o carro destinado a Zoraide Vilas Boas iria com ela.
Zoraide, receberia caixinha.
Disso resultou uma culpa danada em Ana Maria: Zoraide resolveu ir no carro dela e sofreu um grave acidente.
E ela quase se acidenta também.
Contemos.
Ela, motorista e o repórter fotográfico Carlos Santana seguem para o Lobato, na Suburbana.
Era lá o manguezal.
Ela e Santana enfiaram o pé na lama.
Se é pra fazer, nada de economizar.
Sujeira, limpamos depois.
Entrou, entrou, viu caranguejos, mariscos, as mulheres catando catando, beleza e miséria, admirava a coragem delas, tenacidade pra ganhar a vida, dar de comer aos bruguelos, sapo não pula por boniteza, pula por necessidade.
Lembrou do romance de Josué de Castro, homens e caranguejos, o menino, a lama, a miséria, destino ingrato.
Olhou olhou, e agora voltar.
Gozado, não parecia ter andado tanto.
A volta parecia longa demais.
Estava grávida de poucos meses.
Não convém levar susto, suas comadres sempre aconselharam.
Mas ela levou.
Quanto mais andava na volta, sentia mais e mais afundar.
Duro andar no mangue, sabia.
Mas, algo parecia errado.
De repente, um grito forte:
- Saiam daí!
- Vocês estão num sumidouro.
Pararam, apavorados.
O anjo salvador apontou o lado a seguir de modo a não serem tragados.
Seguiram a orientação e chegaram são e salvos à terra firme.
- Se as experiências na vida intra-uterina valem mesmo, aí está a explicação para meu filho Camilo ser louco, apaixonado por caranguejos. 
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: De sustos prenhas as comadres entendem, né Jaciara Santos e Carmela Talento?  
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(Algumas das colegas e amigas de toda a carreira: Ângela Guimarães, Berna Farias e Sônia Araújo)

Emiliano José
23 de março 2020
Mulheres

Quando começou em "A Tarde", Ana Maria Vieira deparou com um mulherio danado. Estavam chegando.
Ocupando as redações.
Para nunca mais saírem.
Encontrou Isabel Santos, uma das comadres.
Delas, comadres, já falei um bocado nessa série: Jaciara Santos, Joana D'arck, Mônica Bichara, a própria Isabel e, por tabela, Carmela Talento.
Topou com Ângela Barreto, de quem fora colega na adolescência.
Zoraide Vilas Boas.
Ângela Guimarães.
Azimozete Santana - esses dias, numa audiência, Jaciara, Mônica e Isabel presentes, a secretária Arany nos informou ser irmã de Azimozete.
Foi colega de turma de Ana Maria na Escola de Biblioteconomia e Comunicação, EBC, depois Facom, não se sabe por que chamada comumente de Faconha.
Depois, arribou para a Europa.
No comando da Reportagem, Reynivaldo Brito.
Exigente - ela acentua.
Ajudou-a no aprendizado.
Nas eleições de 1982, quando do brilhante desempenho das mulheres na Câmara Municipal de Salvador, escalou-a para entrevistar todas elas, cobrindo lacuna da Editoria de Política.
Numa manhã, ouviu Ana Coelho, Amabília Almeida, Jane Vasconcelos e Eliana Kertész.
De Ana Coelho, lembro pouco.
Amabília era respeitada educadora, militante vinculada ao PCB, mulher do dirigente comunista Luís Contreiras.
Jane Vasconcelos venceu as eleições na esteira da luta contra o aumento de transportes, de 1981, quando centenas de ônibus foram incendiados, ela uma das lideranças, vinculada ao PCdoB.
Eliana Kertész elegeu-se à sombra do prestígio do marido, Mário Kertész.
Ele havia rompido com ACM, e com a repercussão disso, Eliana teve quase 100 mil votos, marca nunca superada.
Ana Maria deu conta da história das quatro e teve a satisfação de ser premiada com matéria de página inteira, inteirinha para as mulheres.
Cobriu passeatas estudantis, era o canto do cisne da ditadura, o povo em luta.
Tempo de sindicalismo forte.
Ouviu muitas vezes o professor Sérgio Guerra, presidente da APLB.
Depois dele, Maria José Rocha Lima, a sucedê-lo.
Os dois liderando professores, greves, assembleias.
Ainda se recorda da tensa cobertura da greve da PM, em 1981, com morte de policiais, Forças Armadas nas ruas por ordem de ACM, Reynivaldo Brito no cemitério do Campo Santo dando cobertura à equipe, nada de fazer anotações durante o velório, clima de guerra. #MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Ana Vieira: Reynivaldo Brito, Maria José, Maria José Rocha Zezé, Ângela Barreto, Sérgio Guerra, Isabel Santos, Azimozete Santana, Angela Guimaraes,
Isabel Santos: A série do querido Emiliano José prossegue com mais uma trajetória brilhante no jornalismo baiano, né, Ana Vieira? rsss Vem muitas histórias, lembranças gostosas de se ler. Realmente, naquela época, as mulheres já eram presença marcante no mundo masculino da redação de A Tarde. Colegas que estão para sempre no coração. Muito aprendizado, amizade, colaboração. Aguardando os próximos episódios.
Antonio Carlos Santana: Continue Amigo👍👍👍😱👍👍👍👍
Emiliano José: Antonio Carlos Santana Grande amigo e companheiro.
Maurício Brasil: Que riqueza dentro dessa caixola!🙌🏾
Angela Guimaraes: Nesses dias difíceis de isolamento, essas memórias de Emiliano estão sendo um alento. Memórias de um tpo de muito aprendizado e de amizades valiosas. Continue.
Mônica Bichara: Nossa, quanta lembrança boa....Convivi com essas vereadoras na Câmara, era assessora de imprensa de Jane Vasconcelos, grande exemplo de mulher na política, assim como Amabília Almeida (Bisa Almeida). Fazem falta
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Emiliano José
24 de março 2020
Tédio, nunca.

Um quarto de século.
Todo esse tempo em "A Tarde".
Inevitáveis lembranças.
Ao mergulhar no tempo, Ana Maria Vieira se impressiona com o tanto de experiências vividas.
Por aquelas páginas, viu passar a história.
Viu, sentiu a ditadura.
Viu a derrota dela.
A eleição de Tancredo Neves, pela via indireta.
Um novo tempo.
A agonia, a morte, triste, do novo presidente.
Sarney assume.
A surpresa do Plano Cruzado, Dilson Funaro ministro da Fazenda.
Congelamento de preços.
O povo exultante, fiscalizando.
Para o jornalismo, sopa no mel.
Pautas e mais pautas.
Acompanhar as blitzes da SUNAB.
Ir aos supermercados saber se o congelamento estava sendo respeitado.
Ouvir o povo.
Sentir o impacto da medida.
Era ousada.
Contrariava a ortodoxia capitalista.
Isso era coisa de países comunistas - diziam alguns dos críticos.
Ana Maria foi pautada para acompanhar os preços nos supermercados.
Colhia os preços, fazia cálculos para apurar o aumento de cada produto em relação à semana anterior, e o texto analisava tudo Isso.
O balanço do trabalho dela era publicado na edição de domingo.
Os críticos esbravejavam, alguns poucos, os conservadores.
Economistas de esquerda, aplaudiam: Maria da Conceição Tavares, Aloísio Mercadante, José Serra entre vários outros - não se assustem, Serra podia então ser arrolado como de esquerda.
O FMI, puto.
O plano contrariava todas suas prescrições.
A inflação passa de 12,49% em fevereiro para 1,40% em outubro.
Um sucesso, o Plano Cruzado.
Na eleição de 1986, o PMDB faz 22 governadores.
A pressão das classes dominantes, no entanto, recrudesceu, e depois das eleições o plano não prosperou.
Muito difícil pudesse vingar sob o capitalismo.
Sonho de uma noite de verão.
Ana Maria pode dizer com orgulho:
- Meninos, eu vi!
Testemunha dessa história.
E de outras.
Como a de Collor, ascensão e queda.
De tédio, nunca padeceu.
Graças ao jornalismo.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Angela Guimaraes: Meninos, eu vi isso tudo. Orgulho da minha amiga "fiscal " do Sarney. 🥰
Isabel Santos: rssss massa. Deve ter feto muitas entrevistas a Archimedes Pedreira Franco, por muito tempo autoridade na área da defesa do consumidor.
Mônica Bichara: Tédio? Em redação? Jamais ....
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Emiliano José
25 de março 2020
Fome e tristeza das crianças

É, o jornalismo é um trem.
Trem da história.
Ana Maria Vieira seguiu viagem.
Viu foi coisa.
Até Deus duvida.
Viu o Papa João Paulo II desembarcar na Bahia em 1980.
Viu o Santo Padre passar pela Avenida Sete de Setembro, seu lugar no vagão do trem determinado pela chefia.
Esteve em outro vagão: cobriu missa papal no Centro Administrativo.
Apaixonada por viagens, pôde desfrutar muito desse prazer.
No baú, busca a recordação de uma viagem pelo interior da Bahia.
Governo Nilo Coelho.
Ela e a repórter fotográfica Mara Mércia ajeitaram algumas poucas peças de roupa em suas pequenas malas, e botaram o pé na estrada.
Longa jornada.
Ana Maria feliz como pinto no lixo.
Pauta: revelar a situação da educação no interior da Bahia.
Correram trecho.
De Salvador para o Recôncavo.
Do Recôncavo para o Sul.
Em seguida, Juazeiro.
Daí, chegaram até Pilão Arcado, perto da divisa com o Piauí.
Repórter é repórter: testemunharam o caos.
Educação em pandarecos.
Ainda viram palmatória como linha pedagógica.
Triste.
Mas, Ana Maria e Mara Mércia testemunharam também o milagre das professoras leigas, fazendo a educação acontecer onde parecia impossível.
Ana Maria ainda se recorda da abertura de uma das matérias:
"O estômago das crianças funciona como relógio. Quando a fome bate, elas ficam tristinhas. Não dá mais pra continuar."
Como a dizer: necessário juntar os saberes de Paulo Freire e Josué de Castro para uma educação integral.
Com fome, ninguém aprende
Na mesma sala, o recorte de uma revista anunciava:
"Universidade ajuda a mudar o ensino rural."
Involuntária ironia.
Depois de muita estrada, Ana Maria é guindada à condição de pauteira especial, decisão de Jorge Calmon, o mais longevo redator-chefe do jornalismo baiano, ao menos do meu conhecimento.
Jorginho Ramos há de me corrigir ou reafirmar.
A pauta era feminina.
Ana Maria e Ângela Guimarães.
As mulheres estavam chegando.
Para nunca mais saírem...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Ana Vieira: Angela GuimaraesGuimaraes.Voce está nesse capítulo .Veja!
Isabel Santos: Eternas parceiras. Profissionais tarimbadas, colegas do coração.
Angela Guimaraes: Obrigada, Bel. Você também mora em nossos corações .
Angela Guimaraes: Ana Vieira já curti
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(Com a sobrinha e hoje também colega Camila Vieira, que se apaixonou pelo jornalismo acompanhando a tia nas redações)

Emiliano José
26 de março 2020
Pauteira, se virando nos trinta

Pauta.
Converso com vocês sobre Isso.
Com os não-jornalistas.
Vocês estão pensando: é simples.
Só pensar alguns assuntos, e mandar os repórteres pra rua.
Nada, mermão.
Pense numa coisa complicada.
Multiplique algumas vezes.
É a pauta.
Falo de cátedra.
No "Jornal da Bahia", na Editoria Geral, ralei quando fui jogado na tarefa.
Levantava ali pelas cinco da matina, tomava um café ligeiro, deixava o quarto e sala da Ladeira da Cruz da Redenção em Brotas às pressas, e era dos primeiros a chegar à redação da Barroquinha.
O pessoal da limpeza ainda trabalhando.
Eu, já martelando o juízo em busca de pautas.
Produzia umas sessenta, setenta até às 9hs, quando o reportariado começava a chegar.
Acumulava pela manhã a função de pauteiro e chefe de Reportagem.
Mais tarde, assumirei a chefia de Reportagem, Teixeirinha, a pauta.
A pauta é um guia para o repórter.
Mal feita, sem checagem, sem apontar fontes, sem consistência, e o repórter volta da rua sem matéria.
É uma escola, um aprendizado e tanto.
Aguça seu olhar.
Exige pesquisa.
Olhar panorâmico.
Senso crítico.
Ana Maria Vieira aprendeu muito ao sair da reportagem e ser jogada na pauta.
Trabalhou com Eliezer Varjão, subchefe de Reportagem.
Depois com Antônio Matos.
Tinha de se virar nos trinta.
Pautava e ainda ajudava a editar as colunas de July, de religião, de saúde.
Recentemente, foi ao lançamento do belo livro de Antônio Matos - "Heróis de 59 : A história do primeiro título brasileiro conquistado pelo Esporte Clube Bahia".
Quem é Bahêa, não pode perder.
Até quem não for.
Documento histórico, fruto de uma densa pesquisa.
Matos, faço o registro, além de excelente jornalista, sabe fazer amigos e cultivá-los.
Não acredito tenha inimigos.
Uma pessoa rara.
No lançamento, Matos manda mensagem escrita para ela.
Reconhecia: por merecimento, ela deveria substituir Varjão.
O indicado, no entanto, foi ele.
Na mensagem, acentua a grandeza de Ana Maria.
Nunca lhe causou problemas.
Ao contrário, ajudou-o muito.
Matos trabalhou em "A Tarde" de 1981 a 2004.
Quase empata com Ana Maria.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Mônica Bichara: Tive a sorte de trabalhar com grandes pauteiros no início: Almada, Jose Jesus Barreto, Chico Vasconcellos....
Jose Jesus Barreto: Mônica Bichara um belo ofício, querida. Exigia muita ideia e sabença rsrsrs saudades
Emiliano José: Jose Jesus Barreto E sabença cê tinha de sobra, Barretinho.
Ana Vieira: Jose Jesus Barreto a pauta pensadinha, bonitinha não valia nada, se um fato importante acontecia. Ai era preciso correr contra o tempo para replanejar tudo. Jornalismo naquele tempo era muita adrenalina, mas era delicioso no dia seguinte conferir o jornal. Essa emoção hoje acabou !
Mônica Bichara: Jose Jesus Barreto sabença é ótimo. E no seu caso tb não faltava a velinha acesa em cima do armário para garantir boas energias. E dava tudo certo, tempo bom
Ana Vieira: Jose Jesus Barreto imagino você com essa criatividade toda e poesia, devia fazer pautas bem interessantes.
Mônica Bichara: Ana Vieira verdade amiga, quantas vezes a pauta toda planejada era (é) abortada por um telefonema urgente que chegava à redação....Vai separando as fotos, Aninha
Ana Vieira: Mônica Bichara Tava me lembrando que vc me pediu fotos ..Vou fazer isso, sim. Você sabe que eu admiro e adoro vc.
Mônica Bichara: Ana Vieira para dar continuidade à série #MemóriasJornalismoEmiliano editada com fotos e comentários no Pilha Pura
Ana Vieira: Mônica Bichara eu sei.To acompanhando
Mônica Bichara: Quero fotos antigas, reproduções de jornal, o q tiver, e novas tb
Jose Jesus Barreto: Ana Vieira num dava pra poetar. Era jornalismo puro. Outra pegada rsrsrs
Jose Jesus Barreto: Emiliano José bj. Se assossegue em casa, viu?
Emiliano José: Jose Jesus Barreto Rapaz, de recolhimento tenho experiência...
Jose Jesus Barreto: Emiliano José num é? Rsrsrs. Aproveita pra escrevinhar
Emiliano José: Jose Jesus Barreto Tentando
Isabel Santos: Você escrevinha e a gente se delicia, Emiliano. Pegando a ponga dos comentário, é tão gostoso bolar uma pauta. É pauleira, mas quando bem transada, dá um ânimo para repórter tentar cumprir. Aprendi os meandros da pauta na faculdade, com Pedro Formigli. O que muito me inspirou quando exerci, por um breve tempo, a função na Tribuna da Bahia. Gostava dar toda a orientação possível ao repórter, 'mastigava'. Meus primeiros pauteiros foram os queridos Antônio Almada e Paulo Tavares, os tempos do Diário de Notícias. Que bom lembrar desse tempo nessa rica trajetória de Ana Vieira. Ela e Antônio Matos eram figuras queridas de A Tarde.
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(Com o ex-governador Waldir Pires)

Emiliano José
27 de março 2020
Mulher de quatro turnos

Depois da passagem pelo "Jornal da Bahia", alguns anos em "A Tarde", Ana Maria Vieira já não tremia diante de mais nada.
Quando lhe dava alguma tarefa, Chico Ribeiro Neto dizia:
- Esta é sua porque você é puta velha.
Com todo respeito.
Agora, tremer mesmo, pra valer, não obstante puta velha, foi diante de uma tarefa dada por Jorge Calmon, o veterano redator-chefe de "A Tarde".
Estava posta em sossego na redação, quando doutor Jorge a chama - vá lá saber a razão pela qual todos o chamavam "doutor Jorge".
Tradição, não é?
Uma cultura advinda de tempos senhoriais, sei lá.
Não creio fosse exigência dele.
Vi milhares de pessoas cumprimentarem Waldir Pires assim.
Era "doutor Waldir" o tempo todo.
Mal não fazia.
Jorge Calmon a chama e propõe representá-lo no Clube de Diretores Lojistas.
Representá-lo significava fazer uma palestra sobre o Código de Defesa do Consumidor, em discussão no Congresso Nacional.
Tremeu.
Tinha pavor de falar em público.
O redator-chefe não permitiu sequer ensaiasse um mas, um veja bem.
Era sereno, educado, mas sabia dar ordem.
Era ordem.
Lá foi ela, tremendo feito vara verde.
Auditório lotado.
Havia pesquisado, tinha domínio do assunto.
Se não há remédio, remediado está.
Não havia saída.
Começou um pouco claudicante, olhou pro auditório, percebeu o interesse, sentiu empatia, foi em frente, ela própria surpresa com seu desempenho.
Quando terminou, muitas pessoas cercando-a, querendo fosse falar em suas lojas.
Aceitou não.
O medo ainda a tomava quando pensava em falar para auditórios.
Vida dura.
Ana Maria deu conta de quatro turnos durante algum tempo.
Jornalista em "A Tarde".
Assessoria de Imprensa na Secretaria de Administração, ao lado de Mônica Bichara.
Professora da rede estadual à noite.
E cuidar dos filhos.
Brinquedo, não...
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Isabel Santos: Brinquedo, não. Imagino o sufoco da colega. Era assim com muitas jornalistas, que precisavam de todos os turnos (se fosse possível, acrescentariam mais) para dar conta de todas as demandas. Era duro, mas era gratificante, né. Ana? Por isso, pé muito emocionante ver tudo isso poeticamente relatado por Emiliano José nas suas memórias.
Mônica Bichara: Minha chefinha na Saeb.....como esquecer? Conhecemos bem essa rotina de galho em galho, uma redação, uma assessoria, uns "bicos" de vez em quando, filhos.....Esse corre-corre sempre fez parte da vida dos jornalistas pra conseguir uma renda melhorzinha 
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(Com Emiliano José no lançamento da biografia do ex-governador Waldir Pires)

Emiliano José
28 de março 2020
Na outra encarnação, jornalista.

Viajar, viajou muito.
Ana Maria Vieira correu mundo interior afora no governo Waldir Pires.
E em outros governos.
Foi trabalhar com crianças e adolescentes em conflito com a lei, chamados assim à época.
Nem eram tratados como crianças e adolescentes - era "de menor" se cometesse algum ato infracional.
Ainda era tempo do Código de Menor.
Chegou à Fameb, dirigida pelo professor Elísio Brasileiro.
Foi experiência rara na vida.
Aprendizado e tanto.
Uma revolução no pensamento.
Acompanhou de perto as discussões sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma verdadeira revolução.
Espécie de carta de alforria das crianças e adolescentes do Brasil, tornada uma referência mundial.
Estabelecia proteção integral à criança e ao adolescente.
Vinha na esteira dos avanços democráticos inspirados na Constituição de 1988.
Foi assinado no dia 13 de julho de 1990.
Criança, considerada até os 12 anos.
Adolescente, dos 12 aos 18 anos.
Ana Maria se arrepia, treme de indignação quando ouve falar em redução da maioridade penal.
Tornou-se uma entusiasta do ECA.
Viu a recuperação de muitos no decurso de cumprimento de medidas socioeducativas.
Sabe: o ECA nunca foi respeitado integralmente.
Um conjunto de políticas devia ser executado para isso.
Educação, saúde, cultura, assistência social, tantas outras áreas deviam olhar para as crianças e adolescentes.
Apesar de tudo, inegavelmente um avanço.
A ser defendido.
Depois, sempre jornalista, foi para a Secretaria de Trabalho e Ação Social.
Outro mergulho em questões sociais.
Trabalho infantil, desemprego, população de rua.
Reconhece: o secretário Heraldo Rocha valorizava muito o trabalho da comunicação, sob a responsabilidade dela.
Mais tarde, passa sete anos no Planserv.
Está hoje no Centro de Referência para Diabetes e Obesidade (Cedeba), orgulho para o SUS, na opinião dela.
Completou oito anos no Cedeba.
Já lá se vão 38 anos de trabalho.
Caminhando para os 70 anos, não quer parar.
Costuma dizer: qualquer trabalho é uma Disneylândia para quem enfrentou jornal diário.
Contudo, se tiver outras vidas quer voltar a ser jornalista.
Foi pra lá, foi pra cá, muitas assessorias, mas sempre o sonho de escrever pra mais gente, viver a vida louca da pauta inesperada.
Mariana, neta de sete anos, aprendeu:
- Vovó, jornalista não desiste.
Se desistir, não é jornalista.
#MemóriasJornalismoEmiliano

COMENTÁRIOS

Ana Vieira: Heraldo Rocha,
Jorginho Ramos: QUE bela a História e as histórias de Ana Vieira. !
Ana Vieira: Jorginho Ramos você que ė bom de História e Geografia identificou a cidade da foto,? rsrs
Jorginho Ramos: Eis alguns registros da enchente de 1960. Foi por uma dessas janelas ( mais precisamente a última da esquerda à direita) que saímos pela janela. Note que a linha d'água cobria a porta. Na janela estão meu pai e dois amigos, fazendo a limpeza da casa pois após sairmos água alcançou o 2° piso. As outras imagens são registros da imprensa na época.
Ana Vieira: Jorginho e Luis Guilherme Pontes Tavares são jornalistas - historiadores.
Emiliano José: Ana Vieira São.
Emiliano José: Só Jorginho pra recuperar tudo isso. E agora na quarentena, então, quem segura?...
Mônica Bichara: Desistir, essa aí não desiste mesmo.....O jornalismo tá no sangue, na alma 
                                    ************************************ 

PROFISSÃO - FAMÍLIA - AMIGOS

(O sorriso fala mais que palavras. A emoção da formatura em jornalismo pela UFBA)

(Enchente do Rio Paraguaçu, década de 1970, cobertura com o fotógrafo Waldir Argolo)


(Caderno de Turismo)


(Luta dos moradores pelo Parue da Boca do Rio)


(A viagem foi para Editoria de Economia, um trekking para jornalistas de todo o Brasil, 15 anos do uísque Natu Nobilis. Aproveitou e fez grande matéria sobre o Parque Nacional do Itatiaia)

Entrevista com o saudoso maestro Vivaldo Conceição, em 84, para o Caderno 2) 

(Matéria sobre saúde, uma das paixões) 

( Junho de 1884. Uma pauta sobre as ruínas do clube Costa Azul resgatou a vida de Sebastião)

(Primeira festa do Dia das Mães na escola de Fábio)

 (Corujando a netinha Mariana)

 (O filho Camilo na festinha de São João)

(Viajando com os filhos Fábio e Camilo)





 (Realizada na formatura do filho Camilo em Medicina. Esse sorriso radiante diz tudo)

 (Formatura de Fábio em História)

(Formatura de Camilo em medicina na UFBA. Realização de um sonho)

(O "erro" na educação: a torcedora do Bahêa perdeu essa partida por 2 x 1 )

 (Em 2006 , vivendo a turbulência do divórcio(o lançamento foi uma semana antes de assinar os papéis) Ana Vieira lançou "Mulheres do Vento, Mulheres do Tempo", trabalho feito conjuntamente com a jornalista Lydia Silva. O livro traça o perfil de 100 mulheres afrodescendentes baianas. Foi um trabalho para "A Mulherada", de Monika Kalile. Algumas já estão em outro plano, como Makota Valdina e Mãe Stela. Várias jornalistas estão no livro: Sônia Araujo, Cleidiana Ramos, Lady  Eva...)


 (Creuza Oliveira, grande defensora dos direitos das domésticas)



 (A querida Lady Eva)
(Cleidiana Ramos)

(Sônia Araújo)

(Aldaci dos Santos)

 (O reconhecimento da APAE)

(Já está pouco visível o registro da homenagem da Andi, há 20 anos. Jornalista Amiga da Criança e do Adolescente. Momento especial da carreira, em Brasília) 

(Em Itatiaia-RJ, cumprindo pauta de economia com jornalistas de todo o Brasil)

(Na casa de Fabio, embevecida pela música)


 (Em Florianópolis,um mês antes da posse de Collor, com o filho Fabio)


(De catamarã a caminho de mangue Seco)



(Em BH  com  Ângela Guimarães e Sônia Araújo no Cirq de Soleil. Programa para as  crianças)  

(No Cedeba com a psicóloga Viviane Oliveira, registrando o trabalho de educação com os pacientes)


(Homenagem ao ator Othon Bastos, que recebeu o título de Cidadão de Salvador, na Câmara Municipal, em 2019, com Aurora Vasconcelos, Isabel Santos e Mônica Bichara)




Comentários

  1. Muito bom ler esses relatos , não resta duvida que é uma emicionante viagem no tempo a gente vai relembrando de tanta gente, tantos fatos que já estavam esquecidos. Muito bom. Adorei essas lembranças de Ana Maria

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  2. Relembrar tantos momentos maravilhosos da trajetória de nossos colegas, da qual participamos também em vários momentos, é algo muito maravilhoso. Graças à sensibilidade do nosso querido colega professor, escritor Emiliano José, que nos faz voltar no tempo com muita leveza, espirituosidade e criatividade. É um poeta. Parabéns, Ana Vieira pela sua história. E, mais uma vez, aplausos para a edição da querida Mônica Bichara.

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    1. Valeu Bebel, é realmente um mergulho no tempo. E esse baú de Ana tá imperdível

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  3. Que linda história Ana!!! Continua uma repórter incansável , determinada, e disposta a dar o melhor de si! Um orgulho trabalhar com você!! um grande abraço Ana querida!!!

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    1. esqueci de me indentificar! Viviane Oliveira, sua colega psi.

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