Quantas encarnações tiver, como diz Emiliano José, Ana
Maria Vieira vai querer voltar jornalista. Até a netinha Mariana já sabe que “jornalista
não desiste nunca’, de tanto ouvir histórias da avó. Conheci Ana logo quando iniciei
na carreira, eu no Jornal da Bahia, e pouco tempo depois tive a sorte de
trabalhar com ela na assessoria da Saeb (Secretaria de Administração). Chefinha
querida. E aqui ela abre o coração e o baú pra relembrar fatos marcantes da
carreira, coberturas inesquecíveis, o corre-corre pra dar conta de quatro
turnos (redação, assessoria, sala de aula e filhos), emoção à flor da pele, tudo isso traduzido pela veia literária do mestre Emiliano na série
#MemóriasJornalismoEmiliano
#MemóriasJornalismoEmiliano
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Emiliano José
13
de março 2020
Repórter PPC
Sempre
digo: a gente vai passando, as pessoas nos olhando.
Não
conhecemos suas impressões.
Se
boas.
Se
ruins.
Melhor
assim, talvez.
Convivemos
em meio ao teatro da vida.
E a
vida segue.
Só
agora, mais de quatro décadas passadas, estou conhecendo Ana Maria.
Conhecendo
um pouco mais.
Não
me recordava houvesse algum dia dito, por exemplo:
-
Jornalista tem que ser PPC.
Mas
disse.
O
que eu queria dizer com isso?
Ana
Maria Vieira traduz, me revelando, ou fazendo a leitura de minha atuação como
chefe:
-
Emiliiano nos fazia reescrever o lead quantas vezes fossem necessárias, mas
também cobrava qualidade na apuração.
E eu
lembro disso, nada!
Diz
de minha paciência, seria marca muito forte em mim.
Nunca
me considerei paciente, mas, quem sabe, na condição de Chefe de Reportagem
tenha sido.
Dava
lições rápidas:
- Na
sua ótica, repórter tinha de estar pronto
para
qualquer cobertura.
Aumento
da demanda de passagens para o interior no período de São João.
Do
preço do quiabo em setembro.
Carência
de transportes urbanos.
Problemas
de saúde, educação, saneamento.
Saber
lidar com atracação de navio e parto de onça.
E eu
hoje tanto tempo passado intrigado com o tal jornalista PPC:
-
Emíliano repetia: repórter tem que ser PPC.
Mas
qual o significado disso:
-
Pique para apurar e escrever. Rapidez.
-
Tem que ter peso, sinônimo de conhecimento, informação.
- E
choque - precisa estar preparado para enfrentar as adversidades.
-
Então, repórter PPC é de pique, peso e choque!
Isso,
diz Ana, era muito importante nos tempos antecedentes ao mundo digital... #MemóriasJornalismoEmiliano
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(Formatura em jornalismo pela UFBA)
Emiliano José
14
de março 2020
Josué de Castro x
Ferreira de Castro
No
jornalismo, cuidado na apuração é essencial.
Apurar
com zelo o acontecimento.
Cercá-lo.
Aguçar
o princípio da desconfiança.
Será
verdade a palavra da fonte?
Mais:
tomar cuidado com os nomes das fontes.
Ana
Maria Vieira aprendeu Isso no "Jornal da Bahia".
Aprendizado
útil para a vida toda.
Mais
tarde, em "A Tarde", testemunhou a demissão de alguns colegas por
trocarem o nome da fonte.
Jorge
Calmon, redator-chefe de "A Tarde por muito tempo, não perdoava um erro
desses.
Ela
se recorda de uma troca imperdoável.
A
matéria era sobre Josué de Castro, autor de "Geografia da Fome" entre
tantos livros a tratar da fome no Brasil e no mundo.
Sabe-se
lá por que, o repórter substituiu o pernambucano por um português, o grande
romancista Ferreira de Castro, autor de ''A curva da estrada" e tantos
outros.
Demitido.
Sem
apelação.
No
"Jornal da Bahia" havia muitas feras do jornalismo - relembra Ana
Maria.
Muitos
partiram cedo.
Dailton
Mascarenhas e Jânio Lopo foram para o reino dos encantados ainda novos.
Dois
grandes jornalistas.
Recorda-se
de Arnaldo, Dalton, Fagundes...
Tanta
gente boa, diz, deixando escapar um suspiro nostálgico.
A
equipe feminina era notável - as lembranças ainda são do "Jornal da
Bahia":
-
Lúcia Cerqueira, que já nos deixou. Um dos melhores textos do jornalismo
baiano. Embora o de Jaciara Santos seja o melhor dos melhores. Lembro muito do
jeito calmo de Linalva Maria, repórter de muita coragem. Também partiu cedo.
Sacar
a importância do repórter fotográfico foi outro ganho no "Jornal da
Bahia".
-
Aprendi muito com Anízio Carvalho, Vigota, Renato Almeida, entre tantos.
Não
se esquece da união da equipe, do compartilhamento.
Os
mais experientes ensinavam aos mais novos.
Não havia
clima de disputa.
Finais
de tarde, alguns iam à padaria, compravam pão, queijo e presunto.
Os
sanduíches-bisnaga eram divididos na mão grande, nada de faca.
Quando
chovia, ah quando chovia...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Graça Azevedo: Minha sócia
Jaciara Santos broca!
Jaciara Santos: Graça Azevedo
vocês... Sei não!♥️♥️♥️♥️
Graça Azevedo: Jaciara Santos 😘😘😘
Mônica Bichara: A melhor, melhor
das melhores
Graça Azevedo: Mônica Bichara
Eu só sei que tirei a sorte grande quando fizemos a sociedade!
Jaciara Santos: Graça Azevedo
você...
Graça Azevedo: Jaciara Santos
Ôxi! Duas jornalistas do quilate de Mônica Bichara e de vosmicê, vou querer
mais o quê? Com direito a rima!
Mônica Bichara: Graça Azevedo já
tem direito a diploma de jornalista
Graça Azevedo: Mônica Bichara
Muito ocupada com a nossa editora! Não fosse isso ia fazer o curso!
Albenísio Fonseca: "Mate o
homem, mas não mude o nome", costumava repetir Paixão Barbosa, na Redação
de A Tarde.
Emiliano José: Albenísio
Fonseca Paixão é um dos grandes!
Eremildes Ferreira: Leia essa
matéria Almeida Hugo Victor... cita seu pai...
Victor Hugo Almeida: Eremildes
Ferreira eu sinto que o pouco da visão analítica e mente construtiva em relação
a percepção ampla do comportamento humano, puxei dele. Tenho muito a agradecer
pela herança cultural que ele e a senhora me proporcionaram através dos genes. ❤🙏
Eremildes Ferreira: Victor Hugo
Almeida Seu pai Renato Almeida era muito bom no que fazia...sem contar que
tinha uma facilidade incrível pra escrever e falar... isso você herdou dele...❤️
Mônica Bichara: Eremildes
Ferreira comentei ontem e meu comentário sumiu. Qdo li lembrei logo dele, meu
querido amigo Renato
Eremildes Ferreira: Mônica Bichara
Você tinha um carinho muito grande por ele... como ele também por você...❤️
Mônica Bichara: Eremildes
Ferreira não tenho dúvidas, querida
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Emiliano José
15
de março 2020
Confesso que vivi
Ana
Maria Vieira mergulha nas lembranças do "Jornal da Bahia".
Repórteres,
chefes.
Fala
de Anísio Félix.
Não
era tão paciente como ela gostaria.
Em
compensação, vibrava com o trabalho dos repórteres e focas.
Viveu
com ele uma experiência nunca esquecida.
Era
uma tarde modorrenta na redação da Barroquinha.
13
de abril de 1977.
Ela,
menos de um mês no jornal, ainda inexperiente.
No
plantão.
Cunha
irrompe lá do fundo da redação aos berros.
José
Lopes da Cunha era o redator-chefe.
Os
berros eram dirigidos a Anísio:
- O
governador Roberto Santos vai dar coletiva agora sobre o fechamento do
Congresso. Você não tem repórter na casa?
Anísio
disse a Cunha, enquanto sacudia as cinzas de seu inseparável Continental sem
filtro:
-
Deixe comigo!
Olhou
pra Ana.
Não
precisava dizer nada.
Tremeu
um tiquinho assim, mas gostou do desafio.
Jornalismo
tem disso: os dias nunca são iguais.
Está
tudo calmo, e de repente, alvoroço.
Ao
chegar no Palácio da Aclamação, outro frio na barriga: povoado de feras do
jornalismo, vários repórteres das sucursais.
Lembra
bem do grande Raimundo Mazzei, de "O Globo".
Cumpriu
a tarefa.
Foi
uma cobertura histórica para ela.
Para
um jornalista mais experiente, aquela podia ser uma matéria corriqueira.
Para
Ana Maria, uma coisa nova, desafiadora, a abrir as portas para o conhecimento
da realidade política.
O
general Geisel, quarto ditador desde o golpe de 1964, baixava o denominado
"Pacote de abril".
Com
ele, fechava momentaneamente o Congresso Nacional, vontade confessada do atual
presidente, cabe lembrar.
Mantinha
eleições indiretas para presidente da República.
E
instituía a figura do senador biônico, entre outras medidas.
Era
o medo da repetição do resultado da eleição de 1974, quando o MDB deu um banho.
Ditadura
é ditadura.
O
governador deu as explicações, ela registrou.
Até
hoje, Ana Maria é agradecida pela chance dada por Anísio.
Já
se disse, mas insisto: Anísio era um grande companheiro, e foi importante líder
dos jornalistas sob a ditadura.
O
Continental sem filtro pode ter sido fator essencial para sua partida precoce.
Mas,
e daí?
Viveu
a vida.
Desfrutou
dela.
Todo
ano viajava à Europa.
Poderia,
como Neruda, exclamar:
-
Confesso que vivi!
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Ana Vieira: Muito
interessante o trabalho de resgate que o jornalista, escritor e político
Emiliano José vem fazendo a partir de relatos de jornalistas .
Mônica Bichara: Acompanhando as
memórias de Ana Vieira, amiga querida, e relembrando as minhas. Eitcha que o
Jornal da Bahia foi uma escola maravilhosa para todos nós, grandes lembranças
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(Começando no JBa. Pegava Fabio na escola, nos Barris, levava
em casa e volta para o jornal à tarde para bater o texto. Muita canseira!)
Emiliano José
16
de março 2020
Chutando o pau da
barraca
Chuva
era um desassossego.
Era
chover e a Barroquinha virava mar.
Entrar
pela porta da frente do "Jornal da Bahia", impossível.
A
alternativa era chegar pela porta dos fundos.
A
entrada principal, reservada para quando Deus desse bom tempo.
Ana
Maria Vieira pisou na lama e na água já como foca, condição iniciada depois da
conclusão do curso de Jornalismo, na Escola de Biblioteconomia e Comunicação
(EBC).
Na
EBC, aprendeu muito.
Assimilou
valores ensinados pelos mestres.
Assentou
pilares teóricos, a lhe valerem por toda a vida.
Mas
faltava a prática.
Não
fora feito ainda o indispensável casamento entre teoria e prática.
Chegar
a isso, a ser foca, demorou um pouco.
Ana
Maria concluiu o curso na EBC, e na semana seguinte se casou.
Trabalhava
numa grande empresa.
Tinha
um bom salário.
Como
largar?
Era
da área de Mercadologia.
Escrevia
argumentos para os vendedores das Páginas Amarelas.
Avaliava
critérios econômicos das habitações para distribuição dos produtos.
Cresceu
na empresa.
Nova,
nova ocupou cargo de chefia.
Ascensão
interrompida pelo adoecimento do primogênito Fábio, cujo primeiro aniversário
foi comemorado no hospital.
Chutou
o pau da barraca.
Largou
tudo para cuidar do filho.
Que
mãe sou eu?
A
única renda agora seria a de professora da rede estadual, onde dava aulas à
noite.
Há
decisões capazes de mudar inteiramente o curso de uma vida.
Esta,
uma delas.
Dez
meses depois, Ana Maria decidiu voltar a trabalhar.
Agora,
mergulhar no Jornalismo.
Nada
de Mercadologia mais.
Virada.
Falou
com Miguel Reis, colega de turma na EBC, e foi apresentada a José Lopes da
Cunha, redator-chefe do "Jornal da Bahia", onde Reis trabalhava.
A
legislação de então permitia um ano de estágio mesmo para os graduados em
Jornalismo.
Começou
assim - repórter estagiária a caminho da profissionalização.
Remuneração:
salário mínimo.
Muito
pouco se comparado com seu último salário.
Encarou.
E
jamais se arrependeu...
#MemóriasJornalismoEmiliano
Ana Vieira: Mary Miranda de
Oliveira, João Camilo Cunha, Jussara Miranda Melo, Dilma Almeida, Vitor Hugo
Soares
João Camilo Cunha: Ana Vieira uma
das coisas que senti depois que deixei de ler habitualmente no jornal A TARDE,
foi deixar de ler as belas crônicas de Vitor Hugo Soares.
Vitor Hugo Soares: Grato, Camilo.
Muito obrigado. Uma honra para mim tê-lo como leitor.
João Camilo Cunha: Ana Vieira. Lhe
conheci nos idos de 1972 na Editora de Guias LTB, aliás só LTB, minha grande
escola, onde aprendi ser profissional. E olhe que tinha trabalhado antes em
duas multinacionais.
A
LTB foi minha grande escola.
Voltando
a você (desculpa, mas vou ter de tocar no assunto), recordo aquele dezembro,
não recordo o ano, quando fui testemunha do seu casamento em Paulo Afonso.
Saímos
da empresa, nos afastamos, mas sempre em contato, você no jornal A Tarde, eu em
Camaçari, onde voltei em 2017 a trabalhar pela terceira vez. Já trabalhei em
Camaçari quase 20 anos. Mas não esqueço a LTB. O escritório da Rua dos
Algibebes, edifício OS GONÇALVES. O prédio da Avenida Presidente Wilson e o da
Visconde de Inhaúma, no centro do Rio, onde estive algumas vezes; já em São
Paulo, onde fui inúmeras vezes, o prédio da Avenida Liberdade, 956; o da Rua
Cincinato Braga; o da Avenida Paulista.
Dos
mais de dois anos que passei em Fortaleza.
É
como se a LTB fosse um vírus, que inoculou no sangue e a gente não esquece.
Obrigado
pelo belo texto de Emiliano José.
Um
abraço todos e todas que trabalharam nesta grande empresa, mencionados ou não
acima.
Sempre
que vou a São Paulo e passo na Liberdade e na Paulista, me lembro dela.
João Camilo Cunha: Tenho dois
livros de Emiliano José.
Ana Vieira: João Camilo
Cunha você levou a biografia de Waldir Pires que ele escreveu? são dois
volumes.
Emiliano José: João Camilo
Cunha Honrado por tê-lo como leitor. Abraço
João Camilo Cunha: Ana Vieira não.
o livro sobre a morte de Lamarca e outro meio uma biografia, que conta
passagens da vida dele.
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Emiliano José
17
de março 2020
Perdendo o sono
Os
primeiros dias do trabalho na reportagem são emocionantes.
Às
vezes, dolorosos.
É
uma espécie de descoberta do mundo.
O
jornalismo lhe apresenta o mundo.
Em
branco e preto.
Um
dia, Ana Maria Vieira, no "Jornal da Bahia", teve como tarefa
acompanhar o veterano repórter Francisco Fagundes de Oliveira Filho.
Ia
para uma espécie de treinamento.
Foca
sofre.
Seguiu
no carro ela, Fagundes e o fotógrafo.
No
caminho, soube a pauta.
Prefeitura
ia derrubar os barracos de uma invasão no IAPI.
Invasão
era o nome dado à ocupação de terras pelos deserdados da sorte.
Duro
assistir bate-paus botando abaixo as precárias habitações de pau a pique as
mulheres e crianças chorando résteas de esperança destroçadas.
Demais
para uma foca.
Chega
em casa à noite e quase se culpa pelo seu conforto, seu teto.
Sim,
qual o crime daquela gente?
Estava
lutando pelo direito de morar.
Jantou
com.a família e não demorou muito tempo para ir para a cama.
Fora
um dia cansativo.
Dormir
mesmo, demorou pra burro.
Era
fechar os olhos, e as imagens da violência apareciam nítidas.
Barraco
por barraco num desenho lógico iam ao chão.
Sem
piedade.
Generosa,
afirma tenha eu sido decisivo para o aprendizado e crescimento dela:
-
Além de discutir o enfoque da matéria, pedia para reescrever com seu jeito leve
e educado de ser. "Você sabe apurar", me dizia. "Isso é muito
importante, mas vamos colocar sal no texto". Ele me ensinou que é preciso
passar emoção.
Eu
era Chefe de Reportagem.
Teixeirinha
- José Carlos Teixeira - Subchefe e pauteiro.
Pauta
do Dois de Julho.
Ela
conta minha recomendação...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Lucia Correia Lima: Vou te mandar .
o que escrevo ficou longo vou resumir
Emiliano José: Lucia Correia
Lima Ótimo
Mônica Bichara: Aninha, querida,
vai juntando fotos para nossa edição no PilhaPura. Estou acompanhando com
emoção suas lembranças
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Emiliano José
18
de março 2020
Um grande amor
Não,
não me recordo.
Ana
Maria Vieira revela tê-la chamado e dado orientação para a cobertura do Dois de
Julho.
Cubra
o não-oficial, preste atenção nos acontecimentos fora da programação oficial.
Essa
teria sido minha orientação.
Ela
não datou, mas creio seja o Dois de Julho do ano da graça de 1977.
Quase
43 anos passados, hein Ana?
Em 2
de julho de 1823, concluiu-se a independência do Brasil, com a vitória contra
as tropas portuguesas em terras baianas.
Ela
seguiu a orientação.
Cunha,
redator-chefe, não gostou.
Pediu
a Oldack Miranda, responsável pela edição naquele dia, pra dar uma olhada no
texto.
Miranda
perguntou se a matéria havia sido escrita por ela:
-
Sim - respondeu, um pouco temerosa.
Que
será, que será?
Miranda
leu a matéria, passou a caneta como costumamos dizer, e depois, no seu
conhecido estilo, comentou com ela:
-
Veja que tirei suas sutilezas de elefante.
É um
aprendizado duro, o de jornalista.
O
principiante sofre.
Vem
um chefe diz uma coisa.
Logo
depois, outro muda tudo.
Só
com o tempo você vai firmando um jeito, encontrando seu estilo.
E aí
pode brigar por suas sutilezas, até as de elefante, se for o caso.
Alegra-me
não estivesse sozinho na orientação de passar emoção ao texto jornalístico.
Frederico
Simões também insistia nisso.
Tasso
Franco, da mesma forma.
Ana
Maria recorda-se dos dois com muito carinho.
No
"Jornal da Bahia", passou pouco mais de um ano.
Uma
experiência inesquecível.
Pediu
demissão.
O
salário em "A Tarde" era o triplo do pago pelo "Jornal da
Bahia", e ela havia sido convidada a mudar de casa.
Frederico
Simões assustou-a:
-
Você vai para "A Tarde"?
-
Vou - Ana Maria respondeu.
Ele
olhou fundo nos olhos dela e perguntou:
-
Você sabe o que é "A Tarde"?
Nada
mais disse.
Uma
pergunta intrigante.
Nunca
compreendeu o sentido mais profundo dela.
Apesar
do susto, foi.
Era
uma tarde de sexta-feira.
Último
dia no "Jornal da Bahia".
Acompanhou
Alba Regina numa reportagem.
Registra:
nunca mais a viu depois da arribação dela para Ilhéus.
Ao
sair, deixou uma despedida no mural.
Chorou
Chorou
muito.
Estava
deixando o Dadau Biia, como dizia seu filho aprendendo a falar.
Era
o fim de um grande amor.
#MemóriasJornalismoEmiliano
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Emiliano José
19
de março 2020
Sofrendo na chuva
Pensando
no amor.
Um
se vai.
Surge
o novo.
Foi
assim pra Ana Maria.
Chorou
com o término da experiência do "Jornal da Bahia".
Sentiu
muito.
Foi
experiência de pouco mais de um ano.
Jamais
esquecida.
O
fim de um amor pode ser um sossego.
Outros,
mesmo finalizados, só deixam saudades.
Caso
do "Jornal da Bahia" para ela.
"A
Tarde", o novo amor, foi uma vida: 25 anos, três meses, dezenove dias.
Tempo
que só a porra.
Zoraide
Vilas Boas foi a alma boa a indicá-la.
A
vaga aberta era para a Editoria de Turismo.
Ana
Maria explicou: dava aulas à noite, não tinha condições de viajar.
Quase
um impasse.
Jorge
Calmon, o redator-chefe, encontrou uma solução.
Josemário
Luna para o Turismo.
Ela,
para a Editoria de Cidade.
Claro,
fosse para Turismo, e teria as delícias de conhecer terras alheias.
Cidade,
no entanto, é uma experiência indispensável a qualquer repórter.
Já
havia passado pela Geral no "Jornal da Bahia".
Englobava
Cidade.
Mas
fora uma experiência rápida, e maior parte como foca.
A
Editoria de Cidade dá ao repórter uma visão ampliada da realidade.
Educação,
saúde, urbanismo, trânsito - tanta coisa.
Você
toca, apalpa as coisas do mundo, nem sempre belas.
As
chuvas de Salvador faziam-na sofrer.
Revelavam
a desigualdade social profunda da cidade, a carência de políticas públicas de
habitação, saneamento, a existência de uma grande população vivendo em
condições precárias, precaríssimas.
A
cada chuva intensa, mortos, feridos, desabrigados.
Mães
sofrendo com filhos mortos.
As
casas deslizando das encostas como se fossem de papel.
De
papelão eram, às vezes.
As
encostas da cidade.
Homens
chorando feito meninos diante dos corpos de filhos, parentes.
A
tragédia social exposta.
Nossa
histórica desigualdade, a dura herança escravocrata, não enfrentada.
As
chuvas, o desabamento das casas, mexiam muito com suas emoções.
E a
expunha a perigos.
Numa
dessas coberturas sobre a chuva, já voltando para a redação, junto com
Beretinha, repórter fotográfico, nas mãos um material gelado, nenhuma novidade,
ouve pelo rádio do carro...
#MemóriasJornalismoEmiliano
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Emiliano José
20
de março 2020
Esquiando na lama,
crianças mortas
Esquiar.
Ana
Maria Vieira até pensou um dia.
Sair
da beira da praia.
Não
nos Alpes suíços, um delírio.
Aqui
pelo Sul do Continente mesmo.
Sonhava.
Esquiou
um dia.
Na
lama.
Saíram
ela, o motorista e Beretinha.
Lourival
Custódio dos Anjos era conhecido como Beretinha.
Fotógrafo.
Chuva.
Salvador
encharcada.
Correram
trecho.
Água
caindo.
Insistente.
Rodam,
rodam, Beretinha fotografando tentando capturar situações interessantes para a
matéria.
Ana
Maria, anotando.
Jornalista
é um bicho curioso.
Sofre
diante da tragédia.
Sofre.
Mas,
fica incomodado quando tem de voltar para a redação com matéria fria.
Era
o caso aquele dia.
Os
três, silenciosos, depois das andanças, voltavam para a redação.
Ana
Maria, convicta de ter à mão matéria gelada.
Súbito,
ouvem notícia pelo rádio.
Muro
desaba e mata uma família.
Alto
da Favela, Federação.
Meia
volta.
Muita
lama pra vencer.
Ela
se amparando em Beretinha.
Esquiaram
até chegar ao local da tragédia.
Não
dava para caminhar.
Iam
deslizando.
Beretinha
foi a salvação de Ana Maria.
Os
corpos misturados aos escombros.
Ana
Maria teve de segurar as lágrimas.
Nó
na garganta.
Duro,
duro saber: a mãe das crianças mortas sobreviveu.
Estava
no Pronto-Socorro do Canela.
Imagine
quando despertasse e se visse sem os filhos, sem marido, sozinha no mundo, a
vida destroçada.
Ana
Maria anotando e pensando: a inexistência de políticas habitacionais mata.
A
miséria mata.
Chegou
ao jornal ao final da tarde, coberta de lama, arrasada.
Recebeu
os parabéns de Chico Ribeiro Neto, Chefe de Reportagem de "A Tarde"
então.
Sentou,
escreveu.
O nó
na garganta, ali.
Quase
não dorme naquela noite...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Ana Vieira: Chico Ribeiro
NetoNeto.Voce lembra?
Chico Ribeiro Neto: Ana Vieira
Lembro, sim, emocionante. No jornal da Bahia cobri a derrubada do Marotinho.
Muito triste também
Mônica Bichara: Nossa! Não tem
cobertura mais dolorosa
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Emiliano José
21
de março 2020
Chico Ribeiro Neto
Compreendo
a lembrança carinhosa de Ana Maria Vieira.
Francisco
Ribeiro Neto é um honrado e competente jornalista.
De
história longeva.
Vida
intensa.
Muito
discreto, história pouco conhecida.
Desde
jovem, envolvido com as melhores causas da humanidade.
Desde
cedo, da cultura.
Da
arte.
Devo
contar?
Do
pouco chegado a mim, me atrevo.
Desde
1964 atuava no Grupo de Teatro do Colégio Central, antro de comunistas e
subversivos de toda espécie.
Foi
naquele ano, fatídico ano, o do terrível golpe, a encenação da peça "Do
Tamanho de um Defunto", de Millôr Fernandes, sob a direção de Haroldo
Cardoso.
Ele,
já atuando.
Com
tantos outros: Emanueli Marimpietri, José Cordeiro Filho, Ângelo Oliva, José
Nogueira Neto, Marie Hélène Russi, Jurema Augusta Ribeiro Valença, Nemésio
Garcia, Ruth de Brito Lemos, Orlando Lacerda e Mário Galrão.
Muitos
estarão envolvidos na luta política aberta contra a ditadura.
O
grupo teatral era em si mesmo uma clara expressão de luta contra a ditadura.
A
cultura nunca se ausenta da luta pela liberdade.
Em
maio de 1966, o diretor do Central, Walter Reuter, decidiu proibir a peça
"Aventuras e Desventuras de um estudante".
Ateou
fogo em mato seco.
A
moçada do Central declarou-se em greve.
Não
aceitou a suspensão dos sete colegas do Gateb, como era chamado o grupo de
teatro.
Reuter
os chamava de subversivos e marxistas.
Os
sete subverso-marxistas eram Carlos Sarno, Jurema Augusta Ribeiro Valença, Ruth
de Brito Lemos, Alexandrina Luz Conceição, Zoroastro Pena Santana, Nemésio
Garcia e o nosso Francisco Ribeiro Neto.
A
peça era da autoria de Carlos Sarno, mais tarde meu companheiro de prisão.
Nemésio
Garcia, também conviverá comigo na Galeria F.
Jurema
Valença cumprirá pena no Forte de Santo Antônio Além do Carmo.
O
Gateb botou fogo na cidade.
Os
estudantes não deixaram por menos.
Ditadura
é ditadura.
O
Grupo dos Sete foi expulso.
E
todos proibidos de estudar em escola pública.
Quiserem,
há mais detalhes no primeiro volume do "Galeria F : Lembranças do Mar
Cinzento", de 2000.
Chico
Ribeiro Neto buscou caminhos no jornalismo, onde cresceu e formou gerações,
redações afora.
Ana
Maria me fez lembrar dele, grande amigo e companheiro, exemplo de profissional
e de cidadão.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Ana Vieira: Justo e
verdadeiro o reconhecimento do grande jornalista,escritor e político Emiliano
José a vc, Chico Ribeiro Neto..Na minha longa caminhada em A Tarde, Chico foi
muito importante. Sensibilidade, competência, integridade e seriedade no
jornalismo. No convívio pessoal, humor refinado (marca forte de quem foi
batizado com o nome de Francisco.) Quando surgia uma pauta que não estava
planejada, ele me dizia "vá você que é puta velha! E acrescentava;:
"no Jornalismo, é claro". Grande figura. Não há como deletar do meu
HD tanta coisa boa que aprendi com vc, Chico. Meu tio, como muitos
carinhosamente o chamavam.
Ângela Barreto: Ana Vieira Boa
recordação, Ana. Muitas lembranças do chefe Chico, meu tio, magro😂😂😂bj
Angela Guimaraes: Que tempo bom!
Tivemos uma escola de jornalismo fantástica em A Tarde. E "meu tio"
foi um grande mestre.
Chico Ribeiro Neto: Ana Vieira
abração, Ana, grande repórter de grande sensibilidade
Chico Ribeiro Neto: Ana Vieira Ana,
grato por suas palavras, você sempre foi repórter de grande sensibilidade,
beijo
Ana Vieira: Chico Ribeiro
Neto obrigada, Chico! Emiliano José revelou tantos fatos lindos de sua vida,
Chico, que eu não conhecia. Por isso, saí marcando meus contatos que conviveram
com vc em A Tarde. E as reações deixaram-me muito feliz. Porque, como diz o
professor Edvaldo Brito, gratidão é um sentimento nobre! Boa quarentena!
Ana Vieira: Angela
Guimaraes, Angela Ângela Barreto,Sônia Sonia Maria Araujo,Rosane
Santana,Azimozete Santana, João Antonio Saturnino Bezerra, Gildo Lima Lima, Alex
Ferraz, Cláudia Oliveira, Lídice Oliveira, Alberto Oliveira, Alberto Freitas, Waldir
Cidelia Argolo, Nubia Mendonça,
Azimozete Santana: Ana Vieira toda
vez que me lembro do Chico eu começo a rir. Pessoa maravilhosa. Carinhoso,
culto, sincero, educado, gentil e divertido. Ah como foi bom trabalhar no A
TARDE e ter Chico Ribeiro Neto como colega, amigo e conselheiro. Criatura você
é uma pessoa incrível!.
Ana Vieira: Antônio Antonio
Carlos Santana, Angélica Angelica Ferraz de Menezes, Bebê Bene Simões,, Paixão
Barbosa, Eliézer Suzana Varjão, Eliézer Eliezer Varjão,, Indaiá Magalhães,
Ana Vieira: Tony Kraus
Klanchgen, Celeste Aida, Menandro Ramos, Cleidiana Ramos,
Ana Vieira: Chico Ribeiro
Neto
Rosane Santana 😍😍😍
Angelica Ferraz de Menezes: Aprendi muito
com Chico. Ele tem lugar cativo nas minhas gratas lembranças do exercício da
profissão. Assim como têm Ana Maria, o amigo Paixão Barbosa, Isabel Santos,
Graça Filadelfo e tantos outros que penso sempre com carinho ao me lembrar como
era bom o convívio no dia a dia da redação de A TARDE.
Chico Ribeiro Neto: Angelica Ferraz
de Menezes Valeu, Angelica, ficamos grato por isso
Ana Vieira: Tati Lima,
Elisandro Lima,
Elisandro Lima: Meu Tio.
Fantástico, Meu Tio. Figuraça e de um coração enorme. Pelo menos a cada uma vez
no mês me liga ou ligo para contar uma piada.....rsrsrsr
Chico Ribeiro Neto: Elisandro Lima
Ficamos gratos pela boa lembrança, abraços
Chico Ribeiro Neto: Receba
Cleidiana Ramos: Meu tio, Chico
Ribeiro Neto..saudades dos plantões em que ele exercia à larga seu bom humor:
lembrando fantasmas que poderiam chegar para reuniões de pauta; o convite para
ir à cerca que chamava Lemos de Brito porque era só o que nos separava das
delícias oferecidas pelos ambulantes do ponto de ônibus; da quadrinha que
escreveu para nosso primeiro Carnaval do Papão..lembranças boas desses chefes
dos bons tempos atardianos que ainda alcancei. Beijo, Chico.
Elisandro Lima: Chico Ribeiro
Neto, lá ele!
Chico Ribeiro Neto: Cleidiana Ramos
Beijo, Cleidiana, bons tempos, fazíamos jornal c alegria. Beijo
Cláudia Oliveira: Chico é um
exemplo de profissional refinado, cuja sensibilidade, simplicidade e elegância
no trato com as pessoas o agigantam como líder e ser humano. De tão bom, que inspirou
o filho Mateus a seguir seus passos. Saudades de todos os colegas do A TARDE,
com quem aprendi imensamente. Beijo no coração de vocês!
Chico Ribeiro Neto: Cláudia Oliveira
Grato, um beijo
Gorette Brandão: Merecida
homenagem. Sou muita grata a Chico pelo acolhimento generoso em minha chegada
ao jornal A Tarde, na fase “frio na barriga” do início na profissão. Um
jornalista conhecedor do seu ofício e grande ser humano. Figura porreta mesmo!
Chico Ribeiro Neto: Gorette Brandão
oi, Gorette, um beijo, saudades daquela Redação
Chico Ribeiro Neto: Emiliano,
gratidão por suas palavras e tamo junto nessa luta por um Brasil mais justo,
abração
Emiliano José: Chico Ribeiro
Neto Não há o que agradecer, Chico. Da missa, não contei nem metade. Juntos,
sempre, por esse Brasil. Abração.
Ana Vieira: Francisco
Muniz,Marcos Venancio Machado,
Marcos Venancio Machado: Chico é um dos
jornalistas mais íntegros que conheci nessa estrada. Salve, Meu Tio 🥰🥰
Ana Vieira: Marcos Venancio
Machado D'accord
Chico Ribeiro Neto: Marcos Venancio
Machado Abraços, Marcos Venâncio, a estrada valeu
Marcos Venancio Machado: Valeu sim, Meu
Tio!
Ana Vieira: Nize César,
Stelinha Carvalho,Rui Ruy Carvalho,
Nize César: Chico Ribeiro
Neto, "meu tío" um grande jornalista e competente secretario de
redação, da minha época em A Tarde, um ser humano de quilater, tem meu eterno
amor e carinho. Me deu a primeira bruxinha da minha coleção é a menor da foto,
todos os dias lembro de VC, receba meu abraço carinhoso.💜😘😘
Chico Ribeiro Neto: Nize César
valeu, eterna ciganinha, beijo
Francisco Muniz: Chico Ribeiro
Neto, pelo que se percebe, foi importante para várias gerações de jornalistas.
Hoje lamento não termos em comum mais que o nome e a profissão, pois não demorei
muito na Redação de A Tarde. Meu abraço, Xará.
Ana Vieira: Francisco Muniz
os dois são muito inteligentes, sérios, mas de humor refinadíssimo kk Fiquei
sem babá com o meu filho caçula bem pequeno. Escrevia a matéria em casa. Depois
levava ao jornal. Chico dizia que eu trabalhava entre a lauda e o leite rsrs. Boas
lembranças!!kk
Jorginho Ramos: Chico Ribeiro
Neto é referência para várias geraçõesde jornalistas.
Chico Ribeiro Neto: Jorginho Ramos
Jorginho, abraços, acho q fizemos certo, abraços
Mônica Bichara: Gente, agora
realmente passou um filme em minha cabeça. Nem sei se ele lembra disso, mas
conheci Chico Ribeiro Neto antes de entrar pro jornalismo. Minha irmã Ilka
Bichara tinha feito teatro no grupo do Severino Vieira e não sei como foi parar
em um grupo que ensaiava uma peça de Chico, no ICBA. Um dia fui com ela e
quando dei por mim estava ensaiando também, fazendo laboratório, morta de
vergonha....Nunca chegamos a encenar nada kkkkkk nem lembro os nomes dos outros
"atores". Depois reencontrei como colega, grande e querida figura,
bela homenagem de Emiliano José e Ana Vieira
-----------------------------------------
Emiliano José
22
de março 2020
Enfiando o pé no
mangue
Lama.
Ana
Maria Vieira desconfia ser a lama seu obscuro objeto de desejo.
Pauta
sobre marisqueiras.
Discutia
com o Chefe sobre o carro.
Varjão
insistia em negar.
Precisava
do carro pra chegar às proximidades do manguezal.
-
Ah, você faz a matéria numa feira, conversa com as marisqueiras, e tudo de
resolve.
Ana
Maria, batendo pé.
Não
ia sem carro.
Varjão
cedeu: o carro destinado a Zoraide Vilas Boas iria com ela.
Zoraide,
receberia caixinha.
Disso
resultou uma culpa danada em Ana Maria: Zoraide resolveu ir no carro dela e
sofreu um grave acidente.
E
ela quase se acidenta também.
Contemos.
Ela,
motorista e o repórter fotográfico Carlos Santana seguem para o Lobato, na
Suburbana.
Era
lá o manguezal.
Ela
e Santana enfiaram o pé na lama.
Se é
pra fazer, nada de economizar.
Sujeira,
limpamos depois.
Entrou,
entrou, viu caranguejos, mariscos, as mulheres catando catando, beleza e
miséria, admirava a coragem delas, tenacidade pra ganhar a vida, dar de comer
aos bruguelos, sapo não pula por boniteza, pula por necessidade.
Lembrou
do romance de Josué de Castro, homens e caranguejos, o menino, a lama, a
miséria, destino ingrato.
Olhou
olhou, e agora voltar.
Gozado,
não parecia ter andado tanto.
A
volta parecia longa demais.
Estava
grávida de poucos meses.
Não
convém levar susto, suas comadres sempre aconselharam.
Mas
ela levou.
Quanto
mais andava na volta, sentia mais e mais afundar.
Duro
andar no mangue, sabia.
Mas,
algo parecia errado.
De
repente, um grito forte:
-
Saiam daí!
-
Vocês estão num sumidouro.
Pararam,
apavorados.
O
anjo salvador apontou o lado a seguir de modo a não serem tragados.
Seguiram
a orientação e chegaram são e salvos à terra firme.
- Se
as experiências na vida intra-uterina valem mesmo, aí está a explicação para
meu filho Camilo ser louco, apaixonado por caranguejos.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: De sustos
prenhas as comadres entendem, né Jaciara Santos e Carmela Talento?
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(Algumas das colegas e amigas de toda a carreira: Ângela Guimarães, Berna Farias e Sônia Araújo)
Emiliano José
23
de março 2020
Mulheres
Quando
começou em "A Tarde", Ana Maria Vieira deparou com um mulherio danado.
Estavam chegando.
Ocupando
as redações.
Para
nunca mais saírem.
Encontrou
Isabel Santos, uma das comadres.
Delas,
comadres, já falei um bocado nessa série: Jaciara Santos, Joana D'arck, Mônica
Bichara, a própria Isabel e, por tabela, Carmela Talento.
Topou
com Ângela Barreto, de quem fora colega na adolescência.
Zoraide
Vilas Boas.
Ângela
Guimarães.
Azimozete
Santana - esses dias, numa audiência, Jaciara, Mônica e Isabel presentes, a
secretária Arany nos informou ser irmã de Azimozete.
Foi
colega de turma de Ana Maria na Escola de Biblioteconomia e Comunicação, EBC,
depois Facom, não se sabe por que chamada comumente de Faconha.
Depois,
arribou para a Europa.
No
comando da Reportagem, Reynivaldo Brito.
Exigente
- ela acentua.
Ajudou-a
no aprendizado.
Nas eleições
de 1982, quando do brilhante desempenho das mulheres na Câmara Municipal de
Salvador, escalou-a para entrevistar todas elas, cobrindo lacuna da Editoria de
Política.
Numa
manhã, ouviu Ana Coelho, Amabília Almeida, Jane Vasconcelos e Eliana Kertész.
De
Ana Coelho, lembro pouco.
Amabília
era respeitada educadora, militante vinculada ao PCB, mulher do dirigente
comunista Luís Contreiras.
Jane
Vasconcelos venceu as eleições na esteira da luta contra o aumento de
transportes, de 1981, quando centenas de ônibus foram incendiados, ela uma das
lideranças, vinculada ao PCdoB.
Eliana
Kertész elegeu-se à sombra do prestígio do marido, Mário Kertész.
Ele
havia rompido com ACM, e com a repercussão disso, Eliana teve quase 100 mil
votos, marca nunca superada.
Ana
Maria deu conta da história das quatro e teve a satisfação de ser premiada com
matéria de página inteira, inteirinha para as mulheres.
Cobriu
passeatas estudantis, era o canto do cisne da ditadura, o povo em luta.
Tempo
de sindicalismo forte.
Ouviu
muitas vezes o professor Sérgio Guerra, presidente da APLB.
Depois
dele, Maria José Rocha Lima, a sucedê-lo.
Os
dois liderando professores, greves, assembleias.
Ainda
se recorda da tensa cobertura da greve da PM, em 1981, com morte de policiais,
Forças Armadas nas ruas por ordem de ACM, Reynivaldo Brito no cemitério do
Campo Santo dando cobertura à equipe, nada de fazer anotações durante o
velório, clima de guerra. #MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Ana Vieira: Reynivaldo
Brito, Maria José, Maria José Rocha Zezé, Ângela Barreto, Sérgio Guerra, Isabel
Santos, Azimozete Santana, Angela Guimaraes,
Isabel Santos: A série do
querido Emiliano José prossegue com mais uma trajetória brilhante no jornalismo
baiano, né, Ana Vieira? rsss Vem muitas histórias, lembranças gostosas de se
ler. Realmente, naquela época, as mulheres já eram presença marcante no mundo
masculino da redação de A Tarde. Colegas que estão para sempre no coração.
Muito aprendizado, amizade, colaboração. Aguardando os próximos episódios.
Antonio Carlos Santana: Continue Amigo👍👍👍😱👍👍👍👍
Emiliano José: Antonio Carlos
Santana Grande amigo e companheiro.
Maurício Brasil: Que riqueza
dentro dessa caixola!🙌🏾
Angela Guimaraes: Nesses dias
difíceis de isolamento, essas memórias de Emiliano estão sendo um alento.
Memórias de um tpo de muito aprendizado e de amizades valiosas. Continue.
Mônica Bichara: Nossa, quanta
lembrança boa....Convivi com essas vereadoras na Câmara, era assessora de
imprensa de Jane Vasconcelos, grande exemplo de mulher na política, assim como
Amabília Almeida (Bisa Almeida). Fazem falta
------------------------------
Emiliano José
24
de março 2020
Tédio, nunca.
Um
quarto de século.
Todo
esse tempo em "A Tarde".
Inevitáveis
lembranças.
Ao
mergulhar no tempo, Ana Maria Vieira se impressiona com o tanto de experiências
vividas.
Por
aquelas páginas, viu passar a história.
Viu,
sentiu a ditadura.
Viu
a derrota dela.
A
eleição de Tancredo Neves, pela via indireta.
Um
novo tempo.
A
agonia, a morte, triste, do novo presidente.
Sarney
assume.
A
surpresa do Plano Cruzado, Dilson Funaro ministro da Fazenda.
Congelamento
de preços.
O
povo exultante, fiscalizando.
Para
o jornalismo, sopa no mel.
Pautas
e mais pautas.
Acompanhar
as blitzes da SUNAB.
Ir
aos supermercados saber se o congelamento estava sendo respeitado.
Ouvir
o povo.
Sentir
o impacto da medida.
Era
ousada.
Contrariava
a ortodoxia capitalista.
Isso
era coisa de países comunistas - diziam alguns dos críticos.
Ana
Maria foi pautada para acompanhar os preços nos supermercados.
Colhia
os preços, fazia cálculos para apurar o aumento de cada produto em relação à
semana anterior, e o texto analisava tudo Isso.
O
balanço do trabalho dela era publicado na edição de domingo.
Os
críticos esbravejavam, alguns poucos, os conservadores.
Economistas
de esquerda, aplaudiam: Maria da Conceição Tavares, Aloísio Mercadante, José
Serra entre vários outros - não se assustem, Serra podia então ser arrolado
como de esquerda.
O
FMI, puto.
O
plano contrariava todas suas prescrições.
A
inflação passa de 12,49% em fevereiro para 1,40% em outubro.
Um
sucesso, o Plano Cruzado.
Na
eleição de 1986, o PMDB faz 22 governadores.
A
pressão das classes dominantes, no entanto, recrudesceu, e depois das eleições
o plano não prosperou.
Muito
difícil pudesse vingar sob o capitalismo.
Sonho
de uma noite de verão.
Ana
Maria pode dizer com orgulho:
-
Meninos, eu vi!
Testemunha
dessa história.
E de
outras.
Como
a de Collor, ascensão e queda.
De
tédio, nunca padeceu.
Graças
ao jornalismo.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Angela Guimaraes: Meninos, eu vi
isso tudo. Orgulho da minha amiga "fiscal " do Sarney. 🥰
Isabel Santos: rssss massa.
Deve ter feto muitas entrevistas a Archimedes Pedreira Franco, por muito tempo
autoridade na área da defesa do consumidor.
Mônica Bichara: Tédio? Em redação?
Jamais ....
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Emiliano José
25
de março 2020
Fome e tristeza
das crianças
É, o
jornalismo é um trem.
Trem
da história.
Ana
Maria Vieira seguiu viagem.
Viu
foi coisa.
Até
Deus duvida.
Viu
o Papa João Paulo II desembarcar na Bahia em 1980.
Viu
o Santo Padre passar pela Avenida Sete de Setembro, seu lugar no vagão do trem
determinado pela chefia.
Esteve
em outro vagão: cobriu missa papal no Centro Administrativo.
Apaixonada
por viagens, pôde desfrutar muito desse prazer.
No
baú, busca a recordação de uma viagem pelo interior da Bahia.
Governo
Nilo Coelho.
Ela
e a repórter fotográfica Mara Mércia ajeitaram algumas poucas peças de roupa em
suas pequenas malas, e botaram o pé na estrada.
Longa
jornada.
Ana
Maria feliz como pinto no lixo.
Pauta:
revelar a situação da educação no interior da Bahia.
Correram
trecho.
De
Salvador para o Recôncavo.
Do
Recôncavo para o Sul.
Em
seguida, Juazeiro.
Daí,
chegaram até Pilão Arcado, perto da divisa com o Piauí.
Repórter
é repórter: testemunharam o caos.
Educação
em pandarecos.
Ainda
viram palmatória como linha pedagógica.
Triste.
Mas,
Ana Maria e Mara Mércia testemunharam também o milagre das professoras leigas,
fazendo a educação acontecer onde parecia impossível.
Ana
Maria ainda se recorda da abertura de uma das matérias:
"O
estômago das crianças funciona como relógio. Quando a fome bate, elas ficam
tristinhas. Não dá mais pra continuar."
Como
a dizer: necessário juntar os saberes de Paulo Freire e Josué de Castro para
uma educação integral.
Com
fome, ninguém aprende
Na
mesma sala, o recorte de uma revista anunciava:
"Universidade
ajuda a mudar o ensino rural."
Involuntária
ironia.
Depois
de muita estrada, Ana Maria é guindada à condição de pauteira especial, decisão
de Jorge Calmon, o mais longevo redator-chefe do jornalismo baiano, ao menos do
meu conhecimento.
Jorginho
Ramos há de me corrigir ou reafirmar.
A
pauta era feminina.
Ana
Maria e Ângela Guimarães.
As
mulheres estavam chegando.
Para
nunca mais saírem...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Ana Vieira: Angela
GuimaraesGuimaraes.Voce está nesse capítulo .Veja!
Isabel Santos: Eternas
parceiras. Profissionais tarimbadas, colegas do coração.
Angela Guimaraes: Obrigada, Bel.
Você também mora em nossos corações .
Angela Guimaraes: Ana Vieira já
curti
----------------------------------------
(Com a sobrinha e hoje também colega Camila Vieira, que se apaixonou pelo jornalismo acompanhando a tia nas redações)
Emiliano José
26
de março 2020
Pauteira, se
virando nos trinta
Pauta.
Converso
com vocês sobre Isso.
Com
os não-jornalistas.
Vocês
estão pensando: é simples.
Só
pensar alguns assuntos, e mandar os repórteres pra rua.
Nada,
mermão.
Pense
numa coisa complicada.
Multiplique
algumas vezes.
É a
pauta.
Falo
de cátedra.
No
"Jornal da Bahia", na Editoria Geral, ralei quando fui jogado na
tarefa.
Levantava
ali pelas cinco da matina, tomava um café ligeiro, deixava o quarto e sala da
Ladeira da Cruz da Redenção em Brotas às pressas, e era dos primeiros a chegar
à redação da Barroquinha.
O
pessoal da limpeza ainda trabalhando.
Eu,
já martelando o juízo em busca de pautas.
Produzia
umas sessenta, setenta até às 9hs, quando o reportariado começava a chegar.
Acumulava
pela manhã a função de pauteiro e chefe de Reportagem.
Mais
tarde, assumirei a chefia de Reportagem, Teixeirinha, a pauta.
A
pauta é um guia para o repórter.
Mal
feita, sem checagem, sem apontar fontes, sem consistência, e o repórter volta
da rua sem matéria.
É
uma escola, um aprendizado e tanto.
Aguça
seu olhar.
Exige
pesquisa.
Olhar
panorâmico.
Senso
crítico.
Ana
Maria Vieira aprendeu muito ao sair da reportagem e ser jogada na pauta.
Trabalhou
com Eliezer Varjão, subchefe de Reportagem.
Depois
com Antônio Matos.
Tinha
de se virar nos trinta.
Pautava
e ainda ajudava a editar as colunas de July, de religião, de saúde.
Recentemente,
foi ao lançamento do belo livro de Antônio Matos - "Heróis de 59 : A
história do primeiro título brasileiro conquistado pelo Esporte Clube
Bahia".
Quem
é Bahêa, não pode perder.
Até
quem não for.
Documento
histórico, fruto de uma densa pesquisa.
Matos,
faço o registro, além de excelente jornalista, sabe fazer amigos e cultivá-los.
Não
acredito tenha inimigos.
Uma
pessoa rara.
No
lançamento, Matos manda mensagem escrita para ela.
Reconhecia:
por merecimento, ela deveria substituir Varjão.
O
indicado, no entanto, foi ele.
Na
mensagem, acentua a grandeza de Ana Maria.
Nunca
lhe causou problemas.
Ao
contrário, ajudou-o muito.
Matos
trabalhou em "A Tarde" de 1981 a 2004.
Quase
empata com Ana Maria.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Mônica Bichara: Tive a sorte de
trabalhar com grandes pauteiros no início: Almada, Jose Jesus Barreto, Chico
Vasconcellos....
Jose Jesus Barreto: Mônica Bichara
um belo ofício, querida. Exigia muita ideia e sabença rsrsrs saudades
Emiliano José: Jose Jesus
Barreto E sabença cê tinha de sobra, Barretinho.
Ana Vieira: Jose Jesus
Barreto a pauta pensadinha, bonitinha não valia nada, se um fato importante
acontecia. Ai era preciso correr contra o tempo para replanejar tudo. Jornalismo
naquele tempo era muita adrenalina, mas era delicioso no dia seguinte conferir
o jornal. Essa emoção hoje acabou !
Mônica Bichara: Jose Jesus
Barreto sabença é ótimo. E no seu caso tb não faltava a velinha acesa em cima
do armário para garantir boas energias. E dava tudo certo, tempo bom
Ana Vieira: Jose Jesus
Barreto imagino você com essa criatividade toda e poesia, devia fazer pautas
bem interessantes.
Mônica Bichara: Ana Vieira
verdade amiga, quantas vezes a pauta toda planejada era (é) abortada por um
telefonema urgente que chegava à redação....Vai separando as fotos, Aninha
Ana Vieira: Mônica Bichara
Tava me lembrando que vc me pediu fotos ..Vou fazer isso, sim. Você sabe que eu
admiro e adoro vc.
Mônica Bichara: Ana Vieira para
dar continuidade à série #MemóriasJornalismoEmiliano editada com fotos e
comentários no Pilha Pura
Ana Vieira: Mônica Bichara
eu sei.To acompanhando
Mônica Bichara: Quero fotos
antigas, reproduções de jornal, o q tiver, e novas tb
Jose Jesus Barreto: Ana Vieira num
dava pra poetar. Era jornalismo puro. Outra pegada rsrsrs
Jose Jesus Barreto: Emiliano José
bj. Se assossegue em casa, viu?
Emiliano José: Jose Jesus
Barreto Rapaz, de recolhimento tenho experiência...
Jose Jesus Barreto: Emiliano José
num é? Rsrsrs. Aproveita pra escrevinhar
Emiliano José: Jose Jesus
Barreto Tentando
Isabel Santos: Você escrevinha
e a gente se delicia, Emiliano. Pegando a ponga dos comentário, é tão gostoso
bolar uma pauta. É pauleira, mas quando bem transada, dá um ânimo para repórter
tentar cumprir. Aprendi os meandros da pauta na faculdade, com Pedro Formigli.
O que muito me inspirou quando exerci, por um breve tempo, a função na Tribuna
da Bahia. Gostava dar toda a orientação possível ao repórter, 'mastigava'. Meus
primeiros pauteiros foram os queridos Antônio Almada e Paulo Tavares, os tempos
do Diário de Notícias. Que bom lembrar desse tempo nessa rica trajetória de Ana
Vieira. Ela e Antônio Matos eram figuras queridas de A Tarde.
---------------------------------------------
(Com o ex-governador Waldir Pires)
Emiliano José
27
de março 2020
Mulher de quatro
turnos
Depois
da passagem pelo "Jornal da Bahia", alguns anos em "A
Tarde", Ana Maria Vieira já não tremia diante de mais nada.
Quando
lhe dava alguma tarefa, Chico Ribeiro Neto dizia:
-
Esta é sua porque você é puta velha.
Com
todo respeito.
Agora,
tremer mesmo, pra valer, não obstante puta velha, foi diante de uma tarefa dada
por Jorge Calmon, o veterano redator-chefe de "A Tarde".
Estava
posta em sossego na redação, quando doutor Jorge a chama - vá lá saber a razão
pela qual todos o chamavam "doutor Jorge".
Tradição,
não é?
Uma
cultura advinda de tempos senhoriais, sei lá.
Não
creio fosse exigência dele.
Vi
milhares de pessoas cumprimentarem Waldir Pires assim.
Era
"doutor Waldir" o tempo todo.
Mal
não fazia.
Jorge
Calmon a chama e propõe representá-lo no Clube de Diretores Lojistas.
Representá-lo
significava fazer uma palestra sobre o Código de Defesa do Consumidor, em
discussão no Congresso Nacional.
Tremeu.
Tinha
pavor de falar em público.
O
redator-chefe não permitiu sequer ensaiasse um mas, um veja bem.
Era
sereno, educado, mas sabia dar ordem.
Era
ordem.
Lá
foi ela, tremendo feito vara verde.
Auditório
lotado.
Havia
pesquisado, tinha domínio do assunto.
Se
não há remédio, remediado está.
Não
havia saída.
Começou
um pouco claudicante, olhou pro auditório, percebeu o interesse, sentiu
empatia, foi em frente, ela própria surpresa com seu desempenho.
Quando
terminou, muitas pessoas cercando-a, querendo fosse falar em suas lojas.
Aceitou
não.
O
medo ainda a tomava quando pensava em falar para auditórios.
Vida
dura.
Ana
Maria deu conta de quatro turnos durante algum tempo.
Jornalista
em "A Tarde".
Assessoria
de Imprensa na Secretaria de Administração, ao lado de Mônica Bichara.
Professora
da rede estadual à noite.
E
cuidar dos filhos.
Brinquedo,
não...
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Isabel Santos: Brinquedo, não.
Imagino o sufoco da colega. Era assim com muitas jornalistas, que precisavam de
todos os turnos (se fosse possível, acrescentariam mais) para dar conta de
todas as demandas. Era duro, mas era gratificante, né. Ana? Por isso, pé muito
emocionante ver tudo isso poeticamente relatado por Emiliano José nas suas
memórias.
Mônica Bichara: Minha chefinha
na Saeb.....como esquecer? Conhecemos bem essa rotina de galho em galho, uma
redação, uma assessoria, uns "bicos" de vez em quando,
filhos.....Esse corre-corre sempre fez parte da vida dos jornalistas pra
conseguir uma renda melhorzinha
-------------------------------------------
(Com Emiliano José no lançamento da biografia do ex-governador Waldir Pires)
Emiliano José
28
de março 2020
Na outra
encarnação, jornalista.
Viajar,
viajou muito.
Ana
Maria Vieira correu mundo interior afora no governo Waldir Pires.
E em
outros governos.
Foi
trabalhar com crianças e adolescentes em conflito com a lei, chamados assim à
época.
Nem
eram tratados como crianças e adolescentes - era "de menor" se
cometesse algum ato infracional.
Ainda
era tempo do Código de Menor.
Chegou
à Fameb, dirigida pelo professor Elísio Brasileiro.
Foi
experiência rara na vida.
Aprendizado
e tanto.
Uma
revolução no pensamento.
Acompanhou
de perto as discussões sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma
verdadeira revolução.
Espécie
de carta de alforria das crianças e adolescentes do Brasil, tornada uma
referência mundial.
Estabelecia
proteção integral à criança e ao adolescente.
Vinha
na esteira dos avanços democráticos inspirados na Constituição de 1988.
Foi
assinado no dia 13 de julho de 1990.
Criança,
considerada até os 12 anos.
Adolescente,
dos 12 aos 18 anos.
Ana
Maria se arrepia, treme de indignação quando ouve falar em redução da
maioridade penal.
Tornou-se
uma entusiasta do ECA.
Viu
a recuperação de muitos no decurso de cumprimento de medidas socioeducativas.
Sabe:
o ECA nunca foi respeitado integralmente.
Um
conjunto de políticas devia ser executado para isso.
Educação,
saúde, cultura, assistência social, tantas outras áreas deviam olhar para as
crianças e adolescentes.
Apesar
de tudo, inegavelmente um avanço.
A
ser defendido.
Depois,
sempre jornalista, foi para a Secretaria de Trabalho e Ação Social.
Outro
mergulho em questões sociais.
Trabalho
infantil, desemprego, população de rua.
Reconhece:
o secretário Heraldo Rocha valorizava muito o trabalho da comunicação, sob a
responsabilidade dela.
Mais
tarde, passa sete anos no Planserv.
Está
hoje no Centro de Referência para Diabetes e Obesidade (Cedeba), orgulho para o
SUS, na opinião dela.
Completou
oito anos no Cedeba.
Já
lá se vão 38 anos de trabalho.
Caminhando
para os 70 anos, não quer parar.
Costuma
dizer: qualquer trabalho é uma Disneylândia para quem enfrentou jornal diário.
Contudo,
se tiver outras vidas quer voltar a ser jornalista.
Foi
pra lá, foi pra cá, muitas assessorias, mas sempre o sonho de escrever pra mais
gente, viver a vida louca da pauta inesperada.
Mariana,
neta de sete anos, aprendeu:
-
Vovó, jornalista não desiste.
Se
desistir, não é jornalista.
#MemóriasJornalismoEmiliano
COMENTÁRIOS
Ana Vieira: Heraldo Rocha,
Jorginho Ramos: QUE bela a
História e as histórias de Ana Vieira. !
Ana Vieira: Jorginho Ramos
você que ė bom de História e Geografia identificou a cidade da foto,? rsrs
Jorginho Ramos: Eis alguns
registros da enchente de 1960. Foi por uma dessas janelas ( mais precisamente a
última da esquerda à direita) que saímos pela janela. Note que a linha d'água
cobria a porta. Na janela estão meu pai e dois amigos, fazendo a limpeza da
casa pois após sairmos água alcançou o 2° piso. As outras imagens são registros
da imprensa na época.
Ana Vieira: Jorginho e Luis
Guilherme Pontes Tavares são jornalistas - historiadores.
Emiliano José: Ana Vieira São.
Emiliano José: Só Jorginho pra
recuperar tudo isso. E agora na quarentena, então, quem segura?...
Mônica Bichara: Desistir, essa
aí não desiste mesmo.....O jornalismo tá no sangue, na alma
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PROFISSÃO - FAMÍLIA - AMIGOS
(O sorriso fala mais que palavras. A emoção da formatura em jornalismo pela UFBA)
(Enchente do Rio Paraguaçu, década de 1970, cobertura com o fotógrafo Waldir Argolo)
(Caderno de Turismo)
(Luta dos moradores pelo Parue da Boca do Rio)
(A viagem foi para Editoria de Economia, um trekking para jornalistas de todo o Brasil, 15 anos do uísque Natu Nobilis. Aproveitou e fez grande matéria sobre o Parque Nacional do Itatiaia)
Entrevista com o saudoso maestro Vivaldo Conceição, em 84, para o Caderno 2)
(Matéria sobre saúde, uma das paixões)
( Junho de 1884. Uma pauta sobre as ruínas do clube Costa Azul
resgatou a vida de Sebastião)
(Corujando a netinha Mariana)
(O filho Camilo na festinha de São João)
(Viajando com os filhos Fábio e Camilo)
(Realizada na formatura do filho Camilo em Medicina. Esse sorriso radiante diz tudo)
(Formatura de Fábio em História)
(Formatura de Camilo em medicina na UFBA. Realização de um sonho)
(O "erro" na educação: a torcedora do Bahêa perdeu essa partida por 2 x 1 )
(Em 2006 , vivendo a turbulência do divórcio(o lançamento foi uma semana antes de assinar os papéis) Ana Vieira lançou "Mulheres do Vento, Mulheres do Tempo", trabalho feito conjuntamente com a jornalista Lydia Silva. O livro traça o perfil de 100 mulheres afrodescendentes baianas. Foi um trabalho para "A Mulherada", de Monika Kalile. Algumas já estão em outro plano, como Makota Valdina e Mãe Stela. Várias jornalistas estão no livro: Sônia Araujo, Cleidiana Ramos, Lady Eva...)
(Creuza Oliveira, grande defensora dos direitos das domésticas)
(A querida Lady Eva)
(Cleidiana Ramos)
(Sônia Araújo)
(Aldaci dos Santos)
(O reconhecimento da APAE)
(Já está pouco visível o registro da homenagem da Andi, há 20
anos. Jornalista Amiga da Criança e do Adolescente. Momento especial da carreira, em Brasília)
(Em Itatiaia-RJ, cumprindo pauta de economia com jornalistas de todo o Brasil)
(Na casa de Fabio, embevecida pela música)
(Em Florianópolis,um mês antes da posse de Collor, com o filho Fabio)
(De catamarã a caminho de mangue Seco)
(Em BH com Ângela Guimarães e Sônia Araújo no Cirq de
Soleil. Programa para as crianças)
(Homenagem ao ator Othon Bastos, que recebeu o título de Cidadão de Salvador, na Câmara Municipal, em 2019, com Aurora Vasconcelos, Isabel Santos e Mônica Bichara)
Muito bom ler esses relatos , não resta duvida que é uma emicionante viagem no tempo a gente vai relembrando de tanta gente, tantos fatos que já estavam esquecidos. Muito bom. Adorei essas lembranças de Ana Maria
ResponderExcluirRelembrar tantos momentos maravilhosos da trajetória de nossos colegas, da qual participamos também em vários momentos, é algo muito maravilhoso. Graças à sensibilidade do nosso querido colega professor, escritor Emiliano José, que nos faz voltar no tempo com muita leveza, espirituosidade e criatividade. É um poeta. Parabéns, Ana Vieira pela sua história. E, mais uma vez, aplausos para a edição da querida Mônica Bichara.
ResponderExcluirValeu Bebel, é realmente um mergulho no tempo. E esse baú de Ana tá imperdível
ExcluirQue linda história Ana!!! Continua uma repórter incansável , determinada, e disposta a dar o melhor de si! Um orgulho trabalhar com você!! um grande abraço Ana querida!!!
ResponderExcluiresqueci de me indentificar! Viviane Oliveira, sua colega psi.
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