Paranaenses voltam à Boca (carta de amor)

O Nosso amigo Jadson Oliveira acordou mais velho hoje (14/08) e hiper romântico. Tanto que escreveu uma carta de amor para a amada, Deta, também de níver hoje, publicada no blog dele (Paranaenses voltam à Boca (carta de amor) , que reproduzo aqui também para homenageá-los.


De Curitiba(PR) 'Amor, eu ia escrever uma matéria jornalística, mas resolvi fazer uma carta de amor, uma carta de amor incluindo coisas ridículas e com o dizer errado/certo do povo (desculpe, andei lendo Fernando Pessoa e Manuel Bandeira).
A matéria era pra dizer que o pessoal ligado a mais de 20 entidades do movimento social, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), volta ao centro de Curitiba para protestar contra os efeitos da crise do capitalismo, os quais terminam sempre caindo no lombo dos mais pobres. Por obra e mágica dos governos e dos capitalistas. (Lembras? em junho último, o MST e outras entidades fizeram manifestações e debates aqui, pelo mesmo motivo, acompanhados pelo repórter deste blog).
Nesta sexta-feira, dia 14 (dia do aniversário de um casal muito nosso conhecido), será o chamado ponto alto da "jornada nacional de lutas". Eles farão concentração a partir das 8 horas, na Praça Santos Andrade (aquela da Universidade Federal e do Teatro Guaíra) e, em seguida, ato político/cultural onde? onde? lá mesmo, na Boca Maldita.

Pois bem, numa carta de amor não preciso me ater àquele jeitão convencido do falar jornalístico e quero te falar mais à vontade da minha afeição pela Boca, como dizem, abreviadamente, os curitibanos. Na verdade (assim falava, ainda bem pequena, tua afilhada Ana Carolina), aquele calçadão da Rua XV de Novembro, que considero a alma da cidade.

(Interrompo, por um momento, para ver e fotografar, da minha janela do 16º andar, as duas colunas de sem-terra que já começam, nesta terça-feira, dia 11, a agitar as ruas. Vão pela André de Barros martelando suas palavras-de-ordem, incansáveis, pela reforma agrária, em defesa dos direitos sociais, etc, etc).

Te falava da Boca, da Rua XV, daquele fervilhar de gente, a maioria de casaco escuro no frio inverno sulista. Por onde me habituei a circular todos os dias desde o primeiro dos quase seis meses curitibanos.
As gentes e coisas que vejo primeiro com olhar de surpresa, olhar de quem chega, e depois, já agora, quase nostálgico, com olhar de quem parte. Por onde me acostumei a parar nas bancas de jornal (nas revistarias, nome que usam por aqui), para ler as primeiras páginas afixadas, as manchetes com a gripe suína (quem agüenta?) e Sarney, o repetidor da Globo no Maranhão, o "presidente da transição" – só agora a chamada grande imprensa "descobriu" tratar-se de um pequeno demônio.


Tu já viste, mas quero te mostrar outra vez, afinal esta carta de amor não é só tua, é minha também, e cada um tem seu jeito de ver (já me disseste esta grande verdade).
Quero falar dessas figuras estranhas que aparecem na Boca, dos malabaristas da sobrevivência, o sem-braço que toca violão, o sem-perna que joga futebol, os repentistas que se dizem nordestinos, os músicos populares, os enganadores com seus remédios milagreiros, os mágicos, os artesãos, as "estátuas vivas", os vendedores e vendedoras de PF, de cocada, de retrato, de pipoca, de tanta coisa... os palhaços que vendem barato sua falsa alegria. Mas sobrevivem, é o que importa. Até aqueles que, à noite, mais tarde, dormem sob as marquises enrolados em sujos cobertores (com esse frio e chuvisco, meu deus do céu!).

Quero te falar também dessa gente mais bonita, as mulheres batem firme o salto das botas, tok, tok, tok, tok... desfilam sua elegância, nada como o frio! A gente que compra, compra, compra no desespero desse fundamentalismo moderno (alô Milton Santos, grande cientista baiano). Que bebe chopp, que bate papo, que fofoca (razão do nome Boca Maldita), que faz fila no McDonald’s pra comprar aquele sorvete "plastificado".
E têm ainda as barracas de órgãos governamentais, oferecendo serviços e orientação, ora sobre aleitamento materno, ora sobre hipertensão arterial, etc, etc. Outro dia medi minha pressão por lá, está, por enquanto, sob controle.

Amor, comecei esta carta com política e vou acabar com política. Já me disseram que só vejo política em minha frente. Será? Mas tudo é política, não? Então, os militantes políticos levam também suas bandeiras até a Boca. Sempre estão por lá, pedem sua adesão, sua assinatura para um projeto de lei ou um abaixo-assinado. Passam por lá os representantes do Fórum popular contra o pedágio, de campanhas como O petróleo tem que ser nosso, pela criação do Partido Pátria Livre, contra a bomba nuclear... falei pro cara "tem que dizer que a bomba foi jogada no Japão pelo império dos Estados Unidos, não foi pelo Irã, nem Coreia do Norte, nem Cuba e nem tampouco pela Venezuela..." "Tá certo, tá certo..." concordou.

Sábado passado, dia 8, revivi meus velhos tempos de militante comunista. Participei de um curso de formação (ao todo são três módulos, quatro horas cada) sobre Marxismo para Revolucionários, patrocinado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), a cargo do economista José da Silveira Filho (professor Caju, do Partido Comunista Marxista-Leninista – PCML). A sede do PCB fica ali mesmo num edifício da Boca Maldita. Eu era o mais velho do grupo, alguns bem jovens, me vi um pouco neles, uns 30 anos atrás, sonhando com a revolução popular, socialista. Mas, na verdade, creio que continuo sonhando, de olho na utopia. Afinal, tenho a humanidade em boa conta.

(Atenção: não confundir com o Partido Comunista do Brasil – PC do B, bem maior e mais conhecido, priorizando hoje as atividades institucionais, inclusive participando do governo Lula. Ambos – PC do B e PCB – reivindicam a herança histórica do PC desde a fundação, em março de 1922).

Assim, amor, minha boa vida vai passando, o tempo escorregando às vezes devagar, às vezes mais rapidamente do que esperamos. "Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão-de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que parte da vida?" (Fernando Pessoa).

Porém, isso é a vida de cada um, porque a vida, propriamente dita, não passa.
Que tal minha carta de amor? Beijos, te amo".

Comentários

  1. "Todas as cartas de amor são ridículas.
    Não seriam cartas de amor se não fossem
    Ridículas.
    Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
    Como as outras,

    Ridículas. As cartas de amor, se há amor,
    Têm de ser
    Ridículas. Mas, afinal,
    Só as criaturas que nunca escreveram
    Cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    Quem me dera no tempo em que escrevia
    Sem dar por isso
    Cartas de amor
    Ridículas. A verdade é que hoje
    As minhas memórias
    Dessas cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    (Todas as palavras esdrúxulas,
    Como os sentimentos esdrúxulos,
    São naturalmente
    Ridículas.)"

    Já que você citou o poema de Fernando Pessoa, resolvi brindar o seu níver relendo o preferido dos românticos. Fiquei surpresa com a sua carta para presentear a mulher amada,não sabia do tamanho do seu romatismo.
    Entrei aqui para dar o abraço, que gostaria muito que fosse pessoalmente, e dizer que sentimos muita falta sua por aqui. Até Ana Carolina comentou ontem à noite, quando me viu postando a sua carta em que ela é citada, com a espontaneidade própria das crianças: "Sabe que tenho saudade de Jadson?"

    Parabéns,companheiro! Aproveite muito todos os seus dias, mas especialmente hoje, da forma como for, de preferência tomando uns goles com bons amigos...hehehehehe

    Grande abraço nosso (meu de Nana e de Sinval)

    Deta, Parabéns e o seu abraço vou te dar mais tarde. Sua afilhada também.

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  2. Parabéns Deta e Jadson, continuem com essa alegria contagiante.
    Beijos

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  3. Parabéns ao casal. Saúde e paz. Jadson, que lindo! Você é demais!
    Bjs

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  4. Bela carta, mas não consegui acessar o blog de Jadson através do link. Beijos para os aniversariantes e para a galera toda.

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  5. Tente de novo Diogo.O blog de Jadson é dez.

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  6. Só hoje pude ler a carta de amor desse casal e relembrei o Jadson "cururu", o Jadson jornalista e o Jadson butequeiro, mas fui apresentada a um novo Jason, o romântico. Isso só mostra o quanto esta criatura é surpreendente. Bela declaração de amor pra uma pessoa maravilhosa, a companheira Deta do Pandeiro, que merece todo esse carinho.
    Um beijão, Jadson, e parabéns por tudo: pelo aniversário, pela sensibilidade, pela disposição pra viver novas experiências, pela firmeza ideológica e pela Moreco que vc conquistou. O beijo da moça eu já dei ontem.
    Também lembrei na hora da poesia sobre o ridículo das cartas de amor, Jô. Mais linda é impossível

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  7. Deta do Pandeiro é um achado, comadre kkkkkkkkkkkkkkkkkkk ... Só vc mesmo, pra inventar essa. Depois vamos divulgar mellhor aqui a nova mania da outra comadre hehehehehe.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Manuela (Filha e enteada)15 de agosto de 2009 às 18:32

    Cartas de amor, cartas ridiculas! Melhor serem escritas e nao lidas do que nunca existirem. Sao deliciosas pro coracao e o ridiculo eh sempre bom! Bom para tudo. Pro coracao, pulmao e figado! Eh do amor de ridiculas cartas de amor que revelamos o quao ridiculo de nao ter havido um amor tao ridiculo a ponto de ter escrito uma carta tao ridicula como a carta de amor!
    Parabens Mami e Jadson!!!! Amo vcs
    E to me sentindo tao ridicula q num tento de escrever, acabei ridiculamente quase parafraseando a riducula palavra que eh tao ridicula do ridiculo que eh a carta de amor!! bjsssssssssssssssssssssssssssssssss
    Manu

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