Aos que virão depois de nós - Bertolt Brecht

Bertolt Brecht (Foto: Internet)
Reproduzido do blog Evidentemente
 
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando aqui a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo
da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi concedido sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
e não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.
Vocês, que vão emergir das ondas
em que nós perecemos, pensem,
quando falarem das nossas fraquezas,
nos tempos sombrios
de que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,
mudando mais seguidamente de países que de
sapatos, desesperados!
quando só havia injustiça e não protesto.
Ainda assim sabemos:
o ódio contra a baixeza
também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
que queríamos preparar o caminho para a
amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
em que o homem seja amigo do homem,
pensem em nós
com um pouco de compreensão.
(Enviado pelo companheiro Otto Filgueiras)

Comentários

  1. Belíssimo. Mais que oportuno. As gerações atuais felizmente estão reagindo, despertando pra luta, ou as lutas, porque há algum tempo nesse país era uma única luta, a grande luta para derrubar a ditadura militar. E quando isso aconteceu, os que se acostumaram à bandeira única e acharam que tudo estava sob controle ficaram inicialmente perplexo com tantas vozes roucas nas ruas que falam de tudo, protestam contra tudo, reivindicam direitos. A gente aqui no Brasil estava tão quieta, engessada, que quando você, Jadson, falava, escrevia e vibrava com o fervor dos movimentos sociais em outros países vizinhos eu não acreditava que aqui ocorreriam reações tão cedo. Que bom que o gigante acordou. Só precisamos ficar em alerta contra os oportunistas que querem se aproveitar para manipular as massas, porque esse filme é antigo.

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  2. É isso aí, Joaninha. Esperança, esse é o nome da coisa, apesar dos pesares. Espero que as nossas esquerdas (ou o pouco que resta delas) tenham ouvidos para as novas vozes que surgem e saibam se revolucionar.
    E, certo, cuidado com os oportunistas, eles são uma praga que está em todo lugar, em todos os regimes, em todas as revoluções.
    A luta é por uma democracia tipo participativa, pelo socialismo, contra o capitalismo.
    Vamos em frente, companheira!

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