Do programático ao pragmático

*Simoa Borba


Dizem que um dos papeis do cientista político é fazer análises da conjuntura política elaborando teses que venham a se concretizar futuramente. Dizem... Mas há controvérsia, e eu particularmente sou muito cética em relação a esse papel. Porém, ainda que não concorde, vou aqui oportunamente me apropriar desse discurso e fazer proveito da minha formação de cientista política para retratar o quadro que vem se pintando no que refere ao futuro do PT e por que não do país.

Mas antes vou relatar uma pequena história que me aconteceu. 

Fui fazer uma análise física com um profissional de educação física e como não consigo manter minha boca fechada, sobretudo quando se refere a temas políticos, o questionei sobre a sua opinião sobre a retirada da disciplina de educação física no currículo escolar. Ele se mostrou muito indignado, relatando os males para as crianças e gerações futuras sem obviamente tocar em questões políticas.

Seguindo o tema entramos na questão sobre alimentação saudável e eu falei da minha indignação do abuso do uso dos agrotóxicos aqui no país, dizendo que não havia interesse do congresso de limitar isso por conta da sua vasta bancada ruralista.

Eis a resposta, “É mesmo, isso é coisa do PT porque eles que tem ligação com os agricultores”. Com esse exemplo acabo aqui minha historinha e passo para as análises políticas.

Os sucessivos massacres midiáticos ao longo dos últimos 4 anos no que se refere ao Partido dos Trabalhadores (e aqui não vou entrar no mérito do que de fato é responsabilidade dele ou não) serviu para criar um imaginário popular que o interliga automaticamente a toda e qualquer mazela da política brasileira. 

É óbvio que a injustiça está na proporcionalidade que isso tomou, principalmente quando não se dá o crédito também aos outros atores e partidos dessa equação. Mas o que se pode concluir dessa onda devastadora da imagem do PT é que isso não é algo que se possa reverter puro e simplesmente. Não há delação ou pedido de resposta que reverta esse cenário, principalmente, quando não há interesse dessa mesma mídia para tal. 

Ah!! Mais há a mídia independente, há as redes sociais que estão aí pra desconstruir esse imaginário. Tal perspectiva é errônea e extremamente ingênua uma vez que as redes nos coloca numa bolha particular no qual cada vez mais somos envolvidos em postagens que nos aproximam, assustadoramente, dos mais próximos. Ou seja, só quem tiver interesse para ir atrás da informação é que poderá desconstruir esse pensamento hegemônico. De resto, sobrará apenas as verdades absolutas que são ditas pelos seus próximos que via de regra são as mesmas que a sua. Isso em um país altamente despolitizado quer dizer muito.

E o que resta ao PT? Na minha pessimista análise, resta o tempo. O tempo que criará uma nova geração que deixará esse imaginário para trás e criará novas conexões e por que não novas formas de atuação política. Os meninos das ocupações estão aí seguindo seus ideais desvinculadamente de partidos criando quem sabe uma nova leva política.

Enquanto isso, o PT irá se manter ao custo da personificação de alguns dos seus quadros mais relevantes, mas deixando de lado cada vez mais a importância do partido e seu programa, o que já acontece com a grande maioria dos partidos aqui no Brasil, seguindo a lógica do menos programático e mais pragmático.




*Simoa Borba é cientista política e colaboradora do Pilha

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