Claudia Correia - jornalista (Texto e fotos)
Um ato em protesto contra o feminicídio, nas ruas de Rio de Contas
(BA), Chapada Diamantina, no domingo (23), mobilizou mulheres, lideranças
feministas e dos movimentos negro e LGBTQIA+. O ato fez parte da programação do
VII Encontro Internacional de Mulheres Negras Urbanas e Quilombolas, realizado
de 21 a 23 de julho, no Clube Riocontense.
Promovido pela Sociedade Protetora dos Desvalidos-SPD, Rota dos
Quilombos e Instituto Renascer Mulher, com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo,
o encontro reuniu 160 mulheres, que debateram o tema: “Articulando o
fortalecimento político das mulheres negras”, em círculos e plenárias. Os
círculos “femenagearam” mulheres negras de destaque no cenário nacional e
lideranças locais como: Beatriz Nascimento, Luiza Bairros, Antonieta de Barros,
Lélia Gonzalez, Maria Brandão, Coló e Dudu, Tia Ciata e Mãe Aninha. No início
de cada círculo de debates foram apresentadas as histórias de vida de cada uma
delas e abordados os eixos: Potência ancestral: mulheres urbanas e quilombolas
com a palavra; Os desafios para a articulação de redes de fortalecimento
político das mulheres negras; Identificando formas de superar as dificuldades
para a articulação das mulheres; Ancestralidade e Cultura.
Na
passeata foi feito um minuto de silêncio em protesto pelas mortes de mulheres
na Bahia e no Brasil, como a de Elitânia de Souza, 25 anos, estudante
universitária quilombola, morta a tiros em 2019, em Cachoeira, Recôncavo
Baiano, pelo ex namorado. O caso ainda não foi concluido e o acusado está em
liberdade.
Nas praças de Rio de Contas as participantes exibiram faixas e
cartazes, entoaram o “hino” do encontro, a música “Povoada” da cantora e
compositora baiana Sued Nunes, e denunciaram a impunidade frente ao assassinato
de mulheres na Bahia e no Brasil. Marcaram presença lideranças quilombolas de
Rui Barbosa, Seabra, Cachoeira, Rio de Contas, Boninal, Livramento de Nossa
Senhora, Souto Soares, e ativistas de organizações como: Mulher por Mulher,
Coletiva Mahim, Filhas de Ghandy, UNALGBT,
Quilombolas Nzinga'S LésBiTrans Brasil, além do Movimento Negro Unificado
do Rio de Janeiro, Coalizão Negra, Coordenação Nacional do Conselho de
Entidades Negras-Conen Mulher, Associação Cultural Manuel Faustino., Mulheres
Políticas Públicas e Sociedade-Mupps, Sindicato dos Trabalhadores do Serviço
Público Federal da Bahia-SINTSEF,.
Durante a passeata foram denunciados casos de assassinatos de mulheres
por feminicídio, como os de Sandra Zeferina e Maria Azevedo, por conflitos de
terra em Tanque Novo (BA), ambos ainda sem a condenação dos culpados pelo Poder
Judiciário.
A assistente social Tânia Palma da Coletiva Mahim e do Grupo de
Trabalho sobre Feminicídio do Instituto de Saúde Coletiva -ISC da Universidade
Federal da Bahia informou que será concluído para ampla divulgação um relatório
sobre o feminicídio na Bahia que aponta a omissão das instituições públicas.
Ela criticou a lentidão na apuração dos crimes contra as mulheres e a
ineficiência dos poderes públicos. “Os processos judiciais se arrastam, alguns
casos levam sete meses para marcar a primeira audiência, as mulheres vítimas de
feminicídio deixam filhos sem assistência, algumas famílias desistem da ação,
não há um sistema de proteção que funcione, a violência de gênero só aumenta
com essa impunidade”, declarou.
Os números do estudo ‘Feminicídios na Bahia’, divulgado em março de 2023, pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) a partir de dados fornecidos pela Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) indicam um crescimento de 15,1% em 2022 sobre 2021, passando de 93 para 107. A Bahia registrou 32 casos de feminicídio entre 1º de janeiro e 15 de maio de 2023, de acordo com dados da SSP-BA.
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